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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, março 08, 2012
A Copa de 50 segundo Mino Carta
Por wilson yoshio.blogspot
Mino Carta conta a Copa de 50: “A Fifa não era esta coisa vergonhosa”
Por Andre Dip
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O jornalista e diretor de redação da Carta Capital cobriu o evento quando tinha 15 anos para veículos italianos: “O Brasil era o país ideal”
Em entrevista à Pública, o jornalista e diretor de redação da Carta Capital lembra a cobertura que fez aos 15 anos para veículos italianos sobre a primeira Copa depois da Segunda Guerra: “O Brasil era o país ideal”. Ali começaria sua longa carreira como jornalista.
Mino fala das muitas mudanças que ocorreram nesses 62 anos no mundo do futebol. A Fifa, por exemplo, não tinha nada a ver com esta de hoje, “que se tornou o que é graças a João Havelange, que, digamos, na Sicília estaria perfeito, dirigindo a máfia”.
E explica que apesar do “Maracanaço”, como ficou conhecida a dolorosa vitória do Uruguai sobre o Brasil no estádio com quase 200 mil pessoas, aqueles eram tempos tranquilos e felizes para o país.
Sobre a Copa de 2014, o jornalista não se mostra otimista. E dispara: “Mazelas mil. Porcarias variadas e mentiras… É uma floresta de enganos”. Senhoras e senhores, com a palavra, Mino Carta:
Você cobriu a Copa de 50 aos 16 anos. Foi seu primeiro trabalho? Como foi parar lá?
Na verdade, foi assim: meu pai detestava futebol e recebeu um pedido de jornais italianos para escrever uma série de artigos sobre a preparação para o Campeonato Mundial de 1950. Eu ainda tinha 15 anos, meu pai detestava o balípodo [futebol]. Me convocou e disse: “Olha, você que gosta dessa porcaria, você gostaria de escrever algo a respeito?”. Eu disse: “Quanto vale?”. Ele disse x e como esse x daria para encomendar um terno azul marinho num alfaiate de muita boa qualidade, eu disse “perfeito!”. Nesse tempo íamos aos bailes de sábado de terno e gravata.
O terno azul era o objeto de desejo?
No meu caso, era o terno azul marinho. Então eu escrevi seis artigos sobre a preparação da Copa. Fui pago, fiz o terno azul marinho e depois quando vieram as equipes dos jornais para os quais eu tinha escrito– que, na verdade, eram dois jornais irmãos, um de Roma e outro de Gênova – o pessoal me usou como intérprete, como ajudante, como contínuo, mil coisas.
A Fifa era menos exigente?
A Fifa não era essa Fifa, que se tornou o que é graças a um brasileiro ilustre que se chama João Havelange, que, digamos, é um concorrente do Totò Riina, do Provenzano. Ele na Sicília estaria perfeito, dirigindo a Máfia. A diferença é que ele está solto e Totò Riina e Bernardo Provenzano estão na cadeia. Esse Blatter é outro. Esse Ricardo Teixeira é outro. Aliás, aprenderam tudo com o João Havelange, que foi o autor desta Fifa vergonhosa. Agora, o campeonato de 1950 funcionou muito bem. Não houve problema algum.
Foram construídos estádios na época?
O Maracanã. Basicamente, o Maracanã, que eu saiba. Eu me lembro porque São Paulo tinha o Pacaembu, que havia sido construído em 1942 e que era um estádio novo e bonito. O Pacaembu aguenta 50 mil espectadores com tranquilidade. São Paulo, nesse momento, beirava os 2 milhões de habitantes. Era um outro mundo. São Paulo tinha 50 mil carros. A gente se locomovia pela cidade com perfeição. Ainda funcionavam os bondes.
O Brasil não parou por causa da Copa, então?
De jeito nenhum. E veio muita gente de fora. O jogo da final, no Maracanã, que foi uma tristeza, um momento de enorme tristeza… Mas também, sabe?, o jogo começou com a distribuição de postais que mostravam o time brasileiro como se já fosse campeão.
