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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 27, 2013

Charge foto e frase do dia









































Wikileaks revela gravíssima sabotagem dos EUA contra Brasil com aval de FHC


Telegramas revelam intenções de veto e ações dos EUA contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro com interesses de diversos agentes que ocupam ou ocuparam o poder em ambos os países

wikileaks tecnologia sabotagem brasilOs telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos do Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência tecnológica brasileira. Segue o artigo do jornalista Beto Almeida.
O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 – de fabricação ucraniana – no Centro de Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.

Veto imperial

O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em fevereiro daquele ano, relata que os representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.

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“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.
Em outra parte do documento, o representante americano é ainda mais explícito com Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil”.

Guinada na política externa

O Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania Nacional”. Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.
Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja, finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites. Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja. Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.

Bomba! Bomba!

O outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks e que também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do Exército. Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas, que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.
A primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era de espionagem. E também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil em 1998, Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por terroristas , os EUA, pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu explicações do governo Brasil , chegando mesmo a propor o recolhimento-censura do livro “A física dos explosivos nucleares”. Exigência considerada pelas autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.
Como é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras. Acesso que não permitem às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de uma meta central do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas também o desarmamento nuclear dos países que estão armados, o que não está ocorrendo.

Desarmamento unilateral

A revista publica providencial declaração do físico José Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha editorial de desarmamento unilateral e de renúncia ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento algum projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente do Irà, apresentou à Assembléia Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à opinião pública mundial.

Intervencionismo crescente

O semanário também publica franca e reveladora declaração do ex-presidente Cardoso : “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o Brasil pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?” Com o tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com os minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do crescimento dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do intervencionismo imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.
São conhecidas as sintonias entre a política externa da década anterior e a linha editorial da grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa Branca. Por isso esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de desencanto e crise se encontram tão embaraçados diante da nova política externa brasileira que adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade quanto mais telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são divulgados pelo Wikileaks.
*pragmatismopolitico


Alterações, comentários e adições: Victor Bellizia
O governante anunciou que entregará até dois milhões de armas para operários e reiterou que o país deve articular força suficiente para "se fazer respeitar"

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou às Forças Armadas que armem a classe operária para reforçar a defesa da soberania nacional e garantir a "estabilidade da Revolução Bolivariana". Em um ato oficial televisionado na noite de quarta-feira (22), o governante anunciou que entregará até dois milhões de armas para operários e reiterou que o país deve articular força suficiente para "se fazer respeitar". A oposição, alimentada pelo medo de perder a boa vida de exploração da burguesia, pediu que o presidente explique qual a verdadeira finalidade da medida e qualificou o gesto de "irresponsável e intimador".
"A classe operária será cada vez mais respeitada uma vez que esteja mais consciente e produtiva", disse Maduro na noite de quarta-feira, anunciando que as Milícias Operárias Bolivarianas farão parte da Milícia Nacional, criada por Hugo Chávez. "Seremos ainda mais respeitados se as milícias tiveram 300 mil, 500 mil, um milhão, dois milhões de operários e operárias uniformizados, armados e preparados para a defesa da soberania da Pátria, da estabilidade da Revolução Bolivariana."
Ainda segundo Maduro, a medida deverá armar trabalhadores e estabelecer laços entre associações de profissionais e as Forças Armadas. Para o secretário executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Ramón Guillermo Aveledo, a declaração faz parte de uma retórica intimidatória e evidencia a incapacidade do governo venezuelano. Segundo ele, a ordem ainda contradiz a lei de desarmamento que avança no Parlamento - e que o governo diz apoiar. "Que ele pare de dizer esse tipo de besteiras que, em vez de ameaçar, refletem irresponsabilidade."
No que diz respeito à classe operária, a medida fortalece a soberania e inclina-se cada vez mais para uma pátria produtiva, soberana e socialista. Uma vez com os operários armados, a burguesia não tomará a frente da situação e nem ameaçará a Revolução. Com isso, a proletariado venezuelano poderá suprimir cada vez mais a burguesia da Venezuela ( no que diz respeito às leis, projetos e expropriações dos meios de produção) sem receio de um golpe, ao contrário, com a certeza de que chegarão ao Socialismo com perfeição. 
O anúncio aconteceu no Teatro Municipal de Caracas, onde Maduro entregou diplomas para a primeira turma da Universidade dos Trabalhadores, composta por 522 profissionais. O presidente também sugeriu que professores e alunos da instituição frequentem as academias militares.
Viva a iniciativa revolucionária de Nicolás Maduro! Rumo ao Socialismo!
*vermelho a esquerda

