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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, fevereiro 23, 2014

Charge foto e frase do dia






























































































CONHECER A SI MESMO - Laercio Fonseca

http://www.youtube.com/watch?v=S31Ddm0Mb6U&feature=em-uploademail

Golpe de estado derruba presidente da Ucrânia; neonazistas a um passo do poder

Ukrainian Insurgent Army, onde já vimos isso antes? 
Parlamento destitui Yanukovich e convoca eleições na Ucrânia
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O Parlamento ucraniano destituiu neste sábado (22) o presidente do país, Viktor Yanukovich, por "abandono de suas funções constitucionais" e convocou eleições presidenciais antecipadas para o dia 25 de maio.

Mais cedo –por volta das 16h10 locais e 11h10 no horário brasileiro–, Yanukovich foi à televisão para dizer que não tinha a intenção de renunciar. Durante discurso exibido pelo canal "UBR" –que acredita-se ter sido feito da cidade de Kharkiv, no nordeste do país–, ele denunciou um "golpe de Estado".

"Há um golpe de Estado no país", declarou. "Não tenho a intenção de apresentar minha demissão. Sou um presidente eleito legitimamente. Não tenho a intenção de sair do país", completou Yanukovich, que também disse que as decisões do Parlamento são "ilegítimas".

Em Kiev pela manhã, manifestantes tomaram o escritório de Yanukovich e declararam a ocupação de todos os edifícios da administração oficial. O policiamento ostensivo também deixou as ruas da capital do país.
Volodymyr Rybak, líder do Parlamento e aliado de Yanukovich, renunciou e foi substituído por Oleksander Turchynov, próximo da opositora Yulia Timoshenko.
*http://esquerdopata.blogspot.com.br/

"Mulata é uma palavra que tem raíz na palavra mula

via GabyGuaraniKaiowa
Racismo e machismo, reflexão interessante nesse período que antecede o carnaval.A Globeleza não nos representa!


"Mulata é uma palavra que tem raíz na palavra mula, do latim mulus designando diretamente o animal mestiço de quatro patas. A mula é o produto resultante do cruzamento do cavalo com a burra, ou seja, passou a aplicar-se ao filho do homem branco com a mulher negra. Já pararam para pensar por que a mulher negra só aparece na televisão apenas em dois momentos? Ou ela é escrava/doméstica, ou é mulata no carnaval e nessas duas visões ela está sendo colocada a serviço do homem branco. . A carne mais barata ainda é a nossa, a carne do deboche, do comércio ilegal, a carne que é alvo das balas “perdidas”, que coincidentemente tem sempre um destino certo, ainda é a carne negra. O nosso carnaval não é só festa porque ainda vivemos em um sistema que mercantiliza nossas vidas, nosso corpo e nossa sexualidade. Sendo assim, e entendendo que esse mesmo sistema se vale do racismo, machismo e tantas outras formas de opressão existentes em nossa sociedade, não comemoramos nem um pouco ao ver os corpos de outras mulheres negras sendo expostos em uma “competição” em rede nacional.

A Globeleza representa a nossa exploração, representa o quanto ainda nos tratam como se só fossemos feitas para o sexo e para demonstrar, dentro da sociedade, o selvagem, o folclórico. Ela representa o controle que a mídia branca e machista obtém sobre os nossos corpos, mas não se deixem enganar, “não deixe que te façam pensar que o nosso papel na pátria, é atrair gringo turista interpretando mulata.” Por isso buscamos escurecer/esclarecer aqui esse assunto que tanto nos atinge, a Globeleza não nos representa! Não aceitamos essa imagem, não somos o que essa mídia racista diz, não somos mais escravos e não aceitamos esse papel. — com Coletivo Negração"
A Globeleza não nos representa!

