por Paulo Jonas de Lima Piva
O ódio ao PT, a PTofobia, é um sentimento que vem de longe. É um
sentimento mais do que conservador: é reacionário, elitista, alienante,
cego, deturpador da percepção da realidade, um ódio de classe brotado do
fígado e do reto dos mais ricos e poderosos, do mais sádico e da mais
ridícula pretensão de aristocratismo, na sala de jantar da Casa Grande, e
disseminado e absorvido pelo setor mais obscurantista e capitão do mato
da classe média brasileira. A PTofobia, o fanatismo antipetista, surgiu
junto com o nascimento do PT, no ABC, no final dos anos setenta, em
meio às lutas dos trabalhadores contra a exploração das multinacionais e
o arrocho salarial imposto pela ditadura militar. E a grande mídia
nacional, a nossa oligarquia midiática, aquelas seis ou sete poderosas
famílias da elite brasileira que chefiam a máfia das comunicações no
país, foi e continua sendo a fonte dessa manipulação ideológica numa
democracia ainda cheia de distorções, lacunas e arbitrariedades, como,
por exemplo, a falta de uma lei das comunicações que evite os abusos e a
sordidez da ação desses veículos criminosos.
Assustada com o nível de organização e de politização daqueles
trabalhadores do ABC reunidos e unidos em torno de um partido político e
de uma liderança, Lula, a grande mídia, esse partido camuflado de
entidade isenta, imparcial e apartidária de informações, um negócio
rentável como qualquer outro e, portanto, uma aliada de classe daquelas
multinacionais e da ordem comandada por aquela ditadura, assumiu desde
esse início o papel que continua exercendo até hoje: o de tentar
destruir o PT, a principal e mais eficaz força de esquerda da história
brasileira, pelo controle das consciências. Para isso, não economiza nos
artifícios. Sataniza, envenena, usa dois pesos e duas medidas, calunia,
difama e mente, isto é, procede da maneira mais covarde para atingir e
aterrorizar sobretudo a classe média, seu principal mercado consumidor
de jornais, valores e opiniões.
Manifestações extremas e histéricas dessa PTofobia, dessa doença
ideológica enraizada sobretudo na desinformação, na ignorância e no medo
da ascensão social dos mais pobres, vemos nas condenações de Dirceu e
Genoíno, duas das figuras mais emblemáticas do PT. Grande parte dos que
comemoram o linchamento público desses militantes de longa data nem
sabem exatamente o por que desses petistas terem sido condenados. Para
esses petofóbicos, basta serem petistas, basta a Globo, a Folha e a Veja
terem noticiado que eles são corruptos para que eles sejam corruptos de
fato, logo, merecedores da condenação e, de preferência, de uma
condenação à morte. E embora não seja fácil resistir aos encantos dos
espetáculos da manipulação midiática, o obscurantismo desses doentes é
de estarrecer. Em meio a esses inquisidores ignorantes não faltam
pessoas que se beneficiaram de leis, projetos e medidas governamentais
criadas e implementadas pelo PT ao longo de três décadas de história do
Brasil. Ou seja, pessoas que, num governo tucano ou Marina Silva, isto
é, em governos aprovados pela Globo e pela Veja, seriam esquecidos, como
ocorreu nos dois governos tucanos sustentados pela Globo, Folha e Veja.
Entre beneficiários do PROUNI, em meio a pessoas que ascenderam
socialmente, que conseguiram emprego com carteira assinada, que
compraram seus imóveis, automóveis e outros bens de consumo graças ao
PT, encontramos, incrivelmente, essa PTofobia, na mesma intensidade ou
menor até do que a PTofobia que encontramos na gritaria de alguns
indivíduos que se colocam na extrema esquerda, incomodados com os
avanços sociais dentro do capitalismo promovidos pelo Bolsa Família,
pelo PROUNI e por outros programas petistas que estão fazendo a condição
econômica e social de classe média deixar de ser um status. Enfim, como
entender esse ódio a um partido, esse ódio aniquilador aos seus
principais militantes, essa raiva a um partido que desde a sua fundação
só vem fazendo o bem para as camadas mais necessitadas da população?
