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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, junho 14, 2013
Greenpeace Brasil Por um transporte público acessível
Leia posicionamento do Greenpeace Brasil sobre as manifestações contra o aumento das tarifas do transporte público
Em sinal de paz, manifestante ocupa av. Paulista com rosas
brancas nas mãos, pedindo redução no preço da tafira de metrô e ônibus.
(foto: Brunno Marchetti)
A discussão da tarifa foi apenas o estopim de uma demanda há tempos reprimida: a melhoria e expansão do transporte público nas grandes cidades brasileiras passa por uma revisão de prioridades do governo e vultuosos investimentos em mobilidade, que tornem o ir e vir de todos um direito mais realista.
Com décadas e décadas de incentivo ao transporte individual, as megacidades brasileiras foram cedendo espaços de convivência e de troca social aos automóveis. O que os jovens estão fazendo, agora, é se levantar contra esse modelo insustentável e retomar a rua, espaço que lhes é de direito.
Considerando a questão da mobilidade essencial para a construção de cidades mais sustentáveis, acessíveis e democráticas, pedimos às autoridades que aceitem a pressão das ruas como forma de repensar suas políticas de mobilidade urbana. O financiamento do transporte público precisa ser tratado como uma política nacional. Se a discussão do transporte se concentrar simplesmente no orçamento municipal, não haverá solução.
Precisamos de mais transporte público, de melhor qualidade e mais barato. Também precisamos de políticas pensadas especialmente para facilitar o acesso da população mais carente e de públicos que mais necessitam do transporte e que não têm como arcar com a despesa, como os estudantes.
Também são necessárias medidas que desestimulem o transporte individual e um redirecionamento dos subsídios dos combustíveis fósseis para o transporte público.
Os protestos vão continuar e o poder público precisa estar aberto ao diálogo. É muito perigoso para a democracia quando os governos viram as costas aos anseios da juventude e respondem com métodos típicos dos anos de chumbo. Balas de borracha, bombas de efeito moral e cassetetes são incapazes de calar inconformismos e desejos de mudanças.
O Greenpeace é uma organização que tem em seu DNA o protesto pacífico como forma de cobrar mudanças de atitudes de governos e de corporações. Lamentamos as cenas divulgadas nos últimos protestos e pedimos prudência de ambos os lados. De qualquer maneira, defenderemos sempre o direito à manifestação não violenta, afinal ela é um instrumento da democracia.
O papel da força policial, que representa o Estado, é implementar a lei e garantir a segurança. Jamais usar a violência para coibir a livre manifestação do pensamento e para promover um ambiente de pânico e caos. O governador Alckmin deve se posicionar de forma favorável ao direito de manifestação pacífica e coibir as cenas de violência policial, inaceitáveis num estado democrático.
Marcelo Furtado
Diretor-executivo do Greenpeace Brasil
Procurador Geral que livrou Dantas do mensalão ganhou contrato da Brasil Telecom
Procurador Geral que livrou Dantas do mensalão ganhou contrato da Brasil Telecom
Do Jornal GGN - Em sua sabatina no Senado, o jurista Luiz Roberto Barroso considerou o julgamento do chamado mensalão “ponto fora da curva”. Barroso é considerado o maior constitucionalista brasileira, unanimidade, saudado tanto pela direita quanto pela esquerda. Sua opinião foi corroborada pelo Ministro Marco Aurélio de Mello, um dos julgadores mais implacáveis.
Externou o que todo o meio jurídico comenta à boca pequena desde aquela época: foi um julgamento de exceção. E não apenas pelo rigor inédito (para crimes de colarinho branco) das condenações, mas pela excepcional seletividade na escolha das provas, sonegando informações essenciais para a apuração completa do episódio.
Houve o pagamento de despesas de campanha dos novos aliados do PT. Utilizaram-se recursos de caixa dois para tal. Havia o intermediário das transações – o publicitário Marcos Valério e a agência DNA. Na outra ponta, os beneficiários. E, no comço do circuito, os financiadores.
Se poderia ter se obtido a condenação fazendo o certo, qual a razão para tantas irregularidades processuais anotadas? Não se tratou apenas dos atropelos à presunção da inocência e outros princípios clássicos do ordenamento jurídico brasileiro. Há também a suspeita de ocultação deliberada de provas.
