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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 13, 2014

Gilberto Gil: ‘A maconha ajudou a minha música’ e ‘a legalização é necessária’


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Para quem já declarou que usou muita maconha até os 50 anos de idade, hoje com 71 anos, o Ex-ministro da Cultura Gilberto Gil dispara: ‘A maconha ajudou a minha música’, auxiliando no seu trabalho como músico, além de acreditar que toda sociedade deveria estar preparada para legalização. As informações são da Yahoo!

O cantor Gilberto Gil, 71, abriu o jogo e revelou que o uso da maconha já o auxiliou no seu trabalho como músico.
“A maconha ajudou a minha música, sempre digo isso com toda a certeza. A maconha me ajudou pela criatividade, pelo modo do seu uso. Para o tipo de uso que eu queria fazer, ela me ajudou, sim”, disparou o famoso à revista “Quem“.
Ainda falando sobre drogas, o baiano afirmou que é a favor da legalização desses tipos de substâncias. “A legalização é mais benéfica do que a manutenção das drogas como questão criminal. Os malefícios causados pela criminalização são maiores do que os malefícios causados pelo uso. O uso monitorado, transformado em questão de saúde pública, diminuiria os malefícios na segurança pública”, opinou.
Quando questionado se a América Latina está preparada para a legalização das drogas, como recentemente ocorreu no Uruguai, Gil enfatiza que, ” Qualquer sociedade deveria estar. As declarações a favor da legalização têm sido feitas por múltiplas personalidades no mundo inteiro. Isso vem crescendo de forma interessante junto à percepção de que a legalização é necessária”.
Em plena atividade aos 71 anos de idade, Gilberto Gil também comentou como faz para cuidar da saúde. “Faço o que for preciso para ficar mais bonito. Não chego a ser metrossexual, pelo que sei dessa definição. Não chego a tanto (risos). Gosto de manter o peso adequado, a musculatura em forma e faço ginástica”. Apesar disso, o cantor disse que nunca se deixou dominar pela vaidade. “Guardo minha vaidade no espelho do meu quarto”.
*smokebuddies

Putin x Malvinas

Mahmoud Abbas se propõe pedir que a ONU proteja o Estado Palestino

Mahmoud Abbas, Israel, Palestina, Faixa de Gaza, ataques, política, ONU

Em meio à deterioração da situação na Faixa de Gaza, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, irá pedir à ONU para colocar o Estado da Palestina sob a proteção internacional, noticia no domingo a AFP, referindo-se a um comunicado da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

"O presidente Abbas vai entregar ao enviado especial da ONU no Oriente Médio, Robert Serry, uma carta dirigida ao secretário-geral Ban Ki-moon, pedindo que o Estado daPalestina seja oficialmente colocado sob a proteção internacional da ONU e formado um comitê para implementação imediata", lê-se no comunicado da OLP.
As autoridades israelenses lançaram na terça-feira a operação "Margem Protetora", dirigida contra o Hamas. Milhares de palestinos que vivem no norte da Faixa de Gaza, perto da fronteira com Israel,  abandonam apressadamente suas casas e mudam para o sul, temendo bombardeios maciços, segundo testemunham os próprios moradores locais e representantes da ONU ocupados do alojamento de refugiados.

