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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 04, 2012

“Domínio do fato” é violência
para condenar Dirceu

 

Lewandowski acertou o alvo – com provas
Uma teoria que não se aplica à normalidade democrática

O ministro Lewandowski, ao votar nesta quinta feira-, quando absolveu Dirceu por absoluta falta de provas – mostrou que a teoria alemã do “domínio do fato” é uma relíquia que vai chegar ao Brasil, pelo caminho errado, com 50 anos de atraso.

O “domínio do fato” foi usado para condenar os que mandavam os soldados da Alemanha Comunista atirar nos que tentavam atravessar o Muro de Berlim para o lado Ocidental

Para que a teoria – ultrapassada e desvirtuada, segundo seu autor alemão – se imponha, é preciso que os guardas que atiravam fossem “fungíveis” – podia ser qualquer um.

A cada turno entrava um guarda novo

Que mataria como o da véspera e o do dia seguinte.

O que interessava para o Juiz é quem mandava.

Se o matador não tinha identidade, mas só o gatilho, ele não era o responsável, não tinha o domínio do fato.

Aqui, no caso do chamado mensalão (e só o do PT), Lewandowski observou que os “atiradores” não são fungíveis, mas parlamentares que tem nome, sobrenome, RG, CPF, além de endereço certo.

Aqui, no caso, o “domínio do fato” é tese para condenar o Dirceu de soslaio, como um mantra, como um “remédio para todos os males”, quando não há provas para usar expressões do próprio Lewandowski

Não há evidências, provas concretas.

Lewandowski lembrou que o Tênue Procurador disse que o crime de Dirceu se praticava “entre quatro paredes”.

E não conseguiu abrir a porta para produzir uma única prova – deu a entender Lewandowski.

Uma única !

O que há contra Dirceu é especulação, disse Lewandowski.

E, aí,  restou aos acusadores recorrer ao “domínio do fato”.

O “domínio do fato” não cabe numa situação de normalidade democrática, disse Lewandowski, quando se julgam acusações que são do dia-a-dia do Direito, como peculato, lavagem de dinheiro.

Não há fungibilidade, não há anormalidade institucional nenhuma.

Não há um “Estado dentro de um Estado”, como quando se usa o “domínio do fato” para julgar “warlords” de guerra em locais recônditos, em comunidades tribais.

O STF quer usar agora um conceito superado, de alcance indevido, para uma teoria que se aplica a uma situação completamente distinta da nossa.

Não há provas contra Dirceu.

Logo, é preciso criar uma teoria que puna sem provas – essa foi a essência do voto do Lewandowski.

O Supremo vai ter que rebolar para condenar Dirceu.

Vamos ver, agora, quantos outros juízes terão a coragem de Lewandowski de enfrentar o PiG (*).

E dizer o que sempre se soube: que Roberto Jefferson é a única “testemunha” contra Dirceu.

Vão ter que demonstrar que este é um julgamento de exceção – como demonstrou o professor Wanderley -, um julgamento em que se atira, a esmo, contra quem queira vir para o Ocidente.

Ocidente, onde, até segunda ordem, imperam a Razão e a Liberdade.

Em tempo:

O “dominio do fato” vem, na verdade, do Século XIII, segundo  Mauro Santayana, ao se recordar de “Da Monarquia”, de Dante Alighieri, quando diz: o Rei é responsável pelo que se passa em seu Reino.

Não pode alegar que é irresponsável porque é Rei por Direito Divino.

Dirceu não é nem foi Rei.

E muito menos invocou possuir qualquer Direito Divino.

Quem tem “domínio do fato”, segundo Santayana, é o povo que votou em Lula.

O Supremo tem que chamar o povo para o banco dos réus.

Para ficar em Minas, Pedro Aleixo disse ao ditador Costa e Silva que o problema do AI-5 seria chegar ao guarda de trânsito.

O “domínio do fato” vai ser devastador quando chegar à mão de um juiz despreparado ou partidário.

Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


Lewandowski desmonta
Barbosa e Gilmar

Lewandowski teve a oportunidade de dizer claramente: cadê as provas ?





Lewandowski diz que acusações contra Dirceu são ‘ilações’ e ‘conjecturas’

Sem descartar que o ex-ministro José Dirceu seja “mentor da trama”, o revisor do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Ricardo Lewandowski, disse nesta quinta-feira que não há prova “documental” contra o petista e que as acusações do Ministério Público Federal são baseadas em “ilações” e “conjecturas”.

Ele afirmou ainda que a Procuradoria-Geral da República montou um “figurino genérico” que poderia encaixar qualquer “personagem com cargo no Executivo”.

