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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 16, 2011

Vídeo do ataque ao "Ocupe Wall Street"


O estadunidense é o povo mais enganado do mundo , ele pensa que vive numa democracia. Acharam que podiam imitar os egipcíos da praça Tahrir


Aqui estava certo , mas nos EUA...


'Ocupe Wall Street' é desalojado à força em NY
Manifestantes são retirados pela polícia e 200 foram detidos; protestos retomam de noite

Michael Nagle/Getty Images/France Presse
Centenas de pessoas retomam protestos no parque Zucotti, na noite de ontem em Nova York, sob forte cerco da polícia
Centenas de pessoas retomam protestos no parque Zucotti, na noite de ontem em Nova York, sob forte cerco da polícia
VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK
Após quase dois meses de ocupação, os manifestantes do "Ocupe Wall Street" foram retirados à força do Zuccotti Park, praça que ocupavam ao lado do centro financeiro de Nova York.
O movimento serviu de inspiração para ativistas em diversas cidades do mundo.
Os policiais começaram a retirar manifestantes por volta das 2h (5h em Brasília). Segundo o prefeito Michael Bloomberg, a ação policial ocorreu durante a madrugada para diminuir o risco de confrontos. Estimativas apontam que cerca de 200 pessoas foram detidas.
Ao menos quatro jornalistas que cobriam o despejo foram detidos. Relato de repórter do "Wall Street Journal" aponta que os profissionais foram algemados. Até o final da tarde de ontem, a polícia não forneceu balanço da operação, pois dizia que a ação "ainda estava em curso".
Bloomberg afirmou que a desocupação ocorreu a pedido da Brookfield's, proprietária do parque, para que a área pudesse ser limpa.
"Desde o início, disse que a cidade tinha dois objetivos: garantir a saúde e a segurança públicas e garantir os direitos dos manifestantes [...]. Quando as metas entram em choque, saúde e segurança do público devem ser prioridade."
Há algumas semanas, a polícia já havia confiscado geradores usados pelos manifestantes. Segundo os agentes, havia risco de incêndio.
No início da noite de ontem, a polícia reabriu o parque, que permaneceu fechado e cercado por policiais durante todo o dia.
A abertura, porém, ocorreu só depois que o juiz Michael Stallman determinou que os protestos poderiam continuar, mas sem a ocupação com barracas e sacos de dormir.
Os ativistas convocaram apoiadores para reocupar o parque, mas até a noite de ontem não conseguiram recolocar as barracas.
Segundo os manifestantes, houve violência policial durante a madrugada. "A ação foi nojenta. Muitas pessoas se machucaram enquanto eram arrastadas", disse o ativista Brett Chamberlin, 20.
Os manifestantes organizaram protestos contra a desocupação e articulam uma "ação global" para amanhã, dia em que o movimento completa dois meses.

Deu a mulesta! Fiel, por "milagre", tem a dívida do banco zerada. Ratinho ameaça pastor da Igreja Mundial



É muita desfaçatez, pilantragem e uso da ideia de Deus como massa de manobra dos desavisados. Estelionato religioso!

*Ocarcará

Charge do Dia

Eliana Calmon Reafirma que há "Bandidos de Toga" . 

 A corregedora nacional de Justiça, a ministra Eliana Calmon, reafirmou na noite de ontem - segunda-feira 14/11/11 - que há, na magistratura brasileira, “bandidos de toga” e que sua declaração polêmica não foi contestada pelos corregedores de Justiça do país, responsáveis por investigar juízes de primeira instância. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, a ministra afirmou ainda que o problema da magistratura não está na primeira instância, mas nos tribunais.
 
- Os juízes de primeiro grau tem a corregedoria. Mesmo ineficientes, as corregedorias tem alguém que está lá para perguntar, para questionar. E existem muitas corregedorias que funcionam muito bem. Dos membros dos tribunais, nada passa pela corregedoria. Os desembargadores não são investigados pela corregedoria. São os próprios magistrados, que sentam ao lado dele, que vão investigar – criticou a ministra.
Eliana Calmon defendeu a atuação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cuja capacidade de investigar e punir magistrados está sendo questionada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) no Supremo Tribunal Federal.

