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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, dezembro 16, 2012
“Vuelos de la muerte”.
A Argentina envergonha o Brasil
No Brasil, o Supremo julgou que a Lei
da Anistia é constitucional. Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens
Paiva do avião acham que a tortura compensa.
A mais recente humilhação a que a
Argentina submete o Brasil foi o Judiciário impedir que o Supremo
metesse o bico na Ley de Medios -
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21412 – aprovada pelo Senado e a Camara.
Não é disso que se pretende tratar aqui.
Mas, do julgamento dos “vuelos de la muerte”.
Está em curso em Buenos Aires o TERCEIRO julgamento dos crimes cometidos na Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), um dos centros de tortura.
Estão nos bancos dos réus 68 indiciados.
SESSENTA E OITO !
Nesse terceiro julgamento, recém iniciado, serão julgados delitos de LESA HUMANIDADE contra 789 pessoas, a maioria nos chamados “vuelos de la muerte”.
Prevê-se que o julgamento demore dois anos e ouça 900 testemunhas.
(O Conversa Afiada reproduz aqui trechos de reportagem de El País, de 10 de dezembro de 2012.)
Os marinheiros levavam os detidos em caminhões até um aeroporto perto de Buenos Aires, para vôos domésticos.
De lá, partiam vôos pilotados por integrantes da polícia de mares e rios.
As vitimas eram drogadas com pentotal, um barbitúrico que os sedava por completo, porém por pouco tempo.
(A tempo de ver que morriam afogadas.)
Elas eram empurradas nuas, com as mãos e os pés atados, encapuzados e golpeados.
Poucos corpos foram identificados.
Algumas delas faziam parte do grupo “Madres de la Plaza de Mayo”.
O primeiro e o segundo julgamento não tinham o alcance deste terceiro.
Mesmo assim, no segundo, por exemplo, foram condenados 16 militares e policiais por 85 casos de TERRORISMO DE ESTADO.
(As ênfases são Conversa Afiada.)
A maioria dos condenados no segundo julgamento voltou ao banco dos réus no terceiro.
Entre eles, Jorge Costa, El Tigre; Alfredo Astiz, El Ángel Rubio; e Juan Antonio Azic, que se apoderava de filhas de desaparecidos.
Passaram pela ESMA 5.000 sequestrados.
Os presidentes do regime militar foram todos condenados com a extinção da Lei da Anistia promulgada pelos presidentes Alfonsín e Menem.
E revista no Governo de Néstor Kirchner.
O mesmo Presidente que trocou ministros do Supremo Tribunal para lá enviados por Menem.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21412 – aprovada pelo Senado e a Camara.
Não é disso que se pretende tratar aqui.
Mas, do julgamento dos “vuelos de la muerte”.
Está em curso em Buenos Aires o TERCEIRO julgamento dos crimes cometidos na Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), um dos centros de tortura.
Estão nos bancos dos réus 68 indiciados.
SESSENTA E OITO !
Nesse terceiro julgamento, recém iniciado, serão julgados delitos de LESA HUMANIDADE contra 789 pessoas, a maioria nos chamados “vuelos de la muerte”.
Prevê-se que o julgamento demore dois anos e ouça 900 testemunhas.
(O Conversa Afiada reproduz aqui trechos de reportagem de El País, de 10 de dezembro de 2012.)
Os marinheiros levavam os detidos em caminhões até um aeroporto perto de Buenos Aires, para vôos domésticos.
De lá, partiam vôos pilotados por integrantes da polícia de mares e rios.
As vitimas eram drogadas com pentotal, um barbitúrico que os sedava por completo, porém por pouco tempo.
(A tempo de ver que morriam afogadas.)
Elas eram empurradas nuas, com as mãos e os pés atados, encapuzados e golpeados.
Poucos corpos foram identificados.
Algumas delas faziam parte do grupo “Madres de la Plaza de Mayo”.
O primeiro e o segundo julgamento não tinham o alcance deste terceiro.
