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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, novembro 10, 2011

"Vou fumar maconha hoje". Será que vão prender Snoop Dog?

Famoso rapper americano faz show hoje no Rio; ele provoca e alimenta debate sobre uso da maconha no Brasil; antes da invasão da USP, três estudantes foram detidos por um baseado; não está na hora de repensar a legislação?
A provocação do rapper Snoop Dog, que se apresenta nesta noite no Rio de Janeiro, vem em boa hora para incendiar a discussão que os estudantes da USP tentaram levar a cabo. Ainda que não tenham optado pela saída mais razoável (“uh! uh! vamo invadir!”), os universitários se propunham a debater a legalização da maconha. Afinal, a confusão da USP começou depois que três alunos fumando baseado foram detidos pela Policia Militar. Agora, o que se pergunta é: os policias vão invadir o palco do Vivo Rio e levar Snoop Dog algemado?
“Ninguém me pediu isso (para não fumar maconha). Vou fumar. Muito!”, prometeu o cantor norte-americano. A pedra que Snoop Dog cantou hoje já está rolando na sociedade brasileira há muito tempo. Nas universidades, discute-se como a descriminalização da erva afetaria o tráfico de drogas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a revisão da legislação brasileira e se empenha hoje na formulação de uma política global sobre drogas. O debate sobre a cannabis sativa, no entanto, continua um tabu.
Os manifestantes da USP foram tachados de “maconheiros mimados”. De fato, foram invasores da Reitoria. E depredaram patrimônio público. [Ou foi a PM quando invadiu?] Mais de 70 foram presos. Diante da opinião pública, essas ações certamente desqualificam o sujeito. O argumento deles – pró-liberdade – acaba soando como um objetivo egoísta. É a galera que puxa o beque!
Mas não, não é só a galera que puxa o beque que quer refletir sobre o uso de drogas no Brasil. Artistas, intelectuais, jovens, idosos, políticos, a la esquerda, a la direita, trazem essa discussão na agenda. A maconha deve ou não ser legalizada? Com a descriminalização, o tráfico não sai perdendo? Por que fumar maconha ainda é considerado mais grave que fumar o cigarro legal – que mata uma pessoa a cada seis minutos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde?
Essas são perguntas que precisam ser feitas, pensadas e debatidas. Por estudantes, policiais e toda a sociedade. Pense a respeito e dê sua opinião nos Comentários. Depois, é claro, de assistir ao “maconheiro mimado” da noite: Snoop Dog!
*Amoralnato
 

FHC defende "recato" no uso de maconha na USP, mas critica repressão

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) lamentou, na noite desta quarta-feira (09), a detenção de 72 estudantes que ocupavam a reitoria da USP, numa operação da Polícia Militar.
- O episódio na USP foi lamentável do começo ao fim. Uma coisa é defender a regulação do uso de drogas, mas pior ainda foi usar isso como pretexto para invadir a reitoria. A reitoria então tem razão - disse FHC, na sessão de autógrafos do DVD do documentário "Quebrando o Tabu", na livraria Saraiva, do shopping Higienópolis.
Questionado se a polícia deveria ter detido os três estudantes usuários de maconha, o ex-presidente defendeu o "recato":
- Depende, porque a lei especifica quantidades diferentes... Mas eu acho que tem que ter um certo recato. O fato de você estar ali abertamente é uma provocação, não vejo razão para isso.
Entretanto, durante o debate com os presentes ao lançamento do DVD de "Quebrando o Tabu", do diretor Fernando Grostein de Andrade, FHC criticou, de forma genérica, a ação repressiva:
- A repressão não funciona, só piora o problema.
Citou o exemplo do México e concluiu, no final:
- Se você puser na cadeia, vai aumentar o consumo. Não é a cadeia que vai resolver.
Dayanne Sousa
*Terra
 

“Epidemia grave de iranofobia nuclear”