Foi mais vergonhoso…
Não, não foi vergonhoso, porque o Uruguai, além de tudo, tinha um time excelente. O Uruguai tinha um time melhor que o do Brasil. Você não perde por acaso. Você perde porque tem pela frente um time que pelo menos, naquele jogo, jogou melhor. Tinha craques incríveis o time do Uruguai, jogadores excelentes. E o Brasil, como frequentemente acontece, era um time desequilibrado. Na defesa, havia muitas falhas. Tinha atacantes excepcionais e uma defesa… Um meio campo muito bom e uma defesa que deixava a desejar. Bom, não foi culpa do goleiro. O marcador do ponta direita do Uruguai não segurava o homem, chamava-se Bigode, o nosso. O outro chamava Ghiggia e corria bem mais. Então, é por aí. Mas enfim, foi um campeonato tranquilo, sem desordem.
O senhor estava lá?
Estava. Triste, foi muito triste. O que tinha de gente chorando na rua era impressionante…
Como foi o clima do estádio nessa hora?
Silêncio. Silêncio aterrador. A alegria de uma pequena torcida uruguaia e silêncio. Porque também os estrangeiros torciam pelo Brasil, os que tinham vindo e tinham ficado muito impressionados. Sobretudo com as duas vitórias por goleada e a exibição de gala, então imagine… Foi triste.
Os torcedores eram pessoas comuns? Os ingressos eram baratos?
Totalmente. Mas olha, o que é impressionante é que (risos) Eu lembro quando eu ia ao Pacaembu, antes quando eu era menino, tinha uns 13, 14 anos, uma ofensa dirigida ao árbitro que eventualmente, na opinião do torcedor, roubava contra o time dele era “tuberculoso!”. Era muito raro ouvir um palavrão no estádio. As pessoas portavam-se de outra maneira. O Brasil virou um país muito vulgar.
E como foi sua cobertura? Como foi essa experiência?
Foi ótima. O que eu realmente escrevi foram os artigos de preparação. Depois, quando o campeonato se deu eu estava ali como ajudante dessa equipe de jornalistas italianos e fiquei como tal. Quer dizer, era sobretudo, um ajudante, um menino. Ali eu já tinha 16 anos e era um menino esforçado, ajudava no que podia.
Os artigos ainda estão por aí?
Eu não guardo nada. Não tenho uma única coleção de alguma coisa que eu tenha feito. Do mundo nada se leva, é minha convicção granítica.
O senhor torcia para o Brasil?
Nesse tempo, sim. Hoje eu mudei muito minha postura. Me irrita pensar que em 70 os presos da ditadura gritavam gol juntamente com os carcereiros. Essa debilidade moral me irrita sobremaneira, hoje em dia. Naquele tempo, não. Ao contrário: eu torcia, sim, pelo Brasil. É claro, lógico. Mas eu tentava ser frio na análise. Porque, realmente, por exemplo, o Uruguai tinha um grande time. Tinha alguns jogadores ali soberbos. No fundo, melhores que os nossos. Schiaffino era um jogador excepcional, por exemplo. Muita cabeça, muita inteligência, via o jogo. Não era só habilidade individual, era capacidade de mentalizar, de no campo mudar a estratégia. Então tinha alguns jogadores excepcionais.
O que o senhor espera pra essa Copa de 2014?
Parece-me que as coisas não estão bem postas. Primeiro, o roubo é absolutamente inegável. Um roubo deslavado, escancarado, transparente. Está ali, para todo mundo ver, mas ninguém dá a mínima. Também é difícil imaginar que em menos de dois anos e meio as cidades brasileiras, sobretudo São Paulo, Rio, Belo Horizonte, consigam montar um esquema que facilite o deslocamento das pessoas para jogos. Não vejo como… As cidades são completamente desequipadas, são miseráveis em certos pontos. Temo um desastre, do ponto de vista da organização. E como teremos eleições em 2014 me parece que esse desastre não vai facilitar em nada para quem do governo quiser continuar aí. Isso vai acabar repercutindo no resultado eleitoral. Acho que, do ponto de vista técnico, o Brasil não tem time para jogar esse mundial, em relação a alguns times europeus que praticam um futebol, hoje, muito mais eficaz para que os bolsos daquele ou desse se encham. Eu não tenho boas perspectivas. Eu acho que foi uma decisão populista do Lula. Uma decisão errada. E nem se fale das Olimpíadas. Tivemos um exemplo que devia ter sido aproveitado, que devia influenciar nas decisões de hoje, que foi o Panamericano do Rio, que foi um roubo, uma coisa monstruosa.
