MANIFESTO
“Quando vai acabar a ditadura civil-militar?”
Dizem que quando uma
mentira é repetida exaustivamente, ela se torna verdade. Dizem também,
que é como farsa que o presente repete o passado. Por isso, vamos
"celebrar" a farsa, a mentira e sua repetição exaustiva.
No dia da mentira de
1964, ocorreu o golpe que instituiu a ditadura civil-militar. Dizem que
ela acabou. Porém, a maior ilusão da história brasileira repete-se. A
ditadura civil-militar se fortalece no golpe de Primeiro de abril 1964
e, até hoje, ninguém sabe quando vai acabar! Nós vamos celebrar.
No dia primeiro de abril, abram alas para o Cordão da Mentira!
Quando admitimos que os
crimes do passado permaneçam impunes, abrimos precedentes para que eles
sejam repetidos no presente. Com a roupagem indefectível da democracia,
da constituição, do direito à livre manifestação, o Estado continua
executando os seus inimigos e calando de uma forma ou de outra aqueles
que pensam e atuam em favor da tolerância, em favor da utilização dos
espaços públicos de maneira respeitosa e saudável. Em nome da manutenção
da produção e do consumo ostensivo vivemos o estado de exceção como
regra e o direito conquistado de ir às urnas acaba apenas legitimando o
que é uma verdadeira licença para calar, reprimir, matar.
Afinal:
Quando vai acabar o massacre de pobres nas periferias?
Quando os corpos do passado serão encontrados e dignamente reconhecidos em suas lutas?
Quando as armas dos militares deixarão de ser o signo do extermínio?
Até quando o dinheiro de poucos financiará o silêncio de muitos?
Até quando ouviremos o ronco dos Caveirões, Fumanchús e das Kombis genocidas?
Lembremos Pinheirinho,
Eldorado do Carajás, Araguaia e as Ligas Camponesas! Casos que podem ser
vistos como exemplos históricos do nosso tempo para a compreensão do
processo pelo qual o Estado colocou a especulação imobiliária, a
propriedade privada e a lucratividade acima da vida. Nada pode ser mais
valorizado do que a vida. Somente um Estado calcado em mentiras pode
favorecer essa inversão de valores.
Lembremos Mariguela,
Pato N´Água, Herzog e os 492 executados em São Paulo em Maio de 2006!
Personlidades anônimas ou conhecidas exterminadas pelas práticas
autoritárias que resolvem suas contradições à bala.
Hoje, uma simples
Comissão da Verdade - que apenas pretende investigar a história -
levanta os fantasmas do passado, ocultos nas sombras da Lei de Anistia.
Façamos então um Cordão da Mentira! Celebremos com a força dos batuques a
farsa que une presente, passado e futuro.
Vivamos nossa balela!
Enquanto isso, ditadores são julgados e condenados por seus crimes em
terras argentinas, chilenas e uruguaias. Falemos outra língua: a
gramática do engodo com o sotaque do esquecimento. Entremos na contramão
da história!
Risquemos da memória que
alguém pagou pra ver até o bico espumar no choque agudo das genitálias!
Exaltemos os gozos pervertidos de empresas e seus braços armados,
irmãos de sangue do torturado. Lembremos as mãos limpas que aplaudem as
sessões de sofrimento. Pois o que vale é a fábula da tradição, assassina
de famílias, com a maior propriedade!
Povoemos os porões do
imaginário, com tudo aquilo que a ditadura encarcerou na sua cultura!
Levemos pra lá o samba dos cordões, as imagens censuradas, as bocas
amordaçadas. Fantasiemos as ruas com seus símbolos de opressão!
Enganemos a todos com as farsas de nossa história!
Neste Primeiro de Abril, façamos a Mentira responder: Quando vai acabar a ditadura civil-militar?
*mariadapenhaneles
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