Mulata é uma palavra que tem raíz na palavra mula, do latim mulus designando diretamente o animal mestiço de quatro patas. A mula é o produto resultante do cruzamento do cavalo com a burra, ou seja, passou a aplicar-se ao filho do homem branco com a mulher negra. Já pararam para pensar por que a mulher negra só aparece na televisão apenas em dois momentos? Ou ela é escrava/doméstica, ou é mulata no carnaval e nessas duas visões ela está sendo colocada a serviço do homem branco. . A carne mais barata ainda é a nossa, a carne do deboche, do comércio ilegal, a carne que é alvo das balas “perdidas”, que coincidentemente tem sempre um destino certo, ainda é a carne negra. O nosso carnaval não é só festa porque ainda vivemos em um sistema que mercantiliza nossas vidas, nosso corpo e nossa sexualidade. Sendo assim, e entendendo que esse mesmo sistema se vale do racismo, machismo e tantas outras formas de opressão existentes em nossa sociedade, não comemoramos nem um pouco ao ver os corpos de outras mulheres negras sendo expostos em uma “competição” em rede nacional.

A Globeleza representa a nossa exploração, representa o quanto ainda nos tratam como se só fossemos feitas para o sexo e para demonstrar, dentro da sociedade, o selvagem, o folclórico. Ela representa o controle que a mídia branca e machista obtém sobre os nossos corpos, mas não se deixem enganar, “não deixe que te façam pensar que o nosso papel na pátria, é atrair gringo turista interpretando mulata.” Por isso buscamos escurecer/esclarecer aqui esse assunto que tanto nos atinge, a Globeleza não nos representa! Não aceitamos essa imagem, não somos o que essa mídia racista diz, não somos mais escravos e não aceitamos esse papel.
A Globeleza não nos representa!

"Pena de Azeredo está prescrita. O crime perfeito !"




Azeredo não é preto, pobre, p… nem petista !


Do Conversa Afiada - 23/04/2014

Informa a Folha (*), na página A14, que “possível pena de Azeredo pode estar prescrita”. 

É que “se não houver nenhuma sentença até setembro de 2018, quando ele completa 70 anos, estará livre de todas as acusações mesmo que venha a ser condenado à pena máxima.” 

Independente de ser julgado no Supremo – o que não vai acontecer – ou na acolhedora Primeira Instância de Minas. 

Outro acusado no mensalão tucano, Walfrido Mares Guia, já se beneficiou da prescrição. 

Os outros, como se sabe, foram destinados à Primeira Instância de Minas, porque, direto ao Supremo, mesmo sem privilegio de foro, só o Dirceu, o Genoino, o Delubio e o Duda Mendonça. 

Viva o Brasil ! 

Clique aqui para ler sobre o partido que poderia receber o Presidente Barbosa, segundo científica pesquisa do Datafolha . 

Paulo Henrique Amorim

PM Ninja prende 230 black blocs em São Paulo



"Protesto do #nãovaitercopa mais uma vez descamba para a violência nas ruas da capital paulista; lixeiras, orelhões e agências bancárias foram depredados por integrantes do grupo radical; oito pessoas se feriram durante confrontos entre policiais de batalhão especializado em artes marciais e manifestantes ocorridos no centro; cinco ônibus conduziram os detidos para distritos policiais, onde após triagem parte dos presos foi autuada e depois liberada 

Brasil 247
O cerco da Polícia Militar de São Paulo aos Black Blocs na manifestação de sábado (22) resultou na prisão de 230 pessoas durante manifestação ocorrida na capital. 

A corporação utilizou pela primeira vez o chamado Batalhão Ninja, com soldados especializados em artes marciais, e isolou o grupo radical dos demais manifestantes. 

Houve confronto, muita confusão e oito feridos, entre eles uma jornalista do jornal O Estado de S. Paulo. Durante a madrugada, boa parte dos detidos levados para sete distritos policiais foi liberada.

A manifestação, chamada Não Vai Ter Copa, que reuniu cerca de mil pessoas, começou às 16 horas e transcorreu pacificamente até as 19h30, quando a polícia entrou em ação diante de atos de vandalismo na Rua Xavier de Toledo, no centro da capital paulista. Os policiais separaram os manifestantes em dois grupos e imobilizou os vândalos com golpes de artes marciais e de cassetetes. Os arruaceiros foram retirados um a um.

