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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 10, 2014

praticar

Frederico Mattos
“Vai dar o cu q vc ganha mais, vai estudar caralho, elogiar essa puta deveria ser crime inafiançável…” –Comentário no Youtube retirado do ar

“Tomara que você sofra muito! Beijos, seu otario.” Disqus Papo de Homem
“Vai dar meia hora de bunda com o relógio parado.” Youtube de garoto que sofre por homofobia (outro comentário apagado)
“Porra gente, para de ser escrota e julgar as pessoas que vocês não conhecem. Sério, escrotíssimo.” Instagram do Pc Siqueira de uma garota que o defende usando da mesma agressividade
* * *
O que todas essas frases tem em comum? Elas parecem desconsiderar completamente para quem estão dirigindo sua mensagem e os efeitos que terão sobre o seu alvo.
Quando leio esse tipo de comentário me sinto triste. Pois espero consideração, empatia e compaixão quando alguém se dirige a outra pessoa – mesmo que seja para discordar de algo significativo.
Mesmo o quarto comentário citado acima que pretende defender algum tipo de ataque acaba por alimentar a agressividade que emerge no contexto. Ao invés de considerar as reais intenções por trás do que está sendo dito – busca por atenção e validação social; supostamente preservar algo que consideram positivo na vida do PC Siqueira (ainda que ele não tenha pedido esse tipo de assessoria).
Esses discursos sinalizam uma violência cotidiana, que perpetuamos inconscientemente.
Quero explicar de forma cuidadosa quais os efeitos que esse tipo de desconsideração pelos outros causa nas nossas relações.
“Não pense que o que diz é empatia. Assim que pensa que o que diz é empatia, estamos distantes do objetivo. Empatia é onde conectamos nossa atenção, nossa consciência, não o que falamos.” – Marshall Rosenberg

A violência silenciosa

Podemos passar uma vida inteira com uma sensação de vazio, vivendo de forma apática, fria e superficial, mas completamente crédulos de que está tudo bem.
Muitas pessoas passam uma vida inteira se comunicando de maneira desconsiderada ou até mesmo violenta, sem que se deem conta disso. Acabam, por consequência, não estabelecendo relações significativas e íntimas e acham que está tudo bem, que é assim mesmo.
Como resultado, podem surgir camadas internas de ressentimento, raiva e frustração, pois a pessoa nunca se sente realmente parte de algo enriquecedor.
A definição de Comunicação Não-Violenta(CNV) nos diz que ela:
“…é baseada nos princípios da não-violência – o estado natural de compaixão quando a não-violência está presente no coração.
CNV começa por assumir que somos todos compassivo por natureza e que estratégias violentas – se verbais ou físicas – são aprendidas ensinadas e apoiadas pela cultura dominante.
CNV também assume que todos compartilham o mesmo, necessidades humanas básicas, e que cada uma de nossas ações são uma estratégia para atender a uma ou mais dessas necessidades.”
Fonte
Quando tomei contato com o trabalho de Marshall Rosenberg e a Comunicação Não-Violenta (CNV) em 2006, percebi que muitos dos problemas que atravessamos nos relacionamentos pessoais e profissionais poderiam ser resolvidos se tivéssemos a habilidade de criar uma comunicação cheia de empatia e compaixão, fundamentada na ideia de uma vida mais rica e harmoniosa com os outros.
Link Youtube

Origem da CNV

“A não-violência significa permitirmos que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos dominados pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com os outros em vez de sermos pelas atitudes egocêntricas, egoístas, gananciosas, odientas, preconceituosas, suspeitosas e agressivas que costumam dominar nosso pensamento. (…) O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele” - Arun Gandhi (neto de Gandhi e fundador do Instituto Gandhi pela Não-violência)
Quando o psicólogo americano Marshall Rosenberg tinha 9 anos precisou ficar trancado por 3 dias em casa com sua família por conta de um conflito racial que eclodiu na sua vizinhança, em Detroit, culminando na morte de quarenta pessoas.
Já formado, começou a pesquisar os fatores que afetam a capacidade humana de se manter compassivo. Por conta disso, caiu imediatamente no papel crucial da linguagem e do uso das palavras e desenvolveu uma abordagem específica de comunicação (falar e ouvir) – que permita uma conexão maior entre as pessoas para que a compaixão possa emergir, mesmo em situações críticas.
Ele vem realizando um trabalho de conscientização em mais de 65 países, proferindo palestras em locais de conflito e guerra como na Cisjordânia, Ruanda, Croácia e Belgrado.
No entanto, a comunicação não-violenta pode ser aproveitada por todas as pessoas, não somente aquelas que lidam com situações de conflito ou que atravessam um impasse com alguém significativo.
Ela exige bastante prática, esforço, paciência, dedicação e envolvimento genuíno.

Objetivo da Comunicação não-violenta

“O que almejo em minha vida é compaixão, um fluxo entre mim e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.” –Marshall Rosenberg
A CNV essencialmente busca a pacificação de uma guerra cotidiana, já que nos habituamos a expressar o que queremos de forma impositiva e desatenta.
É muito comum as pessoas expressarem certo tédio, tristeza, raiva ou frieza no dia-a-dia, sem notar que cultivam uma nociva desconexão e lentamente passam a não ver sentido em suas conversas, encontros e eventos sociais.
Apesar de sentirem um clima de cinismo, falsidade e hipocrisia generalizada, essas pessoas não conseguem identificar em si mesmas a alienação emocional que condenam nos outros.
A CNV tem o objetivo de resgatar o que há de mais genuíno nas pessoas: suas emoções, valores e a capacidade de se expressarem com honestidade, ajudando os outros com real empatia – ou seja, mergulhando nas verdadeiras necessidades do outro e não em sua vontade de parecer altruísta.

As motivações ocultas da comunicação

“A arte de fazer a vida significativa e bela, o que envolve a descoberta de conexões entre o que parece não ter conexões, unindo pessoas e lugares, desejos e memórias, através de detalhes cujas implicações passaram despercebidas.” –Theodore Zeldin
Ao conversar sobre qualquer assunto o que mais idealizamos, sem saber, é criar algum tipo de troca e escuta saudável. Ninguém quer um relacionamento truncado, aflitivo e cheio de problemas.
Muitas vezes não conseguimos e aumentamos o abismo psicológico entre nós e os outros.
Usamos termos agressivos, palavrões, ataques desproporcionais, acusações e trocas de argumentos falaciosos para chegar ao final de uma conversa com a sensação de soberania.
Basta reparar como as pessoas falam com suas mães, alvo usual de descarga emocional. O resultado de longo prazo é que depois de muito tempo de convívio já não sentimos aquela vibração ou conexão inicial estimulante.
A comunicação usual que estabelecemos é cheia de ruídos, vindos também de uma dificuldade pessoal em se abrir de forma vulnerável e em atingir a pessoa na necessidade delicada de ser apreciada.

Velhos hábitos, grandes danos, raízes profundas… compaixão

“Para além das ideias de certo e errado, existe um campo. Eu me encontrarei com você lá.” –Rumi
A maioria das bases educacionais e morais que conhecemos é violenta. Ao estabelecer noções rígidas de certo e errado, estabelecemos também as ideias implícitas de mérito e punição.
A educação formal, familiar e a cultura ( educação) nos arrastam para julgamentos moralizadores como culpa, insulto, depreciação, rotulação, crítica, comparação e diagnósticos, ou seja, uma linguagem rica em palavas que classificam e separam as pessoas e seus atos em dois grupos: os privilegiados e os excluídos.
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Comentários que resultaram no texto “Por que transformamos tudo em zoeira?”
Essa linguagem de coerção, ameaças e chantagens faz com que as pessoas expressem cada vez menos boa vontade, ainda que se submetam aos valores expostos.
Pois ao aceitá-los, internalizaram também culpa, medo, ressentimento e vergonha.
Ou seja, mesmo que os valores apresentados sejam coerentes, as pessoas tendem a se afastar deles ou de sua origem, pois foram impostos.
Nossa linguagem habitual vem dos mesmos locais, compartilha dessa raiz que busca dominar e convencer. E não se conectar e se relacionar.
Mais, nossa linguagem usual também tende a nos esconder da responsabilidade por nossas ações, nos desconectando de nossos atos e das pessoas em volta.
Alguns exemplos nos quais ameaçamos e chantageamos:
“Eu fui com você aquele dia numa festa e agora você se nega a ir comigo. De verdade, só nunca mais peça nada para mim!”
“Eu sou sua mãe e sei o que é melhor para você. Se fizer isso causará uma decepção profunda no meu coração”
Exemplos nos quais não assumimos a responsabilidade:
“Não tinha como fazer diferente, meu chefe me obrigou.” (autoridade)
“Fiz isso porque me deu tesão, sou uma pessoa muito instintiva.” (justificado por impulso)
“Sou assim por causa da minha infância/mãe/pneumonia/depressão.” (condição psicológico ou patológica)
“Bati nele porque me procovou.” (ação do outro)
* * *
Gostaria de apresentar as principais ferramentas que a CNV oferece, e que certamente são muito mais que técnicas para manipular situações de guerra, conflitos internacionais ou brigas de gangues, apesar de serem extremamente úteis nessas situações-limite.
Para facilitar o processo de comunicação, Marshall Rosenberg identificou 4 componentes para diminuir a nossa posição defensiva e criar um espaço receptivo aos outros.