Tostão: CRIARAM UM MONSTRO

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Tostão
Felipão é o responsável pela seleção, mas não é o criador do nosso atual e medíocre estilo de jogar. Ele pensa como os outros técnicos brasileiros. Criaram um monstro. Não sei quando nem onde isso começou, se foi de dentro para fora, por causa da visão estreita dos treinadores, ou se foi de fora para dentro, por causa da ganância pelo lucro, em detrimento da qualidade do futebol.
Está tudo interligado, um jogo de interesses.
Repito, uma praga nacional. Desaprendemos a jogar coletivamente. Para Felipão e a maioria dos técnicos, trocar passes no meio-campo é frescura, um jogo bonitinho, improdutivo. O futebol brasileiro vive de correria, de estocadas e de jogadas aéreas. Muitas vezes, dá certo. Por motivos óbvios, qualquer técnico da seleção tem uma ótima estatística. Queremos mais que isso. O mundo, que tanto nos admira, também está triste.
Por causa do desprezo pelo meio-campo, não temos um craque neste setor. Se Kroos, Schweinsteiger e outros armadores fossem formados no Brasil, seriam escalados, desde as categorias de base, de meias-ofensivos, para atuar próximos ao gol. Schweinsteiger era um meia habilidoso e criativo que se transformou em um volante, para o time ter mais odomínio do jogo e da bola.
Contra a Alemanha, o Brasil jogou com cinco atrás (quatro defensores mais Luiz Gustavo), quatro na frente (Hulk e Bernard, pelos lados, e Oscar, próximo a Fred) e apenas Fernandinho, em um enorme espaço no meio-campo. Enquanto isso, a Alemanha, com todos os jogadores muito próximos, tinha três no meio-campo, mais Müller e Özil pelos lados, que voltavam para marcar e chegavam na frente. Os cinco atacavam e defendiam. Eram cinco contra um.
Houve, nos últimos tempos, uma proliferação de atacantes velozes, mas com pouca técnica e lucidez. Depois de Ronaldo, só tivemos um especial, Neymar. Os outros são fracos para o nível da seleção.
Há 15 anos, falo sobre isso. Tenho a sensação de que estou sendo repetitivo e que não há nenhuma importância se falo ou não falo disso. Cansei.
*GilsonSampaio

