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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 06, 2013

Danuza é emblema da crise estrutural da mídia


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Demissão da colunista de elite da Folha de S. Paulo vem acompanhada de dezenas de cortes no jornal da Barão de Limeira; Editora Abril pronta para iniciar processo de enxugamento de até 10% de seu pessoal; Estadão, onde o também demitido Nelson Motta acusou internautas de "relincharem", definha em praça pública; Valor, joint venture Folha-Globo, diminui redação; com monopólio no Rio, família Marinho preserva as Organizações Globo, mas não se sabe até quando; informação livre pela internet promove devastação nas estruturas arcaicas da mídia tradicional, na qual o patronato não acompanhou avanço tecnológico, menosprezou busca pela notícia e fez veículos trombarem editorialmente com a nova opinião pública
As torres de papel da mídia tradicional estão caindo. Uma a uma. A informação livre em circulação pela internet, mídia que todos os números e pesquisas apontam como a de maior e mais rápida ascensão entre o público brasileiro, fustiga os alicerces nada sólidos daquela que já foi chamada "grande imprensa". Os custos de operação, as dificuldades logísticas e a falta de visão de presente e futuro dos líderes de negócios dos jornais e revistas – obnubilada na fixação pelo passado - formam o conjunto responsável pela debacle. Um processo acelerado pela miopia ideológica da famílias detentoras aplicada às linhas editoriais de cada veículo, todas elas convergentes a um conservadorismo pulverizado em praticamente todas as seções jornalísticas – Política, Economia, Cidades, Esportes etc. Um atraso que quebra a sincronia das rotativas com a visão de mundo mais ampla e plural do leitor atual. Um fracasso contratado.
A demissão da colunista de elite Danuza Leão, da Folha, revelada nesta quinta-feira 6, é emblemática da situação de crise estrutural da mídia de papel. Em seus livros, Danuza sempre se apresentou como uma socialite cheia de bons conselhos a dar, mas, pouco a pouco, em seu espaço no diário da família Frias, foi empunhando a pá ideológica que cavuca o fosso sempre profundo que separa ricos de pobres, emergentes de quatrocentões. Foi perdendo, a cada golpe, atratividade de leitura, acumulando adversários entre os leitores, diminuindo, assim, pelas opiniões isoladas do resto do mundo, sua razão de estar ali, tratada a pão-de-ló por 12 anos. Não precisava, neste sentido, a colunista ter troçado dos leitores, reclamando da democratização das viagens pelo exterior, de modo a lamentavelmente ser possível encontrar o porteiro de seu próprio prédio em lazer em Paris (aqui)!
DESCOLAMENTO DO PÚBLICO 
Danuza, no entanto, não é a única a padecer neste momento. Entre jornalistas, comenta-se que ela apenas entrou no corte de cerca de 40 profissionais promovido pela Folha ao longo desta semana. Um "passaralho", como se diz na categoria profissional, que vai sendo baixando aos poucos, já há alguns meses, na redação do concorrente Estadão. Ali, um famoso colunista que rodou foi o crítico musical Nelson Motta. O mesmo fenômeno de descolamento em relação ao público ocorreu com ele.