1. Ignorou-se laudo comprovando a aplicação dos recursos da Visanet.
2. Esconderam-se evidências de que o contrato da DNA com a Visanet era anterior a 2003.
3. Desmembrou-se o processo para que outros diretores do Banco do Brasil - que compartilharam decisões com o diretor de marketing Antonio Pizolato e assumiram responsabilidades maiores - não entrassem na AP 470.
4. Ignoraram-se evidências nítidas de que a parte mais substancial dos fundos do DNA foi garantida pelas empresas de telefonia de Daniel Dantas.
O contrato de Antonio Fernando
Aparentemente, desde o começo, a prioridade dos Procuradores Gerais da República Antônio Fernando (que iniciou as investigações), de Roberto Gurgel (que deu prosseguimento) e do Ministro do STF Joaquim Barbosa (que relatou a ação) parece ter sido a de apagar os rastros do principal financiador do mensalão: o banqueiro Daniel Dantas. Inexplicavelmente, ele foi excluído do processo e seu caso remetido para um tribunal de primeira instância.
Excluindo Dantas, não haveria como justificar o fluxo de pagamentos aos mensaleiros. Todos os absurdos posteriores decorrem dessa falha inicial, de tapar o buraco do financiamento, depois que Dantas foi excluído do inquérito.
Responsável pelas investigações, o procurador geral Antônio Fernando de Souza tomou duas decisões que beneficiaram diretamente Dantas. A primeira, a de ignorar um enorme conjunto de evidências e excluir Dantas do inquérito - posição mantida por seu sucessor, Roberto Gurgel e pelo relator Ministro Joaquim Barbosa. A segunda, a de incluir no inquérito o principal adversário de Dantas no governo: Luiz Gushiken. Aliás, com o concurso de Antonio Pizolatto - que acabou tornando-se vítima, depois de diversas decisões atrabiliárias dos PGRs.
Foi tal a falta de provas para incriminar Gushiken, que o PGR seguinte, Roberto Gurgel, acabou excluindo-o do inquérito.
Pouco depois de se aposentar, Antônio Fernando tornou-se sócio de um escritório de advocacia de Brasília - Antônio Fernando de Souza e Garcia de Souza Advogados -, que tem como principal contrato a administração da carteira de processos da Brasil Telecom, hoje Oi, um dos braços de Dantas no financiamento do mensalão. O contrato é o sonho de todo escritório de advocacia: recebimento de soma mensal vultosa para acompanhar os milhares de processos de acionistas e consumidores contra a companhia, que correm nos tribunais estaduais e federais.
Os sinais de Dantas
Qualquer jornalista que acompanhou os episódios, na época, sabia que a grande fonte de financiamento do chamado “valerioduto” eram as empresas de telefonia controladas por Dantas, a Brasil Telecom e a Telemig Celular. Reportagens da época comprovavam – com riqueza de detalhes – que a ida de Marcos Valério a Portugal, para negociar a Telemig com a Portugal Telecom, foi a mando de Dantas.
Dantas possuía parcela ínfima do capital das empresas Telemig, Amazônia Celular e Brasil Telecom. O valor de suas ações residia em um acordo “guarda-chuva”, firmado com fundos de pensão no governo FHC, que lhe assegurava o controle das companhias. Tentou manter o acordo fechando aliança com setores do PT – que foram cooptados, sim. Quando o acordo começou a ser derrubado na Justiça, ele se apressou em tentar vender o controle da Telemig, antes que sua participação virasse pó.
No livro “A Outra Historia do Mensalão”, Paulo Moreira Leite conta que a Polícia Federal apurou um conjunto de operações entre a Brasil Telecom e a DNA. A executiva Carla Cicco, presidente da BT, encomendou à DNA uma pesquisa de opinião no valor de R$ 3,7 milhões. Houve outro contrato, de R$ 50 milhões, a ser pago em três vezes. Era dinheiro direto no caixa da DNA - e nao apenas uma comissão de agenciamento convencional, como foi no caso da Visanet.. Pagaram-se as duas primeiras. A terceira não foi paga devido às denúncias de Roberto Jefferson que deflagraram o mensalão.
Apesar de constar em inquérito da Polícia Federal – fato confirmado por policiais a Paulo Moreira Leite – jamais esse contrato de R$ 50 milhões fez parte da peça de acusação. Foi ignorado por Antônio Fernando, por seu sucessor Roberto Gurgel e pelo relator Ministro Joaquim Barbosa. Ignorando-o, livrou Dantas do inquérito. Livrando-o, permitiu-lhe negociar sua saída da Brasil Telecom, ao preço de alguns bilhões de reais.