Mesmo assim, no segundo, por exemplo, foram condenados 16 militares e policiais por 85 casos de TERRORISMO DE ESTADO.
(As ênfases são Conversa Afiada.)
A maioria dos condenados no segundo julgamento voltou ao banco dos réus no terceiro.
Entre eles, Jorge Costa, El Tigre; Alfredo Astiz, El Ángel Rubio; e Juan Antonio Azic, que se apoderava de filhas de desaparecidos.
Passaram pela ESMA 5.000 sequestrados.
Os presidentes do regime militar foram todos condenados com a extinção da Lei da Anistia promulgada pelos presidentes Alfonsín e Menem.
E revista no Governo de Néstor Kirchner.
O mesmo Presidente que trocou ministros do Supremo Tribunal para lá enviados por Menem.
Como dizia aquele anarquista espanhol sobre a ditadura franquista, hoje no poder, sob a forma de uma Opus Dei neoliberal.
O problema não é a anistia aos torturadores.
Mas o que a anistia significa para os filhos dos torturadores.
No Brasil, o Supremo julgou que a Lei da Anistia é constitucional.
Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens Paiva do avião acham que a tortura compensa.
Um dos ministros do Supremo, (Collor de) Mello, considerou que o regime militar foi “um mal necessário”.
Viva o Brasil !
Paulo Henrique Amorim
O problema não é a anistia aos torturadores.
Mas o que a anistia significa para os filhos dos torturadores.
No Brasil, o Supremo julgou que a Lei da Anistia é constitucional.
Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens Paiva do avião acham que a tortura compensa.
Um dos ministros do Supremo, (Collor de) Mello, considerou que o regime militar foi “um mal necessário”.
Viva o Brasil !
Paulo Henrique Amorim
A entrevista de Dilma ao Le Monde
Há algo de muito errado ou na presidenta Dilma ou na mídia brasileira quando, para dar uma entrevista relevante, ela opta por publicações estrangeiras, como foi o caso, agora, do Le Monde.
Faça sua escolha.
Imaginemos que Dilma considerasse a mídia brasileira para falar o que pensa sobre a questão da corrupção e do cerco a Lula.
A qual publicação ela poderia dar uma entrevista sem que se sentisse num terreno francamente hostil? Ao Globo de Merval? À Veja de Reinaldo Azevedo? À Folha de Otavinho? Ao Estadão de Dora Kramer?
A Petrobras teve que fugir da justiça brasileira e recorrer à justiça americana para processar Paulo Francis por calúnias, num caso célebre.
Dilma parece ter que fugir da imprensa brasileira para se manifestar.
Ela disse duas coisas importantes sobre o tema da corrupção. A primeira é óbvia: este é um drama mundial, e não brasileiro. Basta ver os levantamentos de institutos como a Transparência Internacional. (Nos últimos dez anos, aliás, a posição do Brasil na lista da TI melhorou.)
A segunda, embora óbvia também, foi parcialmente elíptica. Combater a corrupção não deve se confundir com “caça às bruxas”.
Mais correto teria sido dizer “caça a Lula”.
Se você se deixa levar pelo noticiário da grande imprensa, Lula não apenas percorreu todos os degraus possíveis da escada da corrupção como está indiretamente ligado a um assassinato.
É um “mar de lama”, para usar a expressão com que o arquiconservador Carlos Lacerda martelou o governo de Getúlio Vargas.
Vargas criou o voto secreto, que impediu que industriais e fazendeiros vigiassem se seus empregados votavam em quem eles queriam. Trouxe também uma legislação trabalhista que deu direitos inéditos a trabalhadores que se esfolavam de segunda a segunda, sem férias.
Os industriais de então opuseram todo tipo de resistência aos direitos outorgados por Vargas. Vargas estava aperfeiçoando o capitalismo, assim como Ted Roosevelt fizera nos Estados Unidos duas décadas antes. Mas para os industriais brasileiros ele estava “assassinando” o capitalismo.