Ao longo de sua história de quase 50 anos em torno da música e do entretenimento, Nelsinho, como é chamado, construiu uma imagem de simpatia. Bastou, porém, ter seu próprio espaço emoldurado num jornal conservador, para se deixar contaminar pelo entorno. Ao comentar os posts de leitores de 247, onde a expressão é livre e aberta, de modo a que cada posição seja conhecida e, nessa medida, respeitada e discutida, Nelsinho registrou que só ouvia "relinchos". Foi escorraçado nas mídias sociais (aqui). Sem escalas, trocou uma posição de queridinho por tantos para a de ridicularizado por muitos mais. Dançou.
HORA DA ABRIL 
Na maior editora de revistas da América Latina, a situação promete ser ainda mais dramática. Reconhecia-se entre a diretoria, meses antes da morte do presidente Roberto Civita, a necessidade de promover mudanças internas que produzissem uma economia de até R$ 100 milhões anuais em custos. Civita, ciente da imagem de superioridade que a Abril sempre prezou, barrou até o final as propostas de profundos cortes de pessoal que pousaram em sua mesa. Agora, porém, sob a direção de seu filho Giancarlo, o prognóstico entre os profissionais da empresa é que se inicie uma verdadeira Noite de São Bartolomeu, na qual até 10% dos mais de nove mil funcionários da organização poderão ser degolados. Com 52 revistas em seu portfolio atual, habitando um prédio com mordomias como piscina que lhe custa estimados US$ 1 milhão mês, a Abril só encontra lucro em uma ou outra operação, jamais em todas. É provável, assim, que títulos desapareçam. No carro-chefe Veja, cuja redação quintuplicou de tamanho nos últimos quinze anos, sem que o mesmo acréscimo tivesse se dado em seu conteúdo jornalístico, ao contrário - há cada vez menos notícia, cada vez mais editorialização -, as aparências devem ser mantidas. Isso, entretanto, ainda é incerto.
Na mídia especializada, como o jornal Valor Econômico, a crise estrutural também já se achega. Produzir a partir do zero, todos os dias, redigir, editar, diagramar, imprimir e distribuir um jornal custa muito caro, até mesmo para um veículo que, na prática, detém o monopólio da publicidade legal no País. Quando a coluna do lucro começa a ter números encolhidos, a alternativa empresarial é, salvo raríssimas exceções, enxugar a folha de pagamentos. É o que está acontecendo lá, onde vagas estão sendo congeladas e vínculos empregatícios formais vão sendo substituídos por mão de obra sazonal.
Barbeiragens empresariais se somam ao grave momento da mídia tradicional. Na Record que tirava quadros da Globo a preço de ouro e bateu a emissora dos Marinho na cara disputa pelas Olimpíadas de Londres, a conta chegou na forma de 400 demissões apenas esta semana.
INTERNET QUEBRA RECORDES 
Enquanto isso, a audiência na internet quebra recordes dia a dia, provocando uma saudável disseminação de informações por meio de jornais, revistas, tevês e blogs especialmente criados para este veículo de alta velocidade, farta concorrência e vasto acesso. Cria-se aqui um ambiente de briga de mãos limpas, honesta, onde os "sem rotativa" e os "sem antena" passam a ter iguais condições de disputar o interesse do leitor, a atenção das fontes, o respeito do mercado publicitário e, sobretudo, adquirem influência no circuito que nasce com bases populares e alcança os formadores de opinião.
Os tempos estão mudando. A mídia tradicional descobriu, na última hora, que o passado não mais é capaz de corrigir seus excessos corporativos, erros gerenciais e choques com uma nova e numerosa classe de leitores. Pagam pelo desastre comercial provocado pela soberba os profissionais que ajudaram a construir cada uma dessas máquinas. É o capitalismo em estado bruto mostrando sua velha e vincada face assustadora.
No 247
*Saraiva