O revisor, no entanto, disse que não descarta o envolvimento de Dirceu no esquema. “A participação nos eventos e deduzida por ilações ou conjecturas. Não afasto que Dirceu tenha participado dos eventos, não descarto que seja mentor dessa trama, mas o fato é que isto não encontra ressonância nas provas dos autos.”

Lewandowski criticou o trabalho do Minsitério Público dizendo que não individualizou a conduta de Dirceu e se baseou em depoimentos da CPI do Congresso, enquanto o petista tem outros testemunhos de figuras importantes da República que negam sua participação no mensalão.

“Repito o que já havia dito por ocasião do recebimento da denúncia e mantenho agora. Mesmo após vasta instrução probatória o MP limitou-se a potencializar o fato de José Dirceu exercer funções na República sem se dar a trabalho de descrever ainda que minimamente as acusações. Restringindo-se a fazer meras suposições”, disse.

O revisor apontou ainda que repudia “expressamente” o que alguns teóricos estão chamando do direito penal do inimigo, que o réu deve ser condenado.

Ontem, Lewandowski também absolveu o ex-presidente do PT, José Genoino, pela compra de apoio políticos nos primeiros anos do governo Lula. O ministro responsabilizou o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pelos repasses aos parlamentares e pelos empréstimos fictícios que abasteceram o valerioduto.

Hoje, ele disse que os autos mostram que Delúbio tinha total autonomia para tratar das negociações financeiras do PT.

“O MP não logrou produzir prova nenhuma sobre a alegada subordinação entre José Dirceu e Delúbio, o qual agia com total independência no que tocava às finanças do partido”.

O relator do caso, Joaquim Barbosa, seguiu outra linha e apontou ontem o ex-ministro da Casa Civil, homem forte do governo Lula, como o “mandante” do esquema.

“O conjunto probatório [...] coloca o então ministro-chefe da Casa Civil em posição central, posição de organização e liderança da prática criminosa, como mandante das promessas de pagamento de vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a apoiar as votações de seu interesse”, disse o relator.
Navalha
Lewandowski teve a oportunidade de dizer claramente: cadê as provas ?
Não há provas de compra de votos.
E se há compra de votos de deputados, por que não há de senadores ?
E se houve fraude na reforma tributária e previdenciária, então, essas leis nao valem.
Quem é o alguem que dirigiu o processo ?
Mas, não há provas de que haja um mandante.
No debate que se seguiu, ficou claro que Gilmar Dantas (**), Celso de Mello e Marco Aurélio (Collor de ) Mello vão degolar Dirceu.
As “provas” de que houve “compra de votos” são “lotéricas” e justificam qualquer votação.
No caso da “lei de falências”, a proposta era da oposição, logo, Dirceu ‘teria comprado” a oposição para fazer projeto contra o Governo.

Em tempo: Lewandowski lembra que o único testemunho é o de um co-reu, Roberto Jefferson, que nutria os sentimentos mais primitivos quando via Dirceu. Jefferson é a Carta Brandi, o grampo sem áudio: o Golpe. Chamada ao processo de co-réu é desprezível – diz Lewandowski – e desprezável, simples dalação, prova anômala. Vão ter que rebolar !!!

Paulo Henrique Amorim

quarta-feira, outubro 03, 2012

Cristina en la Asamblea general de las Naciones Unidas



Grande Comício com Lula e Dilma | Eleições 2012 | Haddad oficial


Charge do Dia

Japoneses exigem saída de tropas dos EUA de Okinawa(estão abrindo os olhinhos)

 