De tudo isso, resultou o “mar de lama”, a expressão com a qual os grandes jornais desestabilizaram o governo de Vargas até levá-lo ao suicídio, em 1954. O “mar de lama” de Lacerda era tudo – menos uma vontade genuína de extirpar a corrupção.
O patriotismo pode ser o último refúgio do canalha, como ensinou o escritor inglês Samuel Johnson. Também o “combate à corrupção”, aspas, pode ter uso sinistro, como o feito por Lacerda com seu “mar de lama”.
Vargas ainda tentou mitigar o cerco da grande imprensa da época criando condições para que surgisse um jornal com uma visão menos arcaica e menos vinculada aos interesses dos ricos, a Última Hora, de Samuel Wainer. (Wainer seria atacado por Lacerda até pelo fato de ser judeu.)
Mas não foi bastante.
A história parece estar se repetindo. Assim como houve uma caça não à corrupção mas a Getúlio Vargas, agora o que se tem é uma caça não à corrupção, e nem às bruxas, mas a Lula.
Dilma fez bem em dizer isso. Foi um gesto parecido com o olhar glacial que ela endereçou a um sorridente Joaquim Barbosa no enterro de Niemeyer. É como se ela estivesse dizendo à mídia brasileira:
“Vamos deixar de hipocrisia e farisaísmo. Quem é bonzinho mesmo aí? A família Marinho? Ah, bom saber.”
Os mais otimistas podem acreditar que por trás da campanha está um propósito de moralização. Quem é menos romântico sabe que o que no fundo se deseja é o retorno a tempos em que o BNDES funcionava como pronto-socorro de empresas quebradas, à custa do contribuinte, e em que Roberto Marinho designava ministros das Comunicações depois de receber uma concessão de tevê e financiamentos estatais a juros de mãe.
Não era o capitalismo de Adam Smith, ou de David Ricardo. Era ação entre amigos. Capitalismo é risco e concorrência – e isso não havia.
As empresas brasileiras tinham reserva de mercado – algo que ainda existe, por incrível que pareça, para a mídia –, e quem pagava por essa mamata era a sociedade, obrigada a comprar produtos caros e ruins.
Os discípulos de Lacerda – nenhum com uma fração de seu talento, mas herdeiros da mesma dose colossal de maldade — continuam a se bater obstinadamente por um capitalismo que é a negação do capitalismo.
O verdadeiro capitalismo – aquele que é efetivamente sustentável – está na Escandinávia, nas admiráveis Dinamarcas, Finlândias e Noruegas da vida, terras libertárias, transparentes, pujantes, empreendedoras, competitivas, e onde ninguém é melhor que ninguém por causa da conta do banco.
*Diariodeocentrodomundo
A HISTÓRIA SE REPETE: O PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA (PIG) FAZ COM LULA E FARÁ COM DILMA O QUE FEZ COM GETÚLIO VARGAS
De Vargas a Dilma: o pacto de um novo ciclo
Carta Maior- Saul Leblon
Assim como as vantagens comparativas na economia, a relação de forças na sociedade não é um dado da natureza, mas uma construção histórica. E precisa ser exercida politicamente; não é uma fatalidade sociológica. A emergencia de novos atores nas entranhas da economia não cria automaticamente novos sujeitos históricos.Quem faz isso é a ação política.Os neoclássicos, os neoliberais aqui e alhures, gostariam que o mapa das vantagens comparativas fosse um pergaminho lacrado e blindado em tanque de nitrogênio. Facilitaria a relação de forças favorável à hegemonia conservadora.
Por eles, o Brasil até hoje seria uma pacata fazenda de café. Ou uma usina de garapa.
Getúlio Vargas rompeu o interdito dos interesses internos e externos soldados na economia agroexportadora. Isso aconteceu em meados do século passado. Até hoje o seu nome inspira desconforto nos sucessores da casa grande; nos intelectuais que enfeitam seus saraus e nos ‘canetas’ que lhes servem de ventríloquos obsequiosos.