Enquanto o Ceará sofre um dos períodos mais crueis de seca de todos os tempos, Governo do Estado investe R$ 285,7 milhões em aquário

Quem dera ser um peixe
  no Brasil de Fato

Enquanto o Ceará sofre um dos períodos mais crueis de seca de todos os tempos, Governo do Estado investe R$ 285,7 milhões em aquário
Andrea Dip e Ciro Barros,
A Pública
Na praia de Iracema, área tradicional de lazer dos moradores de Fortaleza e antigo centro da boemia da cidade, tapumes tomam vários metros da rua dos Tabajaras, bem pertinho do mar e da histórica Ponte Metálica, chamando a atenção de quem passeia pelo calçadão. Lá dentro, guindastes, britadeiras e tratores trabalham em ritmo acelerado. Na praia, quase não se vê mais banhistas. Isso porque, segundo moradores locais, a areia e o mar contém pedaços de ferro e concreto restantes da demolição do antigo prédio do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), que dará lugar a um projeto ambicioso – há quem diga megalômano – do governo do estado do Ceará: o Acquário Ceará, orçado em mais de 260 milhões de reais (a previsão atualizada pelo TCE é de mais de 285,7 milhões).
Desse total, 210 milhões de reais são provenientes de um empréstimo da agência do governo estadunidense Ex-Im Bank ao governo estadual – o restante de recursos próprios do Estado – para financiar a obra de 21,5 mil metros quadrados de área construída com previsão de 38 tanques com capacidade para 15 milhões de litros de água, quatro pavimentos de áreas de lazer, dois cinemas 4D, simuladores de submarino e túneis submersos. A previsão é que a obra fique pronta a tempo da Copa do Mundo de 2014.
Apresentado em 2010 com pompas e uma bela maquete no espaço cultural Dragão do Mar – outra obra grande e polêmica de Fortaleza – o projeto logo despertou a indignação de artistas, professores, historiadores e, principalmente, dos 2.400 moradores da comunidade centenária Poço da Draga, próxima ao local, que até hoje não tem saneamento básico. O discurso da Secretaria de Turismo, de que o Acquário (se escreve assim mesmo) “deve dobrar o fluxo turístico do Ceará e inseri-lo tanto no circuito mundial de grande ícones arquitetônicos, quanto no de turismo científico, sendo o terceiro maior aquário do mundo”, não convenceu a população que se organizou no movimento “Quem Dera Ser um Peixe”, paródia da música do cantor e compositor cearense Fagner, para contestar o investimento público em uma obra faraônica enquanto o estado do Ceará convive com um dos períodos de seca mais devastadores dos últimos tempos.
“É um trocadilho mesmo para dizer que os peixes são mais bem tratados do que as pessoas”, explica a historiadora Andrea Saraiva, integrante do movimento. “A gente critica a falta dos ritos básicos para um investimento e a obra desse porte: desde a falta de discussão pública, até a falta de informações claras e da transparência com relação às contas públicas, por exemplo”, explica a historiadora, acrescentando que a primeira providência da organização popular foi buscar informações sobre o projeto.
“Qualquer um que olhe para aquele projeto e para este espaço na praia de Iracema vai perceber que para começar aquilo não cabe aqui! O prédio ao lado já enfrenta rachaduras e infiltrações [por causa da obra]”, diz a coreógrafa Andrea Bardawil, também integrante do Quem Dera, que resume as irregularidades encontradas até agora: a falta de um estudo de impacto arqueológico, obrigatório em obras de grande porte, lacunas e imprecisões no EIA-RIMA, de acordo com especialistas, falta de licitação para a obra – o que também é questionado pelo TCE – e o futuro incerto da comunidade do Poço da Draga.
Ao entrar com esses questionamentos e o pedido de paralisação da obra na Justiça, porém, foi o movimento popular que acabou sendo processado pelo Governo do Estado por “litigância de má fé”, amparado no fato de o Iphan já ter entrado com uma ação com o mesmo pedido. Procurado, o Iphan não quis se pronunciar sobre o assunto.
Foto de divulgação do projeto do Acquario Ceará, que será instalado na Praia de Iracema, em Fortaleza (CE)