Pepe Escobar
No auge de um frenesi de “vazamentos” na imprensa-empresa ocidental que chegou – literalmente – à histeria nuclear, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Agency (IAEA)] afinal divulgaram relatório no qual, essencialmente, dizem que Teerã, ainda no final do ano passado, tentava projetar uma bomba atômica que se adaptasse a uma ogiva de míssil.
Segundo o relatório, o Irã trabalhou “no desenvolvimento de projeto próprio de uma arma nuclear incluindo teste de componentes”.
Além da acusação de ter-se esforçado para redesenhar e miniaturizar uma arma nuclear paquistanesa, Teerã também é acusada de tentar montar operação clandestina para enriquecer urânio – o “projeto sal verde” [ing. green salt project] – que poderia ser usado “em programa clandestino de enriquecimento”.
Tudo isso levou a IAEA a expressar “sérias preocupações” sobre pesquisa e desenvolvimento “específicos para armas nucleares”.
O relatório vende a ideia de que, enquanto a IAEA tentava, ao longo de anos, monitorar os estoques iranianos declarados de minério de urânio e de urânio processado – hoje, 73,7 kg de urânio enriquecido a 20% em Natanz, mais 4.922 kg de urânio enriquecido a menos de 5% – Teerã, em segredo, tentava construir uma bomba atômica.
Inteligência fraca
A IAEA repete insistentes vezes que se baseia em inteligência “confiável” – mais de mil páginas de documentação – de mais de dez países, e que se ampara em oito anos de “provas”.
Mas a IAEA não tem meios independentes para confirmar a enorme massa de informação – e desinformação – que recebe mensalmente, a maior parte, das potências ocidentais. Mohammad El Baradei – que antecedeu o japonês Yukya Amano na presidência da Agência Internacional de Energia Atômica – disse isso várias vezes, claramente. E sempre contestou o que o que aparecia como “inteligência iraniana” – porque sempre soube que era informação extremamente “politizada”, atravessada por ondas de boatos e especulação.
Nenhuma surpresa, portanto, que o jornal iraniano Kayhan, ultraconservador, tenha perguntado se se trataria mesmo de relatório da IAEA, ou não passava de diktat ordenado pelos norte-americanos a um Amano fraco, facilmente pressionado.
O relatório nada traz que pudesse, nem de longe, abalar o mundo – só imagens de satélites e especulação de “diplomatas”, apresentadas ao mundo como se fossem “inteligência” irrefutável. Se parece etapa da construção da guerra contra o Iraque, é porque é isso, exatamente. Não passa de regurgitação de farsa já velha, de quatro anos passados, conhecida então como “o laptop da morte”. [1]
Cenário mais próximo da realidade – ainda que se acredite que haja um programa nuclear secreto no Irã, o que nunca foi provado – sugere fortemente que seria contraproducente, para Teerã, construir bomba atômica ou ogiva nuclear.
E, seja como for, o Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps (IRGC)] – que comanda todos os programas militares de alto nível – continua a ter a opção de construir, rápidos como raio, uma ogiva nuclear, a ser usada como arma de contenção no caso de terem absoluta certeza de que os EUA invadirão o Irã, ou lançarão alguma modalidade expandida da “Operação Choque e Pavor”. O indiscutível verdadeiro efeito de o Irã vir eventualmente a ter sua bomba atômica será acabar, de uma vez por todas, com a eterna ameaça de o país ser alvo de ataque americano. Quem tenha dúvidas sobre essa questão consulte, por favor, o dossiê Coreia do Norte.
O regime de Teerã pode ser impiedoso, mas eles não são amadores; construir uma bomba nuclear – secretamente ou à vista da IAEA – e mandar tudo pelos ares não os levará a lugar algum. Em termos geopolíticos, o regime – que já está às voltas com complexa e terrível disputa interna entre o Supremo Líder Ali Khamenei e o grupo do presidente Mahmud Ahmadinejad – ficaria completamente isolado.
A população iraniana já vive preocupada demais com inflação, desemprego, corrupção e o desejo de participar mais na vida política do país, para ser jogada no centro de uma disputa nuclear global. Há amplo consenso no Irã a favor do programa nuclear civil. Mas nada sugere que sequer alguma minoria aprovaria uma “bomba islâmica”.
Israel está blefando
O que arrepia os nervos não só de Israel, mas também dos poderosos interesses norte-americanos que, 32 anos depois, ainda não se conformaram com o fim do seu sentinela preferido na região (o Xá do Irã), é que o Irã os mantém em eterno suspense.
Muito previsivelmente, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Israel continuará a latir latidos ensurdecedores, ao mesmo tempo em que tenta todos os disfarces possíveis para trair os norte-americanos para sua armadilha.
O mesmo Netanyahu que nem Barack Obama nem Nicolas Sarkozy aguentam mais, é homem de estratégia obsessiva: obrigar Washington e alguns outros poucos, dos britânicos à Casa de Saud – o que nada tem a ver com alguma “comunidade internacional” – a aplicar pressão máxima contra Teerã. Ou Israel atacará.
É perfeito absurdo, porque Israel não pode atacar nem cachorrinho de madame. Todo o armamento crucial para Israel é norte-americano. E depende de autorização para cruzar o espaço aéreo iraquiano ou saudita. Nada faz sem luz verde de Washington, de A a Z. Pode-se acusar o governo Obama de várias coisas, não de terem tendências ao suicídio.
Só aquelas não-entidades no Congresso dos EUA – desprezadas pela ampla maioria dos norte-americanos, segundo todas as pesquisas – poderiam ainda acreditar nas marciais ordens de marcha avante que recebem de Netanyahu, via o poderoso lobby do AIPAC (American Israel Public Affairs Committee).
Resta afinal, só, então, o caminho de mais e mais sanções. Quatro rodadas de duras sanções do Conselho de Segurança da ONU já atingem as importações e os setores bancário e financeiro do Irã. Mas é só. Fim da linha.
O relatório da IAEA não convenceu a Rússia, como os russos já disseram claramente; tampouco impressionou a China. A IAEA, simplesmente, não encontrou prova alguma que realmente a autorizasse a acusar o Irã de manter programa ativo para construir bombas atômicas.
Assim sendo, esqueçam a possibilidade de Rússia e China aceitarem mais uma rodada de sanções que os EUA imponham na ONU, e que poderia ser, essa sim, literalmente, nuclear: boicote de facto, que paralise as vendas de gás e petróleo do Irã.
Só alguma trupe de palhaços assumiria que a China votaria contra os interesses de sua própria segurança nacional no Conselho de Segurança da ONU. O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo para a China, depois de Arábia Saudita e Angola. A China importa cerca de 650 mil barris de petróleo por dia, do Irã – 50% a mais, em comparação ao ano passado. É mais de 25% do total das exportações de petróleo do Irã.
O próprio governo Obama já teve de admitir publicamente que um boicote é inimaginável: tiraria da economia global já deprimida nada menos que 2,4 milhões de barris de petróleo por dia. O barril chegaria a $300, $400.
Teerã tem – e continuará a encontrá-los – meios para contornar as sanções financeiras. A Índia pagou o que tinha a pagar ao Irã, nos negócios de importação, através de um banco turco. E Teerã também já está usando um banco russo.
O que também prova que o mantra de Israel, segundo o qual a “comunidade internacional” teria isolado o Irã não passa de monumental blefe. Atores chaves, como os BRICS - Rússia, China e Índia - mantêm relações comerciais muito próximas com o Irã.
E, sobretudo: em pleno surto de histeria iranofóbica, a Organização de Cooperação de Xangai [ing. Shanghai Cooperation Organization (SCO)] – China, Rússia e os quatro “-...stões” da Ásia Central – iniciou sua reunião de cúpula em São Petersburgo. O Irã lá está – como observador – representado pelo ministro de Relações Exteriores Ali Akbar Salehi. Mais dia, menos dia, o Irã será admitido como membro pleno.
Se, ainda antes de o Irã tornar-se membro da Organização de Cooperação de Xangai, China e Rússia já veem qualquer ataque contra o Irã como ataque contra esses próprios países (além de ataque, também, contra a ideia da integração de toda a energia da Ásia), será realmente muito interessante observar o que Israel fará, tentando convencer os EUA a atacarem... a Ásia! 
*comtextolivre