Os quatro componentes da comunicação não-violenta

1. Como se expressar com honestidade
1.1. Observar: de maneira descritiva e não julgadora
Aparentemente nos consideramos ótimos observadores da realidade, mas não percebemos a sutil diferença em afirmar, “fulano é um babaca” e “quando fulano fala alto e usa xingamentos me sinto acuado e com medo”.
No primeiro caso, estamos fazendo uma observação carregada de adjetivos que transformam um retrato particular numa história taxativa de como uma pessoa age se detendo nas aparências, sem oferecer empatia.
Além do mais, o autor da frase negligencia sua profunda necessidade e reage ao que sente diante daquela ação e despeja sobre o outro sua fúria.
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A observação da CNV procura descrever o fato sem generalizações ou exageros linguísticos como “sempre”, “nunca”, “jamais”.
Exemplo:
– Porra, cara, você nunca vem nas minhas festas, hein!
Seria, pela CNV:
– Porra, cara, você só veio duas vezes esse ano nas minhas festas. E sinto saudade da sua presença!
É quase uma linguagem textual que coloca a comunicação num nível bem próximo do que aconteceu.
Ao contrário do julgamento que cria uma reação defensiva e cheia de culpa, a avaliação tem o efeito de aproximar as pessoas porque não taxa ou fecha alguém num adjetivo.
Além do mais, evita o discurso carregado de culpa, merecimento ou punição que tanto utilizamos ao avaliar uma pessoa.
1.2. Sentimento: como nos sentimos em relação ao que estamos observando?
Nosso repertório sentimental é muito escasso, normalmente expressamos sentimentos como “um troço no peito” ou “sinto como se você me odiasse”. Nos dois casos não há nenhuma descrição efetiva de sentimento.
No primeiro, falamos de uma sensação física inespecífica e no segundo falamos de um pensamento seguido de um julgamento sobre o outro.
Talvez fosse mais exato falar em “me sinto angustiado” ou “me sinto triste quando diz que vai embora de casa”.
Além do pouco que conhecemos sobre sentimentos, ainda existe o agravante de os considerarmos um sinal de fraqueza.
A CNV estimula uma forma de expressão reveladoramente emocional, mesmo que se corra o risco de ser visto como fraco. Dialogar a partir de um sentimento desarma uma contra-reação hostil.
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Como rebater alguém que acabou de expressar que se sente triste diante de nossa desonestidade? Poderíamos tentar justificar alguma coisa, mas o sentimento do outro ainda estaria lá diante de nós.
Exemplo de uma namorada falando com seu parceiro:
– Ontem você me contou para onde tinha ido com seus amigos e logo depois eles me enviaram um torpedo dizendo que estão com saudades [fato descritivo]. Me sinto muito desestimulada e triste [sentimento] a seguir no relacionamento dessa forma, na qual as informações são desencontradas e contraditórias [sem acusação, só um retrato]. Portanto, peço que seja mais claro e honesto [necessidade profunda] ao falar sobre suas intenções quando sai de casa sem mim [pedido específico de um comportamento, não genérico].
Nossos sentimentos resultam de como escolhemos receber as ações e falas dos outros.
Segundo a CNV, podemos reagir de quatro formas a uma mensagem negativa – a algo como “você é um egoísta”:
a) Culpar a nós mesmos. Quando tomamos algo como pessoal e com isso diminuimos o valor do que fizemos com uma aparente autoreflexão, que não vai muito além do martírio.
A reação seria:
“Oh, me perdoe, eu deveria ser mais sensível, que estúpido que eu fui.”
Aparentemente isso parece sensato, mas o custo disso é a agressividade dessa postura consigo mesmo, não há o que ser feito após uma condenação dessas, a pessoa usa de linguagem violenta ao se punir. Esse hábito normalmente é estendido para os outros.
b) Culpar os outros. Aqui tentamos reverter a culpa sobre a outra pessoa.
“Você está sendo implacável comigo, tenho me dedicado tanto a esse relacionamento!”
Nesse caso, além de não abrir espaço para ouvir o que a pessoa diz, ainda estabelecemos barreiras para que se continue o diálogo. Ao pedir que o outro nos entenda, estamos pouco próximos da dor que ela sente ao nos chamar de egoísta, reage-se com uma nova postura de quem só pensa em si mesmo.
c) Escutar nossos próprios sentimentos e necessidades. Aqui já criamos uma maior consciência de nossos sentimentos pessoais sobre aquele fato específico.
“Quando diz que sou egoísta me sinto constrangido comigo, pois sinto necessidade de ser querido e apreciado por você e ouvir isso me faz refletir.”
d) Escutar os sentimentos e necessidades dos outros. Aqui viramos o foco para o que a outra pessoa necessita e nos pede (sem saber que pede).
“Quando diz que sou egoísta imagino que queira mais consideração com suas vontades e preferências, é isso?”
Nesse caso, poderia parecer um ato de condescendência, mas esta rotularia o outro como fraco, quando nesse caso estou tentando clarear as expectativas do outro em relação a mim para abrir a conversa sem contra-ataques.
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* * *
O ponto crucial em lidar com conflitos é assumir 100% de responsabilidade por nossos sentimentos, pois as situações externas e pessoas são apenas gatilhos para reações internas hostis.
Sempre temos plena liberdade para reagir de formas diversas. Afirmar que “bati em você porque me provocou” é uma forma de isenção de responsabilidade.
Seria mais preciso dizer “bati em você porque cedi a raiva diante do que falou”.
1.3. Necessidades: quais valores e desejos geram nossos sentimentos?
Quando nos comunicamos a partir de nossas necessidades, sentimentos e desejos, temos mais chance de ser atendidos do que quando usamos julgamentos e avaliações.
Se queremos uma reação compassiva devemos oferecê-la primeiro.
Julgar é dar um tiro no próprio pé, cria fechamento e reatividade.
Ao invés de pensar no que está errado na situação ou na pessoa, podemos pensar sobre quais necessidades queremos ver atendidas. São muitas as necessidades ocultas que carregamos. E as reivindicamos sem notar que fazemos, mas de uma maneira que não fica claro para quem fala e quem ouve.
Autonomia, lazer, celebração (luto, festa), integridade (honestidade, sinceridade, escolha, autenticidade), comunhão (aceitação, calor humano, compreensão, admiração, empatia, encorajamento), necessidades físicas (sono, fome, frio, movimento físico, toque, espaço, saúde), conexão (mutualidade, consideração, integração, confiança, abrigo), enlevamento (alegria, inspiração, harmonia), pertencimento (inclusão, igualdade, contribuição, respeito, compreensão) aprendizagem, paz, diversidade, criatividade, iniciativa, facilidade, comunidade, liberdade, beleza, suporte, presença, cuidado, bem-estar, proteção, clareza, estabilidade, ordem, independência, expressão sexual.
Essa lista de necessidades não é nem exaustiva, nem definitiva. Destina-se como um ponto de partida para apoiar quem deseja envolver-se em um processo de aprofundamento da autodescoberta e facilitar uma maior compreensão e conexão entre as pessoas.
A lista seria enorme, mas o importante é você identificar e ter clareza do que precisa para que o outro tenha chance de reforçar e valorizar isso.
1.4. Pedidos: claros e específicos
Aparentemente conseguimos forçar as pessoas a fazerem coisas que sejam de nossa vontade, principalmente quando um pedido oculta uma exigência ameaçadora. Mas isso tem um preço.
Uma exigência implica que a pessoa se submeta ou se rebele e isso afasta os outros de uma conexão genuína. Afinal, se ela recusa a exigência corre o risco de ser punida.
Quando fazemos pedidos claros e específicos temos mais chance de ser atendidos. A primeira dica é falar de modo que deixe claro o que você quer e não aquilo que não quer.
“Não quero que grite” é um não-pedido. Seria melhor pedir “que fale num tom mais baixo”.
Ao invés de dizer “não quero que me deixe sozinha”, seria mais preciso “quando saímos com os seus amigos, me sinto mais confortável quando permanece ao meu lado”.
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Pedir “justiça” é algo vago e tão extenso quanto “me dê espaço para ser eu mesma”.
É fundamental ter clareza do que necessita ao invés esperar que alguém adivinhe seu desejo só por suspirar de um certo modo. Ações objetivas são mais compreensíveis e menos confusas. Caso não fique claro para o outro, cheque com ele se entendeu o pedido ou refaça de outro modo, com tranquilidade.
“Quero que me deixe ser quem sou” é inespecífico e abstrato, seria mais preciso e observável “gostaria de estudar na faculdade que escolhi, cantar sem ser repreendido, poder escolher e responder pelos meus horários e atitudes”.
Tente se comunicar quase visualmente, de modo que qualquer pessoa possa entender.
“Quero te conhecer melhor” é inespecífico, ao passo que “gostaria de sair para almoçar com você e conhecer mais seus gostos e sonhos”.
2. Como ajudar os outros e ouvir com verdadeira empatia
“Uma mensagem difícil é uma oportunidade de enriquecer a vida de alguém.” –Marshall Rosenberg
A forma como nos sentimos impotentes diante do luto de uma pessoa querida reflete a maneira enganosa que tentamos ajudar os outros. Partimos da ideia que as pessoas querem receber algum tipo de conselho salvador ou algo que resolva e “conserte” seu problema.
Como aconselhar os outros quando se trata de vida e morte?
A postura usual aparentemente caridosa cria um tipo de hierarquia na relação (quem sabe-quem ignora), ao mesmo tempo que rompe com um fluxo emocional importante de quem expressa sua dor.
O próprio ajudador se vê forçado a aplacar ansiosamente a dor, ficando impedido de estar presente e ouvindo com total disponibilidade emocional.
Para encontrar uma forma de comunicação genuína, é preciso interromper o fluxo de nossos pensamentos habituais e oferecer uma escuta atenta.
O maior sinal de que alguém realmente foi ouvido com empatia é quando a tensão de suas palavras diminui e ela pode parar de falar e se sentir considerada e mais relaxada sem achar que precisa fazer ou aprender algo.
Só uma pessoa que recebeu empatia e está suficientemente atendida em suas necessidades é capaz de oferecer algo de si para os outros sem impor a si mesma sobre quem ajuda. Se você não se sente aceito, amado e respeitado em suas relações é bem provável que tenha mais dificuldade em acolher os outros com isenção de imposições.
Alguém que esteja abafado por sua própria dor costuma colocar-se a frente dos outros na hora de ajudar.
Aqui seguem alguns exemplos de tentativas de ajuda que surgem de uma pessoa que não está preenchidas em suas próprias necessidades:
Aconselhar: “você deveria” (imposição de perfeição)
Competir pelo sofrimento: “comigo foi até pior, nem imagina…” (quer subestimar a dor do outro e reverter a posição de vítima)
Educar: “que aprendizado pode tirar dessa situação?” (quer catequizar)
Consolar: “você fez o melhor que pôde” (tenta racionalizar uma dor)
Contar uma história: “isso lembra uma história que ouvi” (desviar o foco para uma lição de moral)
Encerrar o assunto: “fica bem tá?” (desvia da dor pela própria dificuldade em lidar com ela)
Solidarizar-se: “oh, meu deus, coitado” (postura infantilizante)
Interrogar: “já pensou que essa pessoa não quis dizer aquilo?” (tenta investigar motivações intelectuais ocultas para afastar da dor emocional)
Explicar-se: “eu no seu lugar teria já feito…” (colocar-se em forma superior)
Corrigir: “você não entendeu nada do que aconteceu, está errada também” (criar culpa)