Cadê a licitação?
No dia 26 de maio de 2011, a Secretaria de Turismo do Estado (SETUR), através de seu titular, Bismarck Maia, anunciava no Diário Oficial do Estado do Ceará a inexigibilidade de licitação para a construção do Acquário – anunciando a contratação direta da International Concept Management INC. (ICM-Reynolds) por R$ 244.335.000,00 (o equivalente, à época, a US$ 150.000.000,00). Baseado no caput e no inciso II do artigo 25 da Lei de Licitações, o governo cearense alegava que se tratava de uma contratação de “serviços técnicos singulares” de uma empresa de “notória especialização”.
Para fundamentar essa argumentação, o governo cearense apresentou um Estudo de Técnica, Qualidade e Preço feito por outra empresa, a Imagic!, afirmando que a ICM-Reynolds havia construído 215 dos 250 “aquários de grande porte” do mundo, segundo a Waza (World Association of Zoos and Aquariums). A Imagic!, que realizou esse estudo, pertence ao arquiteto Leonardo Fontenele – autor do projeto arquitetônico do Acquário Ceará pelo qual diz ter recebido R$ 1,8 milhão.
Sete dias depois do anúncio da SETUR, no dia 2 de junho de 2011, o governo estadual enviou à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará o pedido de aprovação de um empréstimo de US$ 105 milhões junto ao Ex-Im Bank (sigla para Export-Import Bank of the United States), uma agência governamental que atua como intermediária entre bancos e tomadores de empréstimos com o objetivo de fomentar exportações dos Estados Unidos: ao menos 50% do dinheiro emprestado através dessa agência tem de ser gasto na importação de produtos americanos.
O empréstimo foi aprovado na Assembléia Legislativa cearense, apesar dos protestos de algumas vozes da oposição contra o fato de a votação ocorrer depois de já definida a contratação da ICM-Reynolds por inexigibilidade. “Há de se perguntar, vamos votar o que se as coisas já estão definidas antes da votação? Portanto eu acho lamentável esse episódio”, disse na saída da votação o deputado estadual Heitor Ferrer (PDT) à TV Jangadeiro. Mesmo na base aliada do governo estadual, a deputada estadual Eliane Novais (PSB) se mostrou contrária à votação e à construção do aquário: “Nós temos outras prioridades. Nós podemos investir esse mesmo dinheiro, por exemplo, no sistema de esgotamento sanitário de Fortaleza, que está obsoleto”, disse, também na saída do pleito. A votação virou a lei 14.937, de 22 de junho de 2011, que autorizou o poder executivo estadual a contrair o empréstimo através da agência dos Estados Unidos.

TCE acata denúncia dos movimentos sobre irregularidades na licitação
Inconformados com esse desfecho, os militantes do movimento Quem Dera Ser Um Peixe reuniram tudo o que conseguiram obter de informações sobre o projeto e o empréstimo para a construção do Acquário Ceará e, no dia 7 de abril de 2012, enviaram uma denúncia com as irregularidades encontradas ao Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE-CE). Oito meses depois, em dezembro de 2012, a Comissão Especial de Acompanhamento e Fiscalização de Obras de Grande Porte do TCE apresentou o Relatório de Inspeção Nº 0011/2012, confirmando e reforçando diversos pontos apresentados na denúncia do movimento popular, principalmente em relação à contratação da ICM-Reynolds por inexigibilidade, que não estaria de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei de Licitações.
“O próprio governo do estado admite que há outras empresas, além da contratada, que constroem aquários (…). Verifica-se, portanto, que as próprias fontes oficiais sobre o aquário admitem a possibilidade de competição (…) Conclui-se que não é cabível a utilização do instituto da inexigibilidade para a contratação da empresa ICM, pois a licitação para a realização da obra é obrigatória tendo em vista a possibilidade de competição”, afirmava a denúncia. O relatório do TCE concorda: “Registre-se que a contratação da ICM-Reynolds não tem guarida normativa na eleita hipótese de inexigibilidade de licitação (…), uma vez que existem diversos fornecedores de materiais e equipamentos para oceanários e aquários no mundo”.
O TCE vai além: “É forçoso concluir que há indícios de irregularidades na contratação da empresa ICM-Reynolds para fornecer todos os bens, serviços e materiais para os equipamentos e a construção do empreendimento ‘Acquário Ceará’. Essa contratação deveria ter sido precedida de um processo licitatório, que permitisse à Administração Pública a possibilidade de escolher a proposta mais vantajosa, não sendo cabível, desta forma, a inexigibilidade (…)”. Para o TCE, a “argumentação da natureza singular da ‘construção’ Acquário” – por parte do governo – “igualmente, não se sustenta, haja vista ser apenas ‘mais uma obra’ dentre as centenas de aquários do mundo.”
“É bom destacar que as informações, que subsidiaram a escolha e contratação direta da empresa ICM-Reynolds, não restaram devidamente comprovadas”, continua o documento produzido pelo Tribunal de Contas a respeito do estudo da Imagic!, do arquiteto Leonardo Fontenele, que fundamentou a argumentação do governo. O que, segundo o movimento Quem Dera Ser Um Peixe, deve-se a um “conflito de interesses”: “É um absurdo que o mesmo cara responsável pelo projeto arquitetônico do aquário, o Sr. Fontenele, tenha também ficado responsável pela qualificação técnica dele. É óbvio que há conflito de interesses. Fora que a empresa dele não tem a menor experiência na construção de aquários, é só olhar o portfólio da Imagic!”, argumenta a historiadora Andrea Saraiva, integrante do Quem Dera Ser Um Peixe.
No relatório, o TCE desmontou a argumentação principal do estudo da Imagic!, de que dos 250 grandes aquários do mundo 215 foram feitos pela ICM-Reynolds: “A Comissão de Fiscalização não conseguiu aferir a participação da ICM-Reynolds na construção das obras citadas pela SETUR, já que essas informações não estão em seu portfólio, no sítio da internet, nem anexas no processo de inexigibilidade”. Após a análise do site da World Association of Zoos and Aquariums (Waza), o relatório aponta que não há referência sobre a participação da ICM, ou de qualquer outra empresa, na concepção, projetos ou construção dos aquários no seu sítio eletrônico”. O TCE vai além, afirmando que o Georgia Aquarium, na cidade de Atlanta (EUA), citado pelo estudo da Imagic! como obra da ICM-Reynolds foi, na verdade, feito pela empresa Brasfield & Gorrie of Kennesaw. Por fim, conclui que “a manifestação de inviabilidade da competição é dubitável, uma vez que, a princípio, não há comprovações que fundamentem que a ICM-Reynolds seja a mais apta para a construção do Acquário Ceará. Pelo contrário, (…) os maiores e mais modernos aquários do mundo foram construídos por outras empresas (…)”.