Occupy Wall Street inicia marcha em direção à Casa Branca

Via Ópera Mundi
Manifestantes vão caminhar 30 quilômetros por dia para chegar até a capital Washington em duas semanas
Os manifestantes de Wall Street vão iniciar nesta quinta-feira (10/11) uma marcha que sairá de Nova York em direção a Washington, com o objetivo de levar suas mensagens de protestos às comunidades rurais, ao Congresso dos Estados Unidos e à Casa Branca.
A passeata, batizada de Occupy The Highway (Ocupe a Estrada), partiu da praça Zuccotti, no sul de Manhattan, onde os manifestantes do Occupy Wall Street estão reunidos desde o dia 17 de setembro. Os organizadores dos protestos esperam andar trinta quilômetros por dia para chegar à capital americana em duas semanas.
Durante o trajeto, os manifestantes passarão por cidades de Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware e Maryland, e aproveitarão para se reunir com o movimento da Filadélfia e Baltimore. No fim, irão se reunir em frente à Casa Branca no dia 23 de novembro, quando será realizada a reunião do super comitê bipartidário do Congresso,
Nessa data, os organizadores convocarão os americanos a fazer uma passeata pelas ruas de Washington. De acordo com os integrantes do movimento, um dos objetivos é acabar com as isenções fiscais aprovadas pelo governo de George W. Bush e que beneficiam as camadas mais ricas da população.
O super comitê foi criado em agosto para discutir a dívida pública americana e elaborar um plano para a redução do déficit em pelo menos US$ 1,2 trilhão.
"Queremos estar em Washington nesse dia, para lutar pelos 99% que está lutando contra o 1% que segue enriquecendo", afirmaram os manifestantes num comunicado. Os protestos serão realizados na capital das 9h às 17h, no horário em que os bancos estiverem abertos.

