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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 29, 2014

DCM: CHAMAR REGULAÇÃO DA MÍDIA DE CENSURA É MÁ FÉ



Colunista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, resgata frase de Eça de Queirós, ao abordar como o tema da regulação da mídia vem sendo tratado pela mídia tradicional, que vê censura na iniciativa; "há aí uma mistura de má fé cínica com obtusidade córnea", diz Nogueira, que vê a medida como essencial para a democratização do País

28 DE MAIO DE 2014 

Por Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo - O argumento mais imbecil contra a regulamentação da mídia é a que a associa com “censura”.

Na grande definição de Eça, há aí uma mistura de má fé cínica com obtusidade córnea.

Todas as sociedades desenvolvidas regulam sua mídia. Estabelecem regras para diversas questões que são simplesmente ignoradas no vale tudo nacional.

Por exemplo: direito de resposta. Na Dinamarca, se você comete uma injustiça cabal, é obrigado a se retratar rapidamente e em espaço nobre.

Por exemplo: a Veja atribuiu a Gushiken um gasto exorbitante com dinheiro público numa refeição. Isto se provou calúnia, mentira, e não fato.

Gushiken, atacado na honra, jamais teve uma reparação na revista.

É certo isso? É bom isso? É certo e é bom apenas para as empresas de mídia, que recebem licença para matar moralmente seus inimigos.

Fiscal tem que ser fiscalizado. A mídia se coloca como fiscal, sem ter aliás recebido delegação popular para isso, mas se recusa a ser fiscalizada. É um paradoxo, e é um horror para a sociedade.

Nos Estados Unidos, para evitar o monopólio de opinião (e de negócio) e estimular a pluralidade, nenhum grupo pode ser dono de múltiplas mídias, como a Globo.

A Globo usa seus diversos braços, ou garras, de forma selvagem, para asfixiar a concorrência.

Um executivo da Unilever me contou que, nas negociações sobre publicidade, a Globo enfia o G1 goela abaixo do anunciante.

Para a livre concorrência, é um pesadelo. Para o monopólio da Globo – que hoje detém 60% da publicidade do Brasil com apenas 20% da audiência – é um sonho. Para a sociedade, uma tragédia.

Veja na prática: uma única voz que represente o conservadorismo e os interesses da Globo se multiplica por todas as mídias, e isso manieta a opinião pública.

Merval Pereira, digamos. Ele está no Globo, na Globonews, na CBN, no G1 etc etc. Ou Míriam Leitão. Ou Jabor.

Mais uma vez, é bom para a Globo, e para os colunistas que são sua voz. Estes, graças à superexposição, acabam tendo enormes facilidades para ganhar dinheiro em palestras nas quais vão repetir o que a Globo quer que eles digam.

Você vai encontrar feroz resistência à ideia da regulação nas grandes empresas de mídia – e em seus colunistas. Estes extraem vantagens consideráveis do status quo. Seus mensalões são duradouros e protegidos com imenso cuidado por quem abastece seus bolsos.

(continue lendo no Diário do Centro do Mundo)

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