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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, dezembro 03, 2013

Lula elogia Camila Vallejo em sua visita ao Chile

O ex-presidente disse que a jovem deputada comunista "representa um novo pensamento para a política latino-americana"

Santiago de Chile
O ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, iniciou na terça-feira uma visita de dois dias a Santiago do Chile. Lula elogiou a ex-líder dos estudantes chilenos , Camila Vallejo, que há dez dias foi eleita deputada pelo Partido Comunista . "Ela representa um novo pensamento para a política latino-americana", disse o ex-presidente em uma palestra esta manhã na sede da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Lula lembrou que, em 2011, durante os protestos estudantis chilenos, Vallejo viajou a Brasília e o convidou para que fosse a Santiago. Brincando, no entanto, explicou que não poderia aceitar a oferta para evitar problemas diplomáticos . Os convidados, incluindo a própria geógrafa, que naquele momento tinha 25 anos, riram da brincadeira, típica e recorrente da personalidade extrovertida e bem humorada do mandatário brasileiro.
 
O ex-presidente chegou à capital chilena para participar do seminário "Desenvolvimento e integração da América Latina", onde também se apresentou o ex-presidente chileno, o democrata-social Ricardo Lagos. Após a intervenção, Lula conversou com Vallejo e com a comunista Bárbara Figueroa , presidente do maior sindicato do Chile, a Central Unitária de Trabalhadores (CUT) .
Lula demonstrou uma preocupação especial sobre as questões de educação durante sua visita ao Chile. Na terça-feira à noite, a candidata Michelle Bachelet ofereceu um jantar em sua honra na sede da CEPAL, onde Lula contou em detalhes o modelo de ensino superior no Brasil. De acordo com a imprensa local, o presidente falou com a socialista sobre educação gratuita, uma das principais reformas previstas para o segundo mandato de Bachelet. Os ex-chefes de Estado discutiram também os protestos de 2011, que, para alguns especialistas, possuem semelhanças significativas com as manifestações de junho em diferentes cidades brasileiras.
Pouco antes da recepção calorosa e de camaradagem, Lula participou de uma coletiva de imprensa conjunta com Bachelet , onde reiterou o seu apoio à candidatura presidencial da socialista, que 15 de dezembro deve ser medida no segundo turno com a candidata da direita, Evelyn Matthei . "Tenho a certeza de que o povo chileno vai saber escolher a pessoa mais comprometida em promover o país", disse o ex-chefe de Estado que antes do primeiro turno fez um vídeo para apoiar a candidatura da ex-diretora do ONU Mulheres .

Não foi a primeira vez que Lula toma posição em uma corrida presidencial na América Latina. Em abril ele declarou o seu apoio ao candidato de Chávez na Venezuela, Nicolás Maduro, também com um vídeo .
A visita de Lula ao Chile foi vista pelos analistas locais como uma tentativa do Brasil recuperar a proximidade que os dois países tinham durante o primeiro mandato de Bachelet (2006-2010). A administração de Piñera tem ligações privilegiadas com a Aliança do Pacífico, um bloco comercial e político do qual participam México, Colômbia, Peru e Chile. Bachelet, no entanto, para chegar à La Moneda, tem como objetivo fortalecer as relações com o Brasil e a Argentina. Declarou no seu programa de governo : "Nós admiramos os esforços de integração na Aliança do Pacífico, mas tentaremos orientar nossa participação nesta iniciativa desde uma perspectiva que seja excludente nem antagônica em relação a outros projetos de integração existentes na região, nos quais o Chile também participa”. 


Fonte: El País

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