3. Compaixão consigo mesmo
Sabe o que existe em comum no sentimento que temos ao nos apaixonar, conquistar algo valioso ou de atingir um estado psicológico de esperança ou liberdade?
Um estado de abertura irrestrita para o novo sem culpa, vergonha ou avaliações destrutivas sobre o que somos.
Ao dizer “eu errei” imediatamente entramos numa postura de auto-acusação sem nos dar a chance de mergulhar na dor decorrente de uma expectativa ou necessidade frustrada.
A ideia de que deveríamos ser assim ou assado impõe um estado psicológico de obrigatoriedade e tensão. O tempo verbal do “deveria” pressupõe aprisionamento, falta de escolha e desprazer, já uma escolha feita em sintonia com um valor específico dá prazer colocar em prática.
Curiosamente, no cotidiano temos pouca compaixão com nossas atitudes quando se trata de agir de um jeito que contrariou nossas expectativas. Chamamos isso de erro, e entramos num mar de auto-acusação. Falta carinho com o desempenho duvidoso e inevitável de nossa biografia.
A mesma comunicação não-violenta que utilizamos ao tentar ouvir as necessidades dos outros pode ser aplicada ao fazer uma auto-análise. Diante de um “erro”, ao invés de cair no ciclo de acusações, podemos nos perguntar que tipo de necessidade não foi atendida.
Um homem chega tarde do trabalho e a esposa o acusa de colocar tudo a perder no casamento dizendo que está cansado desses atrasos.
O diálogo interno que se segue costuma ser implacável.
– Eu deveria ter me imposto para o meu chefe, mas sou um covarde, faz 10 anos que trabalho ali e ajo sempre do mesmo jeito. Que desastre ambulante.
Uma outra forma de seria assim:
– Quis mais uma vez agradar meu chefe e parecer eficiente, gosto de ser visto como alguém insubstituível, ao mesmo tempo estou com medo de perder o emprego e decepcionar minha esposa. De outro lado ela tem razão, quem aguentaria tantas noites sem uma companhia, ela está pedindo meu amor e presença. Como posso conciliar meu desejo de ser capacitado profissionalmente ao mesmo tempo que quero passar mais tempo com minha família?
É possível perceber que ao invés de entrar numa “solução” simples de auto-acusação ele identificou quais eram as forças em jogo e se colocou numa posição de alinhamento com seus valores contraditórios e os da esposa.
4. Raiva
“As pessoas que parecem monstros são apenas seres humanos cuja linguagem e comportamento às vezes nos impedem de perceber sua natureza humana.” –Marshall Rosenberg
Diante de uma pessoa que age de forma raivosa ou descontrolada, não notamos que ela está se sentindo completamente incapaz de fazer pedidos claros e se conectar com sua própria dor.
Uma pessoa que projeta uma imagem “durona” costuma estar paralisada pelo medo de ser vista como vulnerável e perder autoridade ou controle.
A raiva costuma ser resultado de uma necessidade não atendida associada a uma interpretação distorcida de um fato. Ao se irritar com um amigo pelo atraso, lembre-se que não é o atraso apenas que causou a raiva, mas o desapontamento de não se sentir respeitado em sua presença.
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Longe de ser irracional, a raiva é determinada pelas imagens e interpretações feitas por nós das ações dos outros – tendo como referência nossa idealização do que seria justo.
Se uma criança da família pisa no seu pé, será avaliada com mais condescendência se comparada a um adulto estranho, já que vai pressupor que ele deveria estar olhando, atento, preocupado, cuidadoso e educado. Não é o pisão no pé que estritamente criou a raiva, mas a necessidade de que adultos sejam corretos com você.
Quando expressamos raiva, gastamos uma energia enorme em punir alguém e não focamos em atender as nossas necessidades. Ao mesmo tempo usamos julgamentos, análises e ideias conspiratórias de que os outros são maus, mentirosos, irresponsáveis, corruptos e gananciosos.
Certamente alguém que nos ouça nesse estado emocional não irá se interessar pelas nossas necessidades, mas apenas reagir com indiferença e hostilidade.
Quando se sentir prestes a explodir, experimente:
1. Parar e respirar profundamente
2. Identificar os próprios pensamentos, em especial aqueles julgadores
3. Conectar-se às próprias necessidades, escondidas por trás da raiva
4. Expressar seus sentimentos e necessidades não-atendidas

Marshall dá o seguinte exemplo, em seu livro “Comunicação não-violenta”, de como reagir a um atitude de discriminação racial:
“Quando você entrou nessa sala, começou a conversar com os outros, não falou nada comigo e então fez um comentário sobre brancos, fiquei realmente enojado e muito assustado. Isso despertou em mim todo tipo de necessidade de ser tratado com igualdade. Eu gostaria que você me dissesse como se sente quando digo isso.”
Seria difícil um conflito ganhar força diante de tal postura.
Mas o que fazer quando somos nós o alvo da raiva?
Uma possibilidade de lidar com a raiva de alguém seria identificando qual o pedido implícito no esbravejamento, fazendo perguntas empáticas:
“Queria entender melhor, como você se sente a respeito disso?”
“Gostaria de ouvir seus reais sentimentos em relação a tal coisa…”
Reforçando assim a conexão com suas necessidades profundas e deixando cada vez mais claro o que a pessoa quer, ao invés de entrar num embate intelectual.

