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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 20, 2012

A DIGNIDADE TAMBÉM VESTE FARDA


 
Finalmente, um pouco de dignidade! Um grupo de militares da reserva lançou um manifesto em resposta ao documento feito por oficiais-generais igualmente da reserva que criticava duramente as ministras Maria do Rosário e Eleonora Menicucci, o ministro Celso Amorim e a própria presidente Dilma Rousseff. 
O pano de fundo era a aprovação da Comissão da Verdade, que investigará as circunstâncias dos crimes cometidos durante a ditadura militar. O "contramanifesto" foi articulado pelos capitães-de-mar-e-guerra Luiz Carlos de Souza e Fernando Santa Rosa e tem como um dos signatários um herói da Segunda Guerra Mundial, o brigadeiro Rui Moreira Lima, hoje com 93 anos, e um dos dois únicos pilotos sobreviventes do 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Na Itália, Rui Moreira Lima participou de 94 missões de combate e recebeu a Cruz de Combate. Lutou bravamente contra inimigos, não contra civis indefesos como o falecido brigadeiro João Paulo Burnier, um assassino psicopata. 
Burnier,envergonhou a própria farda

Justificando seu apoio à Comissão da Verdade, o brigadeiro Moreira Lima apóia a Comissão da Verdade: “ela é necessária não para punir, mas par dar satisfação ao mundo e aos brasileiros sobre pessoas que, pela prática da tortura, descumpriram normas e os mais altos valores militares”.

No documento, os militares dizem que seus colegas que criticaram a Comissão não falam por todos. O capitão-de-mar-e-guerra Santa Rosa diz que quem está por trás do documentos são “os fascistas, os saudosos da ditadura”. Vale a pena transcrever um trecho do manifesto:


O então tenente Rui Moreira Lima, heroi de guerra
“Os torturadores (militares e civis), que não responderam a nenhum processo, encontram-se ‘anistiados’, permaneceram em suas carreiras, e nunca precisaram requerer, administrativa ou judicialmente, o reconhecimento dessa condição, diferentemente de suas vítimas, que até hoje estão demandando junto aos tribunais para terem os seus direitos reconhecidos (grifos meus). [...] Onde estão os corpos dos que foram mortos pelas agressões sofridas?”

É de dar inveja a qualquer magistrado...



Transcrevo também, abaixo, a carta de um major Mascarenhas Maia ao jornalista Luis Nassif, comentando o “antimanifesto”. Ele critica duramente os golpistas e defensores da ditadura e levanta problemas atuais das Forças Armadas. Mesmo não concordando com tudo o que o major Maia diz, é reconfortante saber que há oficiais da ativa que pensem dessa maneira, destoando o mantra dos viúvos da malfadada “redentora”.

“Infelizmente somos julgados pela imagem dominante; e essa imagem dominante ainda é a de que os militares deram o golpe militar em 64, derrubando um presidente constitucionalmente eleito, e implantando uma ditadura sangrenta.


Eu refuto essa imagem de plano: os militares, em seu conjunto, não fizeram isso. Uma pequena parcela dos militares fizeram isso. Parcela essa que foi doutrinada, influenciada e levada a agir fora da lei pelos militares norte-americanos, notadamente a partir do final da 2ª guerra. Isso é fato. Décadas de cursos, mimos e agrados em West Point, Valley Forge, Colorado Springs, Annapolis, dentre outras, nos levaram a essa situação. Reconhecê-lo não faz de mim um oficial comunista; reconhecer os fatos históricos e valorá-los pelo real valor, e não pelo valor de face, deve fazer parte de uma análise baseada na defesa racional da soberania brasileira.


Não levanto bandeiras e nem lidero movimento algum dentro da Força. Falo por mim. E o que falo e afirmo é as Forças Armadas brasileiras perdem um tempo enorme discutindo a Lei de Anistia. Embora eu seja, desde o ingresso na Força, um crítico severo do envolvimento das FFAA no movimento de 64, não vejo como anular a Lei de Anistia sem conflagrar o país, opondo novamente militares a civis. Sou curto e grosso: a meu ver, a presidente, Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, deve mandar o ministro da Defesa punir os signatários daquele manifesto bisonho. E ponto final.

Preocupa-me, isso sim, a situação de descaso, penúria e falta de capacidade operativa da Força Armada brasileira, em seu conjunto. Preocupa-me, mais ainda, o verdadeiro cerco que os norte-americanos implantaram ao território brasileiro; um verdadeiro cinturão de bases (fixas e móveis) a nos asfixiar, desde Mariscal Estigarríbia, no Paraguai, até a Amazônia. Isso sim é preocupante.

Portanto, prezado Nassif, devemos atuar em conjunto, militares e civis, no sentido de recompor minimamente a capacidade dissuasória das Forças Armadas brasileiras. Tanta riqueza exposta (petróleo, água, minérios variados, alguns quase que exclusivamente brasileiros, áreas imensas de terras férteis e intensamente produtivas) e indefesa pode acabar atiçando a cobiça de bucaneiros de todos os matizes. Sinto que é meu dever como brasileiro, e como militar, reiterar esse alerta à nação."
Major Mascarenhas Maia

Oficial de Infantaria

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