Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 30, 2011

Reitor não vai a debate na Assembleia para discutir problemas da USP

Estudantes e entidades de funcionários e professores denunciam arbitrariedades e retaliações
Representantes de alunos, professores e fundionários
da USP discutem problemas na universidade
O reitor da Universidade de São Paulo (USP), João Grandino Rodas, não compareceu a audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para esclarecer a desocupação do prédio da reitoria, na madrugada do dia 9. O professor alegou outro compromisso no mesmo horário. A reunião foi solicitada pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL) e contou com representantes de organizações de docentes e funcionários da universidade, além de estudantes.
A entrada da Assembleia na tarde desta segunda-feira (28) foi controlada por policiais militares, que revistaram mochilas e bolsas. A corporação também chegou a filmar as pessoas durante a audiência até a postura ser questionada por Giannazi, que lembrou que o debate já estava sendo registrado pela TV Alesp. O coronel Navarro, responsável pelo policiamento da Casa, não comentou o motivo das filmagens e disse que só poderia se pronunciar com autorização do presidente da Assembleia, o deputado Barros Munhoz (PSDB).
Quatro comissões permanentes da Alesp – Educação, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia e Direitos Humanos – podem convidar o reitor por diversas denúncias, desde o corte de mais de mil árvores na Cidade Universitária até a compra de prédios e salas no centro de São Paulo. Segundo Giannazi, as solicitações de audiência devem ser votadas até a próxima semana e há expectativa de que mesmo aliados do governador Geraldo Alckmin fiquem a favor dos requerimentos.
Rodas
"Na base aliada do Alckmin tem contradições em relação ao Rodas. Como foi o ex-governador (José) Serra que o indicou temos grande chance de aprovar a convocação em algumas das comissões", garantiu o deputado, em referência ao fato de Serra ter indicado para o cargo de reitor o segundo colocado da eleição indireta promovida na USP, quebrando um acordo informal respeitado desde 1981, ainda no governo de Paulo Maluf.
Apesar de uma lista tríplice definida a partir dos votos do Conselho Universitário, com peso majoritário de professores titulares, ser apresentada ao governador paulista, o tucano ignorou o nome do professor Glaucius Oliva e preferiu indicar Rodas, que já tinha um histórico de conflitos como diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
As reivindicações dos estudantes são anteriores à própria posse de Rodas. Thiago Aguiar, um dos representantes do Diretório Central de Estudantes (DCE) da USP, explica que o estatuto que rege a universidade é o mesmo da época da ditadura e, por isso, precisa ser revisto. Além disso, os estudantes pedem que processos administrativos e crimininais contra as pessoas que participaram da ocupação da reitoria no início do mês sejam retirados e que o convênio com a PM seja encerrado.
Em relação à segurança do campus da zona oeste, a comunidade discente sugere um plano alternativo, discutido na comunidade universitária. "Há denúncias de policiais questionando alunos sem motivo aparente e entrando até em entidades estudantis, como o diretório acadêmico da Escola de Comunicações e Artes (ECA)", conta Thiago.
Denúncias
O estudante de Letras e integrante da comissão de greve Rafael Alves conta que ele e muitos de seus colegas sofrem retaliações tanto da universidade quanto da polícia. Ele é um dos 73 detidos na reintegração de posse da reitoria no dia 9. "Tenho dez inquéritos policiais abertos, processos administrativos e fui expulso da moradia estudantil, além de ter sido jubilado. Eu fui preso do lado de fora da reitoria e estou respondendo aos crimes como se estivesse lá dentro", relata.
Rafael prestou vestibular novamente para poder continuar seu curso e tentou voltar ao Conjunto Residencial da USP (Crusp), mas sua participação do processo de escolha foi negada, segundo ele, apesar de todos os requisitos serem preenchidos. No momento, o estudante mora "de favor" em unidades do Crusp habitadas por colegas.
Os funcionários e professores da USP apoiam o movimento estudantil e pedem mais democracia dentro da universidade. "Esse reitor está restaurando o pior período da ditadura com a militarização e as possíveis escutas e pessoas infiltradas em nossas reuniões", aponta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho. Segundo ele, há relatos literais sobre as assembleias e também de pequenas reuniões do sindicato que só poderiam ser fruto de escutas ou de pessoas infiltradas.
Para o vice-presidente da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), César Minto, a situação atual da universidade é muito preocupante, já que uma instituição pública de ensino deveria ser exemplo de democracia para a sociedade. "Hoje vivemos em um sistema de poder altamente concentrado na mão do reitor e na mão dos professores títulares que ocupam os órgãos colegiados. Não existe discussão democrática e nem tratamento democrático em nenhuma das áreas", afirmou.
Jéssica Santos de Souza
*Rede Brasil Atual

Nenhum comentário:

Postar um comentário