Durante a ação policial, black blocs correram para o Viaduto do Chá, onde quebraram lixeiras, agências bancárias e orelhões. Os PMs foram atacados com paus e garrafas. Segundo a corporação, parte dos detidos portava máscaras, sprays, estilingues, bolas de gude e correntes. Um segundo grupo voltou à Praça da República, onde se iniciou o protesto e caminhou sem maiores problemas até a Rua da Consolação.

Na sequência, 50 manifestantes foram cercados e detidos no Vale do Anhangabaú. Os presos foram distribuídos em sete distritos policiais, onde foi definido quem seria autuado em flagrante por vandalismo. Cinco jornalistas que estavam trabalhando foram parar nas delegacias."
*cutucandodeleve

         SENTIR-SE OFENDIDO

Rodrigo César Dias
SENTIR-SE OFENDIDO

Os religiosos vivem ofendidos com as zombarias dos ateus, mas eles nunca se perguntam se as suas crenças e suas práticas ofendem os outros. Por isso, vou enumerar os casos em que eu me sinto ofendido pela religião – casos relacionados apenas ao estupro.
Eu me sinto ofendido quando vejo Deus ensinando, em Deuteronômio (22,23-24), que, se uma mulher for estuprada e não gritar, ela e o agressor devem ser levados à porta da cidade e apedrejados até a morte.
Eu me sinto ofendido quando o papa vem ao Brasil e os católicos saem às ruas para saudá-lo, porque a Igreja Católica é uma instituição que sabidamente acoberta predadores sexuais. E quem sai às ruas para reverenciar o chefe dessa instituição, quer admita ou não, ajuda a financiar moralmente a pedofilia clerical.
Eu me sinto ofendido quando os evangélicos tentam associar a pedofilia à homossexualidade, porque isso é um desserviço à sociedade, na medida em que sabota a profilaxia necessária para evitar novos casos de abuso sexual. Se todo agressor sexual é um homossexual, por que uma mãe deveria desconfiar de um Joseph Frietzl, que era heterossexual?
Eu me sinto ofendido quando um espírita sugere que uma criança foi molestada nesta vida porque numa vida passada ela própria foi uma violadora. Para mim, isso não passa de uma tentativa refinada de transferir a culpa para a vítima, tática muito usada por estupradores. Qual a diferença entre dizer que uma mulher foi violentada porque usava uma saia curta e dizer que uma criança foi molestada porque em outra vida ela cometia crimes sexuais?
Eu também me sinto ofendido quando um mulçumano de setenta anos se casa com uma menina de nove para imitar o exemplo do profeta Maomé, e quando, num ritual judaico de circuncisão, um rabino enfia a boca no pênis mutilado de um recém-nascido para sugar-lhe o sangue.
Agora eu pergunto a todos esses que, sentindo-se ofendidos com galhofas ateístas, julgam-se no direito de prender, censurar, processar e decapitar: posso pagar a ofensa de que sou vítima empregando os mesmos métodos que vocês usam? Se sim, a quem devo prender? A quem devo processar? De quem devo tentar extorquir uns trocados? A cabeça de quem devo separar do tronco? Que corpos devo explodir? 
*http://www.euracional.com.br/index.php/religiao/item/135-sentir-se-ofendido

sábado, fevereiro 22, 2014

Uma metamorfose ambulante: A identidade em tempos líquidos*



Por Cristiano Bodart

Quando Raul Seixas trouxe a música “Metamorfose ambulante”, em 1973, provocou em seus ouvintes uma reflexão bastante pertinente: o caráter metamórfico da percepção da realidade e, consequentemente, da identidade.

Raul, conhecido por sua oposição ao modo de vida da sociedade ocidental, questionou, por meio dessa música, a ideia de que precisamos ter um pensamento petrificado em relação a realidade social e, consequentemente, termos uma identidade fixa, imutável. Embora todos tenhamos identidades em mutações, a referida música nos provoca uma reflexão bastante interessante.