Em 1930 Vargas derrotou a todos. Desobstruiu assim os canais para lançar as bases de um Estado nacional digno desse nome.E abriu as portas a novos sujeitos históricos.
Em 50, no segundo governo, transformaria esse aparelho de Estado em alavanca capaz de assoalhar a infraestrutura da economia industrial que somos hoje.
Ao afrontar o gesso das vantagens comparativas , Vargas alterou a relação de forças na sociedade. Mas não tão sincronizado assim, nem tão solidamente assim, como se veria pelo desfecho em 24 de agosto de 54.
O desassombro daquele período, no entanto, distingue Nação brasileira de seus pares em pleno século XXI.
O Brasil é hoje uma das poucas economias em desenvolvimento que dispõe de uma planta industrial complexa.
A ortodoxia monetarista engordou a manada especulativa no pasto da Selic na década de 90 – o que valorizou o câmbio, a ponto de afogar o produto local em importações baratas até recentemente. Afetou o tônus da engrenagem fabril. Mas não a destruiu; ainda não a destruiu.
É ela ainda que poderá irradiar a inovação e a produtividade reclamadas pelo passo seguinte do nosso desenvolvimento. Não só para multiplicar empregos com salários dignos. Mas sobretudo, para extrair do pré-sal o impulso industrializante e tecnológico que ele enseja, gerando os fundos públicos requeridos à tarefa da emancipação social brasileira.
Não fosse o lastro fabril, a potencialidade do pré sal não apenas seria desperdiçada, terceirizada e rapinada. Ela conduziria a um duplo salto mortal feito de fastígio imediatista e longa necrose econômica: aquela decorrente da doença holandesa e da dependência externa absoluta. Faria pior: devastaria a relação de forças adequando-a ao domínio conservador.
Foi a industrialização que gerou a organização operária desdenhada pelo conservadorismo como mero ornamento populista.Até que surgiu o PT. E que o PT levou um metalúrgico à chefia da Nação; e não uma vez, duas; ademais de eleger a sua sucessora, em 2010.
Os protagonistas progressistas ganharam nervos e musculatura, mas ainda não se cumpriu a travessia evocada por Vargas no célebre discurso do 1º de Maio de 1954, talvez a sua fala mais contundente,mais até que a Carta Testamento deixada tres meses depois:
“A minha tarefa está terminando e a vossa apenas começa. O que já obtivestes ainda não é tudo. Resta ainda conquistar a plenitude dos direitos que vos são devidos e a satisfação das reivindicações impostas pelas necessidades (…) Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituí a maioria. Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo“
A seta do tempo não se quebrou. Mas estamos diante de uma nova esquina histórica.
A exemplo daquela enfrentada por Getúlio, nos anos 50, a dobra seca está cercada de desafios e potencialidades interligados por uma relação de forças delicada.
Getúlio talvez tenha percebido tarde demais a necessidade de ancorar a travessia econômica em uma efetiva organização política correspondente. Quando atinou, o bonde já havia passado –cheio de golpistas. Mas não só ele demorou a ouvir as advertências da perna econômica da história.
O descasamento tortuoso entre enredo e personagens daquele período pode ser sintetizado no paradoxal comportamento dos comunistas do Partido Comunista Brasileiro.
Em outubro de 1953 Vargas sancionou a lei do monopólio estatal do petróleo.Criou a Petrobrás sob o açoite da mídia.O jornal o ‘Estado de São Paulo’ faria então um editorial emblemático do obscurantismo conservador. O texto vaticinava a irrelevância daquele gesto, dada a incapacidade (congênita?) de um país pobre como o Brasil,asseverava, desenvolver um setor então de ponta, a indústria petroleira.
Era uma tentativa de conservar o país num formol de vantagens comparativas subordinadas à reação interna e ao apetite imperial externo.As semelhanças com a grita demotucana contra a regulação soberana do pré-sal não são mera coincidência.