Ocupar prédios é preciso. Porque gente vale mais que barata

do Sakamoto

Mais de 3,5 mil pessoas ligadas a movimentos por moradia ocuparam, na madrugada de segunda, dez prédios abandonados na capital paulista. A ação foi coordenada por 14 movimentos por moradia, entre eles o Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), a Unificação das Lutas dos Cortiços (ULC) e o Movimento de Moradia do Centro (MMC). Eles também denunciam acordos não cumpridos com o poder público.
Entre as demandas comuns a todas as 14 entidades envolvidas na ocupação, estão uma solução para os que foram vítimas da desapropriação dos Edifícios São Vito e Mercúrio, a garantia de 5 mil unidades habitacionais para o atendimento no Programa de Locação Social e de 5 mil atendimentos no Programa Bolsa Aluguel para situações emergênciais e o atendimento da demanda dos movimentos de moradia que atuam no Centro dos 53 prédios que a Prefeitura afirma estar desapropriando.
O déficit qualitativo e quantitativo de habitação poderia ser drasticamente reduzido se esses imóveis trancados por portas de tijolos pudessem ser desapropriados e destinados gratuitamente para quem precisa. Mas, ao invés disso, o governo federal investe em programas que facilitam o financiamento de novos empreendimentos, como o “Minha Casa, Minha Dívida”, quando poderiam estar entregando às famílias de baixíssima renda apartamentos existentes que hoje só servem para criar ratos e baratas.
Enquanto isso, Estado e município não têm coragem de enfrentar os grandes latifundiários urbanos. Há prédios que devem milhões de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e poderiam ser alvo do Decreto de Interesse Social, uma vez que permanecem vagos por anos. Mas em uma sociedade cuja pedra fundamental são a intocabilidade da propriedade privada e a possibilidade de lucro e não o respeito à vida isso fica difícil.
Por isso, o apoio às ocupações que começaram nesta segunda em São Paulo é a diferença entre a civilidade (e a consciência de que o respeito à dignidade humana e não a antropofagia é que deveria nos unir) e a barbárie (de pessoas morando em palafitas sobre córregos de merda, enquanto outras vivem em triplex com mais de mil metros quadrados).
Já disse isso aqui antes: a área central de São Paulo é alvo prioritário dos movimentos por moradia por uma razão bem simples: porque já tem tudo, transporte, cultura, lazer, proximidade com o trabalho. Ao longo do tempo, fomos expulsando os mais pobres para regiões cada vez mais periféricas. Eles, que possuem menos recursos financeiros, gastam mais tempo e mais de sua renda com transporte do que os mais ricos que ficaram nas áreas centrais (com exceção dos condomínios-bolha espalhados no entorno, com suas dinâmicas de segregacionismo próprias).
Cortiços em regiões retratadas no passado por Alcântara Machado no livro “Brás, Bexiga e Barra Funda” e também nos antes requintados Campos Elísios abrigam dezenas de famílias. Sem o mínimo de saneamento básico, às vezes sem água e sem luz. A maioria dos moradores desses locais prefere continuar assim, pois transporte é o que não falta e a casa fica próxima ao trabalho – ao contrário do que acontece em bairros da periferia, onde o trajeto até o centro chega a levar três horas, dentro de ônibus superlotados.
Cresci no Campo Limpo, bairro periférico de São Paulo. Fiz o ensino médio técnico no Pari, perto da Rodoviária Tietê, do outro lado da capital. Mais de duas horas para cruzar a cidade de transporte público. Depois da faculdade, sem carro, mantive uma rotina longa até me mudar para o principado paulistano do Sumaré. Contudo, mesmo os trajetos intermináveis eram fichinha para quem foi lançado às rebarbas da cidade, como o Jardim Pantanal ou o Grajaú – de onde saem boa parte daquela “gente diferenciada” que vive para servir.
A carta dos movimentos por moradia endereçada ontem ao governador Geraldo Alckmin e ao prefeito Gilberto Kassab desabafa: “Realizamos os principais serviços para o bom funcionamento desta cidade, entretanto nossas famílias estão espremidas por um conjunto de necessidades. Lutamos e trabalhamos muito para sobreviver, mas a cidade regida pelas leis do mercado, especialmente imobiliário, impede que nossa renda assegure nossos direitos. Sabemos que a situação de nossas famílias decorre da injustiça histórica. Sabemos também, que nas circunstâncias atuais, nosso sofrimento não tem razão de continuar.Por isso, nos organizamos e ocupamos esses imóveis abandonados, sem função social respaldados por nossas Leis, que assegure nosso direito à moradia e por meio de nosso direito de agir”.
José – o nome é fictício, pois o morador não quis se identificar – morava com a mulher, filhos, cunhado e primos em um velho casarão, semidestruído, então propriedade da Universidade de São Paulo, na Rua Havaí, localizada no caro bairro de Perdizes. O local não possuía a mínima segurança, uma vez que as tábuas caíam ao se caminhar pela casa. Mesmo assim, José não arredava pé de lá. “Se sair não tenho para onde ir.” Passaram-se os meses e a universidade mandou demolir a casa. Para onde foram José e o populacho que lá vivia? Ninguém nunca soube dizer. Provavelmente engrossam a densidade demográfica de outro cortiço. Ou passaram frio em algum lugar precário. Que logo seria igualmente derrubado.
A recuperação da área central de São Paulo não se restringe a uma valorização estética das ruas, edifícios e bens culturais. Inclui também o repovoamento do local, trazendo vida à região, com incentivos para o estabelecimento das classes média e baixa. O que tem sido feito até agora é o contrário: expulsa-se o povão e ergue-se monumentos à música e às artes.
Sabe o artigo 6o da Constituição Federal que garante o direito à moradia? Então, é mentira. Do mesmo tamanho daquela anedota contada no artigo 7o que diz que o salário mínimo deve ser suficiente para possibilitar “moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”.
Função social da propriedade? Por aqui, isso significa garantir que a divisão de classes sociais permaneça acentuada como é hoje. Cada um no seu lugar. Afinal de contas, viver em São Paulo é lindo – se você pagar bem por isso.

quarta-feira, novembro 09, 2011

Presidenta Dilma recebe atletas do Pan de Guadalajara

Nova tática da PM tucana: anonimato.