E aquelas obras nem vão servir para as Olimpíadas…
Claro. E veja: estava prevista uma despesa de 400 milhões e a despesa chegou a 4 bilhões. É uma coisa…Dolorosa. Se a Copa for um desastre, o mundo vai ser perguntar “por que as Olimpíadas?”. “Temos de repetir aquela tragédia?”. É isso. O de 50 foi apenas triste porque o Brasil esperava a vitória, mas era um Brasil ingênuo e simples. De uma forma, tenro e um pouco patético, né? Mas nada a ver com o Brasil de hoje.
Então a gente pode dizer que a Copa de 50 foi benéfica pro Brasil?
Foi ótima. Pena que muita gente chorou. Isso que foi pena.
E a segurança? Como era feita?
O Brasil era um país ideal. As pessoas viviam numa boa. Não existiam os medos e receios de hoje.
Então não foi feita uma segurança de guerra como eles estão querendo fazer agora?
Eu tive a sorte e o prazer de assistir a parte final do campeonato europeu realizado em Portugal em julho de 2004. À parte o fato que gosto de Portugal, gosto da comida portuguesa e gosto dos vinhos portugueses, à parte esse detalhe, que não deixa de ter sua importância – foi uma coisa impecável. Uma polícia fantástica, portando-se com fidalguia, com cortesia. Olha, uma coisa impecável! E tinha ali torcidas além de eventualmente muito ruidosas e muito fortes, como a torcida holandesa, por exemplo, que é um pessoal imponente, mas de comportamento impecável. Fiquei muito bem impressionado. Uma organização perfeita. Realmente, parece que para essa ocasião construíram alguns estádios, sobretudo em Lisboa e no Porto, dois estádios muito bonitos e muito modernos. Mas vejam, um detalhe: esse estádio que a Fiat construiu para o time dela, o Juventus de Turin. Eles construíram um estádio moderníssimo, foi inaugurado há menos de um ano. Esse estádio, moderníssimo, a última palavra em termos de estádio, custou um quinto do que vai custar esse estádio de São Paulo (Itaquerão). Um quinto. Imagina? Imagina o que que ali tem de superfaturamento. Mazelas mil. Porcarias variadas e mentiras… É uma floresta de enganos. É isso.
Colaborou: Jéssica Mota
*Nassif
MULHERES EX-PRESAS POLÍTICAS TERÃO JULGAMENTO ESPECIAL PARA ANISTIIA
DO PORTAL PT
Foto arquivo PT (arte Newton Vilhena - Portal do PT)
Sessão do Ministério da Justiça será em homenagem ao Dia das Mulheres
No
dia 9 de março, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, (comemorado
em 8 de março) a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vai
realizar uma sessão especial de julgamento apenas com mulheres. Serão
apreciados sete processos de ex-presas e perseguidas políticas, que
serão também homenageadas.
Entre
elas, duas irmãs que foram confundidas entre si por ter os nomes
parecidos: Maria Niedja e Maria Nadja de Oliveira. A primeira foi
aprovada em 1976 em terceiro lugar no concurso para professora na
Universidade de São Paulo, mas não conseguiu tomar posse porque uma
triagem ideológica acreditou que ela fosse a irmã Maria Nadja,
integrante do movimento contrário à ditadura militar.
Resumo dos casos que serão apreciados
Maria Niedja de Oliveira: presa em 1972, foi aprovada em 3º lugar na
seleção de professores na USP em 1976. Teve seu processo arquivado até
1980 por conta de uma triagem ideológica que a confundiu com sua irmã.
Maria
Nadja Leite de Oliveira: estudante presa em 1968, respondeu a inquérito
policial militar e foi condenada a um ano e oito meses de prisão. Teve
seus direitos políticos suspensos por 10 anos. Para evitar a prisão,
fugiu para São Paulo, onde foi novamente presa em 1971.
Maria Angélica Santos: foi presa em 1974 quando estava grávida de quatro meses.