Exercícios práticos

Imagino que agora temos muito a que pensar sobre a maneira como nos relacionamos e falamos com as pessoas de modo geral, seja na hora de expressar um incômodo ou ouvir um problema, e até de que como administramos nossos próprios sonhos, medos, desejos e necessidades.
Tenho a esperança de que ao terminar de ler esse texto você possa estar menos adormecido para a compaixão.
Também gostaria de ressaltar que a CNV não é uma maneira de obrigar você a parecer passivo, simpático ou com ausência de força, mas em como chegar em resoluções que possam alinhar você, o outro e o mundo em que vivemos.
Esse método propõe muita ação, persistência e tranquilidade, para entender que existe um espaço humano seguro para discordar e até não se entender – e mesmo assim seguir conectado, dialogando.
A comunicação não-violenta teria muitos desdobramentos e percursos que não foram tratados nesse texto (como elogiar com verdadeira empatia, lidar em conflitos de guerra, negociação com criminosos, educação escolar, justiça restaurativa, como e quando usar a força física…), mas gostaria de ouvir vocês e saber se estão satisfeitos com o modo como se comunicam hoje.
Proponho três exercícios práticos:
1. Comentar nesse texto ou em outros artigos do próprio PdH já exercitando essas ideias
2. Ver na sua lista de comentários passados no Disqus como poderia melhorar sua maneira de se comunicar
3. Testar esses princípios com alguém num assunto difícil, fora da web, e depois relatar por aqui como foi
Que tal?

Para aprofundar:

Frederico Mattos

Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro "Mães que amam demais". Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva a felicidade, lava pratos, faz muay thai, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida escreve no blog Sobre a vida. No twitter é @fredmattos.

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O texto acima não representa a opinião do PapodeHomem. Somos um espaço plural, aberto a visões contraditórias. Conheça nossa visão e a essência do que fazemos. Você pode comentar abaixo ou ainda nos enviar um artigo para publicação.

máquina de vender maconha

http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/
Marcelo Rubens Paiva
Pequenas Neuroses

máquina de vender maconha




Primeira máquina a vender maconha (vending machine) do CANADÁ começa a operar em Vancouver.
Não pedem identificação do usuário.
Modernidade, rapaz!
 https://www.youtube.com/watch?v=mbpiiuVL…

O produto é fresco, já vem embalado e selado “por profissionais”, diz Chuck Varabioff, da BC Pain Society.
“Colocamos a máquina para evitar o manuseamento e ladrões”, explicou.
Tem vários tipos de maconha, como Purple Kush, Bubba Kush.
A máquina só aceita dinheiro e vende quantidades em torno de 32 gramas.
Nos EUA mais de 2,5 milhões de usuários têm autorização para comprar maconha. No Canadá, já são 37 mil.

“Quando o Cérebro do Homem Tem Fogo”


Não é exagero dizer que a maconha (Cannabis sativa) está entre as mais antigas plantas cultivadas pelo homem e entre os mais úteis e antigos remédios conhecidos. Há mais de cinco mil anos, de leste a oeste da estepe asiática, mais ao sul, da antiga Mesopotâmia até a Índia, assim como no norte da África, a Cannabis já era cultivada para suprir as mais diferentes necessidades.
Os mais antigos escritos da Humanidade vieram da Mesopotâmia, ali foram encontrados tabletes de argila de mais de quatro mil anos, pertencentes à Biblioteca Sagrada do Rei Assurbanipal, os quais continham milenares receitas de “poções mágicas” compiladas por sacerdotes sumérios contra as mais diversas doenças. Em um desses livros, chamado “Quando o Cérebro do Homem Tem Fogo” encontram-se receitas para curar males do cérebro e da mente. Algumas incluem maconha e serviam para febres e dor de cabeça, e outras tratavam males com estranhas denominações, tais como “Mão de Fantasma na Têmpora”. Estes são, provavelmente, os mais antigos registros de fármacos de que se tem notícia.
O segundo pergaminho mais antigo do Egito, de 3.000 aC, trás o uso da maconha para facilitar o trabalho de parto, como antisséptico e como ingrediente de remédio para os olhos. Na mais antiga farmacopeia Chinesa, compilada a partir de tradições milenares, a maconha aparece para o tratamento de problemas associados a menstruação, dor reumática, malária, constipação e falta de concentração. Os pioneiros da cirurgia chinesa também usavam maconha misturada ao vinho como anestésico. Na Índia, a planta sagrada do Hinduísmo, preferida de Shiva, era usada para finalidades medicinais e existenciais: contra dores, espasmos e convulsões do tétano e da epilepsia ou para o “aumento da coragem, do regozijo e da libido”.
Na Pérsia, a Cannabis também era reconhecida como planta sagrada e medicinal e, assim como na Índia e na China, sabia-se que seu uso abusivo por período prolongado faz com que perca suas funções benéficas e tenha alguns de seus efeitos invertidos. Apesar de seu uso milenar por xamãs, curandeiros, sacerdotes e pessoas comuns no mundo oriental, a Europa antiga e medieval não conhecia os efeitos medicinais e psicoativos da maconha, embora a fibra da planta fosse imprescindível para as atividades de construção civil, tecelagem e navegação. Isto se dava por conta do ambiente frio e úmido que não favorecia a produção da resina protetora da planta, onde são encontradas as substancias que possuem propriedades farmacológicas – os chamados canabinóides.
Foi apenas no final do século XIX, quando da ocupação da Índia pelo Império Britânico, que um médico Irlandês, William Brooke O'Shaughnessy (1809-1889), descobriu tais propriedades. Naquela época, os europeus padeciam com sintomas severos de doenças infecciosas como o tétano e a cólera, para os quais desconheciam tratamento. Na índia, entretanto, O'Shaughnessy ficou extremamente impressionado com os efeitos da maconha. Em especial, chamou-lhe a atenção as propriedades de alivio multi-sintomático, capazes de reduzir dores severas, febre, inflamação, náuseas, vômitos, tremores, espasmos e convulsões. O conjunto dos efeitos era extraordinário por esses serem carreados em uma única planta e de forma tão eficiente. Além disso, cabe destacar que a maconha é, quase certamente, o primeiro composto anticonvulsivante descoberto pelo homem.
Ao voltar para a Inglaterra, O'Shaughnessy realizou estudos para sistematizar o uso medicinal da planta no ocidente onde, de forma arrebatadora, a maconha passou a ser um dos mais importantes componentes de toda a indústria farmacêutica. Assim, desde o fim do século XIX até meados da década de 1930, xaropes a base de maconha eram usados para tratar delirium tremens (abstinência de álcool), dores severas (enxaqueca, dor de dente, nevralgia, câncer, etc), artrite, reumatismos, gota, epilepsia, cólicas menstruais, TPM, depressão, náuseas, febre, resfriado e muitos outros males.
Em 1937, entretanto, após uma absurda campanha difamadora, o uso medicinal da maconha foi inviabilizado pelo Governo Federal norte americano que, na falta de evidencias científicas contra seu uso, fez valer o poder da Receita Federal para impor requisitos impraticáveis e taxas impagáveis aos médicos que quisessem continuar receitando-a. Jamais houve qualquer reunião de médicos e cientistas que decidiram que a maconha era mais prejudicial que outras drogas e, portanto, deveria ser proibida. As motivações foram políticas e econômicos de diversas matizes, mas nenhuma tinha relação com possíveis problemas causados pelo abuso – que são relativamente moderados se comparados aos do álcool, por exemplo.
A partir de 1940, a maconha ganhou status de substancia proscrita em todo o mundo. Em consequência, toda a pesquisa em torno de suas propriedades medicinais foi radicalmente dificultada, sobretudo nos Estados Unidos. Em Israel, no entanto, uma visão mais pragmática permitiu que as pesquisas prosseguissem, de modo que, na década de 60, o grupo de Rafael Mechoulan isolou o THC, principal componente psicoativo da maconha.
Até o final da década de 80, não se sabia exatamente como a maconha produzia seus efeitos. Dizia-se, sob influencia dos estigmas criados, que seus princípios ativos causavam desorganização aleatória da função neuronal. Entretanto, descobriu-se que o cérebro possui receptores nos quais os componentes da maconha se ligam especificamente. Receptores funcionam como fechaduras da ignição, sendo que as “chaves” são substâncias que a ele se ligam para modular o funcionamento dos neurônios. Mais tarde, o mesmo grupo israelense isolou as “chaves” produzidas pelo próprio cérebro – os chamados endocanabinóides.
Hoje em dia sabe-se que os endocanabinóides normalmente protegem o cérebro contra ativação descontrolada e regulam funções fundamentais para a integração do equilíbrio orgânico e mental, incluindo percepção sensorial, atenção, cognição, emoções, sensação de dor, inflamações, resposta imune, metabolismo, apetite, ciclo celular, interação social, entre outras funções vitais.
A maconha possui quase cem variedades de canabinóides que imitam os endocanabinóides do nosso cérebro, juntos estes componentes possuem mais de 20 propriedades farmacológicas comprovadas. Estimulam o apetite, a percepção lúdica dos sentidos, a afetividade, a sensualidade e a sexualidade; inibem dores severas, náuseas e vômitos; inibem a formação e a proliferação de tumores benignos e malignos, protegem os neurônios da toxicidade causada por excesso de ativação ou por reações inflamatórias neuro-degenerativas (como Alzheimer); inibem convulsões e espasmos e reduzem a febre. Sua ação neuroprotetora e inibitória da ativação neuronal caótica, trás muita esperança para formas severas de epilepsia e autismo.
A capacidade de inibir metástases e até causar a regressão de câncer é um fato extraordinário desconhecido pela sociedade e escandalosamente negligenciado pelas autoridades. Óleos produzidos diretamente da planta, princípios isolados, ou mesmo material vegetal in natura, todos são recursos válidos no tratamento dos diversos males mencionados acima.
Não há porque ter medo ou preconceitos. As contraindicações e efeitos colaterais estão sempre associados à fase de desenvolvimento do paciente e à concentração dos componentes. Plantas com excesso de THC e pouco canabidiol, por exemplo, podem causar ansiedade e estados paranóides, que podem desencadear surtos em pessoas com tendência familiar à esquizofrenia ou na fase pró-drômica da doença (menos de 1% da população). De uma forma geral, este perfil de composição também é inadequado ao uso por gestantes, crianças e jovens em crescimento. Porém, em um contexto regulamentado, onde diversas linhagens padronizadas de plantas, com diferentes concentrações de canabinóides, podem ser produzidas, a relação custo-benefício para inúmeros casos, envolvendo os mais severos sofrimentos, é simplesmente revolucionária.
*Artigo publicado na revista de Consulex de Consultoria Jurídica em Abril de 2014-
http://migre.me/j7iAY

