|
Harris defende a substituição das
religiões pelo autoconhecimento
|
O neurocientista e filósofo Sam Harris (foto), 45, é o ateu mais
temido pelos líderes religiosos dos Estados Unidos por sua habilidade na
contestação das crenças com o uso de argumentos extraídos da ciência. É
o que diz o site judeu Tablet como introito de uma longa entrevista com
Harris.
Filho de mãe judia e de pai Quaker, Harris é, na atualidade, um dos
Cavaleiros do Ateísmo, ao lado do britânico Richard Dawkins e do
americano Daniel Dennet.
Nos Estados Unidos, o mais temido
ateu era o afiado Christopher Hitchens, jornalista e escritor que
morreu aos 62 anos em dezembro de 2011 vítima de um câncer. Pelo que
Tablet diz, o título de enfant terrible dos ateísmo nos EUA é agora de Harris.
De acordo com o site, Harris tem pouca paciência com líderes religiosos
cristãos, como Rick Warren (tido como o pastor de maior prestígio nos
Estados Unidos), e com fundamentalistas islâmicos, além dos esquerdistas
seculares que têm simpatia pelo Hamas e seus congêneres.
Tablet destacou que os questionamentos de Harris aos religiosos em
debates públicos são tão enfáticos, que ele tem sido com frequência alvo
de ameaças de morte por parte de fiéis.
O neurocientista se especializou em polêmica, disse o site. “Ele é
engraçado, lógico, destemido e às vezes impulsivo”, afirmou,
acrescentando que também possui a “qualidade rara” de admitir estar
errado, se alguém demonstrar haver falha no seu argumento.
Harris é o autor, entre outros, do livro “A morte da Fé” (R$ 55,
Companhia das Letras), onde defende a substituição das religiões
organizadas pelo autoconhecimento. Para ele, essa é a única saída que
se vislumbra nesse início do milênio para a humanidade, é a único
caminho possível para a felicidade.
Ele é defensor da polêmica ideia de que a ciência pode deixar de ser
neutra e se tornar fonte de padrões de moralidade, substituindo a
religião na função de estabelecer o que é bom ou mau. A vantagem da
“ciência da moralidade”, segundo ele, é que ela não ignora os
sofrimentos humanos, diferentemente do que ocorre com as religiões, que
chegam inclusive a incentivá-los.
Tablet lembrou que Harris começou a estudar as religiões aos 13 anos de
idade, quando o seu melhor amigo morreu em um acidente de bicicleta, e
ele se perguntou o que vem após a morte. Leu sobre as crenças
religiosas, inclusive as orientais — viajou para Índia e Nepal, onde
estudou meditação com mestres budistas. A conclusão de Harris é que não
existe absolutamente nada após a morte.
Para ele, a ideia da existência de um ser onisciente que exige
obediência de seus seguidores em troca de promessa de vida após a morte é
uma grande besteira com consequências danosas, porque tem patrocinado
guerras e ignorância, entre outros males.
David Samuels, colaborador de Tablet, perguntou a Harris por que ele,
como neurocientista e ateu, ocupa tanto o seu tempo com as religiões.
Harris citou um exemplo para responder que hoje em dia essa é uma
questão que interessa a todos. “Se você tiver um motorista que acredita
no poder da oração, a ponto disso afetá-lo em suas decisões, ele poderá
de vez em quando tirar as mãos do volante por acreditar que Jesus está
no controle de tudo", disse. "Essa pessoa é perigosa, [...] e nós
precisamos falar sobre isso.”