As gambiarras no inquérito
Sem Dantas, como justificar os recursos que financiaram o mensalão? Apelou-se para essa nonsense de considerar que a totalidade da verba publicitária da Visanet (R$ 75 milhões) foi desviada. Havia comprovação de pagamento de mídia, especialmente a grandes veículos de comunicação, de eventos, mas tudo foi deixado de lado pelos PGRs e pelo relator Barbosa.Em todos os sentidos, Gurgel foi um continuador da obra de Antonio Fernando. Pertencem ao mesmo grupo político - os "tuiuius" - que passou a controla o Ministério Público Federal. Ambos mantiveram sob estrito controle todos os inquéritos envolvendo autoridades com foro privilegiado. Nas duas gestões, compartilhavam as decisões com uma única subprocuradora - Cláudia Sampaio Marques, esposa de Gurgel. Dentre as acusações de engavetamento de inquéritos, há pelos menos dois episódios controvertidos, que jamais mereceram a atenção nem do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) nem da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) - esta, também, dominada pelos "tuiuius": os casos do ex-senador Demóstenes Torres e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.
Tanto na parte conduzida por Antonio Fernando, quanto na de Gurgel, todas as decisões pareceram ter como objetivo esconder o banqueiro.
É o caso da “delação premiada” oferecida a Marcos Valério. O ponto central – proposto na negociação – seria imputar a Lula a iniciativa das negociações com a Portugal Telecom. Sendo bem sucedido, livraria Dantas das suspeitas de ter sido o verdadeiro articulador das negociações. A "delação premiada" não foi adiante porque, mesmo com toda sua discricionariedade, Gurgel não tinha condições de oferecer o que Valério queria: redução das penas em todas as condenações.
Quando iniciaram-se as investigações que culminaram na ação, Antônio Fernando foi criticado por colegas por não ter proposto a delação premiada a Marcos Valério. Acusaram-no de pretender blindar Lula. A explicação dada na época é que não se iria avançar a ponto de derrubar o presidente da República, pelas inevitáveis manifestações populares que a decisão acarretaria. Pode ser. Mas, na verdade, na época, sua decisão blindou Daniel Dantas, a quem Valério servia. Agora, na proposta de "delação" aceita por Gurgel não entrava Dantas - a salvo dos processos - mas apenas Lula.
O inquérito dá margem a muitas inteerpretaçòes, decisões, linhas de investigação. Mas como explicar que TODAS as decisões, todas as análises de provas tenham sido a favor do banqueiro?
Os motivos ainda não explicados
Com o tempo aparecerão os motivos efetivos que levaram o Procurador Geral Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa a endossar a posição de Antonio Fernando e se tornarem também avalistas desse jogo.Pode ter sido motivação política. Quando explodiu a Operação Satiagraha – que acusou Daniel Dantas de corrupção -, Fernando Henrique Cardoso comentou que tratava-se de uma “disputa pelo controle do Estado”.
De fato, Dantas não é apenas o banqueiro ambicioso, mas representa uma longa teia de interesses que passava pelo PT, sim, mas cujas ligações mais fortes são com o PSDB de Fernando Henrique e principalmente de José Serra.
Uma disputa pelo poder não poderia expor Dantas, porque aí se revelaria a extensão de seus métodos e deixaria claro que práticas como as do mensalão fazem parte dos (péssimos) usos e costumes da política brasileira. E, se comprometesse também o principal partido da oposição, como vencer a guerra pelo controle do Estado? Ou como justificar um julgamento de exceção.
Vem daí a impressionante blindagem proposta pela mídia e pela Justiça. É, também, o que pode explicar a postura de alguns Ministros do STF, endossando amplamente a mudança de conduta do órgão no julgamento. Outros se deixaram conduzir pelo espírito de manada. Nenhum deles engrandece o Supremo.
Poderia haver outros motivos? Talvez. Climas de guerra santa, como o que cercaram o episódio, abrem espaço para toda sorte de aventureirismo, porque geram a solidariedade na guerra, garantindo a blindagem dos principais personagens. No caso de temas complexos - como os jurídicos - o formalismo e a complexidade dos temas facilitam o uso da discricionariedade. Qualquer suspeita a respeito do comportamento dos agentes pode ser debitada a uma suposta campanha difamatória dos “inimigos”. E com a mídia majoritariamente a favor, reduz a possibilidade de denúncias ou escândalos sobre as posições pró-Dantas.