sexta-feira, maio 09, 2014

O mundo é perigoso, o tempo exige luta

Por José Reinaldo Carvalho, no site Vermelho:

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Charles Hagel, defendeu nesta terça-feira (6) a política intervencionista de seu país em diferentes partes do mundo e criticou os que preferem ver Washington menos envolvido em conflitos internacionais.

Ocasionalmente, esta política provoca acalorados debates nos Estados Unidos e suscita a oposição de largos setores da população.

Segundo pesquisa divulgada em março último pelo jornal “The Wall Street Journal” e a emissora “NBC News”, cerca de 47% da população opinam que os EUA deveriam ser menos ativos no exercício de uma política externa intervencionista.

“É errôneo perceber estas responsabilidades como um ônus ou um ato de beneficência, é de nosso interesse nacional intervir nesses conflitos”, sustentou Hagel durante um discurso na cidade de Chicago.

Em sintonia com isso, os Estados Unidos destinarão este ano mais de 600 bilhões de dólares para suas despesas bélicas. Na semana passada, Hagel chamou os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a elevar seus gastos militares, num momento em que crescem as tensões com a Rússia em torno da crise ucraniana e é iminente a eclosão de um conflito na sensível região do Leste europeu.

As declarações do ministro da guerra dos Estados Unidos são reveladoras de que o mundo vive uma situação alarmante e perigosa. É cada vez mais claro que não há meios termos na política das potências imperialistas, que fazem da diplomacia apenas um invólucro para encobrir a força bruta, quando muito uma etapa prévia à realização de golpes, intervenções e agressões.

Desde que Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos surgiram ilusões sobre as possibilidades de uma paz duradoura sob a égide de um “imperialismo benigno”, capaz de afiançar uma ordem internacional democrática, multilateral e baseada no Direito.

É uma conjuntura que confunde, faz alguns embaralharem as cartas e observarem algo democrático no regime sionista israelense ou charmoso na tentativa de desmoralização de governos como os da Coreia Popular, Síria e outros países que se rebelam contra o imperialismo.

A ofensiva para derrocar o governo sírio, fomentando no país uma guerra interna que acarretou dramáticas consequências; a intervenção militar na Líbia; a estratégia militar voltada para a Ásia; o novo papel da Otan; a indefectível posição militarista na Península Coreana; as ameaças de desestabilização da Venezuela; a política de duas caras com o Irã e a luta do povo palestino e, agora, a interferência direta na crise ucraniana, fomentando um golpe de Estado e instrumentalizando forças fascistas, em atos de provocação aberta contra a Rússia, demonstram o quanto são ilusórias aquelas posições.

Em época de eleição presidencial no Brasil, devemos ter presente o cenário internacional e aquilatar as influências que pode ter sobre o nosso curso político. Não são apenas as pressões oriundas do capital financeiro para adotar uma orientação econômico-financeira conveniente a interesses antinacionais que estão presentes. Há também um debate político e ideológico em torno da situação internacional e da política externa.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, não perde a oportunidade para destilar seu ódio contra Cuba, como demonstrou em face da cooperação da maior das Antilhas com o Brasil no caso do projeto Mais Médicos, e da parceria em torno de uma das principais alavancas atuais da economia cubana - o Porto de Mariel – com financiamento brasileiro. Tampouco nos passa despercebida a posição antichavista da candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, Marina Silva. Foi intensa a campanha na mídia brasileira para que o Brasil se abstivesse de apoiar o governo do presidente Maduro na mais recente crise venezuelana. Já no que se refere à crise ucraniana, a diplomacia brasileira foi alvo de críticas por não ter tomado uma posição anti-Rússia.

Voltando ao ponto de vista do ministro da guerra de Obama. O imperialismo estadunidense e seus aliados da Otan permanecem movendo uma brutal ofensiva contra as liberdades e os direitos fundamentais, a soberania e a autodeterminação dos povos e nações.

Tudo isso mostra que o mundo está cada vez mais inseguro e são graves as ameaças aos povos e nações que querem assegurar sua independência. Além da doutrina da “guerra ao terrorismo”, à qual a atual Administração estadunidense não renunciou, que na prática é uma doutrina genocida da guerra permanente contra os povos insubmissos, os EUA promovem a crescente militarização do planeta, subtraindo investimentos sociais, para destinar cada vez maiores recursos ao financiamento de suas aventuras bélicas. Disseminam bases militares cercando todos os continentes. O imperialismo estadunidense e seus aliados dominam os mares, os continentes e o espaço sideral, além de controlar e promover a escalada nuclear. Independentemente da facção política no poder, seu governo atua, em todas as regiões do mundo, para manter a hegemonia, usando para isso principalmente a chantagem e a ameaça militar.

Apesar da retórica "multilateralista" e pacifista, é manifesta a militarização das relações internacionais e a hipertrofia de organizações agressivas, como a Otan, como um dos principais traços da situação internacional e o aspecto essencial da política imperialista para oprimir os povos e assegurar os seus interesses de rapina.