Via Hora do Povo

Manifestantes fecharam a entrada da base militar após a chegada de novo contingente de aeronaves bélicas destinadas ao transporte de marines
Dezenas de carros foram postados por sindicatos e associações de moradores diante da entrada da base militar de Okinawa, que abriga um dos maiores contingentes de marines de toda a Ásia. A oposição disseminada, entre os moradores da ilha, se intensificou com o despacho de novas aeronaves bélicas – os MV22 Osprey - fabricadas pelos EUA para a base.
Além da manifestação do dia 1º, no mês de setembro se reuniram mais de cem mil pessoas diante da base, assim que o envio dos Osprey foi anunciado. Estas aeronaves podem funcionar como helicópteros, ao levantar vôo e pousar, e como aviões quando em vôo.
Entre as vantagens dos Ospreys, estaria a autonomia de vôo, quatro vezes maior do que os helicópteros atualmente em uso.
Segundo o repórter Martin Fackler (em reportagem para a Kiodo News e Associated Press), isto colocaria ao alcance dos militares norte-americanos despachar 15 mil marines até Taiwan.
Segundo o repórter, a medida visaria reforçar o poderio bélico norte-americano na região e com isso dissuadir a China de agir contra a ocupação de suas ilhas Diaoyu pelos belicistas japoneses, além de trazer mais presença militar para a região onde fica a República Popular Democrática da Coreia.
Ocorre que há informes de que estas aeronaves ainda não podem ser consideradas seguras e que foram mal finalizadas por seus fabricantes. Mesmo estando há pouco tempo em serviço, duas delas já caíram, durante exercícios militares na Europa.
Para os moradores de Okinawa (1,4 milhão de habitantes), particularmente os da cidade de Ginowan, onde fica localizada a base, a constante passagem de aviões e helicópteros por cima de suas cabeças, além da insuportável poluição sonora, trazem risco real de vida. Em 1995, um jato norte-americano caiu nas vizinhanças da base causando a morte de 17 moradores, incluindo 11 crianças em idade escolar.
"A ira está aumentando como uma larva de vulcão sob a superfície e os Ospreys podem ser aquilo que finalmente cause uma erupção", afirma Takeshi Onaga, prefeito de Naha, capital de ilha de Okinawa e membro do partido Liberal Democrático (agora no governo). "Forçar a presença dos Osprey poderia levar ao colapso da aliança EUA-Japão", diz o prefeito. Da nossa parte, destacamos que a ocupação do Japão, no pós-guerra, pelos EUA, não tem nada de aliança. Foi resultado - explorado há décadas pelos interesses geopolíticos do Império – da vitória na Segunda Guerra Mundial.
O ex-presidente da Universidade de Okinawa, Moriteru Arasaki, destacou que "há tanta raiva em torno desse novo despacho de aeronaves que, uma vez destampada, pode se voltar contra todas as bases dos EUA no país".
Até o ex-conselheiro para questões do Leste da Ásia da Secretaria de Defesa dos EUA, James Schoff, avaliou que "neste clima, qualquer acidente pode ser como acender um fósforo em um tonel de nafta".
*GilsonSampaio

La Peligrosa Manzana Electrónica


Fernando Pessoa por Joao Villaret - Liberdade


Brasil foi último 'almoço grátis' de bancos no mundo, foi o recado de Dilma para os banqueiros sanguessugas europeus e americanos

No império paralelo dos bancos, sempre há um certo cheiro podre no ar

Em entrevista ao Financial Times, presidente falou sobre redução dos juros no Brasil.

A presidenta Dilma Rousseff disse em entrevista publicada nesta quarta-feira por um jornal britânico que o Brasil foi o último "almoço grátis" no mundo para os bancos internacionais, e que o futuro brasileiro está em atividades produtivas que "fazem bem ao país".
Em entrevista concedida ao jornal econômico Financial Times, Dilma fez referência à queda da taxa de juros durante o seu governo, que diminuiu a rentabilidade dos bancos que operam no Brasil e incentivou setores produtivos como a indústria.
A entrevista, assinada pelo correspondente do jornal em São Paulo, Joe Leahy, diz: "O Brasil foi o último almoço grátis no mundo para os bancos, afirma ela [Dilma], em referência aos altos juros que eles cobram aqui de seus clientes."
Dilma disse ao jornal: "Nós estamos voltando a um patamar com níveis normais de lucratividade. Isso significa que alguns de nós terão de começar a buscar lucros adequados em atividades produtivas que são boas para o país."
Energia, aeroportos e pobreza
O texto do jornal - intitulado "Nós queremos um Brasil de classe média, diz Dilma" - lembra que a presidente tem se empenhado neste ano a reduzir os juros cobrados por bancos. A entrevista coincide com o lançamento da versão impressa do Financial Times, em inglês, em algumas cidades brasileiras.

Onda de intolerância religiosa no Brasil


Pregadores da barbárie


Rede Brasil Atual

O medo, a ignorância e o preconceito

Tudo o que é diferente de mim me causa no mínimo estranheza”, analisa psicólogo em entrevista  
Cristiano Navarro

