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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 24, 2013

Repensar as Lutas Sociais à Esquerda


Por Guilherme Wagner

De uma análise conjuntural imediata a esquerda peca em dois aspectos: a falta do trabalho de base provinda da grande parte das estruturas estarem ligadas ainda as arcaicas formas de luta de classe e a fragilidade das estruturas de esquerda existentes. A revolta popular brasileira é tudo menos de supremacia popular: os domínios da classe média branca são evidentes.

Partindo desses pressupostos podemos definir certas análises importantes quanto aos resultados efetivos nos âmbitos políticos e econômicos. Se de um lado a revolta tomou face de mobilização à esquerda pautando questões que defendem os interesses proletários e das minorias, o insucesso do Estado de reprimir essas lutas sociais promoveu o acionamento de planejamento reserva por parte da burguesia nacional, a convocação das massas médias e despolitizadas desse país. Se em um primeiro momento os fatos que levaram a crer em um possível golpe colocaram os movimentos de esquerda em estado de alerta, agora podemos de forma mais acalmada definir estes como uma defesa da burguesia nacional e um ataque de caráter eleitoral ao governo federal conciliatório de classes.[1] No entanto os ataques ao pensamento de esquerda são fatídicos e merecem cuidado especial, assim como a sua defesa refletem os erros e os passos futuros que a esquerda deve tomar.

Após a revolta popular de massas, que não significa necessariamente um episódio positivo, onde se observou os ataques a esquerda incentivados por setores mais à direita utilizando-se da classe média branca como massa de manobra, a defesa da esquerda vem se organizando em volta de uma convocação das periferias, reduto das lutas sociais pela causa proletária e minorias a nível nacional. É nesse momento que se corrobora as fragilidades das organizações de esquerda “ortodoxas”, os partidos de esquerda não mais são visíveis como a maior força motriz de luta social, tanto que seus militantes não foram suficientes para os defender. Mas se engana quem analisa os mesmos como um fato isolado a partidos, pois os semblantes de ataque foram a toda uma ideologia de esquerda. Eis então que surgem as organização não partidárias de esquerda, ligadas diretamente a periferia. Isto é, a defesa da esquerda como um todo foi promovida por grupos de base que não se ligam de forma organizada aos partidos, grupos que promovem suas atividades de forma coordenada e mais horizontal. A conclusão principal é que a esquerda não é forte nos partidos, como fora no século passado, mas nas organizações de caráter de base ligadas às lutas regionais das periferias e centralizadas de alguma forma federalizada. A defesa ao direito de levar bandeiras partidárias não está sendo efetuada por seus militantes, mas em grande parte, por anarquistas e militantes sociais sem partido definido. Isto é, está claro que as estruturas partidárias não são mais eficientes dentro do contexto de expansão capitalista que vivemos. O partido revolucionário que foi um instrumento de luta do século passado já foi “recuperado”[2] pelo sistema de democracia burguesa.

Colocado às claras essas organizações de esquerda apartidárias nas periferias, é fatídico que o seu sucesso se dá pelo trabalho de base comunitário efetuado pelas mesmas. Se no século passado os sindicatos e os partidos eram os instrumentos de luta não apenas dos proletários, mas de todas as comunidades marginalizadas, hoje a realidade é totalmente diferente, e cobra da esquerda a capacidade dialética de ligar os ensinamentos do passado as questões postas nesse presente e repensar a sua organização de luta social.

Se ilude nesse contexto quem continua a enaltecer formas de lutas sociais passadas, evidentemente que as estruturas do século passado ainda são formas efetivas de resistência proletária ao capital, no entanto não mais promovem o acúmulo político para a continuidade da consciência de classe revolucionária. É preciso deixar claro e separar o que é um instrumento de resistência e o que é um trabalho revolucionário. Estes que devem ser concomitantes são encontrados no momento atual, e possivelmente durante um bom período, nas organizações de luta social de base e regionais, sendo que para seu caráter internacionalista e federalista é questão de acúmulo político.


Logo, o trabalho de base não se enfraqueceu necessariamente porque se escamoteou, mas sim porque as estruturas de esquerda estão arcaicas e precisam ser repensadas. Assim, se torna clara uma discussão aprofundada dessas estruturas aos olhos dos grandes teóricos marxistas e anarquistas que não propuseram organizações fechadas, mas sim acumularam um debate de vanguarda sobre a classe proletária e que poderá promover essa efetivação de lutas sociais mais à esquerda.
*Centrodosocialismo

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