A DIireita se assanha contra o Mercosul
Em
artigo famoso, Assis Chateaubriand qualificou, há 60 anos, os
industriais de São Paulo de seu tempo, reunidos na FIESP e no Centro das
Indústrias do Estado, como os fazedores de crochê. A FIESP
decidiu contratar o ex-embaixador Rubens Barbosa como seu pensador
político e porta-voz corporativo ao mesmo tempo. O diplomata, conhecido
por sua posição francamente neoliberal, vem combatendo, com irritante
insistência, a política externa brasileira, mesmo que o Itamaraty, sob o
chanceler Antonio Patriota, tenha deixado de ser o que foi sob o
governo Lula.
Barbosa acusou, ontem,
sábado, a Argentina de estar destruindo o Mercosul, ao transformá-lo em
instrumento político, em detrimento de sua natureza comercial, e
criticou a inclusão da Venezuela no bloco. Talvez porque os grandes
empresários de São Paulo, desde sempre, se nutrem do Estado, ele não
atacou diretamente o governo brasileiro, nestas declarações mais
recentes. O ex-embaixador em Londres e Washington – durante o governo
Fernando Henrique - está sendo coerente com a sua posição ideológica e
seu alinhamento conhecido aos interesses das grandes finanças. Mas,
pelo que parece, está prestando mau serviço à indústria de São Paulo,
que tem, na Venezuela, um excelente mercado comprador. Só no ano
passado, exportamos US$ 4 bilhões e 591 milhões, e importamos US$ 1
bilhão e 270 milhões, e o superávit comercial com aquele país de US$ 3
bilhões e 321 milhões.
Como está sendo costumeiro, no Brasil – a exemplo dos Estados Unidos – os altos funcionários do Estado se tornam consultores
de grandes negócios, tão logo se aposentam. Esse foi o caminho de
Rubens Barbosa que, além de chefiar seu escritório de consultoria,
tornou-se presidente do Conselho Superior do Comércio Exterior da Fiesp.
Mas, como vemos, seu ódio ao governo venezuelano, chefiado por Chávez,
levou-o a essas declarações, que contrariam os interesses dos
exportadores paulistas.
A manifestação de Rubens
Barbosa confirma a orquestração da direita, nacional e internacional,
contra a entrada, automática – diante da ausência do Paraguai – no
Tratado do MERCOSUL. Ora, daqui a poucos meses serão realizadas
eleições presidenciais na Venezuela e, conforme as pesquisas, o
presidente Chávez, debilitado pela enfermidade, talvez possa ser
derrotado pelo seu oponente, Henrique Capriles. Se isso ocorrer, o novo
presidente poderá, se quiser, deixar o Mercosul e alinhar-se
totalmente aos Estados Unidos. Não há nada, portanto, para que Rubens
Barbosa faça do episódio uma tragédia.
O novo governo paraguaio
ameaça deixar o Mercosul, mas o povo paraguaio não o acompanha, se
dermos crédito aos comentários dos leitores dos jornais. O diário Última Hora,
de Assunção, em seu lúcido editorial de ontem, recomenda a Federico
Franco, e a seu chanceler, moderar a linguagem e buscar bom
entendimento com os vizinhos. Com quase unanimidade, seus leitores
responsabilizam os golpistas do Parlamento pelas medidas tomadas pelos
países vizinhos.
Os oligarcas do Paraguai
ameaçam deixar a Unasul e o Mercosul, e isolar-se – e esse é um direito
do país -, mas é improvável que o povo os acompanhe. O Paraguai sabe
que terá de se entender com os vizinhos, mesmo porque depende dos
portos de Buenos Aires e de Paranaguá para o seu comércio
internacional.
Os mais extremados sonham com
uma aliança descarada com os Estados Unidos e a transformação do país
em uma espécie de Israel, a ser armado e financiado pelo dinheiro
americano. Outros falam em uma associação do país com a China. É claro
que não podemos subestimar os ardis dos norte-americanos, que gostariam
de transformar o Paraguai em uma base militar contra a América do Sul.
Mas, como disse, certa vez, o então governador Tancredo Neves a um embaixador norte-americano, o Brasil – apesar dos quislings e vassalos dos estrangeiros - é bem maior do que o Vietnã.
*comtextolivre