Policiais militares sem identificação. Agentes do Estado repressor tucano livres para cometer crimes. PM não é sinônimo de segurança, mas de medo!
*Mídia Caricata

Na sala com os delegados, ouvia-se argumentos típicos da polícia política do regime miltar.

Quem chegasse à 91a. delegacia na manhã de ontem encontraria um ambiente de paz. Na rua, três ônibus de cortinas negras, fechadas, traziam os 70 estudantes detidos que, pouco a pouco, seriam chamados a prestar depoimento sobre a invasão da reitoria da USP. No lado de dentro, delegados e policiais conversavam com os primeiros repórteres que apareceram.
A idéia, disse um delegado, era denunciar os estudantes por um ato de desobediência, incontornável depois que eles não acataram a ordem da Justiça de deixar a reitoria.
O passo seguinte seria um “Termo Circunstanciado de Ocorrencia”, documento que é menos relevante do que o célebre Boletim de Ocorrencia usado até para batida de automóvel. Feito isso, se dizia, eles seriam enviados para casa.
Ao meio dia, a conversa havia mudado. Chamado para atuar nessas horas, o deputado estadual do PT Adriano Diogo compareceu a um encontro fechado com tres delegados e uma delegada envolvidos diretamente no caso. O deputado me pediu para acompanhá-lo como testemunha.
Naquele momento, pretendia-se enquadrar os estudantes em três artigos. Além da desobediência, haveria o dano qualificado de patrimonio, em função de depredações encontradas na reitoria, e até por crime ambiental, por causa de pinturas nas paredes. (Ao longo do dia, essa postura mudaria mais uma vez e se abandonaria a acusação por crime ambiental.)
“NÃO CHEGAMOS AOS CABEÇAS’
Na reunião, os delegados disseram que eram crimes graves. Avisaram que iriam pedir a prisão provisória dos estudantes e que já estavam procurando presídios onde pudessem ser alojados. Lembrando que a única hipótese de escapar era pagar a fiança, que, estipulada inicialmente em R$ 1050, fora rebaixada para um salário minimo, um deles disse: “dificilmente todos poderão ir para um mesmo lugar. Eles serão divididos. Quem sabe tenham de passar a primeira noite aqui.”
Uma explicação para a mudança de atitude é tecnica. Decidira-se por uma punição branda logo cedo, quando não havia sido feito um levantamento completo dos estragos na reitoria. “Depois se viu que a coisa era mais grave,” disse um assessor da Secretaria de Segurança. Mas ganhou curso uma explicação política: os policiais foram instruídos a aplicar punições mais duras como parte de um esforço de imagem do governador Geraldo Alckmin. Como a maioria da população não enxerga o movimento dos estudantes com simpatia, uma reação considerada enérgica seria uma forma de associar Alckmin com uma preocupação em defesa da ordem. “Até segunda ordem a ordem é dar o exemplo,” me disse, ironico, um policial envolvido no caso.
No encontro com Adriano Diogo, um dos delegados falou que as redes sociais deixavam claro que havia muito repúdio da população contra os estudantes.
O deputado perguntou se não era uma punição demais. “Ainda é pouco,” disse um delegado, que acrescentou, num tom que embutia até uma certa possibilidade de ampliar os interrogatórios e quem sabe, as investigações: “ainda não chegamos aos cabeças,” acrescentou, referindo-se aos sindicatos de funcionários da USP que mantém um convívio estreito com as organizações dos estudantes.
Lembrando que foram encontradas meia duzia de garrafas de coquetéis Molotov na reitoria – equipamento que os estudantes garantem que que não lhes pertence – o mesmo delegado prosseguiu: “não enquadramos posse de arma de fogo. Seria pior ainda para eles, pois é inafiançável.”
“Eles vão ter o que procuraram.”
O tom da conversa era este. Por uns minutos, parecia que estávamos diante de uma equipe policial que acabara de apanhar um grupo subversivo dos anos 60 e 70. Minha impressão era que montara-se uma combinação de enganos.
Lá fora, muitos estudantes diziam — com convicção — que seu movimento expressa a alvorada de um levante popular, exemplo do que acontece com a insurreição estudantil no Chile, a revolta dos indignados na Espanha, a ocupação de Wall Street e tudo mais. Na sala com os delegados, ouvia-se argumentos típicos da polícia política do regime miltar.
Os confrontos políticos fazem parte da vida em sociedade. São mais claros e produtivos quando seus protagonistas sabem do que falam. Tornam-se confusos e desgastantes quando se baseiam em ilusões.
A sensação ali na delegacia era de um espetáculo no qual nenhum dos protagonistas tinha idéia do enredo que estava representando. Não é obrigatório ter consciência de tudo o tempo inteiro. Mas quando enganos mútuos acontecem é mais fácil caminhar-se para o erro e o desastre.
As pessoas tomam iniciativas e atitudes sem base no conhecimento da realidade, o que torna difícil atingir objetivos pretendidos. Ao contrário do que ocorreu em outras situações políticas, quando os estudantes eram aplaudidos ao fazer passeatas nas grandes cidades, hoje eles estão fechados em seu próprio mundo, como se apenas conversassem com eles mesmos.
Isso se reflete em sua atitude em relação a USP, a mais respeitada universidade brasileira, sonho tão distante da vida da maioria dos brasileiros que eles sequer conseguem imaginar que seus filhos possam alcançá-lo, um dia. Ao sabe que iria me levar para a 91a. delegacia, o taxista lembrou que o rádio havia noticiado que este seria o destino dos estudantes e observou: “aquele movimento deles tá meio fraquinho, né…”
Andando pela delegacia, Adriano Diogo não conseguia evitar um leve riso ironico ao relembrar a origem da ocupação da reitoria. “Os conservadores do PSOL e do PSTU eram contra,” diz ele, mencionando a sigla mais à esquerda no Congresso brasileire e uma organização de atuação extraparlamentar, que rompeu com a CUT e hoje anima uma corrente sindical agressiva e voluntariosa, o Comlutas. Estudantes ligados ao PSOL e ao PST, que dirigem do DCE, eram contrários a invasão da reitoria. Numa assembléia tumultuada, onde cada parte acusa a outra de dar um golpe, os alunos favoraveis assumiram os trabalhos e decidiram fazer a invasão.