- O CNJ, na medida que também é órgão censor, começa a investigar comportamentos. Isso começa a desgostar a magistratura – disse a ministra.

Para Eliana, os maiores adversários do CNJ são as associações de classe, como a própria AMB:
 
- Não declaram, mas são contra. A AMB é a que tem maior resistência – disse ela, que concluiu: – De um modo geral, as associações defendem prerrogativas: vamos deixar a magistratura como sempre foi. São dois séculos assim.
Sobre a falta de punição aos magistrados, embora existam centenas de denúncias, a ministra respondeu:

- Vou colocar de outra maneira: o senhor conhece algum colarinho branco preso?

A ministra explicou a circunstância da declaração sobre os “bandidos de toga” e minimizou a gravidade da acusação:

- Eu sei que é uma minoria. A grande maioria da magistratura brasileira é de juiz correto, decente, trabalhador. A ideia que se deu é que eu tinha generalizado. Eu não generalizei. Quando eu falei “bandidos de toga” eu quis dizer que alguns magistrados se valem da toga para cometer deslizes – disse ela, que defendeu sua posição: – Os corregedores reconhecem que aquilo que eu disse é o que existe.

Eurodeputado foi sequestrado, torturado e roubado por Israel


Na chegada a Londres, o eurodeputado irlandês Paul Murphy, que esteve detido cerca de uma semana numa prisão israelita, contou como ele e outros activistas da flotilha “Ondas da Liberdade” receberam maus tratos e foram roubados pelas autoridades do Estado de Israel.
Eurodeputado foi sequestrado, torturado e roubado por Israel
À chegada a Londres depois da libertação, juntamente com mais seis activistas, Murphy revelou que foi alvo de um “tratamento brutal”, mas certamente nada que se possa comparar com o dos presos palestinianos nas cadeias israelitas.
O eurodeputado irlandês Paul Murphy, do grupo da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleito pelo Partido Socialista da Irlanda, esteve detido cerca de uma semana numa prisão israelita onde ele e outros activistas da flotilha “Ondas da Liberdade” receberam maus tratos e foram roubados pelas autoridades do Estado de Israel. A presidência do Parlamento Europeu ignorou este caso de violação do direito internacional e dos direitos humanos.
À chegada a Londres depois da libertação, juntamente com mais seis activistas, Murphy revelou que foi alvo de um “tratamento brutal”, mas certamente nada que se possa comparar com o dos presos palestinianos nas cadeias israelitas ou da generalidade da população palestiniana no seu dia a dia.
A flotilha “Ondas Liberdade”, constituída por duas pequenas embarcações, uma irlandesa e outra canadiana, que transportavam ajuda humanitária para a população bloqueada em Gaza, foi violentamente assaltada pela marinha israelita em águas internacionais e desviada para o porto de Ashdod, em Israel. Os passageiros, entre os quais Paul Murphy e um enviado do site norte-americano Democracy Now, foram presos e acusados de entrada ilegal em Israel. Num telefonema ainda na prisão Murphy revelou que a violência do assalto quase provocou o afundamento de um dos barcos.
Durante a semana que passaram na prisão os activistas sofreram maus tratos, privação do sono, considerada uma forma de tortura, e acabaram por ser roubados pelas autoridades militares. Murphy não recebeu o telemóvel e o computador portátil e os outros activistas ficaram sem os seus bens pessoais.
“O tratamento que recebemos na prisão às mãos dos militares israelitas foi duro e orientado para quebrar a nossa determinação”, disse Paul Murphy à chegada a Londres.
“Embora esta situação nos tenha permitido ter uma ideia de quão repressivo é o Estado de Israel, não foi nada comparado com o terrível e sistemático abuso infligido todos os dias ao povo palestiniano; nós estamos agora em casa mas o povo Palestiniano continua numa prisão a céu aberto, que é a situação de Gaza”, acrescentou.
Murphy sublinhou que “o bloqueio a Gaza tem que ser quebrado, as autoridades israelitas têm que perceber que o tratamento que nos deram não deterá próximas tentativas para fazer chegar apoio ao povo de Gaza e, finalmente, quebrar o bloqueio”.
O presidente do Parlamento Europeu, o direitista polaco Jerzy Buzek, ignorou a situação plena de ilegalidades a que foi submetido um membro da instituição. A acção israelita envolveu pirataria, sequestro, prisão ilegal e sem culpa formada por tempo que excedeu as próprias leis israelitas, tortura, acusações falsas e roubo. Tais matérias de facto violam numerosos princípios humanitários e do direito internacional que o Parlamento Europeu diz defender.
O assunto vai ser levantado na sessão plenária do Parlamento que começa segunda-feira, em Estrasburgo, aguardando-se que o debate possa esclarecer posições sobre este tipo de comportamentos de Israel, cada vez mais vulgares.


