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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, dezembro 16, 2012

“Vuelos de la muerte”.
A Argentina envergonha o Brasil

No Brasil, o Supremo julgou que a Lei da Anistia é constitucional. Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens Paiva do avião acham que a tortura compensa.

A mais recente humilhação a que a Argentina submete o Brasil foi o Judiciário impedir que o Supremo metesse o bico na Ley de Medios -
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21412 – aprovada pelo Senado e a Camara.

Não é disso que se pretende tratar aqui.

Mas, do julgamento dos “vuelos de la muerte”.

Está em curso em Buenos Aires  o TERCEIRO julgamento dos crimes cometidos na Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), um dos centros de tortura.

Estão nos bancos dos réus 68 indiciados.

SESSENTA E OITO !

Nesse terceiro julgamento, recém iniciado, serão julgados delitos de LESA HUMANIDADE contra 789 pessoas, a maioria nos chamados “vuelos de la muerte”.

Prevê-se que o julgamento demore dois anos e ouça 900 testemunhas.

(O Conversa Afiada reproduz aqui trechos de reportagem de El País, de 10 de dezembro de 2012.)

Os marinheiros levavam os detidos em caminhões até um aeroporto perto de Buenos Aires, para vôos domésticos.

De lá, partiam vôos pilotados por integrantes da polícia de mares e rios.

As vitimas eram drogadas com pentotal, um barbitúrico que os sedava por completo, porém por pouco tempo.

(A tempo de ver que morriam afogadas.)

Elas eram empurradas nuas, com as mãos e os pés atados, encapuzados e golpeados.

Poucos corpos foram identificados.

Algumas delas faziam parte do grupo “Madres de la Plaza de Mayo”.

O primeiro e o segundo julgamento não tinham o alcance deste terceiro.

Mesmo assim, no segundo, por exemplo, foram condenados 16 militares e policiais por 85 casos de TERRORISMO DE ESTADO.

(As ênfases são Conversa Afiada.)

A maioria dos condenados no segundo julgamento voltou ao banco dos réus no terceiro.

Entre eles, Jorge Costa, El Tigre; Alfredo Astiz, El Ángel Rubio; e Juan Antonio Azic, que se apoderava de filhas de desaparecidos.

Passaram pela ESMA 5.000 sequestrados.

Os presidentes do regime militar foram todos condenados com a extinção da Lei da Anistia promulgada pelos presidentes Alfonsín e Menem.

E revista no Governo de Néstor Kirchner.

O mesmo Presidente que trocou ministros do Supremo Tribunal para lá enviados por Menem.


Navalha
Como dizia aquele anarquista espanhol sobre a ditadura franquista, hoje no poder, sob a forma de uma Opus Dei neoliberal.

O problema não é a anistia aos torturadores.

Mas o que a anistia significa para os filhos dos torturadores.

No Brasil, o Supremo julgou que a Lei da Anistia é constitucional.

Portanto, os filhos dos que jogaram Rubens Paiva do avião acham que a tortura compensa.

Um dos ministros do Supremo, (Collor de) Mello, considerou que o regime militar foi “um mal necessário”.

Viva o Brasil !

Paulo Henrique Amorim

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