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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 19, 2011

Religião atrofia o cérebro, revela estudo de universidade americana



O Pensante
Estudo do Centro de Saúde da Universidade Duke (EUA) concluiu que o hipocambo de pessoas religiosas diminui com o tempo, de forma similar com o que ocorre com o cérebro de portadores do Mal de Alzheimer.
A função do hipocampo, que fica nos lobos temporais, ainda não foi totalmente mapeada pela neurociência, mas já é certo que é fundamental para a retenção da memória e locomoção das pessoas no espaço. Pesquisas recentes comprovaram que parte dos esquizofrênicos apresenta anormalidade nessa região do cérebro.
Amy Owen, coordenadora do estudo, disse ter ficado surpresa com o resultado porque várias pesquisas apontam para os benefícios da religião, como o alívio da ansiedade e da depressão. O seu estudo é o primeiro no gênero.
Ela informou ter usado ressonância magnética para medir o hipocampo de 268 homens e mulheres de 58 anos a 84, entre os quais crentes e não religiosos. A faixa etária é alta porque o objetivo inicial do estudo era avaliar os efeitos da depressão no cérebro de idosos.
Amy reconheceu que a complexidade do cérebro e o pequeno número de pessoas examinadas podem comprometer o estudo, mas ainda assim ela acredita que as conclusões estejam na direção certa.
Uma das possíveis causas da atrofia do cérebro nesse caso, segundo ela, é o estresse dos crentes em consequência, entre outros fatores, do conflito de seu comportamento com o que prega a igreja e do temor de ser punido por Deus. “Transgressões religiosas podem originar angústia e desequilíbrio emocional.”
O estresse libera um hormônio que diminui o hipocampo. Em pessoas de minoria religiosa, o estresse tende a ser maior.
A estudiosa informou que a diminuição do hipocampo se apresentou mais acentuada em determinados grupos de religiosos, destacando-se, pela ordem, protestantes e católicos.
O estudo foi publicado pela universidade em março e agora comentado pela revista Scientific American.
A Universidade Duke fica em Durham, no Estado da Carolina do Norte. Ela está entre as 10 melhores dos Estados Unidos.
Com informação da Scientific American.
Fonte: Paulopes Weblog

quarta-feira, agosto 17, 2011

Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”

 

Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.
Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.
O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.
Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.
A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.
Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.
“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.
Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável.
Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.
Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse ele.
Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas
Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).
No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’.
Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.
Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implemented by the U.S. debt deal act.
Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não está experimentando uma crise não é correto.
Joseph Lazzaro - The International Business Time

O pato, o ganso e o cisne

Sessenta e quatro anos após o trauma vivido no Maracanã, o Brasil volta a sediar uma copa mundial de futebol. E isso num momento em que por variados motivos vamos adquirindo ares de sermos mais do que um país apenas emergente.
O Brasil desperta no mundo atual uma nova admiração que ultrapassa o velho chavão do país do futebol. Políticas sociais mais acertadas, economia minimamente planificada e que consegue vencer a crise do capitalismo neoliberal que vaza água por muitos lados, política externa independente, ampliação e solidificação de seu mercado interno, proteção à indústria nacional, enfim, um conjunto de ações que têm despertado a curiosidade de políticos, economistas e jornais do mundo inteiro.
Curiosamente, onde estamos perdendo alguns pontos é exatamente na classificação mundial de futebol feito pela FIFA. Aquele velho e bobo orgulho da ‘pátria em chuteiras’. E parte desse declínio tem a ver com alguns inexpressivos resultados na nossa seleção canarinho.
Com a criação, ampliação e sofisticação do chamado mercado do futebol europeu há alguns anos, o Brasil tornou-se naturalmente um dos maiores fornecedores de bons jogadores para aquele continente. Mas isso virou a farra do boi. Hoje, as escolinhas de futebol espalhadas pelos quatro cantos do país preparam meninos para se tornarem os grandes astros de amanhã. E são preparados como mercadoria de luxo.
O principal modelo, embora existam muitos outros, é Neymar que, em apenas dois anos foi elevado à categoria de um dos principais jogadores brasileiros, com grandes verbas publicitárias ao redor do seu nome e desempenho, promessas de salários astronômicos e possibilidade de vendas para o exterior por preços estratosféricos. Um verdadeiro cisne ao lado de patos e gansos.
Contudo, o futebol apresentado por esse jogador tem deixado a desejar, seja no seu time, o tradicional Santos Futebol Clube da Vila Belmiro, e principalmente pela seleção nacional. Não só ele, mas os inúmeros talentos que jogam fora do Brasil e seus salários astronômicos. Todos transformados em celebridades nos países em que atuam e no Brasil, incensados e idolatrados além daquilo que realmente merecem.
Alguns, depois de algum tempo, já “bichados”, para usar a linguagem do futebol, voltam para cá, contratados por salários irreais por alguns de nossos grandes clubes. Não jogam, pois estão se recuperando fisicamente: gordos, fora de forma, desinteressados, cansados do futebol, velhos para o esporte aos trinta e poucos anos.
FIFA, CBF, diretores de clubes, empresários, técnicos, patrocinadores, imprensa esportiva, canais de televisão, armam uma ciranda onde o que menos importa é o futebol, o bom futebol, o esporte que sempre encantou milhões pelo mundo afora.
Feira de vaidades, mercado de transações comerciais lícitas e ilícitas, valhacouto de mafiosos, o futebol vai deixando de ser um esporte emocionante na sua prática dentro dos gramados, para se tornar uma atração das páginas policiais e das fofocas jornalísticas.
Por aqui, uno minha voz a de tantos outros que ainda gostam do futebol arte: FORA RICARDO TEIXEIRA!
Izaías Almada, escritor e dramaturgo, colunista do NR
*notaderodapé