Em dezembro, Vargas foi além. Atacou a farra das remessas de lucros do capital estrangeiro. No início de 1954 decretou em 10% o limite para as remessas de lucros e dividendos. Sucessivamente, criaria a Eletrobrás e elevaria em 100% o salário mínimo. Novo fogo cerrado de mísseis por parte da mídia e dos interesses contrariados. Lembra muito a reação atual a cada iniciativa do governo Dilma na transição para um novo modelo de desenvolvimento: queda da Selic; aperto no spread da banca; IOF contra o capital especulativo; mudança na regra da poupança –trava ‘popular’ do rentismo; forte incremento dos programas sociais; fomento do BNDES ao setor industrial; PAC; preservação do poder de compra dos salários etc
Em dezembro de 1953, conforme recorda o historiador Augusto Buonicore, o PCB abstraia a realidade e conclamava a resistência a…Vargas. Assim:
“O governo Vargas tudo faz para facilitar a penetração do capital americano em nossa terra, a crescente dominação dos imperialistas norte-americanos e a completa colonização do Brasil pelos Estados Unidos (…): “O povo brasileiro levantar-se-á contra o atual estado de coisas, não admitirá que o governo de Vargas reduza o Brasil a colônia dos Estados Unidos. O atual regime de exploração e opressão a serviço dos imperialistas americanos deve ser destruído e substituído por um novo regime, o regime democrático e popular”.
Isso quando a direita já escalava os muros do Catete e os jornais conservadores escalpelavam a reputação de quem quer que rodeasse o Presidente –e a dele próprio. Por todo o país ecoava o o alarido udenista pela renúncia ou golpe, que Vargas afrontaria com o suicídio, em 24 de agosto de 1954. Só o esquerdismo não ouvia.
Mutati mutandis, trata-se agora de inscrever no Brasil do século XXI uma revolução de infraestrutura e fomento industrial de audácia e desassombro equivalente a que Vargas esboçou há 58 anos.
Foi essa tarefa que Lula retomou no seu segundo governo, e Dilma aprofunda nos dias que correm.
Repita-se, não se trata de uma baldeação técnica.Não se faz isso dissociado de uma relação de forças correspondente. Essa travessia não é um dado da natureza, ela precisa ser construída.
Lula tirou 40 milhões de brasileiros da pobreza. Os novos protagonistas formam hoje a maioria da sociedade. Mas serão sujeitos de sua própria história? Fossem, a coalizão das togas midiáticas e o udenismo demotucano estariam fazendo o que fazem?
Urge que se avance na travessia da relação de forças. Essa é a tarefa que grita nas advertências dos dias que correm; nas investidas cada vez mais desinibidas das últimas horas. Elas não serão revertidas, à esquerda, com uma cegueira histórica equivalente a do PCB em 1953. Mas o governo também não pode mais fechar os olhos para o perigo que ronda a sua porta. Ele não será afrontado com o acanhamento amedrontado diante de palavras como ‘engajamento’, ‘mobilização’ e pluralismo midiático.
Se o que tem sido testado e assacado nas manchetes não é um ensaio para tornar insustentável o governo Dilma até 2014, então somos todos crédulos dos propósitos republicanos do senhor e senhora Gurgel, dos Barbosas & Fux e da escalada midiática que os pauta e ecoa.
Simples coincidência que a orquestra eleve o naipe dos metais exatamente quando solistas como a The Economist disparam setas de fogo contra o ‘excessivo intervencionismo de Dilma’ nos mercados?(Leia aqui: ‘O Brasil perdeu o charme, diz o rentismo’)
A resposta é não. E até para analistas insuspeitos de simpatias petistas, como o professor da FGV, ex-secretário da Fazenda de Mário Covas, Ioshiaki Nakano.(Texto Integral)
*Educaçãopolitica
Bradley Manning relata o inferno que passou nas mãos dos militares dos EUA
O soldado Bradley Manning pode, finalmente, falar publicamente em sua defesa, em uma audiência preliminar ao conselho de guerra a que será submetido no próximo ano. Manning é a suposta fonte do maior vazamento de inteligência na história dos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, ele sofreu calvário de encarceramento em confinamento solitário, em condições cruéis e degradantes que muitos sustentam equivaler à tortura. O artigo é de Amy Goodman.