Em defesa da dita

O editorial da Folha de São Paulo de sábado (25/5), “Em defesa da Anistia”, engendra um discurso de teor autoritário que só poderia estar a serviço da impunidade dos criminosos do regime militar.
Logo no segundo parágrafo aparece “persecutório”, adjetivo discutível no contexto das atribuições da Comissão Nacional da Verdade e cheio de implicações revanchistas. Pior é encontrar, logo em seguida, “seus membros são livres para fazer constar no texto as recomendações que julgarem mais convenientes”. Por que a reiteração da obviedade? Quem pediu o aval da Folha?
“A proposta de mudar a Lei de Anistia”, segue o texto, “fomenta a discórdia no próprio grupo”. A iniciativa é associada à intriga, em oposição a um suposto espírito conciliador da maioria. Exatamente a tese dos ditadores civis e militares que redigiram a Lei. Então ressurge explicitamente o usual “revanchismo”, para justificar a falta de colaboração dos militares nas audiências. Coitados, eles estão apenas se protegendo.
Citar o endosso do Supremo Tribunal Federal é uma tentativa de conferir estatuto inquestionável a uma decisão de legitimidade no mínimo duvidosa. E também joga um apelo demagógico aos leitores que corroboram a atuação recente da corte. A frase seguinte inclui um trecho da medida de 1979, sem aspas, naturalizando a inaceitável expressão “motivações políticas” usada para unificar os crimes de agentes do Estado e de seus adversários, como se tivessem os mesmos recursos, meios e objetivos.
A idéia dos “ímpetos” e “conflitos e divisões” refreados insiste no caráter intransigente e irracional dos que defendem a punição dos bandidos. E que lutariam contra “o reencontro da sociedade consigo mesma” e “a reconstrução da democracia”. O estranho teor psicanalítico da primeira figura talvez se refira ao apoio majoritário recebido pelo golpe militar, inclusive da própria Folha. Mas o complemento lhe traz uma conotação apaziguadora, pois, “reencontrando-se”, os defensores do autoritarismo descobrem o âmago republicano desde sempre incutido nas suas boas intenções. Não foi assim que os ditadores explicaram a derrubada do fantasma comunista?
Reproduzo o nono capítulo: “Goste-se ou não, a passagem do regime de exceção para o Estado de Direito foi fruto de lutas, mas também de entendimentos. Antes de uma imposição, a anistia ampla foi um pacto que assegurou a transição democrática.” A expressão inicial é bem característica do vocabulário da autoridade. Mas o veredito da Folha independe mesmo de “gostarmos” dele? O próprio texto contradiz a negativa da “imposição”, outorgando um “pacto” que não permite discordância.
O indulto a assassinos, estupradores e torturadores “tem contribuído para que o país não se dilacere em lutas internas”, finaliza o editorial. As últimas palavras são fortes, algo ameaçadoras, típicas do alarmismo golpista. E completam-se muito coerentemente sugerindo que a comissão “deveria se concentrar em sua tarefa em vez de abraçar propostas inoportunas que extrapolam o seu próprio escopo”. A Folha ordena que os inconvenientes se coloquem nos seus lugares. Senão...
De fato, a defesa do indefensável exige uma retórica apropriada.
*Guilherme Scalzilli



ABRIU - Milão, 9 de agosto de 1936 — FECHOU - São Paulo, 26 de maio de 2013)

Roberto Civita, diretor editorial e presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, morreu neste domingo, às 21h41, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, devido à falência de múltiplos órgãos, depois de três meses internado para a correção de um aneurisma abdominal.

Não tendo nada de bom a dizer sobre a trajetória de vida pública e profissional desse senhor, por dever de ofício, comunicamos seu falecimento, sem mais comentários da nossa parte.