Gilda
Fioravanti da Silva: presa em 1970 pela OBAN, foi transferida para o
DOPS em janeiro de 1971. Respondeu a inquérito policial militar e foi
absolvida em 1972.
Ida
Schrage: professora e membro da Ação Popular entrou na clandestinidade e
foi presa quando estava tentando se inserir na classe operária. Saiu do
país e morou na Bélgica, em Israel e na Alemanha, onde vive atualmente.
Hilda
Alencar Gil: militante da POLOP, passou a sofrer perseguição após o seu
companheiro assinar uma matéria na revista O Cruzeiro sobre a prática
do Comando de Caça aos Comunistas.
Darci
Toshiko Miyaki: militante da ALN foi presa em 1971. O seu mandado de
prisão foi expedido seis após a sua detenção. Permaneceu presa por um
ano e cinco meses.
Lançamento de documentário integra ações pelo Dia da Mulher
A sessão especial para anistia de mulheres vai ocorrer depois do
pré-lançamento do documentário Repare Bem, da cineasta portuguesa Maria
de Medeiros. O trabalho da cineasta tem apoio do projeto Marcas da
Memória, mantido pela Comissão para promover o direito à verdade e à
memória. O documentário trata da história de três gerações de mulheres
perseguidas políticas, a partir do relato das perseguidas Denize Crispim
e Eduarda Leite.
Repare Bem será o primeiro filme a compor o acervo multimídia da
Comissão de Anistia, que a Cinemateca Brasileira passará a abrigar. Um
acordo de cooperação a ser assinado entre as duas entidades no dia 8 de
março vai viabilizar a composição desse acervo.
Programação: (realizada na Cinemateca, São Paulo)
8 de março, 19h
Pré-lançamento do documentário Repare Bem, com a direção da portuguesa
Maria de Medeiros. Debate, com a presença de Maria de Medeiros, Denize e
Eduarda Crispim.
Ato de assinatura de termo de cooperação técnica entre a Comissão de Anistia e a Cinemateca Brasileira.
9 de março, 19h
Sessão de julgamento da Caravana da Anistia com apreciação de sete casos de mulheres perseguidas políticas.
Exibição do documentário Vou contar para meus filhos, sobre um
reencontro de 24 mulheres presas na Colônia Penal de Recife entre 1969 e
1979.
(Jamila Gontijo – Portal do PT, com informações do Ministério da Justiça)
*Historiavermelha
“A construção faraônica e bilionária de Aécio Neves está em ruínas.”
A
obra foi feita à pressa para servir de palanque nas eleições de 2010
para o então Governador Aécio Neves e seu atual sucessor Anastasia.
Muitos
foram os laudos técnicos recomendando mais estudos sobre o terreno
pantanoso onde foram erguidos os edifícios da Cidade Administrativa.
É
incompreensível uma obra de mais de 1 bilhão de reais, com menos de 1
ano de inauguração, já necessitar de reformas caras e estruturais.
Em
junho de 2010 o Jornal Hoje em Dia já havia feito uma denúncia sobre
esses problemas e o Deputado Rogério Correia já havia alertado para a
necessidade de uma CPI com o intuito de investigar os gastos com a obra e
os problemas estruturais que ela apresenta como mostram as matérias dos
links abaixo.
*DesabafoBrasil
De princesa a presidenta. Viva as maravilhosas mulheres brasileiras!
Marta Suplicy
De princesa a presidenta
Depois, fiquei pensando quão difícil seria colocar essas intenções em ação. A resistência dos partidos em fazer indicações femininas, a timidez de muitas mulheres em pensarem-se como protagonistas, o desinteresse nas questões da mulher, os embates ideológicos... De fato, muitas montanhas a serem escaladas.
A pergunta fundamental que me faço hoje é: fez diferença ter uma mulher presidenta? Fez. Por motivos que não têm a ver com qualquer movimento específico da presidenta e também por ações concretas que ela implementou.
A mera presença de uma mulher no comando do país provocou, de imediato, um impacto. Consequência que possibilitou a mim a vice-presidência do Senado depois de 185 anos de hegemonia masculina e a nomeação da primeira diretora-geral da Casa.