É o que explica os contratos de Antonio Fernando com a Brasil Telecom jamais terem recebido a devida cobertura da mídia. Não foi denunciado pelo PT, para não expor ainda mais suas ligações com o banqueiro. Foi poupado pela mídia - que se alinhou pesadamente a Dantas. E foi blindado amplamente pela ala Serra dentro do PSDB.
Com a anulação completa dos freios e contrapesos, Antonio Fernando viu-se à vontade para negociar com a Brasil Telecom.
De seu lado, todas as últimas atitudes de Gurgel de alguma forma vão ao encontro dos interesses do banqueiro. Foi assim na tentativa de convencer Valério a envolver Lula nos negócios com a Portugal Telecom. E também na decisão recente de solicitar a quebra de sigilo do delegado Protógenes Queiroz – que conduziu a Satiagraha – e do empresário Luiz Roberto Demarco – bancado pela Telecom Itália para combater Dantas, mudando completamente em relação à sua posição anterior.
A quebra do sigilo será relevante para colocar os pingos nos iis, comprovar se houve de fato a compra de jornalistas e de policiais e, caso tenha ocorrido, revelar os nomes ou interromper de vez esse jogo de ameaças. Mas é evidente que o o resultado maior foi fortalecer as teses de Dantas junto ao STF, de que a Satiagraha não passou de um instrumento dos adversários comerciais. Foi um advogado de Dantas - o ex-Procurador Geral Aristisdes Junqueira - quem convenceu Gurgel a mudar de posição.
Com seu gesto, Gurgel coloca sob suspeitas os próprios procuradores que atuaram não apenas na Satiagraha como na Operação Chacal, que apurava envolvimento de Dantas com grampos ilegais.
Em seu parecer pela quebra do sigilo, Gurgel mencionou insistentemente um inquérito italiano que teria apurado irregularidades da Telecom Itália no Brasil. Na época da Satiagraha, dois procuradores da República – Anamara Osório (que tocava a ação da Operação Chacal na qual Dantas era acusado de espionagem) e Rodrigo De Grandis – diziam claramente que a tentativa de inserir o relatório italiano nos processos visava sua anulação.. Referiam-se expressamente à tentativa do colunista de Veja, Diogo Mainardi, de levar o inquérito ao juiz do processo. Anamara acusou a defesa de Dantas de tentar ilegalmente incluir o CD do relatório no processo.
Dizia a nota do MPF de São Paulo:
"Para as procuradoras brasileiras, a
denúncia na Itália é normal e só confirma o que já havia sido dito nos
autos inúmeras vezes pelo MPF que, a despeito dos crimes cometidos no
Brasil por Dantas e seus aliados e pela TIM, na Itália, "a investigação
privada parecia ser comum entre todos, acusados e seus adversários
comerciais". Além disso, o MPF não pode se manifestar sobre uma
investigação em outro país, por não poder investigar no exterior, e
vice-versa.
Para o MPF, as alusões da defesa de
que a prova estaria "contaminada" não passam de "meras insinuações",
pois a prova dos autos brasileiros foi colhida com autorização judicial
para interceptações telefônicas e telemáticas, bem como, busca e
apreensão. Tanto é assim que outro CD entregue à PF, em julho de 2004,
por Angelo Jannone, ex-diretor da TIM, também foi excluído dos autos
como prova após manifestação do MPF, atendendo pedido da defesa de
Dantas".
Agora, é o próprio PGR quem tenta colocar o inquérito no processo
que corre no Supremo e, automaticamente, colocando sob suspeição seus
próprios procuradores.. E não se vê um movimento em defesa de seus
membros por parte da ANPR.
Quando a Satiagraha foi anulada no STJ (Superior Tribunal de
Justiça), o Ministério Público Federal recorreu, tanto em Brasília
quanto em São Paulo. Na cúpula, porém, Dantas conseguiu o feito inédito
de sensibilizar quatro dos mais expressivos nomes do MInistério Público
Federal pós-constituinte: os ex-procuradores gerais Antonio Fernando e
Aristides Junqueira (que ele contratou para atuar junto a Roberto
Gurgel), o atual PGR e o ex-procurador e atual presidente do STF Joaquim
Barbosa.
