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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 16, 2011

Eurodeputado foi sequestrado, torturado e roubado por Israel


Na chegada a Londres, o eurodeputado irlandês Paul Murphy, que esteve detido cerca de uma semana numa prisão israelita, contou como ele e outros activistas da flotilha “Ondas da Liberdade” receberam maus tratos e foram roubados pelas autoridades do Estado de Israel.
Eurodeputado foi sequestrado, torturado e roubado por Israel
À chegada a Londres depois da libertação, juntamente com mais seis activistas, Murphy revelou que foi alvo de um “tratamento brutal”, mas certamente nada que se possa comparar com o dos presos palestinianos nas cadeias israelitas.
O eurodeputado irlandês Paul Murphy, do grupo da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleito pelo Partido Socialista da Irlanda, esteve detido cerca de uma semana numa prisão israelita onde ele e outros activistas da flotilha “Ondas da Liberdade” receberam maus tratos e foram roubados pelas autoridades do Estado de Israel. A presidência do Parlamento Europeu ignorou este caso de violação do direito internacional e dos direitos humanos.
À chegada a Londres depois da libertação, juntamente com mais seis activistas, Murphy revelou que foi alvo de um “tratamento brutal”, mas certamente nada que se possa comparar com o dos presos palestinianos nas cadeias israelitas ou da generalidade da população palestiniana no seu dia a dia.
A flotilha “Ondas Liberdade”, constituída por duas pequenas embarcações, uma irlandesa e outra canadiana, que transportavam ajuda humanitária para a população bloqueada em Gaza, foi violentamente assaltada pela marinha israelita em águas internacionais e desviada para o porto de Ashdod, em Israel. Os passageiros, entre os quais Paul Murphy e um enviado do site norte-americano Democracy Now, foram presos e acusados de entrada ilegal em Israel. Num telefonema ainda na prisão Murphy revelou que a violência do assalto quase provocou o afundamento de um dos barcos.
Durante a semana que passaram na prisão os activistas sofreram maus tratos, privação do sono, considerada uma forma de tortura, e acabaram por ser roubados pelas autoridades militares. Murphy não recebeu o telemóvel e o computador portátil e os outros activistas ficaram sem os seus bens pessoais.
“O tratamento que recebemos na prisão às mãos dos militares israelitas foi duro e orientado para quebrar a nossa determinação”, disse Paul Murphy à chegada a Londres.
“Embora esta situação nos tenha permitido ter uma ideia de quão repressivo é o Estado de Israel, não foi nada comparado com o terrível e sistemático abuso infligido todos os dias ao povo palestiniano; nós estamos agora em casa mas o povo Palestiniano continua numa prisão a céu aberto, que é a situação de Gaza”, acrescentou.
Murphy sublinhou que “o bloqueio a Gaza tem que ser quebrado, as autoridades israelitas têm que perceber que o tratamento que nos deram não deterá próximas tentativas para fazer chegar apoio ao povo de Gaza e, finalmente, quebrar o bloqueio”.
O presidente do Parlamento Europeu, o direitista polaco Jerzy Buzek, ignorou a situação plena de ilegalidades a que foi submetido um membro da instituição. A acção israelita envolveu pirataria, sequestro, prisão ilegal e sem culpa formada por tempo que excedeu as próprias leis israelitas, tortura, acusações falsas e roubo. Tais matérias de facto violam numerosos princípios humanitários e do direito internacional que o Parlamento Europeu diz defender.
O assunto vai ser levantado na sessão plenária do Parlamento que começa segunda-feira, em Estrasburgo, aguardando-se que o debate possa esclarecer posições sobre este tipo de comportamentos de Israel, cada vez mais vulgares.


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