
Na
sessão de devolução simbólica do mandato presidencial de João Goulart,
realizada ontem no Congresso Nacional, um episódio lamentável foi
registrado por todos, embora o assunto tenha sido deixado de lado para
não ofuscar o brilho do evento.
Na hora em que o
presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, entregou o diploma a
João Vicente, filho de Jango, todos aplaudiram, à exceção de três
convidados e um deputado.
Os três convidados
eram os comandantes das Forças Armadas do Brasil. Por antiguidade:
almirante Julio Soares de Moura Neto, da Marinha; general Enzo Peri, do
Exército; e brigadeiro Juniti Saito, da Aeronáutica.
O
deputado, claro, era Jair Bolsonaro, essa patética figura que, a cada
eleição, as viúvas da ditadura militar mandam para a Câmara.
Não
houve, por assim dizer, nenhum ato de insubordinação dos comandantes
militares. Ninguém é obrigado a bater palmas para nada nem para ninguém,
embora os três comandantes estivessem ao lado da principal convidada do
evento, a presidenta Dilma Rousseff, comandante suprema das Forças
Armadas.
Emocionada, Dilma, presa e torturada
na ditadura, aplaudiu não apenas o ato em si, mas toda a simbologia
envolvida, de repúdio a um regime que sufocou a democracia, torturou e
assassinou brasileiros.
O que houve foi, além
de um gesto combinado de má educação e mesquinhez humana, um sinal
importante de que, passadas quatro décadas desde o golpe militar de
1964, a caserna brasileira continua alinhada à ideologia dos golpistas
de então.
Todos os ministros civis da Defesa, inclusive o atual, Celso Amorim, têm ignorado esse fato, como se desimportante fosse.
Não é.
Nas
escolas militares, uma geração vem contaminando a outra com doutrinas
primárias, mas poderosas, oriundas dos tempos da Guerra Fria.
Baseiam-se, entre outras barbaridades, num anticomunismo tão anacrônico
como risível, mas levado a sério como se o Brasil estivesse perto de
virar uma nação soviética, em pleno século XXI.
Ao
se negarem a bater palmas para a memória de Jango, presidente deposto
por uma quartelada e, suspeita-se, assassinado no exílio, o almirante, o
general e o brigadeiro deram um péssimo exemplo e envergonham a Nação.
Mas
receberam elogios rasgados de seus camaradas de farda. Deram, ainda, um
recado errado aos jovens alunos e cadetes das escolas preparatórias e
academias militares do País.
Já passou da hora
de o governo intervir na formação dos futuros oficiais brasileiros e
resgatá-los dessa armadilha ideológica alimentada por lideranças senis
dos clubes militares.
Dominada por uma direita tacanha e obsoleta, a caserna precisa, com urgência, formar militares de esquerda.
*GilsonSampaio
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