O ódio ao PT no ódio a Dirceu e Genoíno
Onde estão as fortunas de Dirceu, de Genoíno e de Delúbio com o
"Mensalão"? Onde já que ouve corrupção? Onde, se as contas desses
condenados foram vistoriados frente e verso, no avesso e no reverso? Até
o direitista mais empedernido e de boa-fé sabe que essas montanhas de
dinheiro não estão em lugar nenhum porque não há fortunas, porque não
houve uso de dinheiro público, porque nenhum dos condenados acumulou
riqueza no episódio. O crime que cometeram é o mesmo que, do DEM ao
PSOL, todos os partidos da ordem cometem: crime eleitoral de caixa dois
para tocar campanhas eleitorais. E enquanto não houver uma reforma
política que torne o financiamento de campanha algo público e exclusivo,
esse fenômeno continuará a existir. Mas como Dirceu e Genoíno são do
PT, a alma e os ideias do partido de esquerda que tirou a pior direita
do comando do Planalto e mudou o país para melhor, eles foram
transformados pela máfia midiática nos maiores corruptos da história do
país, mesmo sem terem nenhum patrimônio de corruptos.
Se não bastassem as condenações injustas, explicitamente políticas, dos
líderes petistas, a direita, por meio de sua opinião pública manipulada,
pressiona pela morte de Genoíno, em situação de saúde frágil, e pela
humilhação ainda maior de Dirceu. A PTofobia que dominou certos setores
desqualificará e deslegitimará qualquer direito básico, humano, que
Dirceu e Genoíno poderão ter doravante. As elites nunca perdoarão esses
heróis, por isso querem vingança.
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Reacionários do Brasil: deixem Dirceu em paz
por Paulo Nogueira
Reacionários do Brasil: deixem Dirceu em paz. Pelo menos na cadeia, poupem-no de seu reacionarismo estridente, obtuso e maldoso.
Qualquer coisa que ele faça vira contra ele.
A mídia publica, por exemplo, que ele teria pedido apoio a Lula. Uma
declaração contra a brutalidade a que está sendo submetido por Joaquim
Barbosa.
Isso vira “pressão”. Isso vira “tentativa de subverter a justiça”.
Até eu, que estive com Dirceu apenas uma vez, entendo que Lula deveria se manifestar com clareza a favor dele.
De amigos a gente espera o quê?
Lembro a mais linda frase sobre a amizade, escrita por Montaigne quando
morreu seu amigo La Boétie. “Estava tão acostumado a sentir que éramos
um só que agora me sinto meio.”
O que há de errado em Dirceu querer de Lula apoio numa hora duríssima como a que ele vive? É uma reação absolutamente humana.
Considere. Não é uma prisão normal. Nos últimos tempos, juristas
insuspeitos de simpatia petista manifestaram repulsa ao julgamento do
Mensalão.
Ives Gandra disse que Dirceu foi condenado sem provas, depois de estudar
o processo. Bandeira de Mello, depois de acusar JB de ser um homem mau,
sugeriu seu impeachment. Um celebrado constitucionalista português,
Canotilho, citadíssimo pelos juízes do STF, disse ter visto falhas
extraordinárias no julgamento, a começar pelo papel de Joaquim Barbosa.
Disceu tem 67 anos. Está na última etapa da vida útil. E uma decisão contra a qual se erguem tantas vozes o põe na cadeia.
Imagine você nessa situação. Não iria reclamar um apoio de Lula, se este
fosse seu amigo e conhecesse a história que levou você à cadeia?
Repito: não é uma cadeia normal.
Li outro dia que, depois de muitos anos, a justiça do Paraná decretou
enfim a culpa de um ruralista que diversas testemunhas viram dar um tiro
na nuca de um sem terra que ocupara uma fazenda dele.
É uma história macabra, ocorrida em 1998.
Um grupo de pistoleiros mascarados cercou os sem terra. Mandou-os deitar
com o rosto no chão. Um deles, com problemas na coluna, não conseguiu.
Um dos pistoleiros matou-o a sangue frio. Antes de apertar o gatilho,
tirou a máscara. E por isso foi reconhecido. Era Marcos Prochet,
ex-presidente da UDR no Paraná.
Prochet não foi preso, embora o processo seja do milênio passado. Dificilmente será: é um homem rico.
Mas Dirceu está preso, e não pode sequer invocar o apoio de Lula que é
crucificado pelos reacionários. Também não pode cuidar da cela que é
acusado, como se viu numa matéria do Estadão, de ter mania de mandar e
ser obcecado com limpeza.
Essa é a mídia brasileira.
Aquela é a justiça brasileira, na versão 2013 protagonizada por Joaquim Barbosa.