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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 14, 2013

Greenpeace Brasil Por um transporte público acessível


Leia posicionamento do Greenpeace Brasil sobre as manifestações contra o aumento das tarifas do transporte público



Em sinal de paz, manifestante ocupa av. Paulista com rosas brancas nas mãos, pedindo redução no preço da tafira de metrô e ônibus. (foto: Brunno Marchetti)
Pelo direito à manifestação sem violência e pelo transporte público acessível As manifestações contra o aumento da passagem do transporte público começaram em São Paulo e tiveram rápida adesão no Rio, em Belo Horizonte e em Curitiba. Outras cidades prometem ter manifestações semelhantes nos próximos dias, o que mostra a urgência do tema.
A discussão da tarifa foi apenas o estopim de uma demanda há tempos reprimida: a melhoria e expansão do transporte público nas grandes cidades brasileiras passa por uma revisão de prioridades do governo e vultuosos investimentos em mobilidade, que tornem o ir e vir de todos um direito mais realista.
Com décadas e décadas de incentivo ao transporte individual, as megacidades brasileiras foram cedendo espaços de convivência e de troca social aos automóveis. O que os jovens estão fazendo, agora, é se levantar contra esse modelo insustentável e retomar a rua, espaço que lhes é de direito.
Considerando a questão da mobilidade essencial para a construção de cidades mais sustentáveis, acessíveis e democráticas, pedimos às autoridades que aceitem a pressão das ruas como forma de repensar suas políticas de mobilidade urbana. O financiamento do transporte público precisa ser tratado como uma política nacional. Se a discussão do transporte se concentrar simplesmente no orçamento municipal, não haverá solução.
Precisamos de mais transporte público, de melhor qualidade e mais barato. Também precisamos de políticas pensadas especialmente para facilitar o acesso da população mais carente e de públicos que mais necessitam do transporte e que não têm como arcar com a despesa, como os estudantes.
Também são necessárias medidas que desestimulem o transporte individual e um redirecionamento dos subsídios dos combustíveis fósseis para o transporte público.
Os protestos vão continuar e o poder público precisa estar aberto ao diálogo. É muito perigoso para a democracia quando os governos viram as costas aos anseios da juventude e respondem com métodos típicos dos anos de chumbo. Balas de borracha, bombas de efeito moral e cassetetes são incapazes de calar inconformismos e desejos de mudanças.
O Greenpeace é uma organização que tem em seu DNA o protesto pacífico como forma de cobrar mudanças de atitudes de governos e de corporações. Lamentamos as cenas divulgadas nos últimos protestos e pedimos prudência de ambos os lados. De qualquer maneira, defenderemos sempre o direito à manifestação não violenta, afinal ela é um instrumento da democracia.
O papel da força policial, que representa o Estado, é implementar a lei e garantir a segurança. Jamais usar a violência para coibir a livre manifestação do pensamento e para promover um ambiente de pânico e caos. O governador Alckmin deve se posicionar de forma favorável ao direito de manifestação pacífica e coibir as cenas de violência policial, inaceitáveis num estado democrático.
Marcelo Furtado
Diretor-executivo do Greenpeace Brasil

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