Dois pesos, duas medidas: a imprensa como parte na polarização política
Ao leitor mais atento, imune às disputas políticas que tomaram de assalto as redações dos principais veículos de comunicação, poderá perceber, sem muito esforço, que há uma evidente ação desproporcional na cobertura de fatos que envolvam governo e oposição, mais especificamente PT e PSDB.A polarização se dá de maneira desigual, tanto no uso dos recursos financeiros e humanos para averiguar uma ou outra denúncia, quanto nas chamadas dos jornais e programas jornalísticos.
Quem perde é a sociedade com o acirramento do embate político contaminando o noticiário.
Está cada vez mais difícil saber o que é fato ou o que é manobra política-eleitoral.
Dias atrás o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, afirmou que a campanha política acontece bem antes do período permitido aos candidatos fazerem suas apresentações ao eleitorado.
De certo Mello estava se referindo ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff pelas comemorações do dia do trabalhador. Sua fala teve repercussão imediata e foi lincada ao discurso de Dilma.
Recentemente o governo de Minas Gerais lançou uma série de vídeos que foram veiculados nacionalmente a pretexto de divulgar que o estado é um ótimo lugar para se investir. Nada foi dito sobre esta ação, claramente eleitoreira, justamente para ajudar o mineiro e tucano Aécio Neves.
As várias peças apresentavam dados econômicos e sociais de Minas Gerais, como educação e saúde, para que o paulista, fluminense, baiano, gaúcho, pernambucano e acriano vissem as maravilhas alcançadas e corressem em direção as belas montanhas mineiras para fazer seus investimentos. Investimentos de grande monta não são fechados somente com base em propaganda. Se situam muito além dos dados apresentados nos meios de comunicação, o empresariado negocia, diretamente, com os governos locais as condições mais favoráveis para aportar recursos em uma determinada região.
A peça publicitária foi descaradamente feita para alcançar objetivos eleitorais, mas nada foi dito pela grande imprensa.
Repetindo a estratégia do PSDB de São Paulo, em 2010, ao fazer campanha publicitária da Sabesp em todo o Brasil, para promover o governador José Serra, não coincidentemente, candidato a presidência naquelas eleições.
Se, por hipótese, Tarso Genro, governador petista do Rio Grande do Sul, fosse candidato a presidência e o mesmo fizesse propaganda, em todo o Brasil, sobre as boas estatísticas de seu mandato para se tornar mais atraente aos eleitores, mas usando recursos do contribuinte de seu estado para isso, qual seria a reação da imprensa corporativa?
Mensalão, um dos maiores bombardeios midiáticos da história
O caso mais explorado nas últimas décadas, o julgamento de mensalão, produziu milhares de matérias consensuais: denunciando, julgando e executando as condenações dos citados no processo via mídia, sem direito ao contraditório ou a defesa dos réus. Sem qualquer exagero, é perfeitamente adequado afirmar que este foi um dos maiores eventos midiáticos da história do país, que costuma ser requentado a cada eleição como uma espécie de tarja negativa lançada sobre todo um partido político.
Em contrapartida, pouco é lido sobre os denunciados no mensalão tucano, caso de corrupção nas eleições de 1998 para o governo do estado de Minas Gerais. Os arrolados no processo seguem livres para, se quiserem, viajar para fora do país ou comerem em ótimos restaurantes sem serem incomodados pela justiça ou imprensa. Pimenta da Veiga, atual candidato tucano ao governo e Eduardo Azeredo, ex-governador, nem julgados foram ainda e nem um pio contra a impunidade servida em porções generosas aos dois políticos mineiros. Tampouco se lê no noticiário matérias persecutórias ou de linchamentos morais, como foram alvejados José Dirceu e José Genoíno.
Nó em pingo d’água
Outro flagrante absurdo de politização das pautas dos grandes meios de comunicação se dá na cobertura distorcida entre o desabastecimento de água da grande São Paulo, causada pela má gestão do governo paulista e sobre risco de racionamento de energia elétrica do governo federal.