A presidenta se debruçou com cuidado sobre os nomes femininos para os ministérios. Os partidos nunca "encontram nomes". Sei a mão forte que é necessária para atingir o número de nove ministras a que Dilma atingiu. Isso sem falar na nomeação de mulheres para o Judiciário ou na substituição dos atendentes do avião presidencial por aeromoças. Isso não teria acontecido sem a determinação de Dilma. Lembro que FHC teve três ministras, e Lula, cinco.
Voltando ao simbólico, ainda não temos a medida. Serão necessárias algumas gerações para saber o efeito de ver, na TV, uma mulher falando como chefe da nação. Quanto tempo para as meninas passarem do brincar de princesa ao brincar de presidenta?
O príncipe não passará mais no cavalo branco, mas a autonomia e o poder são ingredientes muito atraentes. O cavaleiro não virá resgatar, será cúmplice e um igual.
De maior impacto para as mulheres, temos as ações do mês da mulher na área da saúde. Não é pouco reduzir 20% dos casos de mortalidade materna em um ano e colocar 22% a mais de recursos no combate ao câncer feminino.
Os caminhos políticos são árduos, e o recrudescimento do conservadorismo tem tido um preço -que não favorece as milhares de mulheres que morrem por aborto nem os gays trucidados por homofobia. A presidenta tem sido cautelosa no assunto. A nomeação de uma ministra que pensa diferentemente dessas forças foi um alento nesse impasse que parece uma muralha erigida por alguns no país e no Congresso Nacional.
Viva o dia 8 de março!
MARTA SUPLICY
Significado da visita do Papa a Cuba
Por Frei Betto, no sítio da Adital:
Para desgosto e fracasso das pressões diplomáticas da Casa Branca, o papa Bento XVI chega a Cuba dia 26 de março. Fica três dias na Ilha, após entrar na América Latina pelo México. A 28 de março, celebra missa na Praça da Revolução, em Havana.
Bento XVI celebrará, em Santiago de Cuba – histórica cidade do Quartel Moncada, onde Fidel iniciou sua luta revolucionária, em 1953 – os 400 anos da aparição da Virgem da Caridade do Cobre.
Em 1998, logo após o papa João Paulo II encerrar sua visita a Cuba, participei de almoço oferecido por Fidel a um grupo de teólogos. Em certo momento, um teólogo italiano manifestou, do alto de seu esquerdismo, indignação pelo fato de o pontífice haver presenteado a Virgem da Caridade com uma coroa de ouro.
Fidel não escondeu seu desconforto. E reagiu: "A Virgem do Cobre não é apenas padroeira dos católicos de Cuba. É padroeira da nação cubana.” E passou a relatar como sua mãe, Lina Ruz, católica devota, fez ele e Raúl prometerem que, se saíssem vivos de Sierra Maestra, haveriam de depositar suas armas junto ao santuário, para pagar a promessa que ela fizera. Em 1983, ao visitar o santuário pela primeira vez, vi ali as armas.
Por essas "cristoincidências” que só a fé explica e as pesquisas elucidam, a Virgem da Caridade e Nossa Senhora Aparecida têm tanto em comum quanto Cuba e Brasil. Como disse Inácio de Loyola Brandão, "Cuba é uma Bahia que deu certo”. As duas imagens foram encontradas durante a colonização: lá, em 1612, a espanhola; aqui, em 1717, a portuguesa. As duas, na água. As duas achadas por três pescadores. Lá, no mar; aqui, no rio Paraíba. As duas são negras.
O papa chega a Cuba no momento em que o país passa por mudanças substanciais, sem, no entanto, abandonar seu projeto socialista. Há um processo progressivo de desestatização, abertura à iniciativa privada, e mais de 2 mil prisioneiros foram soltos nos últimos meses.
Hoje, as relações entre governo e Igreja Católica podem ser qualificadas de excelentes. Já não há na Ilha resquícios do clero de origem espanhola e formação franquista, que tanto incrementou o anticomunismo nos primeiros anos da Revolução, quando um padre promoveu a criminosa Operação Peter Pan: convenceu os pais de 14 mil crianças de que haveriam de perder o pátrio poder e que seus filhos passariam às mãos do Estado... Carregou as crianças para Miami, sem pais e mães, e o resultado, como se pode imaginar, foi catastrófico. A Revolução não foi derrotada pela invasão da Baía dos Porcos, patrocinada pelo governo Kennedy, e nem todas as crianças escaparam de um futuro de delinquência, drogas e outros transtornos. Milhares jamais foram localizadas depois pelas famílias.