Um estudioso do tema “identidade”, Stuart Hall, nos indica que a identidade não é algo estático, tratando-se de “uma celebração móvel”, portanto “formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam”. Para esse estudioso, nós, em meio ao mundo moderno marcado por múltiplas influências, tendemos a assumir identidades variadas de acordo com o momento. Nossas identidades são construídas a partir da influência de nossas experiências sociais cotidianas. Como nossas experiências se dão em um fluxo contínuo, nossa identidade será uma “metamorfose ambulante”.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman bem apresentou em seu livro “Modernidade Líquida”, que vivenciamos um período de grande fluidez, marcado por rápidas mutações. Se a identidade é formada pelos contatos sociais que temos e este têm sido cada dia mais superficiais e transitórios, consequentemente estaremos sujeitos a sermos influenciados em nossa forma de pensar e agir, metamorfoseando nossa identidade.

A posição de Raul Seixas de optar por ter uma identidade metamórfica ambulante parece não ser uma opção no presente século, se é que era na década de 1970. Não há opção, somos uma metamorfose ambulante!

A identidade é o conjunto de tudo que eu vivencio como sendo eu em contraponto àquilo que percebo ou anuncio como não-eu. A identidade é marcada pela diferenciação em relação aos outros indivíduos. Porém, estando inseridos em um contexto social, acabamos influenciados por ele, o que nos torna, em certa medida, iguais. Estamos atrelados a um “universo social”, o que nos permite termos uma identidade social, étnica, religiosa, etc.

É importante mencionar que como não fazemos parte apenas de um grupo social e que podemos adquirir características desses diversos grupos, os quais estamos integrados, e essas características se manifestarão, ou não, em determinados contextos. Mais uma vez identificamos que somos uma metamorfose ambulante e que não temos uma “velha opinião formada sobre tudo”. Por ora, aponto essa reflexão em torno do tema identidade e, de antemão, peço que não estranhe se eu, amanhã, querer dizer “o oposto do que eu disse antes”… isso por que “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”.


*cafécomsociologia
Teatro anárquico-dionisíaco de Zé Celso M. Corrêa
Jardel Dias Cavalcanti




Um presente divino para os amantes do teatro é a caixa Festival Teat(r)o Oficina, com gravações em DVD de quatro peças dirigidas por José Celso Martinez Corrêa. As obras são Boca de Ouro (Nelson Rogrigues), Cacilda! (Zé Celso), Bacantes (Eurípedes) e Ham-Let (Shakespeare).

Para quem não teve a oportunidade de ver no calor da hora as criações de Zé Celso, esta é uma oportunidade única, que deve ser louvada. Um empreendimento cultural desta força e dimensão não pode ficar longe das escolas de teatro, dos amantes da arte, de quem quer entrar em contato com uma das maiores forças vivas do teatro brasileiro: Zé Celso e sua Companhia.

Nestas peças encontra-se o espírito do teatro de Zé Celso. Criador avesso às macaqueações do teatro burguês, o diretor retoma a ideia do teatro-templo das forças dionisíacas. Reunindo todas as forças místicas, musicais, culturais dotadas de apelo irracional, Zé Celso cria suas obras a partir de uma prática que nos faz pensar em antigos rituais pagãos, no carnaval, nas festas das colheitas regadas a vinho e bacanais.

Mobilizando o espírito herético das músicas afro, do rock, do samba, do brega, seu teatro operístico-anárquico transforma corpos, cenários, textos e público em partícipes de um ritual profundamente imaginativo, emotivo, festivo e, se se quiser, transcendente. E a música é um dos elementos principais desse teatro. A música, como sabemos, mobiliza nossa consciência e inconsciência sem a necessidade do conceito. Pela música somos tomados e arremessados em regiões nas quais o controle da razão não pode operar. Wagner sabia disso. Nietzsche mais ainda. Os românticos, então, se alimentavam basicamente disso, ao ponto de sugerirem uma poesia que fosse, ela também, música.

No teatro de Zé Celso, a música é a ponte entre a fala poética, a liberação dos corpos e o andamento do enredo (ou antienredo, o que seria mais fiel no caso). É na música e em seus compassos que se esquadrinham os altos e baixos da emoção das peças. Todos os atores cantam, pois participam do drama como coautores com a particularidade de suas vozes, de seus timbres, de seus gestos. E os corpos dançam ao sabor das músicas, quase nunca se mantendo estáticos sob a vibração de um blues, rock, reggae ou samba. Tornam-se, na verdade, uma metáfora viva do movimento cósmico engendrado por este teatro-ritual. Colocam a existência em movimento e criam a realidade concreta do fluxo da vida.