A HIPOCRISIA BANHADA EM SANGUE DE ISRAEL

A hipocrisia banhada em sangue de Israel
Assassinatos bárbaros de adolescentes israelenses e palestinos estão levando os dois lados a confrontos violentos em inúmeras cidades  mas o aparato político-militar de Israel ainda é o maior culpado pela incitação ao ódio
Por Jonathan Cook, em Alternet | Tradução: Vinicius Gomes
Choque e raiva engolfaram as sociedades israelense e palestina desde a semana passada, quando crimes bárbaros aconteceram a crianças de suas respectivas comunidades. Horas depois de localizarem os corpos de três adolescentes israelenses – semanas após seus desaparecimentos –, um jovem palestino, Mohammed Abu Khdeir, foi sequestrado, espancado e queimado vivo, aparentemente como vingança.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é acusado tanto por palestinos quanto por israelenses, de incitar à violência de ambos os lados (Emil Salman)
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é acusado tanto por palestinos quanto por israelenses, de incitar à violência de ambos os lados (Emil Salman)
Estes eventos horríveis deveriam servir como lição sobre a futilidade obscena da vingança. Como um parente de um dos jovens mortos apontou: “Não existe diferença entre sangue e sangue”. Infelizmente, essa não foi a mensagem explicitada na cobertura midiática durante a última semana. Nas redes sociais, a justaposição de imagens do The New York Times, do mesmo dia, mostrou o quão fácil é se esquecer que não apenas temos o mesmo sangue, como também sofremos da mesma maneira.
Uma manchete sobre o “coração partido” dos israelenses foi ilustrada de modo comovente, com as famílias dos três jovens israelenses se abraçando – arrasadas por suas perdas. Por outro lado, um texto sobre o assassinato do jovem palestino de 16 anos queimado vivo foi acompanhado de uma imagem de jovens mascarados arremessando pedras.
Essas representações contrastantes do luto das famílias foram totalmente enganadoras. Verdade: jovens palestinos têm protestado violentamente em Jerusalém e comunidades em Israel, desde que Abu Khdeir foi enterrado. Mas da mesma maneira agem os judeus israelenses, que saíram enfurecidos pelas ruas de Israel clamando por “morte aos árabes” e atacando qualquer um que aparentasse ser palestino.
Mesmo assim, Abraham Foxman, o chefe da Liga Anti-Difamação – uma organização judaica nos EUA que alega lutar contra a intolerância – estava propagando uma mensagem igualmente controversa: no Huffington Post escreveu sobre uma “cultura de ódio” dos palestinos.
De acordo com Foxman, as sociedades palestinas e israelenses são fundamentalmente diferentes. O descontentamento palestino é “propagado e incita o ódio por meio de um apoio irrestrito à violência contra judeus e Israel”.
Os três adolescentes que foram raptados em 12 de junho e encontrados mortos, duas semanas depois (Reprodução)
Os três adolescentes israelenses que foram raptados em 12 de junho e encontrados mortos, duas semanas depois (Reprodução)
Ele reproduz, assim, um sentimento comum em Israel – enunciado no final dos anos 1960 pela então primeira-ministra israelense Golda Meir. Ela sugeriu que, mais difícil do que perdoar os inimigos árabes por matar israelenses, seria “perdoá-los por nos forçarem a matar os filhos deles”.
Em uma ação de auto-honradez similar, muitos israelenses repreendem os pais palestinos por colocarem seus filhos em perigo, ao permitir-lhes que joguem pedras contra forças de segurança de Israel. A justificativa é de que os palestinos – como resultado de sua cultura ou religião – valorizam menos a vida do que os israelenses.
Estranhamente, os israelenses raramente questionam as consequências da decisão tomada, por um em cada 10 deles, de viver em assentamentos ilegais da já roubadaterra palestina. Os assentados escolheram colocar a si próprios e a seus filhos nalinha de frente também, embora tenham mais opções de locais para viver do que os palestinos.
Os bombardeios à Faixa de Gaza pelo exército israelense - como resposta à morte dos três jovens - já matou mais de 80 pessoas (incluindo crianças), feriu mais de 500 e forçou o deslocamento de milhares (Reprodução)
Os bombardeios à Faixa de Gaza pelo exército israelense – como resposta à morte dos três jovens – já matou mais de 80 pessoas (incluindo crianças), feriu mais de 500 e forçou o deslocamento de milhares (Reprodução)
De fato, nem os israelenses e nem os palestinos podem alegar estarem acima da cultura de ódio. Enquanto as ocupações de uma Israel beligerante continuarem, suas vidas juntos em uma pequena porção doOriente Médio irão continuar a serem incitadas à confrontações violentas.
Mas isso não significa que a culpabilidade de israelenses e palestinos seja igual. A realidade é que os israelenses, ao contrário dos palestinos, possuem um Estado soberano que os representa e os defende contra um exército mais forte.
Na semana passada, o exército de Israel anunciou que prendeu diversos soldados que postaram na internet fotografias de si próprios clamando vingança contra “árabes”. As prisões funcionaram bem para a imagem de Israel como um país que aplica a lei, mas elas escondem verdades mais profundas.
A primeira é que os israelenses sedentos por represálias estão simplesmente ecoando seus líderes políticos e religiosos, cujas declarações de vingança ultrapassaram até mesmo o horrendo apoio do Hamas pelas mortes dos jovens israelenses.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, liderou o caminho, citando uma famosa frase de um poema hebreu: “Até mesmo o diabo ainda não criou a vingançapelo sangue de crianças”. Seu ministro da economia, Naftali Bennet, urgiu que Israel “ficasse furiosa”, enquanto um ex-legislador jurou que Israel tornaria o Ramadã em um “mês de escuridão”. Um rabino influente, e supostamente moderado, torcia por um “exército de vingadores”.
Na semana passada, israelenses de esquerda fizeram demonstrações em Tel Aviv, protestando contra o governo de Netanyahu por “incitar a violência”, mas até mesmo isso subestima o problema.
As ameaças de líderes israelenses não estão simplesmente incitando a violência nas ruas. O enorme aparato das forças de segurança de Israel também está fazendo isso. Uma ótima ilustração disso foi o vídeo no qual policiais armadas em Jerusalém espancavam uma criança de 15 anos – primo do jovem morto Abu Khdeir – enquanto este estava algemado e indefeso no chão. Veja o vídeo abaixo:
A administração de Netanyahu planeja uma mais sutil vingança: ela planeja construir novos assentamentos – uma violência contra a vida dos palestinos em seus já parcos territórios – para especificamente honrar a vida dos três jovens israelenses. Protegidos pelo exército, os assentados já estão começando a acampar na Cisjordânia.
Enquanto isso, o exército de Israel lança uma série de ataques em Gaza, culminando em uma nova operação em larga escala. Eles também revivem a política de demolir as casas de parentes dos suspeitos palestinos, apoiados por cortes jurídicas, os soldados explodiram as casas da família de dois homens que foram acusados de estarem por trás dos sequestros dos jovens israelenses.
Ao passo que a Human Rights Watch denuncia que as recentes ações de Israel – prisões em massa, ataques armados, assassinatos de palestinos – incluindo menores –, demolição de casas, bombardeios e cidades sitiadas – são uma “punição coletiva”, um eufemismo para vingança contra a Palestina.
De frente para a contínua violência de Israel com suas ocupações e a licença que os soldados têm para humilhar e oprimir qualquer um, os palestinos comuns têm uma escolha: submissão ou resistência. Os israelenses comuns, por outro lado, não precisam buscar vingança por si próprios. O Estado de Israel, seus militares e suas cortes estão ali todos os dias fazendo isso por eles.