O Sistema Cantareira, conjunto de represas que abastece milhões de paulistas está em colapso, devido em maior parte, a má gestão do governo de São Paulo. A crise não acontece pura e simplesmente por causa da natureza, mas por falta de investimentos necessários de modernização do sistema hídrico por parte do poder público estadual e não faltaram alertas sobre o cenário que agora se materializa. Não é mera coincidência que seja o PSDB a governar o estado mais rico do Brasil a 20 anos e nada tenha feito para evitar o racionamento de água, que penalizará os mais pobres e poupará os mais ricos.
A imprensa tem aceitado o termo “rodizio”, novo “termo técnico” para dizer, em palavras mais suaves, o racionamento já implementado pelo governador Geraldo Alckmin.
O G1 fez uma matéria para dizer que os níveis do Cantareira tinham baixado dos 10%, mas em canto algum do texto há uma cobrança ao governador por suas responsabilidades neste desastre administrativo, pelo contrário, em um trecho o portal da Globo parece querer confundir o leitor:
“O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), descartou novamente no domingo (4) a implantação do racionamento de água este ano, apesar da crise no sistema. Alckmin respondeu ao questionamento sobre o rodízio durante coletiva de imprensa na abertura da 18ª edição da Parada do Orgulho LGBT…”Ou seja, para a Globo rodízio não é racionamento. Quer dizer então que, apesar da grave crise no sistema, o abastecimento de água segue dentro da normalidade?
Claro que não. Tanto que a Sabesp, que gastou tanto dinheiro em propaganda em território nacional em 2010, mas não fez o seu dever de casa [ou foi impedida de fazer pela ação temerária de seus gestores...], foi autorizada por Alckmin a aplicar multas de 30% nas contas de junho sobre o consumidor que gastar acima da média em maio!
Já os consumidores de 31 cidades atendidas pela Sabesp que conseguirem economizar 20% receberão um desconto de 30%. A mesma receita que FHC aplicou no racionamento de energia elétrica de 2001. Lembra como foi? Era criança? Leia AQUI.
No caso de São Paulo, os mais pobres, maioria consumidora de água, será obrigada a reduzir seu consumo em 20% ou terão que arcar com a conta de água mais salgada, isto pesa no orçamento.
Os mais ricos poderão pagar esta conta, logo nada vai impedir que piscinas, banheiras de hidromassagem e ofurôs continuem enchendo, sem qualquer risco da torneira secar.
E não é racionamento? São Paulo passa por um racionamento de água e o silêncio midiático sobre isto é escandalizante, uma manobra política dirigida de dentro das redações para evitar desgastes dos tucanos em 2014.
Quanto as inúmeras matérias sobre “iminente risco” de racionamento de energia elétrica, estas permanecem e tem se intensificado desde dezembro de 2012.
Por diversas vezes a imprensa afirmou que no verão seguinte haveria racionamento, como em 2013 e 2014, e tal “previsão” não se cumpriu. O jornal O Globo chegou a publicar em sua capa que o Ministério de Minas e Energia admitia que havia um risco baixíssimo de apagão, só não explicou que os fatores de riscos são sempre considerados em qualquer cenário de planejamento. Matéria feita, exclusivamente, para contaminar os negócios do ambiente produtivo brasileiro.
Sobre o tema são produzidos várias matérias e artigos na imprensa “alertando” o Brasil sobre um um possível desabastecimento de de energia elétrica que, apesar de negado e comprovado por especialistas na atual conjuntura energética do país, segue desinformando a sociedade e adiando planos de investimentos, por ação direta da tomada de parte da imprensa em favor de um dos lados da polarização política.
Imparcialidade basta
Não se faz apologia aqui pela defesa de se jogar qualquer denúncia para debaixo do tapete, como tem sido feito no caso de políticos do PSDB ou da oposição envolvidos em casos de corrupção ou em administrações desastrosas, muito pelo contrário.
Para todos basta a imparcialidade dos meios de comunicação e a apuracão dos fatos feita com zelo pela verdade e respeito aos interesses da sociedade.
A grande imprensa está sendo chamada de parcial não é pelo fato de investigar possíveis malfeitos de integrantes do governo federal ou do PT, em muitos episódios exagerados dolosamente pela mídia, mas, principalmente, por ignorar ou minimizar os casos de corrupção, até mais graves, praticados pela oposição.
Isto não é imparcialidade.
*palavrasdiversas
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