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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 27, 2011

CONSCIÊNCIA DE CLASSE DEVE DAR LUGAR À CONSCIÊNCIA DE RENDA (ECONÔMICA) PARA SE ENTENDER OS CONFLITOS SOCIAIS DE HOJE

Consciência de renda ou consciência de classe?Uma das teses fundantes do pensamento marxista é a consciência de classe que, durante o último século, tornou o discurso radicalizado entre os interesses de trabalhadores como uma classe universal (de um lado) e os proprietários dos meios de produção, ou seja, os patrões (de outro).

Há muito que teóricos de diversas áreas e a própria transformação da sociedade nos mostram, ou melhor, evidenciam, que  essa divisão é tão mais complexa, apesar de sua ainda existência como núcleo de uma batalha e entendimento dos conflitos sociais. A vida do século 21 ressaltou um outro conflito, muito antigo, que se estabelece entre o rico e o pobre e que hoje se estabelece de uma forma tão radical e oposta quanto a relação de conflito entre capital e trabalho.

Ao vermos comunistas históricos ao lado de capitalistas históricos, ao vermos trabalhadores infinitamente mais enriquecidos que muitos proprietários de pequenas empresas, ao vermos funcionários de partidos políticos como sanguessugas nos cofres públicos, ao vermos o financiamento público de grandes empresas, o aporte financeiros para fusões e o dinheiro público (no mundo inteiro) sendo usado para salvar banqueiros irresponsáveis e governos espúrios, torna-se necessário um estudo entre riqueza e pobreza menos econômico e mais jurídico e sociológico.

Tudo isso nos mostra  que é o momento de darmos maior atenção a consciência de renda (ricos e o resto da população). Há especialmente no Brasil uma taxação de impostos maior sobre as classe médias e pobres em detrimento dos ricos. Esse foi o modelo que gerou a atual crise dos Estados Unidos. Há no mundo um conflito evidente entre pobres e ricos, expresso muito claramente no governo Lula e também no governo de Barack Obaman nos Estados Unidos. A radicalização dos republicanos do Tea Party dos EUA e do PSDB/Serra (monarquista/teológico) mostra que há uma luta pela alienação das classes médias. É o conflito de renda que se expressa de forma mais evidente no discurso radical da extrema-direita. É preciso hoje ter mais consciência de renda do que consciência de classe.

Todo o discurso da revista Veja nos últimos anos, por exemplo, demonizando o PT e Lula com um moralismo udenista, foi uma tentativa de cooptar as classes médias de forma que estas classes tomassem para si o interesse dos muitos ricos. A intenção é que o brasileiro médio sinta as dores e os medos dos grupos que têm privilégios econômicos privados ou em associação com o Estado. A revista Veja e a grande mídia funcionam como baluartes da consciência de renda, fazendo o proselitismo das classes médias. O ideal é fazer com que o engenheiro, o médico e o profissional liberal em geral temam qualquer mudança social quanto os filhos do Roberto Marinho, os Civitas, os Frias e banqueiros.

Um estudo mais sociológico do conflito de renda pode abrir o entendimento para se taxar o luxo, a ostentação, a grandeza, a usura e o excesso  de modo que se construa uma sociedade mais justa e igualitária. Não haverá desenvolvimento sem violência no Brasil enquanto os ricos pagarem menos impostos do que os pobres. Não é possível um apartamento de 1000 m2 pagar proporcionalmente o mesmo IPTU que um barraco de madeira ou um apartamento de 120 metros quadrados. É preciso construir uma sociologia da igualdade.

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