O empréstimo questionado
Quanto ao empréstimo contraído pelo governo cearense junto ao Ex-Im Bank, o movimento Quem Dera Ser um Peixe acusa: o contrato com a ICM foi feito por inexigibilidade para que o governo pudesse tomar o empréstimo com a agência americana. Segundo a denúncia, as condições do empréstimo contrariam a Lei de Licitações brasileira ao estabelecer que 50% dos recursos sejam gastos em produtos dos Estados Unidos, pois o inciso I, do primeiro parágrafo da Lei estabelece: “é vedado aos agentes públicos admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes”. Ou seja, caso ocorresse a licitação ela estaria em conflito com as condições estabelecidas pelo Ex-Im Bank.
O movimento Quem Dera Ser Um Peixe também acusa o governo cearense de ter infringido o artigo 7º da Lei de Licitações, que estabelece que os órgãos públicos têm que ter definidos todos os recursos para pagamento de obras e serviços antes da realização de licitações e contratações por inexigibilidade – o empréstimo com o Ex-Im Bank foi firmado depois da contratação da ICM-Reynolds. Mas, segundo o promotor Gleydson Alexandre, do Ministério Público de Contas do Ceará, que pediu para realçar que falava “em tese”, sem os autos do processo na mão, “isso ainda carece de uma investigação e de uma avaliação por parte do Tribunal”.
Após o relatório do TCE, a 7ª Inspetoria de Controle Externo (ICE) do TCE-CE ficou encarregada de fazer uma análise das questões que envolvem a obra do Acquário Ceará. No dia 7 de maio passado, a 7ª ICE determinou um prazo de 30 dias para a manifestação do governo cearense acerca do relatório do TCE.