Um dirigente de uma das tendencias mais antigas dentro do Partido dos Trabalhadores apareceu na delegacia para encontrar dois militantes que participaram da invasão sem saber direito por que. “Nós discutimos e explicamos porque não deviamos apoiar essa ação. Mas, depois que a assembléia aprovou a invasão, eles acabaram entrando no bolo.”
O mundo estudantil sempre teve a fisionomia de um aquário mas, neste caso, as particularidades parecem maiores do que em outras vezes. As duas ou três organizações que estiveram à frente da invasão da reitoria exibe um radicalismo que um dia teve suas ligações com o pensamento de Leon Trotski, o primeiro líder comunista a reconhecer que o regime saído da revolução russa de 1917 caminhava para um fracasso e que poderia ocorrer um retorno ao capitalismo.
Eles detestam a mídia, questionam a distribuição de renda ocorrida nos últimos anos como puro consumismo. Sua fraqueza em relação a própria massa estudantil é enorme. Nas últimas eleições para o DCE, uma chapa conservadora mostrou uma presença que não se via há muitas décadas. A maioria dos observadores acredita que só irá crescer na próxima eleição.
Há concretamente um choque de civilizações entre estudantes e a PM. Habituada a fazer seu trabalho junto às parcelas humildes da população, que não tem meios de defesa nem canais de denúncia e reivindicação, ao atravessar a universidade a PM entra em colisão com um mundo diferente, com outros códigos e discursos.
Em vez de encontrar cidadãos socialmente indefesos, os soldados estão diante de brasileiros e brasileiras que tem outra condição social. As estatisticas informam que as universidades públicas estão longe de constituir um abrigo exclusivo de filhinhos de papai, como sustentam os advogados de sua privatização, mas são uma instituição que abriga pessoas que estão condenadas a agir e reagir como personagens de nossa elite cultural. Essa possibilidade de resistência dificulta a aplicação, nas universidades, do simples jogo bruto que é comum em outros lugares.
Ouvi três histórias de violência que chamaram a atenção, ontem:
1- Uma estudante de Filosofia me disse que passou 40 minutos de pavor e
agressão, por volta das cinco da manhã, quando começou a desocupação. Foi arrastada e jogada no chão, teve sua câmara de filmar e fotografar quebrada. Ao gritar por socorro, foi silenciada com um instrumento de borracha enfiado em sua boca. Mais tarde, apertaram seu pescoço com um cassetete. Quando me deu um depoimento, chorou várias vezes e mostrou o lábio com manchas internas escuras, que eram marcas da agressão, disse.
2- Um estudante de Letras contou que foi apanhado pela PM do lado de fora da reitoria. Derrubado, foi algemado, enquanto um PM usava o pé para apertar sua cabeça contra o chão.  O pai deste estudante, um funcionário público, disse que viu imagens da cena na câmara de um cinegrafista de TV que cobria a cena. “Minha mulher também viu e não pára de chorar até agora. Era tão estranho  ver aquela cena que eu não conseguia acreditar que fosse meu filho.”
3 – Um terceiro estudante me mostrou um corte no supercilio esquerdo por baixo de um curativo grosseiro, com esparadrapo. Disse que fora agredido por um PM durante a desocupação da reitoria. “Ele me acertou com um escudo,” disse o estudante.
PROTESTO COM APOIO DE MINISTRO
Entrevistei o major PM Sofner, da Comunicação Social. Perguntei sua avaliação destes depoimentos. O major me disse que haviam apurado e que não era nada sério. Perguntei especificamente sobre o depoimento daquela estudante que foi arrastada, empurrada, jogada no chão. Ele me disse que não era verdade mas que estavam investigando. A impressão era de pura formalidade diante de um jornalista.
Vamos combinar que não há comparação possível entre a violencia cotidiana da PM contra a população humilde de São Paulo e das grandes cidades brasileiras. Por essa critério, a atuação dos policiais com os estudantes poderia ser classificada como educadíssima.
Até o ministro da Educação e candidato a prefeito de São Paulo Fernando Haddad – antigo aluno da USP –  condenou publicamente a invasão, um apoio que os estudantes comemoravam discretamente em volta daqueles onibus em que ficaram detidos durante 17 horas. Talvez não haja mais curioso sinal dos tempos do que um protesto estudantil com apoio de ministro da Educação. Mas uma aluna reclamou que Haddad não precisava ter dito  que a universidade “não é cracolandia, pois nós não achamos que seria correto fazer na cracolandia o que fizeram na USP.”
O esforço de criminalização dos estudantes inclui a técnica de dizer e repetir a besteira de que eles não passam de maconheiros interessados em livrar-se da PM para fumar seus baseados à vontade. É injusto, mentiroso e irresponsável. Basta ler jornais para ter uma idéia das mazelas que envolvem a Polícia Militar e é importante que se discuta isso.
Mas não concordo com sua reivindicação,  ”Fora PM.”
Como a maioria dos brasileiros, acho que a segurança é um direito da população e um dever do Estado. A população quer tranquilidade para trabalhar, andar pela rua, divertir-se. A menos que se prove que os dados divulgados são falsos, o que não se fez até o momento, a entrada da PM na USP trouxe benefícios evidentes neste quesito. A corporação acumula um comportamento violento e autoritário que vai muito além do razoável.
Nenhuma proposta de reforma ou mesmo reconstrução da PM, autoriza que se dispense o serviço da corporação, apesar de seus defeitos. A boa educação política ensina que é preciso separar as coisas, porém. Numa democracia, todos precisam aprender isso.