Levará algum tempo para que a poeira baixe, a penumbra ceda e se
conheçam, em toda sua extensão, as razões objetivas que levaram a esse
alinhamento inédito em favor de Dantas.
*http://www.jornalggn.com.br/blog/procurador-geral-que-livrou-dantas-do-mensalao-ganhou-contrato-da-brasil-telecom#.UbsnBWjyMrY.twitter
Começa a caça a Guido Mantega
(…)os grandes tubarões brancos sabem que o Brasil é uma das maiores presas em todo o planeta.
O ministro Guido Mantega tem sido o principal anteparo a essas pressões sobre Dilma Rousseff.
É, portanto, o principal obstáculo a ser removido pela “turma da
bufunfa” e pelos que não aprenderam aquele ditado antigo e impublicável
do “quem muito se abaixa…”
Nesta quinta-feira (13), o dublê de comentarista econômico e
apresentador de rádio Carlos Alberto Sardenberg larga a temperança e
enfia o pé na jaca, em artigo publicado no Blog do Noblat.
Sugere, com a arrogância que lhe é peculiar, que Dilma troque o
Ministro da Fazenda por alguém tipo Palocci que teve, segundo ele, a
“virtude” de ter produzido “um superávit primário maior que o obtido no
governo de FHC”, usado para pagar os juros que Henrique Meirelles
empurrou lá para cima.
Diz que algo precisa ser feito, e dá a receita do “algo”:”Esse algo só
pode ser um forte ajuste nas contas públicas — ou seja, corte severo de
gastos — anunciado com credibilidade. Daí a necessidade do Palocci.
Ele já fez isso, já propôs uma política de longo prazo para zerar o
déficit geral do governo e tem a confiança do mercado”.
Mas admite: ”(o)problema é que Palocci está com a reputação abalada. O
mercado, os agentes econômicos continuam tendo saudades dele. Já no
ambiente político, a rejeição é óbvia”".
E se sai com uma solução magistral: Mas esse obstáculo também poderia
ser driblado. Não pode o Palocci? Pois arranjem um “tipo Palocci”. E já
estando com a mão na massa, poderiam buscar também um “tipo Meirelles”
para o Banco Central”.
Cuidadoso, diz que não vai citar nomes para não “queimar” os “tipo Palocci”.
Antigamente, era o Doutor Roberto Marinho quem nomeava ministro. Agora,
até o apresentador da rádio dele quer ditar regras sobre como a
presidenta eleita pelos brasileiros deve escolher seus ministros.
Fernando BritoNo Tijolaço
Estamos enfrentando o AI-5 do governador Geraldo Alckmin”
Guardo na memória alguns episódios do governo de Mário Covas, que
considero um político importante na história, que fazia política com
convicção e sangue nas veias. Líder mais autêntico da história do PSDB,
Covas foi governador de São Paulo e sofreu uma pressão muito forte por
conta do crescimento dos índices de violência.
Era uma São Paulo saudosa de Malufs e Fleurys, que acabara de viver o
Massacre do Carandiru, e cobrava medidas enérgicas contra o crime.
Havia uma forte pressão comparável à campanha em curso pela redução da
maioridade penal. As cobranças eram para que o governador se
manifestasse de forma dura contra os criminosos.
Covas respondeu o seguinte ao ser questionado pela imprensa: qualquer
manifestação do governador naquele contexto seria entendida pelo
policial, lá na ponta, como uma autorização para matar. O então
governador, que tinha toda a razão, “apanhou” bastante dos setores
conservadores e da mídia que o acusavam de “bundão”. Covas queria dizer
que qualquer sinal desse tipo vindo das autoridades é entendido pelos
policiais como uma ordem para usar todos os meios possíveis para
“resolver” a situação.
De lá para cá, muitas coisas mudaram. O PSDB já foi um partido
preocupado com os direitos humanos, que tinha ainda memória da
participação de seus dirigentes no processo de luta pela democracia na
década de 80. A postura do governador Geraldo Alckmin não lembra em
nada a postura responsável de Covas. As declarações do governador não só
legitimam como estimulam e liberam as ações de violência da Polícia.
Aqui vai uma das declarações do governador, o responsável político
pelas ações da PM: “Manifestação é legítima, natural. Outra coisa é
fazer depredação de patrimônio público, deixar um rastro de destruição
por onde passa, prejudicando o usuário do sistema”.
