Por Maurício Tomasoni, da ACJM-SC
Neste domingo, dia 19, o povo nicaragüense celebra o 36º aniversário de sua revolução popular, construída desde os tempos da resistência indígena à invasão espanhola, passando pela resistência às invasões norte-americanas (três no total), pela luta de Augusto César Sandino contra o imperialismo norte-americano e a elite nativa subserviente, passando pelas tentativas guerrilheiras dos sobreviventes do Exército Defensor da Soberania Nacional, pela fundação da FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) em 1961, pelas experiências guerrilheiras de Raiti, Rio Coco e Bocay em 1963 e depois a de Pancasan em 1967. Estas últimas derrotadas pela Guarda Nacional e com perdas em combate de dirigentes históricos e inclusive fundadores da FSLN. Experiências que, apesar de serem derrotadas, se tornaram ensinamentos fundamentais para a direção guerrilheira, no sentido de revisão de táticas e implementação de novos mecanismos organizativos e de retaguarda.
A luta seguiu nos anos posteriores até a tomada do poder em 1979. Logo se instala a reação contra-revolucionária financiada pelos Estados Unidos e impulsionada desde o território hondurenho, utilizando base militar norte-americana neste país, e, que culminou com a derrota eleitoral em 1990 para a UNO (União Nacional Opositora) de Violeta Chamorro. Somente em 2007, a FSLN vence as eleições e ressume o governo.
A conjuntura em 1979 era muito diferente da do final dos anos 80 e começo dos 90 do século passado, anos anteriores e posteriores à queda do campo socialista do leste europeu e da União Soviética, que foram fundamentais para contribuir no avanço da revolução sandinista, tanto no campo econômico quanto no fornecimento de mecanismos de defesa militar. Apesar disso, o apoio militar dos Estados Unidos para a contra-revolução desembocou na vitória eleitoral da UNO, pois a “contra” causou inúmeras perdas econômicas, de infra-estrutura e humanas ao povo nicaragüense. A consigna da UNO era: conosco a paz, com a FSLN a guerra. Ou seja, o conflito com a “contra” apoiada pelos yankees continuaria se a FSLN continuasse no governo.
Vivia-se nos anos 1970 e 1980 um grande Ascenso dos movimentos guerrilheiros em El Salvador e Nicaragua. As massas estavam insurrecionadas, diferentemente do que se passa hoje.
É preciso entender, não dogmatizar, nem enquadrar em modelos pré-fabricados, os processos revolucionários. Em especial, no caso em questão, o nicaragüense. Cada revolução tem suas próprias características, devido a fatores concretos como a formação econômico-social, a composição de classes, a dependência econômica, a conjuntura política e econômica mundial, o poder imperialista, principalmente o norte-americano.
É importante termos como referência para análise a opinião das forças políticas que, historicamente, lutaram contra o imperialismo e que se propuseram acabar com as chagas da dependência, implementando medidas como a reforma agrária, o combate ao analfabetismo, à desigualdade social, etc. Isto é dito porque disseminam-se críticas e mentiras com interesses alheios e com o objetivo de retirar a credibilidade de personalidades e forças políticas. Por isso que aderirmos a críticas de agrupamentos políticos sem termos em conta sua trajetória e, inclusive, os motivos porque romperam é temerário.Nem todo rompimento dito à esquerda pode ser “santificado”. Assim como é um erro aderir a opiniões de pretensos analistas internacionais de nome, que se supõem “juízes” da luta de classes, mas não são capazes de criar e de se responsabilizar por uma organização política que tenha influência na sociedade. Alguns se dizem até marxistas, mas são incapazes de seguir a tese fundamental do marxismo que é a necessidade de transformação revolucionária da sociedade e de construção de elementos que elevem a cabo esta tarefa.
A FSLN teve ao largo de sua existência erros e acertos, e problemas políticos mas é a organização nicaragüense com credibilidade histórica, pois desde a sua fundação lutou contra o imperialismo yanque. Basta ver, as suas posições históricas, e, inclusive, as posições atuais de defesa dos interesses dos povos faz a FSLN. Em episódios recentes fizeram duas declarações contra o sionismo e sua agressão ao povo palestino, em defesa do direito do povo palestino ter seu estado, a condenação à agressão ao povo líbio e ao assassinato ao seu líder histórico, Muamar Kadafi. A defesa do governo venezuelano, alvo de maquinações golpistas dos Estados Unidos e da elite lacaia nativa. Em todas as questões internacionais, a posição da FSLN é de defesa dos interesses dos povos e contra o imperialismo.