AGUARDAREMOS, PORÉM, ansiosamente, o que sobre ele dirão os hipócritas de plantão, que, sempre alçam à posição de grandes homens depois de mortos, mesmo os que fora grandes canalhas quando vivos.
*Ajusticeiradeesquerda

DE GOLPES E LABAREDAS

      
(HD)- Certa militante de partido da oposição usa a internet para divulgar “golpe comunista” em 2014. Estudante pernambucano de 19 anos, para ridicularizar o gesto, cria, pelo mesmo meio, a frase “Eu Vou. Golpe Comunista em 2014. Os reacinhas piram!”, ilustrada com a foice e o martelo, e consegue milhares de “apoiadores” para  manifestação fictícia marcada para o começo do ano que vem. O banner passa a ser reproduzido em sites de direita e de extrema direita, como se tratasse de  ameaça real. Um farmacêutico de 34 anos “reage”, criando página no Facebook, sob o título “Golpe Militar 2014”.
        Desta vez, no entanto, não se trata de uma “brincadeira”. Trata-se, sim, segundo ele, de “testar o apoio a um golpe militar no Brasil”, e de defender a tese de que “nenhuma solução virá das urnas”. A página, ilustrada com fotos copiadas de um site oficial do Exército, torna-se desaguadouro de comentários radicais.
       O que está ocorrendo com a Nação? Estaríamos, na velocidade da internet, dando inequívoca demonstração de falta de bom senso?  Consideramos, como certos meios de comunicação, normal esse tipo de “brincadeira”? Ou os políticos, por ignorância ou omissão, desconhecem o que se passa?
       Basta navegar pela Rede, para ver que vivemos perigoso processo de radicalização nos extremos do espectro político brasileiro. Quem usar parte de seu tempo pode encontrar dezenas de sites que pregam a quebra da ordem institucional e o fim do Estado de Direito. Há páginas de orientação nazista, integralista, sites anticomunistas católicos, blogs ligados a organizações estrangeiras, sites que afirmam representar segmentos associados à reserva das Forças Armadas, a policiais e bombeiros.
      Acusado de pretender o “golpe”, o PT deveria ter tomado providências. Brincadeira ou não, ao ver seu símbolo ligado à mesma idéia, o PCB e o PC do B deveriam ter pedido à justiça a retirada do material do ar, e a proibição de sua reprodução futura.
      Tudo isso mostra que é preciso aprovar, com a máxima urgência, legislação clara de proteção à democracia no Brasil. Em um país em que, todos os anos, páginas são retiradas do ar por iniciativa do Ministério Público, e a apologia do tráfico de drogas e ao racismo dá cadeia, o apelo à quebra da ordem constitucional e ao fim do Estado de Direito deve ser investigado e seus autores punidos.
     A volta da democracia ao nosso país foi  conquista, árdua e sacrificada, de todo o povo brasileiro. À esquerda e à direita, não podemos brincar com fogo. É preciso que se convoquem e se unam os setores mais responsáveis da sociedade - à margem  de suas opções políticas e ideológicas -  para acabar com essas provocações, antes que se alastrem, como um vírus, contaminando o país e ameaçando a República.
*MauroSantayana

