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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, março 08, 2012

De princesa a presidenta. Viva as maravilhosas mulheres brasileiras!

Marta Suplicy
De princesa a presidenta
Na eleição da presidenta Dilma Rousseff, fiquei extremamente tocada com a ênfase que ela deu à questão da mulher. Tanto no discurso no dia em que ganhou quanto no da posse, as palavras "compromisso" e "protagonismo feminino" soaram como música aos meus ouvidos e nos de milhares de mulheres do Brasil.
Depois, fiquei pensando quão difícil seria colocar essas intenções em ação. A resistência dos partidos em fazer indicações femininas, a timidez de muitas mulheres em pensarem-se como protagonistas, o desinteresse nas questões da mulher, os embates ideológicos... De fato, muitas montanhas a serem escaladas.
A pergunta fundamental que me faço hoje é: fez diferença ter uma mulher presidenta? Fez. Por motivos que não têm a ver com qualquer movimento específico da presidenta e também por ações concretas que ela implementou.
A mera presença de uma mulher no comando do país provocou, de imediato, um impacto. Consequência que possibilitou a mim a vice-presidência do Senado depois de 185 anos de hegemonia masculina e a nomeação da primeira diretora-geral da Casa.
A presidenta se debruçou com cuidado sobre os nomes femininos para os ministérios. Os partidos nunca "encontram nomes". Sei a mão forte que é necessária para atingir o número de nove ministras a que Dilma atingiu. Isso sem falar na nomeação de mulheres para o Judiciário ou na substituição dos atendentes do avião presidencial por aeromoças. Isso não teria acontecido sem a determinação de Dilma. Lembro que FHC teve três ministras, e Lula, cinco.
Voltando ao simbólico, ainda não temos a medida. Serão necessárias algumas gerações para saber o efeito de ver, na TV, uma mulher falando como chefe da nação. Quanto tempo para as meninas passarem do brincar de princesa ao brincar de presidenta?
O príncipe não passará mais no cavalo branco, mas a autonomia e o poder são ingredientes muito atraentes. O cavaleiro não virá resgatar, será cúmplice e um igual.
De maior impacto para as mulheres, temos as ações do mês da mulher na área da saúde. Não é pouco reduzir 20% dos casos de mortalidade materna em um ano e colocar 22% a mais de recursos no combate ao câncer feminino.
Os caminhos políticos são árduos, e o recrudescimento do conservadorismo tem tido um preço -que não favorece as milhares de mulheres que morrem por aborto nem os gays trucidados por homofobia. A presidenta tem sido cautelosa no assunto. A nomeação de uma ministra que pensa diferentemente dessas forças foi um alento nesse impasse que parece uma muralha erigida por alguns no país e no Congresso Nacional.
Viva o dia 8 de março!
MARTA SUPLICY 

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