Amy Goodman - Democracy Now
O soldado Bradley Manning pode,
finalmente, falar publicamente em sua defesa, em uma audiência
preliminar ao conselho de guerra a que será submetido no próximo ano.
Manning é a suposta fonte do maior vazamento de inteligência na história
dos Estados Unidos. O soldado, que trabalhava como analista de
inteligência no Exército dos Estados Unidos e tinha acesso á informação
ultra-secreta, foi enviado ao Iraque. Em abril de 2010, Wikileaks
publicou um vídeo onde um helicóptero Apache, das Forças Armadas
estadunidenses, dispara contra uma dezena de civis, entre eles dois
funcionários da Reuters, um câmera e seu chofer, em Bagdá.
Um mês depois da publicação
do vídeo, Manning foi preso no Iraque e acusado de ter vazado o vídeo e
outras centenas de milhares de documentos. Assim começou seu calvário de
encarceramento em confinamento solitário, em condições cruéis e
degradantes que muitos sustentam equivaler à tortura, desde sua detenção
no Kuwait até os meses de detenção na base militar Quantico, na
Virgínia, Estados Unidos. Após a condenação mundial contra suas
condições de detenção, as forças armadas estadunidenses transferiram
Manning para um centro de detenção em Fort Leavenworth, Kansas, onde as
condições não são tão severas.
Enquanto Manning enfrenta 22
acusações em um conselho de guerra que pode condená-lo à prisão
perpétua, seu advogado argumentou na audiência preliminar que o caso
deveria ser encerrado por causa do castigo ilício aplicado ao soldado
antes do julgamento.
O advogado constitucionalista de longa
trajetória, Michael Ratner, encontrava-se na sala de audiências em Fort
Meade, Maryland, no dia em que Manning prestou seu depoimento. Ratner
descreveu a cena: “Foi uma das cenas mais dramáticas que já vi em uma
sala de audiências (...)
Quando Bradley começou a falar não estava
nervoso. Seu testemunho foi extremamente comovedor, realmente emotivo
para todos nós, mas especialmente, como é evidente, para o próprio
Bradley pelo que teve que suportar. Foi terrível o que aconteceu em dois
anos, mas ele descreveu tudo com riqueza de detalhes, de um modo
eloquente, inteligente e consciente”.
Ratner disse que Manning descreveu
como ficou detido em uma jaula no Kuwait: “Havia duas jaulas. Disse que
eram como jaulas para animais. Estavam sob uma tenda, só estas duas
jaulas, uma ao lado da outra. Uma delas continha alguns dos pertences de
Manning, na outra, onde ele estava, havia uma pequena cama, uma estante
e um vaso sanitário. Ele permaneceu nesta jaula escura durante quase
dois meses. Ele foi retirado dela por curto espaço de tempo e depois,
sem dar explicações, voltaram a colocá-lo na jaula (...) Bradleuy disse
sobre esse período: “Creio que perdi a noção do tempo. Não sabia se era
dia ou noite. Meu mundo se tornou muito pequeno. Converteu-se nessas
duas jaulas”. Ratner acrescentou: “Isso quase o destruiu”.
Depois de sua detenção no Kuwait, Manning foi
transferido para uma base militar em Quantico. Seu advogado, David
Coombs, disse este mês: “O modo pelo qual trataram Brad em Quantico
ficará gravado para sempre na história de nosso país como um momento
lamentável. Não foi somente estúpido e contraproducente. Foi criminoso”.