CARTA CAPITAL DESTA SEMANA. IMPERDÍVEL!

Edição 659
Dilma exclusivo
"Não vamos abraçar a corrupção, mas não serei pautada pela mídia". "A situação mundial mudou. E o Brasil vai reagir de forma diferente". "O poder militar subordinado ao civil é uma conquista da sociedade". Também nesta edição: Amorim e os saudosistas: A falsa agitação nas Forças Armadas. Londres, Paris, Nova York: A crise econômica se aprofunda

Crise cria classe de novos pobres na Espanha

Anelise Infante
De Madri para a BBC Brasil

A crise econômica vem causando uma perigosa mudança social na Espanha, empurrando de volta para a pobreza uma classe de pessoas que até então vinha ascendendo economicamente.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), mais de um em cada cinco espanhóis – 21% da população, ou cerca de 10 milhões de pessoas – era classificado como pobre em julho, e analistas estimam que este índice chegue a 22% até o fim do ano. Em 1991, era de 14%.

O governo espanhol considera pobres os indivíduos com renda familiar abaixo de 570 euros mensais (cerca de R$ 1.300). As famílias com renda inferior a 215 euros (cerca de R$ 490) são consideradas na pobreza extrema.

Uma de cada quatro famílias não tem dinheiro o suficiente para saldar as dívidas no fim do mês.
A pesquisa estatal sobre a população economicamente ativa indica que em 2009 havia 4% das famílias com todos os integrantes desempregados. No primeiro trimestre de 2011, a taxa alcançou 11%.
Os serviços sociais estão sobrecarregados. Há quase 30 anos não havia tanta demanda.

Perfil

E o que mais chama a atenção dos pesquisadores é o perfil da nova classe. Os solicitantes de auxílio são geralmente trabalhadores entre 20 e 40 anos, alguns com formação profissional, que antes da crise tinham imóveis e bons salários.

"Com a falta de ofertas de trabalho, eles passaram a ser desempregados de longo prazo. Trata-se de uma crise que está mudando a vida das pessoas de maneira radical", disse à BBC Brasil o Secretário Geral da ONG Cáritas-Espanha, Sebastián Mora.

O responsável pela área de assistência social da igreja Católica explicou que nas décadas passadas a Cáritas ajudava indigentes, ciganos e imigrantes sem família na Espanha. Agora, estas ajudas se dividem entre imigrantes (60%) e espanhóis (40%) que até pouco tempo atrás pertenciam à classe média.

"Tinham créditos bancários para pagar casas e carros e não sobravam recursos para economizar. Hoje solicitam caridade envergonhados. Jamais pensaram que passariam por isso", afirmou Mora.