Cadê o estudo arqueológico?
Também o EIA-RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) do Acquário feito pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) é inconsistente e impreciso, segundo o biólogo Daniel Santos da Silva. A começar pelo fato de o estudo ter sido feito depois da demolição do prédio do DNOCS para dar lugar ao empreendimento: “O EIA já deveria ser elaborado para a demolição do prédio do DNOCS seguida da construção do “Acquário”, ou seja, não poderia ser permitida a demolição – pelos órgãos ambientais – antes da apresentação de um estudo que contivesse não só os impactos da demolição, como também, da construção e utilização do aparelho em citado”.
Outro ponto preocupante, na avaliação do especialista, é o risco de mistura acidental das águas, no caso de a maré atingir o calçadão que margeia a estrutura. Ele explica que a análise da série de marés que consta do EIA não é confiável porque se refere apenas a maio e junho de 1995: “Os dados refletem um restrito espectro de tempo e podem estar completamente defasados, tendo em vista que se referem a medições feitas há mais de 15 anos”, diz o biológo. No caso de haver entrada de água do mar no Acquário, isso aumentaria o risco de bioinvasão, o que seria devastador para os ecossistemas nativos. Aliás, segundo um comunicado obtido pelo Quem Dera Ser um Peixe através da Lei de Acesso à Informação, a fonte de abastecimento hídrico do empreendimento ainda não havia nem sido decidida. Quanto ao descarte de animais mortos e das águas do Acquário, não há nada previsto no EIA, que se limita a pedir atenção para o assunto. O Copa Pública pediu essas informações à Setur , mas não obteve resposta.
A falha mais grave do EIA-Rima porém, que inclusive fez com o Ministério Público Federal recomendasse a paralisação da obra em 2012, foi a falta de estudo arqueológico, necessário a qualquer obra deste porte de acordo com a resolução 001/86 do CONAMA. A obra chegou a ser paralisada durante 83 dias por causa da recomendação do MPF mas o Governo do Estado conseguiu reverter a determinação. “Eles justificaram dizendo que lá já era uma área ocupada e portanto não havia necessidade de um estudo arqueológico. Assim conseguiram uma autorização judicial para dar andamento” explica a procuradora do Ministério Público Federal no Ceará, Nilce Cunha Rodrigues.
Em fevereiro de 2013, o MPF entrou com outra ação civil pública, alegando que deveria ser o Ibama e não a Semace o responsável pelo licenciamento ambiental. “Nós consideramos que o impacto da coleta e dispêndio da água utilizada é muito grande na biota marinha, algo difícil de mensurar, e indicamos que quem deve fazer este licenciamento é o Ibama. Mas o juiz não concedeu a liminar para paralisar a obra até que esse licenciamento fosse revisto” explica Nilce. “Houve um agravo para o Tribunal da 5a região e estamos aguardando. Não tendo a liminar, a obra continua. O problema é que se ficar decidido que o licenciamento é nulo, o prejuízo já foi causado!”, observa a procuradora.

E o Poço da Draga, como fica?
“Desde que me lembro, a gente sofre ameaças de remoção por estar em uma área nobre, perto da praia. O medo agora aumentou com esse Acquário. Você acha que eles vão querer uma coisa chique dessas ao lado de uma comunidade carente?”, questiona Ivoneide Gois, 48 anos de idade, todos vividos na comunidade do Poço da Draga, que acaba de completar 107 anos de existência. Apesar de não haver comunicação oficial sobre uma possível remoção da comunidade de 2400 moradores da praia de Iracema, eles temem uma investida surpresa.
E há motivos mais concretos para esse receio do que as especulações levantadas pela localização da comunidade carente. Segundo o geólogo e morador do Poço, Francisco Sérgio, a regulamentação da comunidade como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) já deveria ter sido oficializada mas foi cancelada há pouco tempo: “É claro que isso aumenta nosso medo! Mas a comunidade, assim como o Acquário, estão em área de União e o Poço é parte da cultura e história de Fortaleza. Não vai ser tão fácil tirar a gente daqui”.
Ivoneide faz a comparação irônica e inevitável: “Enquanto o governo vai gastar esse dinheiro e mais de 15 milhões de litros de água com o Acquário, o Poço da Draga não tem saneamento básico. Quem dera ser um peixe, né?”
Fotos: reprodução
*Mariadapenhaneles

quarta-feira, junho 05, 2013

Charge foto e frase do dia




































“Sozinhos, podemos ser mais rápidos, mas juntos podemos avançar mais longe”, diz presidente do Peru sobre integração

“No lugar onde eu estiver, na hora que for, a integração da América Latina para mim será uma profissão de fé. Porque não posso conceber que nascemos para ser pobres”. Ao lado do presidente peruano Ollanta Humala, o presidente Lula falou na manhã desta quarta-feira (5) a uma platéia de empresários e políticos peruanos e brasileiros na celebração dos 10 anos da Aliança Estratégica entre os dois países, firmada por Lula com o então presidente peruano Alejandro Toledo, em 2003.