Tanto o Vaticano quanto os bispos cubanos são contrários ao bloqueio que os EUA impõem à Ilha. Pode-se discordar de muitos aspectos do socialismo daquele país, mas ninguém jamais viu a foto de uma criança cubana jogada na rua, famílias morando debaixo da ponte e máfias de drogas. Em Havana, um outdoor exibe um menino sorridente com esta frase abaixo da foto: "Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”.
Cuba tem muitos defeitos, mas não o de negar a 11 milhões de habitantes os direitos humanos fundamentais: alimentação, saúde, educação, moradia, trabalho e arte (vide o cinema e o Buena Vista Social Club). O que mereceu elogios de João Paulo II durante sua visita de sete dias – uma das mais longas de seu pontificado.
Hoje, Cuba recebe, proporcionalmente, mais turistas que o Brasil. O que é uma vergonha para nosso país de dimensões continentais e com tantos atrativos. A diferença é que Cuba promove não apenas turismo de lazer (suas praias são paradisíacas), mas também turismo científico, cultural, artístico e desportivo.
A Revolução Cubana resiste há 54 anos, malgrado os atos terroristas contra aquele país, descritos em detalhes no best-seller de Fernando Morais, Os últimos cinco soldados da guerra fria (Companhia das Letras, 2011). E o fato de suportar, no seu litoral, a base estadunidense em Guantánamo, que lhe rouba parte do território, para utilizá-lo como cárcere de supostos terroristas sequestrados mundo afora.
Quem sabe a resistência cubana seja mais um milagre da Virgem da Caridade...
Para desgosto e fracasso das pressões diplomáticas da Casa Branca, o papa Bento XVI chega a Cuba dia 26 de março. Fica três dias na Ilha, após entrar na América Latina pelo México. A 28 de março, celebra missa na Praça da Revolução, em Havana.
Bento XVI celebrará, em Santiago de Cuba – histórica cidade do Quartel Moncada, onde Fidel iniciou sua luta revolucionária, em 1953 – os 400 anos da aparição da Virgem da Caridade do Cobre.
Em 1998, logo após o papa João Paulo II encerrar sua visita a Cuba, participei de almoço oferecido por Fidel a um grupo de teólogos. Em certo momento, um teólogo italiano manifestou, do alto de seu esquerdismo, indignação pelo fato de o pontífice haver presenteado a Virgem da Caridade com uma coroa de ouro.
Fidel não escondeu seu desconforto. E reagiu: "A Virgem do Cobre não é apenas padroeira dos católicos de Cuba. É padroeira da nação cubana.” E passou a relatar como sua mãe, Lina Ruz, católica devota, fez ele e Raúl prometerem que, se saíssem vivos de Sierra Maestra, haveriam de depositar suas armas junto ao santuário, para pagar a promessa que ela fizera. Em 1983, ao visitar o santuário pela primeira vez, vi ali as armas.
Por essas "cristoincidências” que só a fé explica e as pesquisas elucidam, a Virgem da Caridade e Nossa Senhora Aparecida têm tanto em comum quanto Cuba e Brasil. Como disse Inácio de Loyola Brandão, "Cuba é uma Bahia que deu certo”. As duas imagens foram encontradas durante a colonização: lá, em 1612, a espanhola; aqui, em 1717, a portuguesa. As duas, na água. As duas achadas por três pescadores. Lá, no mar; aqui, no rio Paraíba. As duas são negras.
O papa chega a Cuba no momento em que o país passa por mudanças substanciais, sem, no entanto, abandonar seu projeto socialista. Há um processo progressivo de desestatização, abertura à iniciativa privada, e mais de 2 mil prisioneiros foram soltos nos últimos meses.