*esquerdopata

Senado abre mercado de TV por assinatura para operadoras de telefonia

Valor Online

O Senado aprovou o projeto de lei que uniformiza as regras do setor de TV por assinatura, abre totalmente o setor para as operadoras de telefonia e acaba com as restrições ao capital estrangeiro. Já aprovado na Câmara, o projeto de lei complementar 116 (PLC 116) segue agora para sanção da presidente Dilma Rousseff.

O plenário rejeitou a emenda que suprimia o artigo 9º do projeto, que dá à Agência Nacional do Cinema (Ancine) o direito de fiscalizar e regulamentar a programação e o empacotamento dos conteúdos audiovisuais.

Senadores da oposição fizeram duras críticas ao projeto, especialmente ao papel que a Ancine assumirá e ao item que impõe cotas de conteúdo nacional na grade de programação de todos os canais.

De acordo com o projeto, os canais de televisão por assinatura deverão ter três horas e meia de conteúdo nacional acumuladas na semana em horário nobre. Caberá à Ancine definir qual será este horário.

Para o assaltante senador Aloysio Nunes (PSDB-EUA), o projeto trata o consumidor como “imbecil” ao impor cotas de programação nacional. “É uma intrusão inadmissível”, ressaltou.

O DEM já sinaliza que, como sempre, vai entrar com pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF).

O texto, aprovado no ano passado na Câmara dos Deputados, tramita há dez anos no Congresso Nacional. O relatório final do PLC 116 no Senado, elaborado pelo senador Walter Pinheiro (PT-BA), é resultado de intensas negociações envolvendo empresas de TV paga, teles, emissoras de televisão aberta e produtores de conteúdo nacional e estrangeiro.

O PLC autoriza a entrada das operadoras de telefonia no segmento de TV a cabo. Atualmente, as teles oferecem serviços televisão por assinatura utilizando as tecnologias de satélite (DTH) e micro-ondas (MMDS). Porém, não podem controlar operações de cabo.

O projeto de lei também acaba com as restrições aos investimentos estrangeiros em operadoras de TV a cabo. O texto equaliza a regra já válida para outros segmentos da TV por assinatura: nos serviços via satélite e MMDS, não há limitações ao capital estrangeiro.

Outro ponto importante – e polêmico - do PLC 116 é o que estabelece cotas de programação nacional nos canais de televisão por assinatura. A regra vale também para os canais internacionais, o que deve obriga-los a investir em conteúdo brasileiro.

O texto final não agrada todas as partes, mas senadores e executivos do setor têm se referido a ele como o “consenso possível”. Todos tiveram de ceder em alguns pontos para que um acordo fosse fechado.

Para o relator da matéria, a lei recém-aprovada permitirá baixar os preços das assinaturas, com o aumento da concorrência. Ele defendeu ainda os poderes maiores concedidos à Ancine. "A produção nacional, que é rica, não encontra hoje espaço para sua veiculação", afirmou.

(Talita Moreira, Gustavo Brigatto e Daniel Rittner| Valor)

*esquerdopata

As revoltas sociais e o neoliberalismo moribundo

Por Cléber Sérgio de Seixas






Os distúrbios em Londres, as manifestações dos “indignados” na Espanha e os protestos de estudantes no Chile, se não são sinais do início do fim do sistema capitalista, ao menos podem indicar os estertores do neoliberalismo.

A Inglaterra começa a experimentar agora os efeitos da Globalização, isto é, seu lado menos glamouroso, algo que nós brasileiros já experimentamos há quase três décadas.
A violência protagonizada pelos amotinados ingleses - jovens, negros e pobres em sua maioria - é uma resposta à segregação e marginalização a que vem sendo submetidos. Não se trata simplesmente de ações de grupos de vândalos ou delinqüentes, como quer a grande mídia, e sim de um grito desesperado de indivíduos privados do direito ao trabalho, aos estudos, à assistência social e à moradia, cujo clamor é contra uma sociedade excludente.

Se outrora o maior rival do capitalismo era o socialismo, hoje, em função do malogro do socialismo real, o Welfare State, o “Estado Providência” ou o Estado do bem-estar social, como queira o leitor, converteu-se no maior entrave aos interesses dos poucos eleitos que colhem os frutos do novo liberalismo econômico. A ortodoxia neoliberal tem como objetivo liquidar os últimos resquícios do keynesianismo e reinventar o laissez-faire. Qualquer tipo de regulação na economia é qualificada como controle, burocracia, censura etc, enquanto a acumulação desregrada e a competição predatória são louvadas.