Brasil: história e consciência negra



*Roberta Traspadini
“... a história nos engana/ Diz tudo pelo contrario / Até diz que abolição/Aconteceu no mês de maio/A prova dessa mentira/É que a miséria não saio/ Viva vinte de novembro/ Momento pra se lembrar/ Eu não vejo no treze de maio/ Nada pra comemorar ...” (domínio público)
A história do Brasil se caracterizou pela conformação da violência colonial europeia que, além de branca, era masculina na sua construção de poder.
Para isto, foi instituindo com força vil e adestramento cultural uma forma de ser para o negro e para o índio, a partir daquilo que o dono dos sujeitos definiria como civilização e trabalho.
Essa história marcada a fogo e a ferro pelo racismo se apresentou como única, como a história dos vencedores sobre os vencidos, e relegou aos negros e índios um papel subordinado na história, ocultando sua função produtora de vida para outros.
O Brasil colonial aparece, em sua essência, como uma fase que oculta os reais processos de opressão e exploração utilizados pelos donos do poder para calar – na chibata e no tronco – os que se rebelavam contra a ordem dominante.
Essa capacidade de transformar o aparente no real trouxe para nossa história uma perversa essência de consolidação de estereótipos.
Estes estereótipos, para a ordem dominante do progresso, que consolidaram um poderoso antagonismo sobre quem eram/são os civilizados/bárbaros, cultos/ignorantes, belos/feios, homens e mulheres ao longo da história.
A construção desse imaginário coletivo conformou uma lógica de não poder ser para uma parte expressiva de nossa classe trabalhadora negra e índia. Seja na condição de escravos ou na atual relação aparente de trabalhadores livres, reforçada pela democracia restrita.
Instaurou-se uma liberdade condicionada para a sociedade como um todo, sobre ser e sentir-se menos, como índios e negros.
O suposto fim do período colonial já havia assentado a centralidade das bases de consolidação da ética-moral sobre o ser menos, como mecanismo vital de dominação de uma classe sobre a outra.
A pele, os corpos, as culturas dos negros e índios, já haviam entrado para a história a partir da forma e do conteúdo dominantes, de exercer e manter o poder, eliminando objetiva e subjetivamente o real poder/dever ser desta parte integrante de nossa classe.
Na aparente consolidação democrática do Brasil republicano, igualitário e libertário, se consolidou a histórica essência dos valores éticos-morais da desigualdade, manifesta na inserção subordinada desde um ser menos para índios e negros.
Sob a aparente sociedade democrática se funda, além da desigual conformação de classes, uma relação ainda mais perversa de classificação sócio-cultural pelo gênero, pela raça-etnia e geracional.
Ser trabalhador e negro no Brasil significa que além da exploração produtora de valor para outros, a opressão real se manifestará pela histórica caracterização da produção do ser menos, quando em essência é ser mais.
Os mesmos postos de trabalho, ocupados por trabalhadores com cores de pele diferentes, conformarão um grau ainda mais perverso de exploração e opressão no interior da nossa classe.
A classe que vive do trabalho está subordinada pelo poder econômico e político da classe que vive da exploração do trabalho.
No Brasil, entre os explorados, ser mulher, ser negra e ser pobre, condiciona uma lógica de poder que intensificará os perversos conteúdos de exploração do capital sobre o trabalho no nosso território: a superexploração.
A liberdade desfigurada e a exploração manipulada geram uma herança maldita, que não será aniquilada ao menos que consigamos romper com a forma-conteúdo de produzir mercadorias classificando o humano como objeto da relação, da vida que ele produz.
O poder popular requer a restauração do ser mais da classe que vive do trabalho. Rompendo com a estrutura de produção de vida em que o ser menos foi instituído como forma de adestramento necessária à manutenção da ordem e do progresso burgueses.
Segundo o último censo do IBGE-2010, a população brasileira é de mais de 190 milhões (190.755.799). Deste total, 43,1% se declarou preta (82.215.750) e 7,6% parda (14.497.441). Somados, chegamos a quase 97 milhões de brasileiros.
Oxalá que a história escrita e protagonizada por nós, a partir da luta organizada enquanto classe trabalhadora, nos permita recuperar na memória, nossa real história de ser mais, a partir da construção de um projeto nacional, democrático e popular, que ponha fim ao domínio do capital sobre nosso trabalho.