Enfim, os tempos atuais exigem luta, não ilusões.

Haddad anuncia piso de R$ 3 mil para professores e 3,5 mil vagas




Thiago Tufano

O prefeito Fernando Haddad anunciou, na tarde desta sexta-feira, um projeto de lei que aumenta o piso salarial dos professores da rede municipal de ensino de São Paulo. O valor, que era de R$ 2,6 mil, passa a ser R$ 3 mil. Além disso, no fim deste mês a prefeitura abrirá 3,5 mil novas vagas na capital paulista para professores da educação infantil e ensino fundamental I. O projeto passará agora pro aprovação na Câmara dos Vereadores.

“São Paulo está tomando uma decisão importante de reajustar o piso do magistério. O salário inicial passa a ser, a partir do dia primeiro de maio, de R$ 3 mil por mês, que é um dos maiores do Brasil. Isso vai ter um rebatimento em toda carreira, que acaba sendo beneficiada. Após 25 anos de trabalho, por exemplo, uma professora estará recebendo em torno de R$ 8,8 mil. A carreira de São Paulo passa a ser uma das mais atraentes do Brasil”, disse o prefeito de São Paulo.

O secretário da Educação, Cesar Callegari, também participou do anúncio e disse que o reajuste também foi expandido para todos do “quadro da educação”, incluindo gestores. No caso dos supervisores, o piso passa de R$ 4.460 para R$ 5.146, enquanto o dos diretores aumentam de R$ 4.188 para 4.832. Já para os coordenadores pedagógicos, o piso vai de R$ 3.692 para R$ 4.260.

“Serão 71 mil profissionais. Essa iniciativa representa um enorme esforço orçamentário da prefeitura, em um ano que temos enfrentado dificuldades, mas sempre priorizamos a educação. A prefeitura está fazendo um investimento de R$ 622 milhões este ano. É um esforço grande que tem a preocupação de valorizar os profissionais do magistério e educação”, disse o secretário.

Já em relação às novas vagas par professores, Haddad afirmou que a previsão é que as inscrições sejam abertas já no dia 26 de maio. “É importante que os candidatos saibam o salário que passarão a receber. Serão 3,6 mil vagas preenchidas já com essa remuneração”, explicou Haddad.

“Estamos expandindo nossa rede. Estamos inaugurando escolas, etc e também para reposição de pessoal que se aposenta ou deixa a rede. O reajuste está sendo construído em um abono complementar. Isso só poderia acontecer porque estamos fazendo um ajuste para todo magistério”, explicou Callegari.
*SQN

    SÃO PAULO TEM ÁGUA, SÃO PAULO NÃO TEM É GOVERNO


São Paulo, PSDB do Aécio, não põe um centavo no SAMU/192

http://correio.rac.com.br/_midias/jpg/2014/01/30/samu-1816382.jpg
publicado em 15 de julho de 2010
por Conceição Lemes
Selma Correa, 67 anos, mora na Vila Mariana, bairro de classe média alta de São Paulo. Há 15 teve um infarto agudo do miocárdio. Estava sozinha em casa.
“De repente, senti uma dor violenta e persistente no peito. Meu braço esquerdo começou a formigar e eu, a suar frio. Tive tosse e vontade de vomitar. Parecia haver algo espremendo o meu tórax”, relembra. “Desconfiei de infarto, pois uma irmã havia tido. Imediatamente desci [mora no 14º andar], peguei o primeiro táxi que passou e fui para o pronto-socorro do Hospital São Paulo. Era infarto violento. Minha pressão arterial chegou a 6 por 4 [considera-se normal 12 por 8]. O médico disse que se eu tivesse esperado mais uns minutos – de casa ao hospital são dez –, não estaria mais aqui.”
Há três anos uma amiga de Selma, Elenice Cortês, que reside no mesmo bairro, começou a passar mal enquanto conversavam ao telefone. Os filhos estavam na faculdade e o marido em viagem.
“No ato, liguei para o SAMU – o 192. Em 20 minutos a equipe chegou. Mediu pressão, ouviu o coração, colocou a Elenice no soro, conversou com a central e levou-a para o pronto-socorro. Ela teve um derrame [acidente vascular cerebral, ou AVC]”, conta Selma. “Hoje, quando vejo alguém se acidentar ou passar mal na rua ou em casa, chamo na hora o SAMU.”
Selma não é exceção. Cada vez mais o 192 é acionado. De telefone celular, fixo ou orelhão, a ligação é gratuita. SAMU é a sigla do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, programa criado em 2003 pelo governo federal. O SAMU atende o usuário na residência, na via pública e no local de trabalho.
“No Brasil, havia municípios que dispunham de alguns serviços para atender emergências pré-hospitalares”, afirma o médico Clésio Mello de Castro, coordenador geral de Urgência e Emergência, do Ministério da Saúde. “Porém, como programa do SUS [Sistema Único de Saúde], destinado a 100% da população, esse atendimento só passou a existir há sete anos, quando o SAMU foi criado.”
“Através do telefone 192, o socorro chega onde o usuário está. A equipe presta atendimento já no local, antes de chegar nospital, no menor tempo possível, salvando vidas e diminuindo seqüelas”, explica Castro. “O programa ‘enxerga’ ainda o serviço mais próximo e adequado para levá-los em seguida para diagnóstico preciso e tratamento, quando necessário. A ambulância vai direto, ganha tempo, o que é crucial em emergências.”
AMBULÂNCIA E EQUIPE ESPECÍFICAS PARA CADA SITUAÇÃO
A ambulância é a vitrine do SAMU. É a parte mais visível, a que se vê nas ruas. São 1.521 em 1.286 municípios já atendidos pelo programa. Dependendo da área, há também motos, lanchas e helicópteros.
“Quando você disca SAMU/192, está ligando para uma central de regulação, onde, além das telefonistas, há profissionais de saúde, inclusive médicos”, esclarece Castro. “O tipo de atendimento, ambulância e equipe vai depender da gravidade do caso. Há situações em que basta uma orientação por telefone.”
É o caso de uma criança que cai na escola e faz um pequeno corte na testa. Da própria central, o médico pode orientar a professora a proteger o machucado e encaminhar com o próprio carro o aluno até o hospital.
Outro exemplo: pai liga para o SAMU para saber se a dose do remédio que a criança ingeriu está adequada. Também da central, o médico orienta-o. Isso também salva vida, pois a dose errada pode ter efeitos colaterais graves.
Já se a pessoa cai da própria altura (por exemplo, escorrega na rua ou em casa), está consciente e sem fratura exposta, o médico da central envia ambulância com suporte básico, cuja equipe vai imobilizar o doente e levá-lo ao hospital mais próximo.
A ambulância de suporte básico normalmente é composta de motorista socorrista (treinado para auxiliar no atendimento) e técnico de enfermagem. Eles dão os primeiros cuidados para que este paciente não tenha prognóstico pior.
Em casos de capotamento de veículo, com perda da consciência, ou infarto, é necessário cuidado médico especializado no local. É enviada então uma UTI móvel, com médico e enfermeiro. Todos os equipamentos que existem numa UTI há nesta ambulância.
“Parte das ambulâncias do SAMU é equipada com aparelho que faz eletrocardiograma, transmite-o via telefone para uma central no Hospital do Coração [HCor], que faz a leitura e devolve o resultado”, ressalta Castro. “Todo esse processo dura, em média, cinco minutos. Ele permite diagnóstico mais preciso ainda em casa. Se confirmado infarto do miocárdio, por exemplo, a equipe do SAMU já inicia a medicação antes mesmo de levar o paciente para o hospital.”
O serviço de eletrocardiograma digital à distância é uma tecnologia de ponta e visa aos usuários do SUS. É uma parceria do Ministério da Saúde com o HCcor, em São Paulo, cujo diretor-geral é o dr. Adib Jatene. A central do hospital, com 16 cardiologistas, funciona também 24 horas por dia.
“O procedimento permite agilidade, precisão e redução do tempo de atendimento, diminuindo as sequelas e mortes por doenças cardiovasculares”, afirma o professor Adib Jatene, considerado um dos grandes cirurgiões cardíacos do país. “Pode reduzir em até 20% o número de mortes por doenças do coração.”
“O SAMU atende rápido e no local em que o paciente está”, reforça Clésio Castro. “Seguramente está salvando muitas vidas.”
“Aparentemente, o atendimento do SAMU diminui o risco de óbito no local, mas ainda não há estudos de longo prazo das vítimas após a alta”, observa Gustavo Fraga, professor e coordenador de Cirurgia do Trauma da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O SAMU faz o socorro pré-hospitalar. Mas isso não garante que as vítimas de trauma, que representam 25% dos atendimentos, sobreviverão depois e terão qualidade de vida. Para que o SAMU tenha impacto efetivo é preciso investir também e bastante nos hospitais de referência e na reabilitação. O SAMU resolve apenas um pedaço do problema. De qualquer forma, inegavelmente, é um avanço importante.”
TODOS OS ESTADOS CONTRIBUEM, EXCETO SÃO PAULO
O SAMU alcança 106 milhões de brasileiros. Região Sul: 17.221.962. Nordeste: 26.179.381Centro Oeste: 10.407.577. Sudeste: 45.371.427. E região Norte: 6.550.451.
Acre, Distrito Federal, Goiás, Sergipe, Santa Catarina já têm 100% de cobertura. É provável que ainda em 2010 se torne também universal nos estados de Alagoas, Amapá, Amazonas, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte.
“O financiamento do SAMU é tripartite: 50% vêem do governo federal, 25% do estado e outros 25% do município”, expõe Castro. “A participação dos três entes da federação dá mais sustentabilidade ao programa, facilita a sua manutenção e ampliação e possibilita atendimento adequado.”
Supondo que o custo anual seja de 50 milhões. À União cabem 25 milhões, ao estado, 12,5 milhões e aos municípios, outros 12,5milhões, divididos entre eles.
Todos os estados – inclusive os do Norte e Nordeste — participam da divisão de contas, exceto um: São Paulo, até recentemente governado pelo presidenciável José Serra (PSDB), ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso. São Paulo não coloca um centavo no projeto SAMU. É a opção gestora adotada pelo estado.
Portanto:
1) Todo o atendimento do SAMU em São Paulo, inclusive as ambulâncias, é custeado unicamente pelo governo federal e municípios. São 91 municípios e 32 centrais.
2) A conta dividida em dois fica então mais pesada para os municípios, que são obrigados a arcar com a parte que deveria ser do estado, aumentando os seus gastos.
3) Se São Paulo contribuísse com a porcentagem que foi pactuada, certamente a cobertura do SAMU no estado seria muito maior.
“Não temos como obrigar o estado a investir no SAMU”, atenta Castro. “Porém, é responsabilidade dele também pelo pacto tripartite. São Paulo não está cumprindo o seu papel. Esperamos que reveja a sua posição, pois facilitaria a ampliação do SAMU no estado.”
A propósito, se na sua cidade já tem o SAMU, não hesite em telefonar para o 192 nestas situações:
* Ocorrência de problemas cardiorrespiratórios
* Intoxicação
* Queimaduras graves
* Ocorrência de maus tratos
* Trabalhos de parto onde haja risco de morte da mãe ou do feto
* Tentativas de suicídio
* Crises hipertensivas
* Quando houver acidentes/trauma com vítimas
* Afogamentos
* Choque elétrico
* Acidentes com produtos perigosos
* Transferência entre hospitais de doentes com risco de morte
Não imaginam o alívio que dá, quando se vê o SAMU chegar, pois as equipes são treinadas para lidar com emergências. Esta repórter já testemunhou isso algumas vezes. A ligação para o 192, relembramos, é gratuita. Em caso de urgência, não perca tempo. Ligue IMEDIATAMENTE para o 192. Alguns minutos podem fazer a diferença entre a vida e a morte ou mais seqüelas.