Se atualmente a Europa e os EUA fazem uma curva cada vez mais acentuada à direita, a América do Sul posiciona-se à centro-esquerda, não seguindo à risca a bula neoliberal ou não dando ouvidos a um de seus mais sagrados princípios: diminuir o tamanho do Estado e soltar as rédeas do mercado. Enquanto a “direitização” estadunidense e européia avança sobre os setores financeiro, econômico e político, atingindo em cheio os direitos sociais daqueles que mais precisam do auxílio estatal, governos do sul do continente americano apostam no nacional-desenvolvimentismo, com maior participação do Estado na condução da economia, como meio de promover mais justiça e inclusão social. É paradoxal constatar que, enquanto ao sul do Rio Bravo se vivencia um processo de mudanças sociais há décadas ansiosamente esperado, nos Estados Unidos e na Europa ocorre algo diametralmente oposto, ou seja, um franco processo de “latino-americanização” da questão social.

No entanto, as burguesias entreguistas sul-americanas andam saudosas dos tempos em que, pelo poderio político e econômico que detinham, faziam prevalecer seus interesses sobre os da imensa maioria. Ao ver a ascensão à classe média de milhares de brasileiros pobres, a burguesia tupiniquim, por exemplo, dia-a-dia trata de minar as forças de governos progressistas que desde 2003 ocupam o poder. Quando faltam força e propostas à direita nacional, a grande imprensa, que há anos se converteu num partido político, assume o papel da oposição.

Se uma guinada mais radical à direita for a opção de norte-americanos e europeus, o mundo deve se preparar para tempos quase tão difíceis quanto aqueles da primeira metade do século passado. Em tal contexto, dificilmente nós, sul-americanos, não sentiremos os efeitos do aprofundamento das políticas conservadoras européias e estadunidenses.

Nos EUA a inépcia de Obama pode conduzir o Tea Party ao poder. Eventos esparsos como o atentado à congressista Gabrielle Giffords em Tucson (Arizona) e o caso Anders Breivik fornecem indícios de que no futuro tal processo pode desembocar em soluções fascistas.

Se de um lado temos um neoliberalismo moribundo que busca ser infinito enquanto perdurar, de outro temos uma massa excluída que apela à insurreição para fazer valer seus direitos, enquanto se candidata a coveira dos sacerdotes do deus Mercado.

O ditado que diz que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco tem sido aplicado nesses tempos de neoliberalismo agonizante. Ao invés de se cobrar dos especuladores que inflaram a bolha que estourou em 2008 o preço da desgraça, joga-se sobre os ombros da tão sofrida classe trabalhadora o ônus da crise.

Diante de tão eloqüentes eventos, uma coisa é certa: os explorados estão tomando consciência da exploração a que vêm sendo submetidos há décadas no contexto do capitalismo neoliberal. Resta saber até quando tal primavera dos povos irá durar e se manterá seu caráter anárquico ou evoluirá para algo mais propositivo e organizado.
*observadoressociais

Rompendo o teto de vidro: a revolução silenciosa e o empoderamento das mulheres no século XXI