Zé Celso não procura respeitar academicamente os textos dos quais se serve. A ebulição criativa de sua mente distorce as falas, acrescenta ideias, refaz percursos, reescreve os autores, anima-os com uma saraivada de contemporaneidades sem prejudicar sua existência histórico-temporal. O Oficina reanima textos como se reanimasse corpos, tornando-os mais brilhantes, instigantes, desejados. Não poderia ser diferente num teatro que pretende refundar a energia da vida a cada nova atuação. Um teatro que não veio para adoçar o perfume da burguesia que consome cultura como mais um produto conformista que seu capital pode pagar.

O ideal anárquico de Zé Celso e sua trupe é o de produzir a combustão, o incêndio, o rito criador-destruidor sonhado por Bakunin. E esse componente básico da alquimia do Oficina é que renova a dramaturgia brasileira e internacional, muitas vezes consumida por protótipos decorativos ou vanguardismos frios pra lá de caquéticos.

Não que o teatro intelectual, o engajado, o existencial-absurdo-pessimista ou outra coisa não possa existir, mas faz-se necessário a existência de um teatro que desestruture as certezas ao mesmo tempo instaurando os ritos do "sim à vida" nitezscheniano e reichiano. Um teatro que seja anticlássico, anticartesiano, antiaristotélico. É preciso que a inssurreição das fontes irracionais da criação tomem corpo e que o corpo dos atores e do público tornem-se fonte de paixão para que "a estrela bailante" possa ressurgir a cada novo rito.

A ideia de um teatro dos oprimidos vai por água abaixo com as explosões viscerais de Zé Celso, que impõe Eros contra Thanatos, que impõe a arte contra a vida petrificada.

Talvez seja em Bacantes que se possa encontrar a metáfora mais perfeita para todo o teatro de Zé Celso. A presença sedutora de Dionisius, que faz vibrar o desejo e o delírio, faz oposição à morte em vida dos corpos congelados, armados e sem emoção dos seguidores/empregados de Penteu. O Oficina encarna esse espírito dionisíaco. E a joyceana ― palavra "tragycomédiorgia" ― pode definir melhor que qualquer outra a postura criativa e existêncial do Oficina e toda a sua história por consolidar um teatro sem a caretice da classe média culpada ou da prepotência antierótica e destruidora da classe alta.

Em entrevista à IstoÉ, em 1996, quando da primeira apresentação de Bacantes, Zé Celso comentou sua peça: "Tentei fazer uma ópera brasileira de Carnaval. Recuperar a enorme riqueza do musical nacional, que vem da época de Arthur de Azevedo e que não é esta coisa mecânica, importada da Broadway. Mas que mistura a música brasileira, que tem uma ligação com o amor, a paixão, a religião, o rito, o Carnaval, com a coisa meio improvisada brasileira, suprida pela cena teatral feita ao vivo, sem dinheiro. Dionísio é o deus que se bebe, que se come. É o deus do vinho, das plantas, o deus da maconha, da ayahuasca. O deus de todos estes prazeres que são proibidos e temidos na sociedade global, aqueles prazeres que despertam a mente e o desejo".


Desde a peça O rei da vela, de Oswald "Canibal" de Andrade, dirigida por Zé Celso, o Oficina tem injetado coragem, rebeldia e atitude contra um mundo sem opinião, formatado em ditaduras inescrupulosas. Agora, o Oficina reinvindica para si e para todos o direito ao delírio, ao erotismo, às paixões criativas da arte em oposição a esse mundo ascético, tomado pela ideologia do bom e medíocre comportamento classe mérdia de shopping center que transforma o ser humano numa dócil e embotada máquina de consumir lixo industrial.

As peças do Oficina reanimam forças latentes, dialetizando-as em pulsões alegres e trágicas, no riso solto, nos corpos livres e numa concepção prá lá de libertária do que seja o teatro. Vida eterna para Zé Celso e o Oficina!


Para ir além
Site do Teatro Oficina


*NadiaStabile