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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 15, 2011

Dívida dos EUA, estopim pronto para a crise


Antes de iniciar sua viagem à colônia de  Porto Rico, o presidente Barack Obama subiu o tom das ameaças ao Congresso para que aprove um aumento do limite de endividamento do Governo americano,  que já atingiu o limite legal de  US$ 14,3 trilhões. Ele disse que sem a aprovação de um novo limite, o Governo vai ter de suspender pagamentos a partir de agosto e voltou a falar na eclosão de uma nova crise econômica no país.
Hoje,  foi a vez do presidente do Federal Reserve, o BC deles,o sr. Ben Bernanke dizer que “impedir o aumento do teto da dívida pode afetar a confiança do investidor na economia do país e na capacidade de os Estados Unidos pagarem suas dívidas.” Ele advertiu que a falta de autorização da ampliação dos limites da dívida “poderá causar “distúrbios severos nos mercados financeiros”, incluindo a piora na classificação de risco da dívida do governo e danos ao papel especial que o dólar e os títulos do Tesouro americano desempenham atualmente nos mercados globais, onde sempre foram considerados “refúgios” para a crise.
A economia americana se aproxima de um impasse.  mesmo com as fortes emissões de moeda e os juros negativos (abaixo da inflação) praticados lá, a economia não dá sinais de recuperação. Hoje saíram os índices de vendas no comércio de varejo e houve a primeira queda, depois de 11 meses de pequenas elevações. Não há saltos na inflação, mas ela prossegue, mesmo desconsiderada a influência do petróleo.
Uma pesquisa da Bank of America-Merril Lynch, com os maiores investidores do mundo mostra que o otimismo em relação ao mercado de ações caiu 34% frente ao mês anterior, enquanto o otimismo em relação às commodities caiu 50%. Por outro lado, a rejeição dos investidores a títulos de renda fixa caiu 21%.
A economia brasileira, por maiores que sejam os “colchões” de reservas do banco Central, não pode ter uma postura de risco neste quadro. o endividamento em dólar barato é um problema sério, mesmo para as instituições que não se descuidam de manter posições de “hedge” (proteção) cambial.
É bom a gente ouvir o pensamento dos economistas que não rezam pelo breviário do “mercado”, como o Professor Amir Khair, em seu excelente artigo, publicado no site Outras Palavras:
“Face a esse quadro, o melhor para o Brasil é apostar as fichas da saúde econômica e financeira naquilo em que somos bons: alto potencial de mercado interno inexplorado. Assim, é bom repensar as políticas do pé no freio, que podem fragilizar o País aos trancos que poderão vir de fora.”
É boa leitura para nossos dirigentes da economia, agora que estão ganhando aplausos do “mercado” que, há três meses, os demonizava. Um aviso para não começarem a gostar tanto, quando lhes batem palmas, que deixem de pensar no que nos tirou da “vala” no tsunami financeiro de três anos atrás.
*Tijolaço

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