“Sozinhos podemos ser mais rápidos, mas juntos podemos avançar mais longe”, resumiu o presidente peruano ao final de seu discurso. Humala lembrou que o Peru tem um grande potencial na agroexportação, mas não pretende vender apenas commodities, por isso está interessado também na transferência de tecnologia, para mudar o perfil do comércio peruano.

Lula e Humala comemoraram as conquistas desses últimos dez anos:

- o comércio entre Brasil e Peru passou de US$ 650 milhões em 2002, para US$ 3,7 bilhões em 2012;

- Desde 2012, praticamente todos os produtos peruanos entram no mercado brasileiro com alíquota zero. Em 2017, o mesmo deve ocorrer com produtos brasileiros vendidos ao Peru. 

- A integração física também avançou com a rodovia Transoceânica, que liga o Brasil ao litoral peruano, oferecendo uma alternativa de transporte de produtos brasileiros para o Pacífico e impulsionando a integração entre os dois países. Para Humala, o Peru é a saída natural do Brasil ao Pacífico e o Brasil é a saída natural do Peru ao Atlântico.

- Nos últimos 10 anos, Brasil e Peru tiveram mais encontros empresariais do que nos 280 anos precedentes.

O presidente peruano disse que um dos desafios é exatamente a violência, muitas vezes acompanhada do narcotráfico. Humala disse que a preocupação dos políticos deve ser por uma sociedade mais igualitária e, para isso adotou políticas de combate à pobreza, seguindo o exemplo de Lula no Brasil. Lula, por sua vez, disse que investir no pobre foi fundamental para o sucesso econômico do Brasil mesmo durante a crise internacional e que isso resulta em menos violência e mais cidadãos.

O papel dos empresários

Falando a uma platéia de empresários, Humala disse que seria loucura não apoiar os investimentos nessa integração. Lula disse que os presidentes deveriam sempre viajar com empresários, porque são eles que têm a capacidade de transformar as decisões dos governantes em coisas práticas. “Os empresários devem ter o papel de cobrar que aquilo que os presidentes assinaram está acontecendo”. (Com informações do Instituto Lula)

MP dos Portos: Dilma veta
emenda Tio Patinhas

“Tal modificação retira do Poder Executivo a prerrogativa de avaliar a conveniência e a oportunidade de cada prorrogação, prejudicando a sua capacidade de planejamento e gestão do setor portuário”



Saiu no G1:

Dilma sanciona MP dos Portos com 13 vetos


(…)

Justificativa para os vetos
Em mensagem ao presidente do Senado, Renan Calheiros, a presidente justificou o veto parcial ao projeto aprovado pelo Congresso alegando “inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público.”

Um dos pontos do texto aprovado pelo Congresso e vetado pela presidente foi o que estabelecia prorrogação automática, por mais 25 anos, dos contratos de concessão e arrendamento de terminais em portos públicos, perfazendo um total de 50 anos de concessão.
O texto original da medida provisória encaminhada pelo governo ao Congresso previa que essa prorrogação aconteceria “a critério do governo”, expressão que foi retirada durante a tramitação.


“Tal modificação retira do Poder Executivo a prerrogativa de avaliar a conveniência e a oportunidade de cada prorrogação, prejudicando a sua capacidade de planejamento e gestão do setor portuário e violando o princípio constitucional de Separação de Poderes”, diz a presidente no texto.

(…)



Veja aqui como foi o acordo que permitiu aprovar a MP.

E aqui para entender melhor a madrugada sangrenta na Câmara.
*PHA

Protógenes cita estudo que aponta uso indevido de área pública em fazendas de Daniel Dantas


José Mujica, presidente do Uruguai, sobre indicação ao Prêmio Nobel da Paz:

@[406640272742843:274:José Mujica], presidente do Uruguai, sobre indicação ao Prêmio Nobel da Paz:

“Estão loucos. Que prêmio da paz, nem prêmio de nada. Se me derem um premio desses seria uma honra para os humildes do Uruguai para conseguirem uns pesos a mais para fazer casinhas... no Uruguai temos muitas mulheres sozinhas com 4, 5 filhos porque os homens as abandonaram e lutamos para que possam ter um teto digno... Bom, para isso teria sentido. Mas a paz se leva dentro. E o prêmio eu já tenho. O prêmio está nas ruas do meu país. No abraço dos meus companheiros, nas casas humildes, nos bares, nas pessoas comuns. No meu país eu caminho pela rua e vou comer em qualquer bar sem essa parafernália de gente de Estado.”