Copa do Mundo no Brasil injetou R$ 142 bilhões na economia

Na empregabilidade, o setor de Turismo ofereceu, sozinho, mais de 48 mil oportunidades de trabalho. Outras 50 mil vagas foram criadas para execução das obras nos estádios. Os dados são da Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP


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Copa do Mundo no Brasil injetou R 142 bilhes na economia
(Torcedores assistindo jogo da Copa na Fifa Fan Fest-RJ)
Um dos saldos da Copa do Mundo no Brasil é o valor de R$ 142 bilhões injetados naeconomia entre 2010 e 2014. E a escolha das 12 cidades-sedes não foi à toa: o objetivo é espalhar a riqueza para todas as regiões, com desenvolvimento para comercio, indústria e serviços.
A Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP, apontou que, dos R$ 9,7 bilhões gerados durante a Copa das Confederações, 51% se difundiram por todo o pais, enquanto 49% ficaram concentrados nas seis cidades que receberam o torneio. Já o Mundial tem potencial de retorno mais de três vezes maior.
Mais de 3,6 milhões de pessoas estão circulando pelo Brasil, o dobro em comparação à Copa do Mundo na África do Sul (2010). Apenas com visitantes, o país terá retorno de, no mínimo, R$ 25 bilhões. Esse valor quita gastos do governo federal em infraestrutura, mobilidade urbana e segurança feitos para receber o evento e que ficarão como legado para população ao término dele.
Na empregabilidade, o setor de Turismo ofereceu, sozinho, mais de 48 mil oportunidades de trabalho. Outras 50 mil vagas foram criadas para execução das obras nos estádios. Esses são exemplos de fatores essenciais para que o Brasil possa seguir mantendo as menores taxas de desemprego de sua história.
Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/07/copa-mundo-brasil-injetour142-bilhoes-na-economia.html