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As mulheres brasileiras conquistaram diversas vitórias parciais no século XX: conquistaram o direito de voto, em 1932, mas não conseguiram ultrapassar o teto de 10% de deputadas na Câmara Federal; conquistaram níveis crescentes de educação e conseguiram ultrapassar os homens em todos os níveis de ensino, mas ainda estão pouco representadas nas ciências exatas e na liderança dos grupos de pesquisa; aumentaram as taxas de participação no mercado de trabalho, 
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mas ainda sofrem com a segregação ocupacional, a discriminação salarial e a dupla jornada de trabalho (no emprego e em casa); conquistaram diversas vitórias na legislação nacional, mas, na prática, ainda não vítimas de discriminações e preconceitos. As mulheres eram 48,5% da população em 1900, chegaram a 50% em 1940 e atingiram 51% da população brasileira em 2010. Em termos de esperança de vida elas vivem, em média, atualmente, 7 anos a mais do que os homens. As mulheres vivem mais e são maioria da população e do eleitorado.
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Por tudo isto, cresce a presença feminina em todos os aspectos da vida brasileira. As conquistas femininas aconteceram de forma gradual e progressiva, de maneira quase silenciosa, mas foram efetivas e posicionaram as mulheres para romper com o teto de vidro e atingir o empoderamento no século XXI.Teto de vidro é o termo utilizado para descrever a barreira invisível que dificulta a subida das mulheres aos degraus superiores dos espaços de poder no mundo público e privado, independentemente das suas qualificações e realizações sociais.Empoderamento é a tradução do termo inglês empowerment. 
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Denota o processo pelo qual as mulheres ganham poder para expressar e defender seus direitos, conseguir maior igualdade de oportunidades, ampliar sua auto-estima, exercer controle sobre suas relações pessoais e sociais e, sobretudo, compartilhar de forma paritária os espaços de poder.Revolução silenciosa significa mudança de valores que provocam transformações nas condições de vida de homens e mulheres. 
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Existe uma Revolução Silenciosa acontecendo na cultura, na política e na economia que está transformando as relações entre homens e mulheres na família e na sociedade. A cada geração se reduz as desigualdades de gênero e até crescem as desigualdades reversas (por exemplo, as mulheres já possuem maiores níveis educacionais do que os homens). 
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Não é uma revolução muito visível porque não existe uma liderança que unifique o movimento de cima para baixo. A revolução é silenciosa porque não existe um movimento organizado e unificado, com um porta-voz único que agregue o conjunto das reivindicações. 


A revolução silenciosa é um processo que começa de baixo para cima e vai conseguindo vitórias parciais, como se fosse uma guerrilha que conquista posições. Na terminologia de Antônio Gramsci é uma “guerra de posição”, mas que deve se tornar uma “guerra de movimento” (conquista do poder) no século XXI. 
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A revolução silenciosa é responsável pelo processo de desconstrução do patriarcado que vem sendo colocado abaixo de maneira lenta, mas contínua. O patriarcado é um sistema social no qual o homem (no papel de marido ou de pai) é o ator fundamental da organização social, e exerge a autoridade sobre as mulheres, os filhos e os bens materiais e culturais. Em cada país, algumas dimensões do patriarcado predominam sobre as outras, conforme o tipo de organização social e cultural, estabelecidas historicamente. 
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Mas em geral, o patriarcado se caracteriza por ser um sistema onde há o predomínio dos pais e dos maridos (pater families) sobre as mulheres e os filhos, no âmbito da família e da sociedade. No patriarcado tradicional existe uma rigida divisão sexual do trabalho e uma grande segregação social, em geral, com as mulheres ficando confinadas ao mundo doméstico e os homens monopolizando o mundo público. 
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O patriarcado, em termos materiais, possibilita ao homem o controle da propriedade e da renda da família, o controle do trabalho e da mobilidade da mulher e o destino dos filhos. No patriarcado o homem monopoliza o poder.Resquícios do patriarcado ainda podem ser encontrados nas relações sociais brasileiras, mas as suas bases legais e materiais estão em visível declínio. Este processo não é apenas brasileiro, mas global. 
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Como mostrou o sociólogo Goran Therborn, existe um processo de despatriarcalização da sociedade, que acontece de maneira gradual:A história do patriarcado no século XX é basicamente a de um declínio gradual, começando em diferentes pontos no tempo pelo mundo. 
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A primeira ruptura ocorreu nos anos 1910, mediante ampla reforma consensual na Escandinávia e violenta revolução na Rússia. O final dos anos 1940 e o início dos anos 1950 proporcionaram outro importante degrau para baixo, nessa época centrado no Leste Asiático – no Japão, sob ocupação americana, e na China por meio da Revolução Comunista. 
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A tomada comunista da Europa Oriental significou que os sinos lá também dobraram pelo patriarcado institucionalizado. Sem ser implementada em curto prazo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU assinalou importante vitória global e constitucional contra o patriarcado. Finalmente, os anos que se seguiram a ‘1968’, em particular os anos por volta de 1975 (Ano Internacional da Mulher), provocaram uma onda mundial contra os poderes e privilégios especiais de pais e maridos, com as primeiras rupturas vindas da Europa Ocidental e da América do Norte, mas sem deixar nenhuma parte do planeta intocada” (Goran Therborn, Sexo e Poder, 2006, p. 430).
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A quarta Conferência Mundial das Mulheres, ocorrida em Beijing, em 1995, foi mais um passo neste processo de despatriarcalização, principalmente ao definir que os direitos das mulheres são direitos humanos, buscando o empoderamento das mulheres e sua plena participação, em condições de igualdade, em todas as esferas sociais, incluindo a participação nos processos de decisão e acesso ao poder, que são fundamentais para o alcance da igualdade, desenvolvimento e o fim da violência.O escritor Vitor Hugo fez uma constatação histórica que vale para o processo de empoderamento das mulheres: “Nenhum poder na Terra pode parar uma idéia cujo tempo chegou”. É neste sentido que o processo de despatriarcalização é irreversível.A idéia básica do feminismo pode ser resumida em uma frase:
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“As mulheres devem ser tão livres quanto os homens e deve haver igualdade de oportunidade entre os sexos na família e na sociedade”. Portanto, faz parte da contemporalidade a luta pelos direitos iguais, contra a discriminação e a segregação entre os sexos, pelo reconhecimento e respeito e pela paridade e isonomia nos espaços de poder, ou seja, pela equidade de gênero. 
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Até agora as vitórias foram parciais, mas foram conquistas acumulativas e irreversíveis. 
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Uma sociedade sem desigualdades sociais de gênero é a meta a ser atingida no século XXI.