Ressalte-se, também, que a Nicaragua é membro da ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas), cuja adesão se deu fevereiro de 2007, logo após a posse de Daniel Ortega.
Há que se destacar, também, que no seio do povo nicaragüense geram-se camaradas e companheiros heróicos como o General de Homens Livres, Augusto César Sandino que combateu a invasão imperialista, o general Santos Lopez, companheiro de Sandino e que mais tarde se integraria à FSLN, já idoso. Há que se lembrar, também, Oscar Turcios, German Pomares, Silvio Mayorga, Jose Benito Escobar, todos estes quatro fundadores da FSLN. Registre-se que dos fundadores da FSLN, apenas Tomás Borge (falecido em 2012) pode enxergar com seus próprios olhos o triunfo e o comício na Praça da Revolução em 19 de julho de 1979.
Também, destacamos a importância de tantos outros companheiros como Rigoberto Lopez Perez, Carlos Tinoco, Francisco Moreno, Vítor Tirado Lopez, Juan Jose Quezada, Júlia Herrera de Pomares, Ricardo Morales Avilés, Julio Buitrago, Camilo Ortega Saavedra, entre tantos outros militantes.
O principal líder e fundador da FSLN foi Carlos Fonseca, que foi o principal líder teórico e estrategista da revolução. Ele foi assassinado pela guarda nacional somozista em novembro de 1976, quando integrava uma coluna guerrilheira que foi cercada nas selvas de Zinica. Foi Carlos quem resgatou o papel desempenhado por Sandino na luta anti-imperialista, personagem que a ditadura nicaragüense fez de tudo para tirar dos livros de história ou para difamá-lo como bandido, bandoleiro, ladrão e assassino. Carlos travou muitas discussões com companheiros que tinham posições anti-imperialistas, mas que influenciados por esta visão, menosprezavam a importância da heróica luta de Sandino, seu caráter anti-imperialista e as lições históricas necessárias ao desenvolvimento conseqüente da luta. Frise-se que Sandino não era marxista e não queria ser, motivo pelo qual o salvadorenho Farabundo Marti, que era seu ajudante de ordens e coronel do Exército em Defesa da Soberania Nacional, rompeu politicamente com ele. Farabundo, era membro do Socorro Vermelho Internacional para a América Central e Caribe da Internacional Comunista.
Recordemos, também, Arlen Siu, filha de pai chinês e mãe nicaragüense que é uma das mártires da revolução. Foi assassinada aos 18 anos, em novembro de 1975, em El Sauce, quando participava de uma escola guerrilheira nas selvas deste lugar. Era conhecida nacionalmente como cantora muito popular e compromissada com os pobres de sua terra. La Chinita como era conhecida saiu da cidade para integrar-se à guerrilha. Seus restos mortais foram ocultados pela ditadura devido à comoção nacional que poderia causar. Tão somente após o triunfo de 1979 foram encontrados e sepultados seus restos mortais.
Outro registro que precisa ser feito é sobre o atual presidente da Nicaragua, Daniel Ortega que já aos 16 anos se integrava na luta armada contra o regime somozista. Foi a mais destacada figura da FSLN após a morte de Carlos Fonseca até os momentos atuais, passando pelos altos e baixos das derrotas eleitorais de 1990, 1997 e 2002, e, pela vitória eleitoral de 2007 e a sua conseqüente reeleição. Daniel segue sendo referência ao lado de tantos líderes como Evo Morales, Shafick Handal, Salvador Sanchez Ceren, Hugo Chavez, Nicolás Maduro, Fidel Castro, Raul Castro.
Parabéns ao povo nicaragüense, aos lutadores anti-imperialistas do Exército da em Defesa da Soberania Nacional de Sandino, a todos os caídos em combate, heróis e mártires da Revolução Popular Sandinista, à Frente Sandinista de Libertação Nacional, e, aos que perseguem a causa da justiça social e soberania nacional.