Veja mente até na morte de Roberto Civita

Roberto Civita morreu. Não sou daqueles que se regozijam pelo falecimento de alguém, pelo contrário, lamento por seu familiares e amigos. Não tem o que comemorar em uma morte.
A morte de Roberto Civita não irá mudar a linha editorial na editora Abril,  pelo contrário. Sem "festejos" ou "lamentos", não pretendia dedicar nenhuma linha a este fato aqui no blog. No entanto, após ler algumas das barbaridades que estão sendo publicadas pelos funcionários da Abril na sua revista principal revista: a Veja, não pude me furtar de fazer alguns comentários a respeito.
Era esperado que fossem publicadas uma grande quantidade de matérias exaltando as inúmeras e variadas qualidades que, supostamente, o falecido dono da revista tinha. Afinal, se nem a Veja rasgar elogios para o falecido patrão, quem o faria?
No entanto, estes elogios exagerados, ainda que esperados, tem caído naquilo que é a maior especialidade da Veja nos últimos anos: a mentira sobre os fatos.
Morreu o criador da Veja?
A começar pela própria manchete principal do site da revista, onde ela afirma que seria Roberto Civita o "criador de Veja". Na verdade foi Mino Carta (hoje editor da revista Carta Capital) o criador. O pai de Roberto Civita, Victor, é que teve a ideia de fazer uma revista semanal de informações. Para esta tarefa chamou o Mino, que já tinha dirigido a Quatro Rodas na Abril, para criá-la. Estes fatos são amplamente conhecidos, uma rápida googlada comprovará a "paternidade" da revista.
No entanto, é importante registrar que há uma meia-verdade nesta manchete da Veja: foi Roberto Civita que redefiniu a revista para seus padrões atuais. Foi Roberto que impulsionou a revista em sua atual orientação editorial, tornando a Veja a principal publicação do conservadorismo brasileiro, mais do que isso, a converteu em uma publicação de um notório reacionarismo delirante.
Roberto Civita, de aliado a opositor da ditadura
Roberto Civita tinha relações estreitas com a ditadura. Um bom exemplo desta relação foi a saída do Mino Carta da Veja.
Conforme o próprio Mino relatou em editorial publicado na Carta Capital (ed. 661/2010): “Veja sofria censura feroz”, conta ele no editorial, “enquanto a Editora Abril pretendia um empréstimo de 50 milhões de dólares (estamos em meados dos anos 70) para consolidar no Brasil dívidas contraídas no exterior. O próprio ditador Geisel, pela boca de Armando Falcão, ministro da Justiça (Justiça?), decretou seu niet, a não ser que se livrassem do acima assinado. Quem tiver dúvidas a respeito, leia o livro Fragmentos de Memória, de Karlos Rischbieter (Travessa dos Editores, 2007), que presidia então a Caixa Econômica Federal, à qual a Editora Abril recorrera”.
E conclui: “Tirei o meu modesto time de campo antes da expulsão. Pela elementar razão de que me recusava a negociar minha saída. Quem sabe levasse um bom dinheiro, espécie de comissão sobre o empréstimo da Caixa a ser concedido juntamente com o fim da censura. Ocorre que não queria um único, escasso centavo saído dos bolsos de Victor e Roberto Civita. Vici e Arci: assim hão de ser pronunciadas suas iniciais”.
O empréstimo aconteceu e Mino abandonou a revista Veja.
A foto a cima ilustra bem esta relação umbilical que havia entre o empresário da comunicação e a ditadura. Roberto Civita é visto nessa foto atrás do general João Figueiredo e ao lado do jornalista Augusto Nunes (Revista Veja) e de Elio Gaspari. Em primeiro plano, o "honrado" Paulo Maluf.
Roberto Civita como defensor da democracia
Se as suas ligações com a ditadura militar já seriam motivos para colocar em dúvida uma alcunha de "defensor da democracia" para Roberto Civita, as suas recentes atividades como um dos maiores impulsionadores do Instituto Millenium colocam em xeque está afirmação.
O instituto é integrado por empresários, executivos, jornalistas, economistas, comentaristas políticos e até humoristas que trabalham para a grande imprensa e destilam um discurso que flerta com o moralismo udenista. Instituto Millenium inspira-se nas extintas Ipes e o Ibad, organizações que datam do fim dos anos 1950 e início dos anos 1960 e que foram criadas para combater os movimentos sociais e o comunismo. Naquela oportunidade, tiveram um papel central para o golpe militar de 64. Tanto o Ibad quanto o Ipes serviram, como o Millenium, para organizar um fórum multidisciplinar, com forte financiamento empresarial, calcado no anticomunismo e na ideia de que o Brasil, como o mundo, estava prestes a cair na mão dos subversivos.
Derrotada nas urnas, o Millenium é uma tentativa de reproduzir este expediente em uma nova conjuntura, a ideia de um golpe, ainda que impraticável, não deixa de povoar o pensamento dos organizadores deste instituto. Roberto Civita era mais do que um simples apoiador, tinha posicionado a editora Abril como a principal "espinha dorsal" desta organização direitista e claramente anti-democrática.
Algo que, evidentemente, jamais será escrito ou comentado nas páginas da Veja.
Erick da Silva No Aldeia Gaulesa
*Saraiva