Falta de repasse trava Samu regional

Sem participação estadual, cidades avaliam se terão condições de manter alto custo do serviço

15/03/2014 Bruna Mozer

A falta de repasses do Estado para o custeio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é um dos fatores que impedem a expansão e integração do serviço entre cidades da região de Campinas — uma discussão que se arrasta há quatro anos. Vinhedo informou nesta semana que desistiu do projeto de regionalização do sistema por avaliar que o custo para manter o Samu é alto demais para a Prefeitura, já que o município que teria de arcar com boa parte dos gastos. Campinas, Jaguariúna, Indaiatuba e Valinhos seguem com a discussão, mas sem previsão de implantação.

Campinas é única cidade da região metropolitana que tem o Samu, mas vive uma crise com falta de profissionais suficientes e de estrutura, como revelou o Correio nas últimas semanas. Resolução do Ministério da Saúde prevê que 50% do custeio seja feito pelo governo federal, até 25% pelas prefeituras e, no mínimo, 25% pelo Estado, o que não tem ocorrido. Sem a ajuda do governo estadual, as cidades têm avaliado que o projeto pode ser inviável financeiramente.

Avaliação

A Secretaria de Estado da Saúde admite sua “ausência” no custeio, mas defende que faz investimentos em outros projetos para atendimento de emergência nas cidades paulistas (leia texto nesta página). O governo estadual avalia um pedido de financiamento apresentado pela Região Metropolitana de Campinas (RMC) para a criação do Samu regional.

Em Campinas, Prefeitura assume boa parte das despesas: do total de R$ 1,5 milhão ao mês que é usado para o custeio do Samu, cerca de R$ 300 mil são enviados pelo Ministério da Saúde e o restante (80% dos gastos) é bancado pelo governo municipal. Se o sistema fosse regionalizado, além de melhorar o atendimento nas cidades vizinhas, Campinas poderia passar do nível habilitado, como é hoje, para o qualificado aumentando o repasse federal de R$ 300 mil para R$ 500 mil ao mês — a regionalização é pré-requisito para a mudança de qualificação e aumento de verbas.

Alívio financeiro

O coordenador do Samu em Campinas, José Roberto Hansen, explica que a somente com a regionalização do atendimento, a cidade poderia passar o nível qualificado. Para ele, não seria possível ampliar de forma significativa a estrutura, mas daria um “alívio” financeiro à Prefeitura. Hansen, que há anos tem encabeçado essa discussão, defende que a ampliação do sistema para as cidades vizinhas melhoraria como um todo o serviço.

“As cidades têm interesse e precisam ter o Samu porque possuem uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).” Sem o serviço nas cidades, o Samu de Campinas é responsável por realizar o atendimento de casos mais urgentes nos municípios da região. Nos demais, a população é atendida por ambulâncias das prefeituras.

Projeto


Com a proposta de regionalização, Campinas passaria a ser uma central, com atendimento pelo 192, e passaria as demandas para cada cidade. Cada cidade manteria ambulâncias e uma estrutura do Samu, em números estabelecidos de acordo com o tamanho do município.


A Prefeitura de Vinhedo informou, por meio de assessoria de imprensa, que considera o Samu regional um importante projeto para a saúde pública, mas que o financiamento fornecido pelo Ministério da Saúde ainda é pequeno. Em seguida, a Prefeitura alegou que não concorda “com os altos custos propostos para serem assumidos pelo município sem a ajuda do governo do Estado neste processo”. A Prefeitura mantém o Resgate Municipal e avalia que, junto com a UPA, a demanda da população é suprida.

Novo projeto

A Prefeitura de Indaiatuba informou que continua acompanhando as discussões para implantar a regionalização. Segundo o Executivo, um novo projeto deverá ser apresentado até julho, para entrar em vigor em 2014. Uma reunião está agendada para a próxima semana na cidade.

Até que o projeto saia do papel, Valinhos resolveu inaugurar Serviço de Atendimento Médico de Valinhos (SAMV). Jaguariúna não se posicionou sobre o assunto.