Chaves volta à praça. E com força total


Ontem, em Caracas, o presidente Hugo Chávez participou de seu primeiro comício depois de acometido por um câncer. Ele agradeceu a todos que participaram de sua recuperação e aos movimentos sociais que, segundo ele, o “tiraram da cova”. Chavez falou “pouquinho” – só pouco mais de uma hora, e você pode ver na íntegra aqui e aqui – mas a gente coloca só o pedacinho em que ele agradece por sua cura.
*Tijolaço

Especialista: derrame de óleo pode ser 10 vezes maior


O  site de observação de imagens de satélite Skytruth acaba de publicar uma imagem e uma avaliação sobre a mancha causada pelo vazamento de petróleo do poço da Chevron no Campo de Frade, ao largo do Rio de Janeiro.
E a conclusão do geógrafo John Amos, um ativista ambiental que mantém o site há dez anos é de que:
“A  imagem de satélite  MODIS / Aqua da NASA, acima, foi tirada há três dias. Ela mostra uma mancha de óleo aparente originária do local de perfuração e que se estende por 2.379 quilômetros quadrados (o extremo sul da mancha fica aprisionado em um redemoinho no sentido horário interessante nas correntes oceânicas). De 1 micron de espessura, representa um volume de 628 mil galões (14.954 barris) de petróleo.
Supondo que o vazamento começou ao meio-dia em 8 de novembro (24 horas antes de termos observá-lo em imagens de satélite), estimamos uma taxa de vazamento de pelo menos 157 mil galões (3.738 barris) por dia. Isso é mais de 10 vezes maior do que a estimativa da Chevron de 330 barris por dia.”
Amos trabalhou com as coordenadas dos poços enviadas pelo deputado Brizola Neto, pelo twitter, constantes do relatório oficial da ANP sobre as perfurações em andamento e concluídas, que podem ser conferidas aqui.
Hoje, finalmente a ANP divulgou um comunicado em seu site, dizendo que numa reunião de emergência realizada domingo (por que só veio a público hoje?) aprovou-se o plano de emergência apresentado pela Chevron para deter o vazamento e que a diretora da ANP  Magda Chambriard esteve na Sala de Emergência da Chevron acompanhando os trabalhos para conter o vazamento.
Onde fica essa sala de emergência? Quem responde por ela? Em que a empresa baseia suas avaliações? A ANP recebeu fotos da mancha? Tem fotos de satélite dela? Divulgou-as? Ou isso é uma ação privada?
Amanhã, o deputado Brizola Neto vai apresentar um requerimento pedindo a presença dos diretores da ANP e da Chevron para explicar o vazamentio e apresentar as informações que a imprensa não está publicando.
A foto da Nasa é uma prova de que não são  “umas gotinhas” inofensivas, a mancha é imensa. Você pode ver o original aqui e a imagem tratada aqui.
Mesmo contra todo o bloqueio da mídia, vamos defender a verdade. Não é mais possível tratar quase que secretamente um vazamento.
A presidenta Dilma Rousseff exigiu uma investigação completa sobre o vazamento. O Tijolaço está fazendo sua parte.
E esperando que as autoridades públicas façam a delas.