Hoje, as relações entre governo e Igreja Católica podem ser qualificadas de excelentes. Já não há na Ilha resquícios do clero de origem espanhola e formação franquista, que tanto incrementou o anticomunismo nos primeiros anos da Revolução, quando um padre promoveu a criminosa Operação Peter Pan: convenceu os pais de 14 mil crianças de que haveriam de perder o pátrio poder e que seus filhos passariam às mãos do Estado... Carregou as crianças para Miami, sem pais e mães, e o resultado, como se pode imaginar, foi catastrófico. A Revolução não foi derrotada pela invasão da Baía dos Porcos, patrocinada pelo governo Kennedy, e nem todas as crianças escaparam de um futuro de delinquência, drogas e outros transtornos. Milhares jamais foram localizadas depois pelas famílias.
Tanto o Vaticano quanto os bispos cubanos são contrários ao bloqueio que os EUA impõem à Ilha. Pode-se discordar de muitos aspectos do socialismo daquele país, mas ninguém jamais viu a foto de uma criança cubana jogada na rua, famílias morando debaixo da ponte e máfias de drogas. Em Havana, um outdoor exibe um menino sorridente com esta frase abaixo da foto: "Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”.
Cuba tem muitos defeitos, mas não o de negar a 11 milhões de habitantes os direitos humanos fundamentais: alimentação, saúde, educação, moradia, trabalho e arte (vide o cinema e o Buena Vista Social Club). O que mereceu elogios de João Paulo II durante sua visita de sete dias – uma das mais longas de seu pontificado.
Hoje, Cuba recebe, proporcionalmente, mais turistas que o Brasil. O que é uma vergonha para nosso país de dimensões continentais e com tantos atrativos. A diferença é que Cuba promove não apenas turismo de lazer (suas praias são paradisíacas), mas também turismo científico, cultural, artístico e desportivo.
A Revolução Cubana resiste há 54 anos, malgrado os atos terroristas contra aquele país, descritos em detalhes no best-seller de Fernando Morais, Os últimos cinco soldados da guerra fria (Companhia das Letras, 2011). E o fato de suportar, no seu litoral, a base estadunidense em Guantánamo, que lhe rouba parte do território, para utilizá-lo como cárcere de supostos terroristas sequestrados mundo afora.
Quem sabe a resistência cubana seja mais um milagre da Virgem da Caridade...
*Miro
Os militares que afrontam a democracia
Manifesto do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça e da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos:
Testemunhamos nos últimos dias, entre militares da reserva, o ressurgir de vozes lúgubres, de oposição à criação e ao funcionamento da Comissão Nacional da Verdade.
As manobras dos indivíduos que buscam calar o direito à Memória, à Verdade e à Justiça tentam, por um lado, golpear a democracia, atingir e desmoralizar o governo federal e suas autoridades; por outro lado, envolver as Forças Armadas dos dias de hoje na defesa dos crimes cometidos, há décadas, pela Ditadura Militar, e implicá-las na defesa de militares e civis que foram os executores desses crimes.
O chamado “Manifesto à Nação” assinado por militares da reserva, entre os quais conhecidos torturadores, é uma enorme afronta ao governo federal legitimamente eleito e aos Poderes da República, e seus ataques à Comissão Nacional da Verdade são inadmissíveis.
Externamos nosso integral apoio à decisão da presidenta Dilma Rousseff e do ministro da Defesa, Celso Amorim, de punir esses autores de crimes de desacato, e reiteramos a necessidade da instalação imediata da Comissão Nacional da Verdade, único instrumento capaz de investigar, conhecer e divulgar a verdade sobre as graves violações de direitos humanos praticadas pelos órgãos de repressão da Ditadura Militar, e a sanção de seus autores, nos termos da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal quanto aos crimes permanentes.
Por fim, face ao crescimento das adesões de militares a esse manifesto de vocação golpista, a punição aos seus subscritores tornou-se uma questão não só imprescindível, como urgente, sob pena de fragilizarem-se a Democracia e os Poderes constitucionais da República.
Testemunhamos nos últimos dias, entre militares da reserva, o ressurgir de vozes lúgubres, de oposição à criação e ao funcionamento da Comissão Nacional da Verdade.
As manobras dos indivíduos que buscam calar o direito à Memória, à Verdade e à Justiça tentam, por um lado, golpear a democracia, atingir e desmoralizar o governo federal e suas autoridades; por outro lado, envolver as Forças Armadas dos dias de hoje na defesa dos crimes cometidos, há décadas, pela Ditadura Militar, e implicá-las na defesa de militares e civis que foram os executores desses crimes.
