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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, novembro 24, 2011

Perguntas não respondidas


Posto aí em cima o vídeo de minha intervenção, ontem, na Camara dos Deputados, a audiência pública sobre o acidente da Chevron. Fiz perguntas técnicas, essencialmente, para obter informações que possam levar adiante a apuração das situações que levaram ao derramamento de petróleo na bacia de Campos.
Infelizmente, não houve respostas objetivas, apesar de as perguntas serem diretas.
Numa única delas, a sobre os relatórios da cimentação da – ao que parece – única sapata do poço, justamente onde se deu o escape de óleo, houve uma informação que, embora vaga, tem de ser aprofundada: o presidente da Chevron disse que “a cimentação não se revelou adequada”.
Num trecho que não está no vídeo, voltei a perguntar: indagando se a constatação da inadequação da cimentação foi percebida na inspeção que se faz – ou que se deveria fazer – logo após sua execução ou só agora, quando o petróleo vazou.
Espero que a Polícia Federal aprofunde esta questão que, pelo método pouco eficiente deste tipo de audiência, não foi esclarecida.
Porque o restante, infelizmente, foi apenas uma apresentação das declarações de boas intenções da Chevron e da indignação de alguns deputados.
Insisto: acidentes desta natureza não são inevitáveis. É na estrutura e nos métodos de perfuração da petroleira americana que vamos encontrar as respostas sobre o que foi responsável pelo vazamento.
Crédito vídeo: Alexandre Amarante 
*Tijolaço

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