O advogado Michael Ratner também descreveu o
momento no qual Bradley Manning explicou o que ocorreu em Quantico:
“Bradley contou como era estar nessa cela, na qual deve dormir em uma
pequena cama, com uma luz frontal apontada na sua direção, que deixavam
acesa para poder observá-lo. Se ele se movia para evitar a luz iam
acordá-lo. Isso acontecia pela noite. Durante o dia, passava de 23 a 23
horas e meia na cela. Às vezes, tinha 20 minutos do que chamavam de
“exercício ao sol”, o que não é nada. O que ele podia fazer? Porque
supostamente está em serviço, devendo ou estar em péi ou sentado nesta
cama de metal com os pés no solo e sem poder apoiar-se em nada. Isso
durante 10 ou 15 horas por dia, o que deve se chamar de privação dos
sentidos”.
O relator especial das Nações Unidas sobre a
tortura, Juan Méndez, tentou visitar Manning, mas acabou se negando
quando as forças armadas disseram que iriam vigiar e gravar a visita.
Méndez informou: “A detenção em confinamento solitário é uma medida
severa que pode provocar grave dano psicológico e fisiológico aos
indivíduos, independentemente de sua situação específica”.
Os oficiais do exército descreverem o
tratamento cruel aplicado a Manning como necessário, devido ao fato de
que, segundo afirmaram, havia risco de que ele tentasse o suicídio. No
entanto, o capitão da Marinha, William Hocter, um psiquiatra forense de
Quantico, disse que não existia tal risco, mas que não o escutaram. “Sou
médico chefe há 24 anos e nunca vi algo igual”, declarou Hocter.
“Estava claro que estavam decididos a tomar um determinado curso de ação
e pouco importavam minhas recomendações”.
A primeira etapa do conselho de guerra, que
Coombs denomina “a etapa das moções de castigo ilícito antes do
julgamento”, considerou uma moção da defesa pedindo o fim do caso.
Embora seja improvável que isso aconteça, aqueles que seguem o caso
sustentam que a defesa solicitou, como alternativa, que o conselho de
guerra considere reduzir a pena de Manning resultante do julgamento a
uma razão de dez dias por cada dia que teve que suportar o trato cruel e
degradante no Kuwait e em Quantico, o que, em tese, poderia significar
uma redução de seis anos em sua condenação à prisão.
Bradley Manning é acusado de vazar uma série de
documentos para Wikileaks, que incluem o vídeo do massacre de Bagdá,
duas grandes séries de documentos relacionados com os registros
militares estadunidenses das guerras do Iraque e do Afeganistão e,
talvez o mais importante, o vazamento de mais de 250 mil telegramas do
Departamento de Estado dos EUA, conhecida como “Cablegate” (em
referência a Watergate). Após uma avaliação realizada em agosto de 2010,
o então Secretário de Defesa, Robert Gates, sustentou que a publicação
dos documentos “não revelou fontes nem métodos de inteligência
importantes”.
Manning concordou em se declarar culpado pelo
vazamento dos documentos, mas não pelas acusações mais graves de
espionagem e nem de ter ajudado o inimigo.
Bradley Manning completará 25 anos dia 17 de
dezembro na prisão, data que também marca o segundo aniversário da morte
do jovem tunisiano que se imolou em protesto contra o governo corrupto
de seu país, dando início à Primavera Árabe. Há um ano, quando a revista
Time nomeou o “manifestante”, em termos genéricos, como Personagem do
Ano, o lendário informante dos Documentos do Pentágono, Daniel Ellsberg,
elogiou essa decisão em uma declaração que também se aplica à realidade
atual: “A capa da revista Time nomeia o manifestante, um manifestante
anônimo, o “Personagem do Ano”, mas é possível colocar um rosto e um
nome nesta foto do “Personagem do Ano”. O rosto estadunidense que
apareceria nesta capa seria o do soldado Bradley Manning”.
(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.Tradução: Katarina Peixoto
(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.Tradução: Katarina Peixoto
*Nassif
sábado, dezembro 15, 2012
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