O chamado “Manifesto à Nação” assinado por militares da reserva, entre os quais conhecidos torturadores, é uma enorme afronta ao governo federal legitimamente eleito e aos Poderes da República, e seus ataques à Comissão Nacional da Verdade são inadmissíveis.
Externamos nosso integral apoio à decisão da presidenta Dilma Rousseff e do ministro da Defesa, Celso Amorim, de punir esses autores de crimes de desacato, e reiteramos a necessidade da instalação imediata da Comissão Nacional da Verdade, único instrumento capaz de investigar, conhecer e divulgar a verdade sobre as graves violações de direitos humanos praticadas pelos órgãos de repressão da Ditadura Militar, e a sanção de seus autores, nos termos da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal quanto aos crimes permanentes.
Por fim, face ao crescimento das adesões de militares a esse manifesto de vocação golpista, a punição aos seus subscritores tornou-se uma questão não só imprescindível, como urgente, sob pena de fragilizarem-se a Democracia e os Poderes constitucionais da República.
*Miro
Militares devem respeitar “autoridade civil”, diz Amorim
Em resposta ao manifesto publicado no final do mês passado por militares da reserva que questionaram sua autoridade e a da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Defesa, Celso Amorim, afirmou nesta terça-feira (6) que os signatários do texto devem respeito à "autoridade civil".
Frente
à questão, a presidente Dilma Rousseff prepara uma ação para fortalecer
Amorim. A primeira consta da liberação de recursos para a pasta e
sinais políticos que não deixem dúvidas aos militares de que ele é o
interlocutor da categoria que terá acesso ao Palácio para negociar o
reaparelhamento das Forças Armadas e o reajuste de salários.
Durante entrevista no Senado nesta terça-feira (6), o ministro ressaltou que “a questão importante é o respeito à autoridade civil, isso é parte da democracia. Da mesma maneira que nós respeitamos muito o profissionalismo dos militares".
Ele pontuou ainda que a Comissão da Verdade foi criada por lei aprovada no Congresso e deve ser cumprida por todos: "todos nós, militares e civis, temos que respeitar a lei passada quase pela virtual unanimidade do Congresso e, ao mesmo tempo, é preciso ter clareza que essa lei vai ser aplicada na sua integralidade, inclusive no que diz respeito à observância da Lei da Anistia".
Insubordinação
O texto divulgado na internet pelos militares criticava o governo sob o argumento de que ele está agindo por “revanchismo”. Intitulado “Eles que venham. Por aqui não passarão”, o texto corroborava críticas divulgadas anteriormente pelos clubes Militar, Naval e de Aeronáutica retirados da internet por pressão do Planalto.
O governo considerou o manifesto um ato de insubordinação. Isso porque, mesmo fora da ativa, os militares da reserva estão sujeitos à hierarquia das Forças Armadas, das quais Dilma e Amorim são os chefes máximos.
Durante entrevista no Senado nesta terça-feira (6), o ministro ressaltou que “a questão importante é o respeito à autoridade civil, isso é parte da democracia. Da mesma maneira que nós respeitamos muito o profissionalismo dos militares".
Ele pontuou ainda que a Comissão da Verdade foi criada por lei aprovada no Congresso e deve ser cumprida por todos: "todos nós, militares e civis, temos que respeitar a lei passada quase pela virtual unanimidade do Congresso e, ao mesmo tempo, é preciso ter clareza que essa lei vai ser aplicada na sua integralidade, inclusive no que diz respeito à observância da Lei da Anistia".
Insubordinação
O texto divulgado na internet pelos militares criticava o governo sob o argumento de que ele está agindo por “revanchismo”. Intitulado “Eles que venham. Por aqui não passarão”, o texto corroborava críticas divulgadas anteriormente pelos clubes Militar, Naval e de Aeronáutica retirados da internet por pressão do Planalto.
O governo considerou o manifesto um ato de insubordinação. Isso porque, mesmo fora da ativa, os militares da reserva estão sujeitos à hierarquia das Forças Armadas, das quais Dilma e Amorim são os chefes máximos.
Por: Vermelho
*OCarcará
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