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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 27, 2012

Não consigo ver o ateísmo como nada além disso: um primeiro passo em direção à morte de um Deus geral e de encontro de divindades pessoais.


AI DEUS!











A grande divisa que separa fé e ateísmo, e toda a discussão que envolve Deus, é um equívoco: o equívoco sobre a necessidade de indagar a existência de Deus. Enquanto essa pergunta ocupa o lugar central de todas as discussões do tema, outra é deixada de lado. Afinal, se concluíssemos sobre a existência ou não de Deus, quais alterações teríamos em nossas vidas? Provavelmente nenhuma: continuaríamos acordando, tendo que lidar com nossos medos, trabalhando sem parar, esperando as esperanças que temos. Por outro lado, se estivéssemos realmente atentos com essa discussão histórica, lançaríamos luz não na questão sobre a existência de Deus, mas na existência da indagação e sua possibilidade de projetos em nossos rumos pessoais e coletivos...É o endeusamento da indagação que faz com que coloquemos em xeque tudo aquilo que de mais comum divinizamos em nossas vidas - do nosso cachorro vira-latas ao nosso estilo ou "filosofia" de vida. Esse indagar é o único meio de perceber o que de podre existe em nossas posições, crenças, opiniões e jeitos de ser. Para encontrar nossas "divindades" legítimas, matando deuses do passado, modos de pensar e agir que não servem mais, ou que são cópias toscas de nossos pais fora de moda ou de nossa comunidade atrasada, precisamos dessa ode à indagação...E duvidar de alguma coisa que se diz absoluta como Deus é o 1o passo. Não consigo ver o ateísmo como nada além disso: um primeiro passo em direção à morte de um Deus geral e de encontro de divindades pessoais.
*entrehermes

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