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Cumplicidade escandalosa


As duas fotos aí de cima foram publicadas pelo blog SkyTruth ,especializado em interpretação de foto de satélites com fins ambientais, mantido pelo geógrafo John Amos, e registram em dois momentos o que é identificado como sendo a mancha de óleo provocada pelo vazamento no poço da Chevron-Texaco e que está sendo mantido na sombra pela imprensa.
Cheguei até elas pela dica do leitor Henrique, que parece ser mais eficiente que toda a imprensa brasileira reunida.
Aliás, os próprios releases dizem que há 18 navios trabalhando no combate ao vazamento. Devem ser navios-fantasmas, como é a direção da Chevron. Não têm nome, não têm comandante, não tem tripulação, não têm coordenadores. Não há uma pessoazinha que seja, com nome e sobrenome, que diga: “olha, as coisas aqui estão assim ou assado”.
Ninguém tem uma máquina fotográfica, uma filmadora, um reles celular que tire fotos. Internet, então, nem pensar.
Será que vamos ter que esperar que coloquem uma mensagem na garrafa, para que a nossa imprensa publique algo além de notas oficiais?
Atualização: a Chevron diz à ANP que a mancha tem 163 quilômetros quadrados de extensão e estima em até 880 barris o vazamento. Bem, se na mancha tiver 1o ml (uma tampinha de xarope) por metro quadrado, isso daria 1,6 milhões de litros, ou dez mil barris de petróleo (163 km2 = 163 milhões de metros quadrados. Que história mal contada! Nem as informações de release são coerentes, e ninguém questiona. Quem vai dar explicações ao país?


A Chevron-Texaco é uma empresa sem rosto?

Passou-se uma semana do início do vazamento de petróleo no poço da Chevron-Texaco no Campo do Frade, ao largo da Bacia de Campos.
A ANP estima que estejam vazando entre 200 e 330 barris por dia. Não é mais um pequeno vazamento: isto representa entre 32 mil e 52 mil litros diários.
Até agora, e no primeiro dia, só a assessora de imprensa da Chevron-|Texaco falou – e besteira – no primeiro dia, dizendo que era um acidente natural.
Pode procurar nos jornais e nos sites: nenhum diretor da empresa deu entrevista. A empresa só fala por comunicados, fiel e inquestionadamente reproduzido pelos jornais.
Quem é o presidente ou diretor responsável pela Chevron? O que ele tem a dizer? Só a muito custo se descobre que é o senhor Charles Buck, subordinado ao sr. Ali Moshiri, presidente da empresa para a África e América Latina.
A Chevron é uma empresa fantasma, sem rosto, sem voz, sem seres humanos. Tinha capacidade técnica para perfurar o pré-sal, como provavelmente estava fazendo?
Suas informações são repetidas sem qualquer aprofundamento ou dúvida.
É o oráculo de Houston falando aos pobres tupiniquins, incapazes de formular uma única pergunta.
Embora, é claro, tenham ido perguntar sobre o vazamento à Petrobras, sócia minoritária e sem poder operacional sobre o campo.
Não há uma ONG, um ambientalista, ninguém protestando, ninguém – além da Presidenta Dilma – exigindo apruação completa do acidente.
O vazamento vai ser tampado com press-releases?
*Tijolaço

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico

A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?
O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.
- Você é evangélico? – ela perguntou.
- Sou! – ele respondeu, animado.
- De que igreja?
- Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.
A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.
Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.
Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.
É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.
Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.
Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.
Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.
Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.
Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.
Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.
Eliane Brum Jornalista, escritora e documentarista.