Para o psicólogo e ebome (que em Ketu significa: “meu irmão mais velho”) do Ilê Axé Kalamu FunFun, Vicente Galvão Parizi, a ignorância dá origem ao medo das religiões de matriz africana. 
Parizi, que é mestre em ciências da religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, entende que boa parte deste medo foi alimentado pelos preconceitos social e racial. “Não podemos esquecer que houve uma Bula Papal que dizia, em nome de Deus, que os negros não possuíam alma e por isso podiam ser escravizados”. 
Brasil de Fato – Por que as pessoas têm medo das religiões de matriz africana?
Vicente Galvão Parizi – Acho que fundamentalmente o medo vem da ignorância e de ideias pré-concebidas. Mas há vários aspectos a serem observados. Vou relacionar alguns. Em seu livro Notas sobre a religião dos Orixás e Voduns, Pierre Verger apresenta documentos sobre o encontro dos brancos colonizadores e os africanos e como os brancos, em especial os padres, não podiam entender uma cultura – e uma religião – tão diversa. Por exemplo: Exu era cultuado ao ar livre, portanto havia assentamentos aos pés de árvores. Ao ver adeptos dando dobale [saudações a orixás] nesses assentamentos, os brancos concluíram que se tratava de culto a árvores. E nos documentos compilados por Verger encontramos isso: trata-se de pagãos que têm árvores por deuses. Entretanto, nada mais longe da realidade! 
   
Para psicólogo, preconceito contra religiões de matriz africana
está relacionado a questões raciais e sociais - Foto: Rita Barreto
   
Outra confusão é que Exu é representado com chifres. Para os padres cristãos, chifre é privilegio de Satanás, portanto Exu é o demônio. E concluíram que os africanos eram adoradores de Satã. E por aí vai: a ignorância e o desconhecimento gerando interpretações falsas que, muitas delas, até hoje continuam assombrando corações e mentes. 
Outro aspecto desconhecido pela maioria é que as religiões africanas são monoteístas. Há um deus único – olorum, olodumare, qualquer que seja o nome – e suas manifestações – os orixás. Ou seja, os Orixás não são deuses, são manifestações de deus, são as forças criadoras de Olorum, as forças da natureza. Mas para a maioria das pessoas que desconhecem a religião, trata-se de uma religião com muitos deuses. Nesse sentido, o monoteísmo cristão se enxerga como superior, e as religiões africanas passam por “primitivas e politeístas”. 
Mas o aspecto crucial, creio eu, é a questão do sacrifício de animais. As religiões cristãs passaram a abordar o sacrifício a partir apenas do aspecto simbólico: na consagração o sacerdote invoca o corpo e o sangue de Cristo e os fiéis ingerem a hóstia se alimentando desse corpo e desse sangue. Nas religiões de matriz africana, o sangue é efetivamente derramado. Mais uma razão para que se diga que são religiões primitivas, que o desenvolvimento do cristianismo as superou. 
Como se dá a construção deste medo?
Tudo o que é diferente de mim me causa no mínimo estranheza. Foi assim com os colonizadores brancos na China, no Japão, na América e na África. Para poder entender o diferente de mim, não posso apenas observar, apenas ver e não perguntar. Não questionar impede que se compreenda o que realmente acontece. Não adianta ver pessoas tomando café, ou ler livros sobre o café: apenas tomando café poderei entender o que realmente é tomar café. 
O medo, a meu ver, é causado pela ignorância, pelo desconhecimento, pela falta de diálogo da maioria cristã com os adeptos de religiões africanas. 
O preconceito contra as religiões de matriz africana se dá em conjunto com as questões racial e social?
Certamente. Não podemos esquecer que houve uma Bula Papal que dizia, em nome de Deus, que os negros não possuíam alma e por isso podiam ser escravizados. No Novo Mundo, as religiões de matriz africana eram privilégio de negros, escravos e pobres. Portanto, praticadas pelos brancos apenas às escondidas. Nesse sentido, o papel de Joãozinho da Goméia [adepto do candomblé] foi crucial, e sua ida para o Rio de Janeiro, sua entrada no meio político, seusshows em teatros, a feitura de brancos etc, tudo serviu para divulgar a religião no meio de brancos e de pessoas de estrato social superior. 
Como você vê o crescimento das religiões neopetencostais detentoras de poder em diversas esferas institucionais (político, judiciário, econômico, de comunicação) que pregam contra as religiões de matriz africana?
Com muito temor. Na sua maioria, são cristãos fundamentalistas, atendo-se à forma da lei e não ao seu sentido. Em tese, Jesus pregava o amor a todos, mas na prática o que o cristianismo gerou foram religiões absolutamente intransigentes com o diferente. A Inquisição com suas fogueiras é a melhor demonstração disso. Mas no Brasil de hoje a Inquisição continua acontecendo nos rituais de exorcismo contra gays e lésbicas, baseadas na ideia de que Exu é a personificação do demônio; está presente nos ritos de renúncia a Satanás, em que adeptos quebram seus ibás de feitura e renunciam em voz alta aos orixás. Muitos desses sacerdotes estimulam ações concretas, como ataques a terreiros e adeptos nas ruas fazendo despacho, assim como ataques a gays e lésbicas nas ruas. Nesse momento, estamos assistindo pela primeira vez a uma eleição em que o candidato apoiado pelos neopentecostais – Celso Russomanno – tem chance real de ser escolhido como prefeito de São Paulo. Fato inédito e que demonstra a união dessas forças. 