Mobilização da sociedade exige fim dos paraísos fiscais



Brasil de fato


Mais de 50 organizações de todo o mundo pressionarão o G20 por medidas. Brasil perdeu, apenas em 2009, 60 bilhões de dólares

 

A ineficiência estatal tem causas conhecidas. A princípio, três grandes problemas afetam o uso do dinheiro público: a corrupção, o mau uso dos recursos e a predominância de investimentos em um projeto liberal de país. Há ainda, entretanto, um quarto elemento muito importante, e pouco comentado, que compromete a eficácia do Estado nas iniciativas de reduzir as desigualdades sociais e criar um modelo libertário de economia. São os desvios de recursos para paraísos fiscais que, em geral muito volumosos, significam, na prática, menos impostos, e por consequência menos investimento. Não é fácil lutar contra isso, uma vez que o sistema financeiro mundial é completamente desregulado, e os países têm autonomia sobre sua legislação. Atenta a esses problemas, a sociedade civil organizada esboça uma reação mais orquestrada.

Mais de 50 organizações de todo o mundo lançaram, em 26 de julho, a campanha “Fim aos Paraísos Fiscais”. O objetivo é pressionar os líderes do G20 a adotarem um planejamento para acabar com o sigilo fiscal em determinados países. A medida está aberta à adesão popular, no site da campanha. O primeiro passo é exigir que as empresas publiquem o lucro obtido, e que paguem todos os impostos, com transparência sobre a movimentação de seus recursos. Há cálculos de que os paraísos fiscais provocam perdas globais de mais de 500 bilhões de dólares, por conta de sonegação fiscal. Só o Brasil, que acaba de aderir à campanha, teria perdido 60 bilhões dólares em recursos enviados a paraísos fiscais em 2009.
Estima-se que os países em desenvolvimento percam, no mínimo, cerca de R$ 160 bilhões por ano em recursos. O valor é muito maior do que o que eles recebem em ajuda humanitária. O sigilo fiscal faz com que os recursos fiquem escondidos. Por isso a transparência no sistema financeiro internacional, hoje quase inexistente, ganha importância. Suspeita-se, ainda, que haja em torno de 800 bilhões de dólares a 1 trilhão de dólares reunidos em fundos espalhados em diversos paraísos fiscais, que tenham origem ilícita.
“Nós queremos que os líderes do G20 adotem medidas para acabar com o sigilo, como requerer que empresas publiquem o lucro que elas obtêm e pagam em cada país onde operam e também que haja a troca automática de informações entre jurisdições de impostos”, afirma Mariana Paoli, da ONG britânica Christian Aid, uma das principais articuladoras da campanha.
O instituto estadunidense Global Financial Integrity realizou pesquisa em que comprova a relação intensa entre a sonegação e os depósitos em paraísos fiscais. Quando o dinheiro chega nesses países, deixa de haver informação sobre sua movimentação. Quando os recursos saem de um paraíso fiscal, portanto, deixam de ser mapeados como dinheiro sujo. Muitas vezes, voltam ao país de origem como investimento. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário detectou fortes indícios e sonegação em 26,8% das empresas (chegou a 39% em 2004). Enquanto o faturamento não declarado chega a R$ 1,32 trilhões, a sonegação fiscal atinge nada menos do que R$ 200 bilhões. Somados, os tributos sonegados por pessoas físicas alcançou 9% do PIB.