Quando Jerusalém-2014 faz lembrar Berlim-1933


Quando Jerusalém-2014 faz lembrar Berlim-1933

Jornalista israelense escreve: cenários não são iguais, mas surto de ódio antipalestino estimulado por Telaviv envergonha história judaica
Por Chemi Shalev, no Haaretz | Tradução: Antonio Martins, em Outras Palavras
Os velhos jornais no Ocidente não terão coragem de publicar essa matéria. Críticas muito duras ao governo israelense vêm da própria imprensa liberal do país. Precisam ser conhecidas, para que setores interessados em paz e justiça no Oriente Médio saibam que podem encontrar apoio em importantes setores da sociedade israelense. Talvez estejam ainda apáticos, por se sentirem isolados em meio à manada que segue a propaganda oficial e a mídia, hegemonizada pelos setores mais sectários (o diárioHaaretz, onde foi publicado o texto a seguir tem 10% dos leitores; os demais jornais são controlados por magnatas estrangeiros da mídia conservadora). 
O artigo faz analogias entre o ambiente de histeria em Israel, estimulado de forma oportunista por políticos da direita, e o que a Alemanha respirou, nos estágios iniciais do nazista. A publicação de artigos como esse em Israel, embora chocantes, pode ser vista com esperança de que setores existentes na própria sociedade israelense poderão, um dia, virar o jogo. Mas isso só ocorrerá se houver também forte pressão internacional. 
Trata-se de salvar Israel do fascismo, do isolamento internacional, e de estabelecer entre este país e os palestinos bases para um futuro de paz e boa vizinhança, única forma de ambos escaparem da tragédia humanitária que avança no Oriente Médio. (Sérgio Storch)
Em 9 de março de 1933, os paramilitares camisas-marrons da SA nazista lançaram uma ofensiva. “Em diversas partes de Berlim, um grande número de pessoas, a maioria das quais aparentemente judias, foi atacado abertamente nas ruas e golpeado. Algumas foram feridas gravemente. A polícia pode apenas recolhê-las e levá-las ao hospital”, relatou o jornal londrino The Guardian. “Os judeus foram espancados pelos camisas-marrons até sangrar nas faces e cabeças”, prosseguiu o jornal. “Diante de meus olhos, paramilitares, babando como bestas histéricas, perseguiram um homem em plena luz do dia e o chicoteavam”, escreveu Walter Gyssling, no jornal.
Sei que você ultrajou-se antes mesmo de chegar ao final do parágrafo anterior. “Como ele ousa comparar incidentes isolados em Israel com a Alemanha nazista?”, você está pensando. “Isso é uma banalização ofensiva do Holocausto”.
É claro que você tem razão. Minha intenção não é traçar um paralelo. Meus pais perderam, ambos, suas famílias, durante a II Guerra Mundial. Não preciso ser convencido de que o Holocausto é um crime tão único que figura de modo destacado, mesmo nos anais de outros genocídios premeditados.
Mas sou um judeu e há cenas no Holocausto que estão gravadas indelevelmente em minha mente, ainda que não estivesse vivo à época. Quando assisti vídeos e vi imagens de gangues de judeus racistas de direita marchando pelas ruas de Jerusalém, cantando “Morte aos Árabes”, caçando árabes aleatoriamente, identificando-os por sua aparência ou sotaque, perseguindo-os em plena luz do dia, “babando como bestas histéricas” e golpeando-os antes que a polícia pudesse chegar, a associação histórica foi automática. Foi o que primeiro saltou à mente. Deveria ser, penso, a primeira coisa a saltar à mente de qualquer judeu.
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Israelenses queimam a bandeira palestina e gritar slogans racistas durante um protesto anti-palestino em Gush Etzion.
Não é preciso dizer que Israel de 2014 não é “O Jardim das Bestas”, expressão que Erik Larson usou para descrever, em seu livro, a Alemanha de 1933. O governo de Telaviv não é tolerante com o vigilantismo ou os gângsters, como foram os nazistas por algum tempo, antes que os alemães começassem a se queixar de desordem nas ruas e dos danos à reputação internacional de Berlim. Não tenho duvidas de que a polícia fará todo o possível para prender os assassinos do garoto palestino cujo corpo calcinado foi encontrado numa floresta de Jerusalém. Até rezo para descobrirem que o assassinato não foi um crime de ódio [Em 6/7, a polícia israelense prendeu, de fato, pessoas – judeus ortodoxos de extrema-direita – que confessaram a autoria do crime, evidentemente motivado por ódio e racismo (Nota da Tradução)].