A inquisição dos pastores contra nossas matrizes


Por meio de suas rádios e TVs, neopentencostais acirram seu discurso de intolerância contra religiões de matriz africana
Cristiano Navarro  



Onda de inquisição de grupos neo-pentencostais contra religiões de matriz africana tem crescido em Pernambuco - Foto: Alex Oliveira-Setur



Em marcha, carregando faixas e misturando cantos de louvor com ameaças e incitação ao ódio, um grupo de centenas de evangélicos mobilizou-se na noite do dia 15 de julho e tentou invadir o terreiro de pai Jairo de Iemanjá Sabá, localizado no bairro do Varadouro, em Olinda (PE). As imagens da saída do grupo foram registradas pelo filósofo e babalorixá Érico Lustosa, no vídeo Cristãos agredindo Terreiro de Candomblé, publicado no Youtube. 
Em um segundo vídeo-testemunho, também publicado no Youtube pelo Jornal do Commercio, Lustosa lembrou que o grupo gritava “Sai daí, Satanás!” e que ameaças foram feitas por um sujeito desconhecido durante a invasão. “Cuidado porque eu me converti evangélico, mas eu sou ex-matador”, gritava o manifestante. Assustados, tanto pai Jairo de Iemanjá quanto Érico Lustosa se negaram a voltar a falar sobre o assunto. 
O fato ocorrido em Olinda não é isolado. A onda de inquisição de grupos neo-pentencostais contra religiões de matriz africana tem crescido no estado de Pernambuco. No primeiro semestre deste ano, foram registradas a invasão e a destruição de sete terreiros de religião de matriz africana no agreste pernambucano. O estopim do acirramento e perseguição aos cultos de matriz africana se deu após o assassinato de uma criança de nove anos de idade, degolada na cidade Brejo da Madre de Deus, também localizada na região do agreste. Logo após a descoberta do cadáver, a polícia veio a público e descreveu o crime como sendo fruto de um “ritual de despacho”. Daí pra frente, programas locais de rádio e TV, policialescos e proselitistas, passaram a insuflar o ódio contra as religiões de matriz africana. 
“A mídia não separou o joio do trigo ao associar um crime de uma religiosidade que não tem nada a ver. Essa associação feita pelos programas de televisão policialescos foi só o estopim para as agressões. Mas a gente sabe que os pastores na TV aberta ocupam a casa das pessoas cotidianamente pregando essa intolerância”, afirma mãe Beth de Oxum, yalorixá do Ilê Axé Oxum Karêe, membro da Comissão Nacional de Povos Tradicionais de Terreiro. 
Com o aumento do número de ameaças e agressões, os povos tradicionais de terreiro, integrantes da jurema sagrada, do candomblé, da umbanda, do terecô, do batuque, do tambor de Mina Jeje e Nagô, do xangô pernambucano, da kimbanda, rezadeiras, oradores do Nordeste, catimbozeiros e pajés sentiram-se obrigados a informar por meio de nota pública que não praticam sacrifícios humanos em suas liturgias e rituais. “Nossas teologias não concebem a morte humana como caminho para alcançar qualquer benefício na vida e desconhecemos qualquer ritual pertinente a esta prática condenável. Expugnamos completamente estes atos absurdos de assassinato em nome de qualquer deus”, afirmaram em nota. 
Em agosto, o pedido de proteção aos terreiros feito por representantes da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Defesa Social e do Ministério Público de Pernambuco foi atendido pela Polícia Militar, que destacou agentes para cuidar destes casos. 
Tortura
Outro caso recente que revoltou as comunidades de terreiro ocorreu no final de 2010, quando Bernadete Souza Ferreira dos Santos, yalorixá e coordenadora de educação do assentamento Dom Helder Câmara, em Ilhéus, Sul da Bahia, de 42 anos, foi torturada por policiais militares. Enquanto recebia um Orixá, yalorixá foi puxada pelos cabelos e jogada em cima de um formigueiro. Os polícias pisaram no seu pescoço e disseram: ‘só assim para o demônio sair’. Depois de uma série de torturas, Bernadete foi colocada em uma cela reservada para homens. O caso de Bernadete ainda espera por julgamento. 

Veja os vídeos abaixo:
 
*Cappacete