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THIETRE MIGUEL - RIO DE JANEIRO-RJ

Dois pesos, duas medidas: a imprensa como parte na polarização política

Esta imagem está se tornando uma verdade absoluta.
Esta imagem está se tornando uma verdade absoluta. A grande imprensa é chamada de parcial não é por investigar malfeitos de alguns integrantes do PT, mas, principalmente, por ignorar ou minimizar os casos de corrupção praticados pela oposição.
Ao leitor mais atento, imune às disputas políticas que tomaram de assalto as redações dos principais veículos de comunicação, poderá perceber, sem muito esforço, que há uma evidente ação desproporcional na cobertura de fatos que envolvam governo e oposição, mais especificamente PT e PSDB.
A polarização se dá de maneira desigual, tanto no uso dos recursos financeiros e humanos para averiguar uma ou outra denúncia, quanto nas chamadas dos jornais e programas jornalísticos.
Quem perde é a sociedade com o acirramento do embate político contaminando o noticiário.
Está cada vez mais difícil saber o que é fato ou o que é manobra política-eleitoral.
Dias atrás o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, afirmou que a campanha política acontece bem antes do período permitido aos candidatos fazerem suas apresentações ao eleitorado.
De certo Mello estava se referindo ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff pelas comemorações do dia do trabalhador. Sua fala teve repercussão imediata e foi lincada ao discurso de Dilma.
Recentemente o governo de Minas Gerais lançou uma série de vídeos que foram veiculados nacionalmente a pretexto de divulgar que o estado é um ótimo lugar para se investir. Nada foi dito sobre esta ação, claramente eleitoreira, justamente para ajudar o mineiro e tucano Aécio Neves.
As várias peças apresentavam dados econômicos e sociais de Minas Gerais, como educação e saúde, para que o paulista, fluminense, baiano, gaúcho, pernambucano e acriano vissem as maravilhas alcançadas e corressem em direção as belas montanhas mineiras para fazer seus investimentos. Investimentos de grande monta não são fechados somente com base em propaganda. Se situam muito além dos dados apresentados nos meios de comunicação, o empresariado negocia, diretamente, com os governos locais as condições mais favoráveis para aportar recursos em uma determinada região.
A peça publicitária foi descaradamente feita para alcançar objetivos eleitorais, mas nada foi dito pela grande imprensa.
Repetindo a estratégia do PSDB de São Paulo, em 2010, ao fazer campanha publicitária da Sabesp em todo o Brasil, para promover o governador José Serra, não coincidentemente, candidato a presidência naquelas eleições.
Se, por hipótese, Tarso Genro, governador petista do Rio Grande do Sul, fosse candidato a presidência e o mesmo fizesse propaganda, em todo o Brasil, sobre as boas estatísticas de seu mandato para se tornar mais atraente aos eleitores, mas usando recursos do contribuinte de seu estado para isso, qual seria a reação da imprensa corporativa?
Mensalão, um dos maiores bombardeios midiáticos da história
O caso mais explorado nas últimas décadas, o julgamento de mensalão, produziu milhares de matérias consensuais: denunciando, julgando e executando as condenações dos citados no processo via mídia, sem direito ao contraditório ou a defesa dos réus.  Sem qualquer exagero, é perfeitamente adequado afirmar que este foi um dos maiores eventos midiáticos da história do país, que costuma ser requentado a cada eleição como uma espécie de tarja negativa lançada sobre todo um partido político.
Em contrapartida, pouco é lido sobre os denunciados no mensalão tucano, caso de corrupção nas eleições de 1998 para o governo do estado de Minas Gerais. Os arrolados no processo seguem livres para, se quiserem, viajar para fora do país ou comerem em ótimos restaurantes sem serem incomodados pela justiça ou imprensa.  Pimenta da Veiga, atual candidato tucano ao governo e Eduardo Azeredo, ex-governador, nem julgados foram ainda e nem um pio contra a impunidade servida em porções generosas aos dois políticos mineiros. Tampouco se lê no noticiário matérias persecutórias ou de linchamentos morais, como foram alvejados José Dirceu e José Genoíno.
Nó em pingo d’água
Outro flagrante absurdo de politização das pautas dos grandes meios de comunicação se dá na cobertura distorcida entre o desabastecimento de água da grande São Paulo, causada pela má gestão do governo paulista e sobre risco de racionamento de energia elétrica do governo federal.
A Globo, através do portal G1, nomeia apenas a Sabesp e poupa tucanos pela grave crise de desabastecimento de água em São Paulo, exemplo claro de manipulação com fins políticos
A Globo, através do portal G1, nomeia apenas a Sabesp como culpada e poupa tucanos pela grave crise de desabastecimento de água em São Paulo, exemplo claro de manipulação com fins políticos
O Sistema Cantareira, conjunto de represas que abastece milhões de paulistas está em colapso, devido em maior parte, a má gestão do governo de São Paulo. A crise não acontece pura e simplesmente por causa da natureza, mas por falta de investimentos necessários de modernização do sistema hídrico por parte do poder público estadual e não faltaram alertas sobre o cenário que agora se materializa. Não é mera coincidência que seja o PSDB a governar o estado mais rico do Brasil a 20 anos e nada tenha feito para evitar o racionamento de água, que penalizará os mais pobres e poupará os mais ricos.
A imprensa tem aceitado o termo “rodizio”, novo “termo técnico” para dizer, em palavras mais suaves, o racionamento já implementado pelo governador Geraldo Alckmin.
O G1 fez uma matéria para dizer que os níveis do Cantareira tinham baixado dos 10%, mas em canto algum do texto há uma cobrança ao governador por suas responsabilidades neste desastre administrativo, pelo contrário, em um trecho o portal da Globo parece querer confundir o leitor:
“O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), descartou novamente no domingo (4) a implantação do racionamento de água este ano, apesar da crise no sistema. Alckmin respondeu ao questionamento sobre o rodízio durante coletiva de imprensa na abertura da 18ª edição da Parada do Orgulho LGBT…”
Ou seja, para a Globo rodízio não é racionamento. Quer dizer então que, apesar da grave crise no sistema, o abastecimento de água segue dentro da normalidade?
Claro que não.  Tanto que a Sabesp, que gastou tanto dinheiro em propaganda em território nacional em 2010, mas não fez o seu dever de casa [ou foi impedida de fazer pela ação temerária de seus gestores...], foi autorizada por Alckmin a aplicar multas de 30% nas contas de junho sobre o consumidor que gastar acima da média em maio!
Já os consumidores de 31 cidades atendidas pela Sabesp que conseguirem economizar 20% receberão um desconto de 30%. A mesma receita que FHC aplicou no racionamento de energia elétrica de 2001. Lembra como foi? Era criança? Leia AQUI.
No caso de São Paulo, os mais pobres, maioria consumidora de água, será obrigada a reduzir seu consumo em 20% ou terão que arcar com a conta de água mais salgada, isto pesa no orçamento.
Os mais ricos poderão pagar esta conta, logo nada vai impedir que piscinas, banheiras de hidromassagem e ofurôs continuem enchendo, sem qualquer risco da torneira secar.
E não é racionamento? São Paulo passa por um racionamento de água e o silêncio midiático sobre isto é escandalizante, uma manobra política dirigida de dentro das redações para evitar desgastes dos tucanos em 2014.
Quanto as inúmeras matérias sobre “iminente risco” de racionamento de energia elétrica, estas permanecem e tem se intensificado desde dezembro de 2012.
Para O Globo torcer contra, manipular e distorcer informação fazem de seu papel...
Para O Globo torcer contra, manipular e distorcer informação fazem de seu papel…
Por diversas vezes a imprensa afirmou que no verão seguinte haveria racionamento, como em 2013 e 2014, e tal “previsão” não se cumpriu. O jornal O Globo chegou a publicar em sua capa que o Ministério de Minas e Energia admitia que havia um risco baixíssimo de apagão, só não explicou que os fatores de riscos são sempre considerados em qualquer cenário de planejamento. Matéria feita, exclusivamente, para contaminar os negócios do ambiente produtivo brasileiro.
Sobre o tema são produzidos várias matérias e artigos na imprensa “alertando” o Brasil sobre um um possível desabastecimento de de energia elétrica que, apesar de negado e comprovado por especialistas na atual conjuntura energética do país, segue desinformando a sociedade e adiando planos de investimentos, por ação direta da tomada de parte da imprensa em favor de um dos lados da polarização política.
Imparcialidade basta
Não se faz apologia aqui pela defesa de se jogar qualquer denúncia para debaixo do tapete, como tem sido feito no caso de políticos do PSDB ou da oposição envolvidos em casos de corrupção ou em administrações desastrosas, muito pelo contrário.
Para todos basta a imparcialidade dos meios de comunicação e a apuracão dos fatos feita com zelo pela verdade e respeito aos interesses da sociedade.
A grande imprensa está sendo chamada de parcial não é pelo fato de investigar possíveis malfeitos de integrantes do governo federal ou do PT, em muitos episódios exagerados dolosamente pela mídia, mas, principalmente, por ignorar ou minimizar os casos de corrupção, até mais graves, praticados pela oposição.

Isto não é imparcialidade.
*palavrasdiversas

NAO VAI TER ALCKIMIN




*COMTEXTOLIVRE