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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 14, 2011

Nos 83 anos de Che, livro traz textos inéditos do guerilheiro


Nesta terça-feira (14), o guerrilheiro Ernesto "Che" Guevara completaria 83 anos se estivesse vivo. Para marcar a data, será lançado um livro com alguns textos inéditos do líder revolucionário. “Diário de um combatente” reúne testemunhos de Che durante o movimento de Sierra Maestra que levou Fidel Castro ao poder em 1959.

As editoras Ocean Press e Ocean Sur anunciaram que a obra tem 303 páginas e 40 fotos e fac-símiles. O diário recorre a momentos da luta armada em Cuba desde a chegada do iate Granma, embarcação que levou os revolucionários até a ilha, em 2 de dezembro de 1956 até o triunfo em 1º de janeiro de 1959. Todos os acontecimentos são "narrados por quem foi um de seus principais protagonistas'", informa a contra capa do livro.

“O alto valor do testemunho humano presente no livro ajuda a entender as percepções de Che sobre a realidade da ilha, da sua cultura, identidade e contexto político”, explicou um dos editores, acrescentando que nem todas as revelações são extraordinárias, uma vez que, muitas destas anotações já foram expostas ao público. A novidade é a junção de todos os textos e que permitem agora uma nova leitura e visão sobre os acontecimentos.

O Centro de Estudos Che Guevara, responsável pela obra e legado de revolucionário cubano, demorou a publicar este livro por faltar um grupo importante de notas, que incluem vários meses de luta e cujo paradeiro se desconhece, e ainda por apresentar vários erros ortográficos e imprecisões, devido ao desconhecimento inicial de Che Guevara da geografia cubana e das zonas dos acontecimentos narrados, assim como também existem falhas nos nomes de alguns combatentes.

Nos últimos anos foi feito um estudo exaustivo do diário, na tentativa de retificar grande parte dos erros e falhas das notas. Trabalho que culmina assim na publicação do livro no aniversário de Che Guevara.

Che nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, na Argentina, e foi assassinado na Bolívia em 9 de outubro de 1967, aos 39 anos, depois de ser capturado do Exército desse país, quando comandava um foco guerrilheiro.


*umpoucodetudodetudoumpouco

O nascedor

E atravessando a cordilheira, pergunto-me: por que será que o Che Guevara, o argentino mais famoso de todos os tempos, o mais universal dos latino-americanos, tem o costume de continuar nascendo...
Paradoxalmente, quanto mais é manipulado, quanto mais é traído, mais nasce. Ele é o mais nascedor de todos. E pergunto-me: Não será porque ele dizia o que pensava e fazia o que dizia? Não será por isso que ele continua sendo tão extraordinário, neste mundo onde as palavras e os fatos muito rara vez se encontram, e quando se encontram não se cumprimentam, porque não se reconhecem?
O nascedor, retirado do livro "Espelhos" de Eduardo Galeano
Encontrei este excerto do livro de Galeano aqui

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