“Estão loucos. Que prêmio da paz, nem prêmio de nada. Se me derem um premio desses seria uma honra para os humildes do Uruguai para conseguirem uns pesos a mais para fazer casinhas... no Uruguai temos muitas mulheres sozinhas com 4, 5 filhos porque os homens as abandonaram e lutamos para que possam ter um teto digno... Bom, para isso teria sentido. Mas a paz se leva dentro. E o prêmio eu já tenho. O prêmio está nas ruas do meu país. No abraço dos meus companheiros, nas casas humildes, nos bares, nas pessoas comuns. No meu país eu caminho pela rua e vou comer em qualquer bar sem essa parafernália de gente de Estado.”
*Revolucionarioseternamente

San Ernesto Guevara de La Higuera






Ele foi beatificado pelo povo sem a necessidade de trâmites legais.

Tem realizado milagres.

Capelas humildes construídas pelos fiéis.

Orações matutinas e vespertinas.

"nadie muere mientras se lo recuerde".

Estamos falando de San Ernesto Guevara de La Higuera.

El Che.

O Che que foi assassinado pela CIA quando, revolucionário, tentava libertar a Bolívia das garras do imperialismo.

Quis o destino que o soldado que disparou os tiros a queima roupa, enviasse recentemente uma carta ao comandante Fidel Castro agradecendo o tratamento que lhe dedicaram médicos cubanos que estão na Bolívia cuidando da saúde da população.

“Teria ficado cego não fosse um dos médicos cubanos que aqui trabalhavam” diz a carta que ele enviou.

O nome do soldado?

Mario Teran, que por mais de 30 anos dizia chamar-se  Pedro Salazar.

Mario Teran diz arrepender-se por ter obedecido a ordem de executar “el Santo Ernesto”, de quem ele também tornou-se devoto.

São inúmeros os milagres que San Ernesto tem realizado.

E continua realizando de acordo com os humildes moradores de La Higuera.

Assim foi a breve vida de Che Guevara, el San Ernesto, um ser humano que lutou por um mundo melhor, sem explorados e oprimidos.
      
                               TRIBUTO AL CHE


*Bourdokan

Isso é jornalismo?

 do  Bourdoukan

Não sei qual é o critério que atualmente a mídia utiliza para selecionar seus correspondentes do exterior.
Mas a Folha de S.Paulo está superando todas as expectativas.
Senão vejamos.
Todos sabemos como está a situação em Gaza.
Alguns dados repercutidos por inúmeros veículos de comunicação e por este blog.
Israel continua mantendo os habitantes de Gaza num campo de concentração.
A eles é proibida a locomoção.
Diariamente mísseis, aviões, tanques e helicópteros fazem dos palestinos seus alvos.
Sem discriminação de idade ou gênero.
Os hospitais não possuem medicamentos.
Água potável nem pensar.
Mais de 500 mil oliveiras aniquiladas.
Material de construção, nem pensar.
Alunos são presos, escolas destruídas numa tentativa de extinguir a História da Palestina.
Crianças são presas e não poucas vezes sofrem violência sexual.
E poderia enumerar milhares de outros atos de violência, mas creio que estes são mais do que suficientes para atrair a atenção de qualquer jornalista.
Menos o da Folha cuja única preocupação foi o fato de um cabeleireiro não poder cortar mais o cabelo de mulheres.
O culpado por essa proibição? O Islamismo.
Nem o mais radical sionista conseguiria fazer melhor.
Se não bastasse a esse agente da Folha endossar o coro da desumanização dos palestinos, resolveu agora ofender a religião.
Deprimente.
Lei AQUI o que esse “jornalista” escreveu.
E abaixo o que ele não conseguiu enxergar.

*GilsonSampaio