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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, agosto 17, 2011

Rompendo o teto de vidro: a revolução silenciosa e o empoderamento das mulheres no século XXI

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As mulheres brasileiras conquistaram diversas vitórias parciais no século XX: conquistaram o direito de voto, em 1932, mas não conseguiram ultrapassar o teto de 10% de deputadas na Câmara Federal; conquistaram níveis crescentes de educação e conseguiram ultrapassar os homens em todos os níveis de ensino, mas ainda estão pouco representadas nas ciências exatas e na liderança dos grupos de pesquisa; aumentaram as taxas de participação no mercado de trabalho, 
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mas ainda sofrem com a segregação ocupacional, a discriminação salarial e a dupla jornada de trabalho (no emprego e em casa); conquistaram diversas vitórias na legislação nacional, mas, na prática, ainda não vítimas de discriminações e preconceitos. As mulheres eram 48,5% da população em 1900, chegaram a 50% em 1940 e atingiram 51% da população brasileira em 2010. Em termos de esperança de vida elas vivem, em média, atualmente, 7 anos a mais do que os homens. As mulheres vivem mais e são maioria da população e do eleitorado.
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Por tudo isto, cresce a presença feminina em todos os aspectos da vida brasileira. As conquistas femininas aconteceram de forma gradual e progressiva, de maneira quase silenciosa, mas foram efetivas e posicionaram as mulheres para romper com o teto de vidro e atingir o empoderamento no século XXI.Teto de vidro é o termo utilizado para descrever a barreira invisível que dificulta a subida das mulheres aos degraus superiores dos espaços de poder no mundo público e privado, independentemente das suas qualificações e realizações sociais.Empoderamento é a tradução do termo inglês empowerment. 
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Denota o processo pelo qual as mulheres ganham poder para expressar e defender seus direitos, conseguir maior igualdade de oportunidades, ampliar sua auto-estima, exercer controle sobre suas relações pessoais e sociais e, sobretudo, compartilhar de forma paritária os espaços de poder.Revolução silenciosa significa mudança de valores que provocam transformações nas condições de vida de homens e mulheres. 
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Existe uma Revolução Silenciosa acontecendo na cultura, na política e na economia que está transformando as relações entre homens e mulheres na família e na sociedade. A cada geração se reduz as desigualdades de gênero e até crescem as desigualdades reversas (por exemplo, as mulheres já possuem maiores níveis educacionais do que os homens). 
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Não é uma revolução muito visível porque não existe uma liderança que unifique o movimento de cima para baixo. A revolução é silenciosa porque não existe um movimento organizado e unificado, com um porta-voz único que agregue o conjunto das reivindicações. 


A revolução silenciosa é um processo que começa de baixo para cima e vai conseguindo vitórias parciais, como se fosse uma guerrilha que conquista posições. Na terminologia de Antônio Gramsci é uma “guerra de posição”, mas que deve se tornar uma “guerra de movimento” (conquista do poder) no século XXI. 
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A revolução silenciosa é responsável pelo processo de desconstrução do patriarcado que vem sendo colocado abaixo de maneira lenta, mas contínua. O patriarcado é um sistema social no qual o homem (no papel de marido ou de pai) é o ator fundamental da organização social, e exerge a autoridade sobre as mulheres, os filhos e os bens materiais e culturais. Em cada país, algumas dimensões do patriarcado predominam sobre as outras, conforme o tipo de organização social e cultural, estabelecidas historicamente. 
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Mas em geral, o patriarcado se caracteriza por ser um sistema onde há o predomínio dos pais e dos maridos (pater families) sobre as mulheres e os filhos, no âmbito da família e da sociedade. No patriarcado tradicional existe uma rigida divisão sexual do trabalho e uma grande segregação social, em geral, com as mulheres ficando confinadas ao mundo doméstico e os homens monopolizando o mundo público. 
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O patriarcado, em termos materiais, possibilita ao homem o controle da propriedade e da renda da família, o controle do trabalho e da mobilidade da mulher e o destino dos filhos. No patriarcado o homem monopoliza o poder.Resquícios do patriarcado ainda podem ser encontrados nas relações sociais brasileiras, mas as suas bases legais e materiais estão em visível declínio. Este processo não é apenas brasileiro, mas global. 
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Como mostrou o sociólogo Goran Therborn, existe um processo de despatriarcalização da sociedade, que acontece de maneira gradual:A história do patriarcado no século XX é basicamente a de um declínio gradual, começando em diferentes pontos no tempo pelo mundo. 
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A primeira ruptura ocorreu nos anos 1910, mediante ampla reforma consensual na Escandinávia e violenta revolução na Rússia. O final dos anos 1940 e o início dos anos 1950 proporcionaram outro importante degrau para baixo, nessa época centrado no Leste Asiático – no Japão, sob ocupação americana, e na China por meio da Revolução Comunista. 
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A tomada comunista da Europa Oriental significou que os sinos lá também dobraram pelo patriarcado institucionalizado. Sem ser implementada em curto prazo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU assinalou importante vitória global e constitucional contra o patriarcado. Finalmente, os anos que se seguiram a ‘1968’, em particular os anos por volta de 1975 (Ano Internacional da Mulher), provocaram uma onda mundial contra os poderes e privilégios especiais de pais e maridos, com as primeiras rupturas vindas da Europa Ocidental e da América do Norte, mas sem deixar nenhuma parte do planeta intocada” (Goran Therborn, Sexo e Poder, 2006, p. 430).
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A quarta Conferência Mundial das Mulheres, ocorrida em Beijing, em 1995, foi mais um passo neste processo de despatriarcalização, principalmente ao definir que os direitos das mulheres são direitos humanos, buscando o empoderamento das mulheres e sua plena participação, em condições de igualdade, em todas as esferas sociais, incluindo a participação nos processos de decisão e acesso ao poder, que são fundamentais para o alcance da igualdade, desenvolvimento e o fim da violência.O escritor Vitor Hugo fez uma constatação histórica que vale para o processo de empoderamento das mulheres: “Nenhum poder na Terra pode parar uma idéia cujo tempo chegou”. É neste sentido que o processo de despatriarcalização é irreversível.A idéia básica do feminismo pode ser resumida em uma frase:
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“As mulheres devem ser tão livres quanto os homens e deve haver igualdade de oportunidade entre os sexos na família e na sociedade”. Portanto, faz parte da contemporalidade a luta pelos direitos iguais, contra a discriminação e a segregação entre os sexos, pelo reconhecimento e respeito e pela paridade e isonomia nos espaços de poder, ou seja, pela equidade de gênero. 
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Até agora as vitórias foram parciais, mas foram conquistas acumulativas e irreversíveis. 
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Uma sociedade sem desigualdades sociais de gênero é a meta a ser atingida no século XXI.


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