Esse discurso aparentemente democrático, de respeito às
manifestações, entra nos ouvidos dos policiais como uma orientação de
agir para impedir a realização desses protestos, ainda mais com o clima
criado por uma cobertura criminalizadora da mídia. A mensagem entendida
pelos policiais é a seguinte: essas manifestações são ilegítimas,
violentas e devem ser reprimidas com toda a força.
E foi justamente o que os soldados da PM fizeram na noite desta
quinta-feira. Prisões arbitrárias (de portadores de vinagre),
espancamentos covardes, agressões a jornalistas, tiros e bombas jogadas
em grupos de manifestantes que gritavam “sem violência, sem violência”.
A disposição da polícia era encerrar o ato o quanto antes,
independente da postura dos manifestantes. A intolerância de uma polícia
revanchista, que começou a fazer revistas e prisões de cidadãos na
saída do metrô antes do ato, teve como resposta a ampliação da
consciência dos manifestante de que a violência só joga água no moinho
de quem está contra os protestos.
A palavra de ordem “sem violência, sem violência” é uma demonstração
dos objetivos dos manifestantes, que repetindo em coro a frase
constrangem a polícia e envergonham uma minoria – aparentemente ainda
menor – disposta a acirrar os ânimos.
Um país com a democracia consolidada, diante dessa situação de
violência institucionalizada contra a população, faria um movimento pelo
impeachment do responsável pela ação da PM, o governador Geraldo
Alckmin. Se o prefeito Fernanda Haddad comete um erro político ao
sustentar a posição de manter o aumento da tarifa de ônibus, Alckmin
ameaça com a sua polícia a democracia e as liberdades civis ao impedir a
realização de uma manifestação que tem uma causa justa.
Diante disso, estamos enfrentando o AI-5 do governador Geraldo
Alckmin, que suspende várias garantias constitucionais e consolida uma
“linha dura” militar em pleno regime democrático. A generalização de
ações ilegais pelo Estado, especialmente as arbitrariedades do seu braço
armado portador do monopólio da for ça, obriga uma ação em defesa da
democracia que passa pelo afastamento imediato do responsável por essa
situação, o governador Alckmin, que não mostra condições de conduzir
esse processo.
Por outro lado, enquanto não der uma declaração firme contra a violência da polícia e a concreta ameaça à democracia, Haddad será considerado condescendente e pagará um preço político pela postura titubeante.
Por outro lado, enquanto não der uma declaração firme contra a violência da polícia e a concreta ameaça à democracia, Haddad será considerado condescendente e pagará um preço político pela postura titubeante.
Os atos dos jovens, que versam sobre temas de fundo relacionados à
questão urbana, ganham importância cada vez maior porque passaram a
tocar em uma ferida que marca o nosso país. No processo de
redemocratização da década de 80, setores da classe dominante evitaram
que se levasse a cabo o potencial das transformações defendidas pelo
movimento político que estava em luta.
Assim, não houve uma ruptura com o regime militar para a instauração
de uma democracia que levasse até as últimas consequências a
participação do povo na política e a destruição da estrutura de
repressão criada na ditadura. Por isso, a polícia que agora reprime
jovens manifestantes é a mesma que prendia, espancava e torturava
aqueles que lutavam contra a ditadura.
Com isso, a questão central não é mais o aumento de 20 centavos nas
tarifas (embora esse seja o problema motivador). Estão em jogo
os limites da democracia, cada vez mais estreitos ao não tolerarem a
realização de manifestações, a ocupação de espaços públicos e a
participação popular na política.
Cada vez mais jovens saem às ruas para protestar e os atos estão
ficando maiores. Cresce o sentimento de que é necessário lutar e, mesmo
com o clima de terror e medo criados pela violência da PM, esses jovens
se somam às manifestações de cara aberta e com um brilho especial no
olhar. Muitos vivem pela primeira vez, com seus 16 ou 17 anos, a
experiência de participar de protestos de massas.
Esse processo pode contribuir na construção de uma força social no
futuro, se for conduzido de forma responsável, estiver colado nos
anseios mais sinceros da sociedade e criar condições de converter o
ativismo de animados e corajosos jovens em uma organização política
capaz de enfrentar os problemas estruturais, que necessariamente fará a
ruptura adiada na década de 80 e, enfim, consolidará a democracia no
país.
Igor Felippe
No Viomundo
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