Berlusconi vai-se; a Itália já se foi

O mercado financeiro provou ter mais força que qualquer escândalo moral ou sexual e demitiu o primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi – leia mais aqui sobre a ditadura do mercado na Europa – pela bolsa de valores.
O velho fauno, que parecia resistir até a condenações por sonegação fiscal, não resistiu ao capital.
Anunciou sua demissão mas, como definiu o site Euronews, “em câmara lenta”. Só sai do Governo quando se aprovar o Orçamento, daqui a alguns dias.
E a resposta do mercado foi imediata. Os juros dos títulos italianos, que ontem tinham chegaram a 6,7% ao ano, eram cotados, há dois meses, em torno de 5%. Hoje, no instante em que escrevo, acabam de romper a marca de 8%.
A Itália só tem um “probleminha” diferente da Grécia.
É a terceira economia da Europa.
*Tijolaço

O PREÇO DO PETRÓLEO DEVE SER CALCULADO EM VIDAS

Wladmir Coelho 
Os fundamentalistas do neo-liberalismo insistem na tese do século 18 na qual a “mão invisível” seria a responsável por determinar os preços. Eliminam, estes fundamentalistas, de forma dogmática qualquer possibilidade de intervenção, na elaboração dos preços, dos fatores políticos notadamente aqueles relativos a política econômica das empresas.
Os adeptos da crença neo-liberal insistem em plantar na imprensa justificativas místicas para as variações observadas no preço do petróleo. Assim o aumento ou queda nos valores deste importante mineral ficam restritos ao temor do “mercado” apontado como entidade inocente sem participação e interesse diretos nos eventos políticos e quase sempre militares.
O preço do petróleo, ao contrário da crença do século 18, é determinado por decisões políticas e tratando-se de um recurso não renovável o controle de eventuais reservas torna-se assunto de segurança nacional. Devemos aqui observar que a expressão “nacional” não implica na redução de sua aplicabilidade aos limites territoriais de um determinado país.
O consumo das maiores potências não é efetivado a partir de reservas próprias daí a necessidade do controle de áreas produtivas em pontos diferentes do planeta a partir de empresas cujo controle do capital está subordinado aos grandes grupos financeiros.
Observa-se deste modo a consubstanciação  entre a política econômica nacional e política econômica dos grupos financeiros submetendo estes os seus interesses ao mundo. A recente carnificina observada na Líbia a ameaça de invasão do Irã, apenas para ficar nos mais recentes, revelam a face perversa desta realidade.
Controlar o petróleo representa a garantia de manutenção de um modelo econômico estruturado para funcionar a partir do uso dos combustíveis e matéria prima derivados deste mineral para todo tipo de indústria cuja substituição ocorrerá cedo ou tarde, mas que ainda por muito tempo continuará predominante.
A evidente escassez do petróleo aguça a corrida por seu controle e somando-se a estrutura militar e política necessária para o seu controle o seu preço tende a apresentar-se elevado e seus lucros repartidos entre os oligopólios financeiros.
Daí a acreditar que um simples comunicado foi o responsável pelo aumento na cotação do petróleo é algo no mínimo risível. A decisões são tomadas em nome da política econômica nacional e privada nos países sedes e atuam para beneficiar os balanços de suas empresas.
A atual crise econômica criou a necessidade de aumentar a tributação dos mais pobres e pagando preços ainda mais altos para as petrolíferas ficam garantidos os recursos para abastecer os bancos. 