Mas não nos enganemos. As gangues de valentões judeus promovendo caçadas humanas não são uma aberração. Não foi um acesso incontrolável e único de raiva, que se seguiu à descoberta dos corpos de três estudantes sequestrados. Seu ódio inflamado não existe num vácuo. É uma presença marcante, que cresce a cada dia, engolfando setores cada vez mais amplos da sociedade israelense, alimentada num ambiente de ressentimento, isolamento e auto-vitimização, impulsionado por políticos e “especialistas” – alguns cínicos, outros sinceros – que se cansaram da democracia e suas brechas e que anseiam por ver a imagem de Israel associada a um único Estado, uma única nação e, em algum ponto desta espiral descendente, um único Líder.
Em apenas 24 horas, uma página do Facebook convocando “revanche” pelos assassinatos dos três garotos sequestrados recebeu dezenas de milhares de “curtidas”, e encheu-se de centenas de apelos explícitos para matar árabes, onde quer que estejam. Outra página, pedindo a execução de “extremistas de esquerda”, alcançou quase dez mil “likes”, em dois dias. Além disso, inúmeros textos na web e nas mídias sociais estão inundados de comentários dos leitores vomitando o pior tipo de bile racista e pedindo morte, destruição e genocídio.
Estes sentimentos foram ecoados nos últimos dias, ainda que em termos um pouco mais velados, por membros do Knesset [o Parlamento israelense], que citam versos da Torah sobre o Deus da Vingança e seu ordem de extermínio dos amalequitas. David Rubin, que descreve a si mesmo como ex-prefeito de Shiloh, foi mais explícito: em um artigo publicado no Israel Ntional News, ele escreveu: “Um inimigo é um inimigo e a única maneira de vencer esta guerra é destruir o inimigo, sem levar excessivamente em conta quem é soldado e quem é civil. Nós, judeus, atiraremos primeiro nossas bombas sobre alvos militares, mas não há, em absoluto, necessidade de nos sentirmos culpados por arruinarmos as vidas, matarmos ou ferirmos civis inimigos que são, quase sempre, apoiadores do Fatah ou do Hamas”.
Pairando sobre tudo isso estão o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo, que insistem em descrever o conflito com os palestinos em tons rudes de “preto e branco”, “bem contra o mal”; que descrevem os adversários de Israel como incorrigíveis e irredimíveis; que nunca demonstraram o mínimo sinal de empatia ou compreensão, diante das reivindicações de um povo que vive sob ocupação israelense por meio século; que fazem pronunciamentos voltados para desumanizar os palestinos aos olhos do público israelense; que perpetuam o sentimento público de isolamento e injustiça; e que, portanto, estão abrindo caminho para ondas de ódio homicida que começaram a emergir.
Algumas pessoas ensaiarão um paralelo entre a terrível violência de direita que varreu Israel depois dos Acordos de Oslo e a maré crescente de racismo. Em ambas, está implicado o premiê Netanyahu. De seus discursos virulentos na Praça Sion contra o governo da época ao assassinato de Yitzhak Rabin, à época; e de sua retórica antipalestina áspera à explosão horrível de racismo hoje.
Mas é uma resposta fácil demais. Não basta culpar Netanyahu, sem questionar o resto de nós, Judeus em Israel ou na Diáspora, os que fecham os olhos e os que desviam o olhar, os que retrata os palestinos como monstros desumanos e os que veem qualquer autocrítica como um ato de traição judaica.
A comparação certamente é válida: a máxima de Edmund Burke – “Para o triunfo [do mal], basta que os homens bons nada façam” – era correta em Berlim no início dos anos 1930 e permanece verdadeira em Israel. Se nada for feito para reverter a maré, o mal certamente triunfará – e não será preciso esperar muito.
*revistaforum

Trabalho de trabalhador se vê enquanto o ódio será sufocado naturalmente