Conselhão
O fluxo financeiro ilegal do Brasil de 2000 a 2008 é avaliado em 23,5 bilhões dólares – média 2,6 bilhões dólares anuais. Ao longo desses nove anos, o maior fluxo ilícito foi da China, com 2,18 trilhões dólares, seguida pela Rússia, com 427 bilhões dólares. As assinaturas recolhidas pela campanha serão entregues aos integrantes do G20, em reunião marcada para a França, em novembro. Recolhidas no site “Fim aos Paraísos Fiscais”, as adesões já somam quase dez mil. Lucídio Bicalho, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que centralizou a participação brasileira no movimento, faz questão de desconstruir simplismos. Ele lembra que nem todo dinheiro que sai dos paraísos fiscais tem origem ilícita, e nem todo recurso ilegal tem como destino os paraísos fiscais. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, os investimentos brasileiros no exterior foram, apenas em 2009, 132 bilhões dólares.
“Queremos levar esses dados ao Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Vamos buscar apoio político do governo”, revela Lucídio. Em 2009, segundo o Inesc, foram enviados, na forma de participação em capital, 18,3 bilhões dólares para as Ilhas Cayman, 13,3 bilhões dólares para as Ilhas Virgens Britânicas e 10,2 bilhões dólares para as Bahamas. Todos esses países são considerados paraísos fiscais. As Ilhas Cayman também receberam, como empréstimos entre empresas vindos do Brasil, 90,5 bilhões dólares dos recursos, de 2007 a 2009. O valor representa 88% do total, e 28 vezes o dinheiro que seguiu para os Estados Unidos. “A evasão fiscal provoca pobreza e miséria em larga escala. Por isso acreditamos que a União Europeia deve tomar medidas para detê-la, e assentar as bases de um sistema financeiro mais justo e igualitário”, defende Isabel Ortigosa, da ONG espanhola InspirAction.
Há expectativa de que o G20 apoie a iniciativa porque os paraísos fiscais também funcionariam, segundo as organizações, como reserva de recursos para terrorismo e tráfi co de drogas. Segundo divulgou recentemente o jornal Times, o papa Bento XVI estaria preparando uma encíclica com um capítulo intitulado “Fraude e Fisco”. O líder da Igreja Católica pretende estabelecer o desvio de recursos a paraísos fiscais como condenação moral aos países e aos fraudadores. Em sua primeira encíclica, o papa já estabelecera como “moralmente inaceitável” a transferência de dinheiro para se fraudar o fisco.

Autonomia dificulta ação
Uma das dificuldades de ação do G20 é que os países do mundo têm, evidentemente, autonomia sobre seu território e sua legislação. Dessa forma, estabelecem como desejam sua regulação das transações financeiras. Qualquer intervenção do G20 sobre isso pode ser interpretada como ação imperialista – até pelo currículo condenável que têm esses países. Como poderiam, portanto, agir? “Empresas multinacionais operam em diferentes países ao redor do globo, então há limites no que cada país pode fazer individualmente, pois empresas inescrupulosas sempre acabam dando um jeito de continuar não pagando impostos”, explica Mariana Paoli.
Ela cita o exemplo da Argentina, que há alguns anos tentou banir empresas registradas como off-shore de operar em Buenos Aires. Ao menos se elas pudessem comprovar que tivessem negócios, de fato, no local onde estavam registradas. Mais recentemente, os argentinos tentaram uma forma de controle semelhante com as empresas multinacionais exportadoras de grãos. Para a maioria dos estudiosos, não haveria problema se houvesse, finalmente, uma ampla regulação do sistema financeiro mundial, jamais realizada. Entretanto, isso coloca em risco uma série de interesses de organizações, empresas e governos.
*Cappacete