Um mundo perturbado que precisa terminar de morrer

 Diário Gauche

A verdadeira crise
E se, para além da crise econômica, política e ambiental que parece atualmente ser um fantasma a assombrar as sociedades capitalistas, outra crise estivesse à espreita?
Uma crise ainda mais brutal, dotada da força de abalar os fundamentos da normatividade existente. Lembremos como Max Weber mostrou que o advento do capitalismo trazia, necessariamente, a constituição de uma forma de vida marcada por um modo específico de relação aos desejos e ao trabalho.
Tal forma de vida, cuja face mais visível era a ética protestante do trabalho, baseava-se em um modo de articular autonomia como autogoverno, unidade coerente das condutas e da liberdade como capacidade de afastar-se dos impulsos naturais. Ou seja, ela trazia no seu bojo a criação da noção moderna de indivíduo.
Mas, e se estivéssemos hoje às voltas com uma profunda crise psicológica advinda do colapso dessa noção tão central para as sociedades capitalistas modernas?
Uma crise psicológica significa aumento insuportável do sofrimento psíquico devido à desestruturação de nossas categorias de ação e de orientação do desejo.
O sociólogo Alain Ehrenberg havia cunhado uma articulação consistente entre a atual epidemia de depressão e um certo "cansaço de ser si mesmo".
Por sua vez, boa parte dos transtornos psíquicos mais comuns (como os transtornos de personalidade narcísica e de personalidade borderline) são, na verdade, as marcas da impossibilidade dos limites da personalidade individual darem conta de nossas expectativas de experiência.
É possível que, longe de serem meros desvios patológicos, estes sejam alguns exemplos de uma crise em nossos modelos de conduta que crescerá cada vez mais.

Conhecemos um momento histórico no qual uma crise psicológica dessa natureza ocorreu. Momento marcado pela retomada do ceticismo e de um desespero tão bem retratado nos quadros do pintor Hieronymus Bosch (detalhe de pintura, ao lado).
Ele só foi superado por processos históricos, fundamentais para o aparecimento da individualidade moderna, nomeados, não por acaso, de Renascimento e de Reforma.
Tais palavras nos lembram que algo estava irremediavelmente morto e desgastado. Algo precisava renascer e ser reformado.
Talvez estejamos entrando em uma outra longa era de crise psicológica onde veremos nossos ideais de individualidade e de identidade morrerem ou, ao menos, algo fundamental de tais ideais morrer.
O problema é que, algumas vezes, a morte dura muito tempo. Algumas vezes, precisamos de acontecimentos que ocorrem duas vezes para, enfim, terminarmos de morrer.
Vladimir Safatle da USP

Borboletas de Zagorsk / The Butterflies of Zagorsk (1992)


(Grã Bretanha, 1992, 60 min - Produção: Michael Dean)
Incrível!
Borboletas de Zagorsk é um documentário produzido pela BBC em 1992 que trata do trabalho desenvolvido em uma escola russa com crianças surdas e cegas inspirado nos estudos de Lev Vygotsky. A obra tem 60 minutos de duração e se passa na cidade de Zagorsk, a 80 km de Moscou. (Fonte: wikipédia)

Os estudos sobre a defectologia, presentes na teoria de Vygotski enfatizam que as pessoas com deficiência, através de mecanismos compensatórios, passam a utilizar seus sentidos normais para substituir seus sentidos perdidos.

Neste sentido, o documentário reforça a importância da mediação e a crença de que todas as pessoas, independente da idade e da condição física ou intelectual, são capazes de aprender. Concepção esta também retratada na teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural do educador Romeno Reuven Feuerstein. Com a conhecida frase: "Não me aceite como eu sou", Feuerstein desafia o educador a planejar e propor ações que possibilitem ao sujeito relacionar-se com seus pares, sem que esta relação seja permeada pelo atributo da incompetência por acreditar que não se pode prever, nunca limites para o desenvolvimento humano.
Borboletas de Zagorsk é a evidência disso. (Blog Sobre Educação)

Agradecimetos a Rodrigo Couto pela sugestão e link.
*docverdade