A DIGNIDADE TAMBÉM VESTE FARDA
Finalmente,
um pouco de dignidade! Um grupo de militares da reserva lançou um
manifesto em resposta ao documento feito por oficiais-generais
igualmente da reserva que criticava duramente as ministras Maria do
Rosário e Eleonora Menicucci, o ministro Celso Amorim e a própria
presidente Dilma Rousseff.
O
pano de fundo era a aprovação da Comissão da Verdade, que investigará
as circunstâncias dos crimes cometidos durante a ditadura militar. O
"contramanifesto" foi articulado pelos capitães-de-mar-e-guerra Luiz
Carlos de Souza e Fernando Santa Rosa e tem como um dos signatários um
herói da Segunda Guerra Mundial, o brigadeiro Rui Moreira Lima, hoje
com 93 anos, e um dos dois únicos pilotos sobreviventes do 1º Grupo de
Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Na Itália, Rui Moreira Lima
participou de 94 missões de combate e recebeu a Cruz de Combate. Lutou
bravamente contra inimigos, não contra civis indefesos como o falecido
brigadeiro João Paulo Burnier, um assassino psicopata.
Justificando seu apoio à Comissão da Verdade, o brigadeiro Moreira Lima apóia a Comissão da Verdade: “ela é necessária não para punir, mas par dar satisfação ao mundo e aos brasileiros sobre pessoas que, pela prática da tortura, descumpriram normas e os mais altos valores militares”.
Burnier,envergonhou a própria farda |
Justificando seu apoio à Comissão da Verdade, o brigadeiro Moreira Lima apóia a Comissão da Verdade: “ela é necessária não para punir, mas par dar satisfação ao mundo e aos brasileiros sobre pessoas que, pela prática da tortura, descumpriram normas e os mais altos valores militares”.
No
documento, os militares dizem que seus colegas que criticaram a
Comissão não falam por todos. O capitão-de-mar-e-guerra Santa Rosa diz
que quem está por trás do documentos são “os fascistas, os saudosos da
ditadura”. Vale a pena transcrever um trecho do manifesto:
O então tenente Rui Moreira Lima, heroi de guerra |
É de dar inveja a qualquer magistrado...
Transcrevo
também, abaixo, a carta de um major Mascarenhas Maia ao jornalista
Luis Nassif, comentando o “antimanifesto”. Ele critica duramente os
golpistas e defensores da ditadura e levanta problemas atuais das Forças
Armadas. Mesmo não concordando com tudo o que o major Maia diz, é
reconfortante saber que há oficiais da ativa que pensem dessa maneira,
destoando o mantra dos viúvos da malfadada “redentora”.
“Infelizmente
somos julgados pela imagem dominante; e essa imagem dominante ainda é a
de que os militares deram o golpe militar em 64, derrubando um
presidente constitucionalmente eleito, e implantando uma ditadura
sangrenta.
Eu
refuto essa imagem de plano: os militares, em seu conjunto, não
fizeram isso. Uma pequena parcela dos militares fizeram isso. Parcela
essa que foi doutrinada, influenciada e levada a agir fora da lei pelos
militares norte-americanos, notadamente a partir do final da 2ª
guerra. Isso é fato. Décadas de cursos, mimos e agrados em West Point,
Valley Forge, Colorado Springs, Annapolis, dentre outras, nos levaram a
essa situação. Reconhecê-lo não faz de mim um oficial comunista;
reconhecer os fatos históricos e valorá-los pelo real valor, e não pelo
valor de face, deve fazer parte de uma análise baseada na defesa
racional da soberania brasileira.
Não
levanto bandeiras e nem lidero movimento algum dentro da Força. Falo
por mim. E o que falo e afirmo é as Forças Armadas brasileiras perdem um
tempo enorme discutindo a Lei de Anistia. Embora eu seja, desde o
ingresso na Força, um crítico severo do envolvimento das FFAA no
movimento de 64, não vejo como anular a Lei de Anistia sem conflagrar o
país, opondo novamente militares a civis. Sou curto e grosso: a meu
ver, a presidente, Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, deve mandar o
ministro da Defesa punir os signatários daquele manifesto bisonho. E
ponto final.
Preocupa-me,
isso sim, a situação de descaso, penúria e falta de capacidade
operativa da Força Armada brasileira, em seu conjunto. Preocupa-me, mais
ainda, o verdadeiro cerco que os norte-americanos implantaram ao
território brasileiro; um verdadeiro cinturão de bases (fixas e móveis) a
nos asfixiar, desde Mariscal Estigarríbia, no Paraguai, até a
Amazônia. Isso sim é preocupante.
Major Mascarenhas Maia
Oficial de Infantaria