Greve dos rodoviários em São Paulo: sindicatos comandados por pelegos cada vez menos representativos
Sartori: Direção sindical não representa a categoria; secretário fala em “sabotagem”; grevista denuncia “sempre os mesmos”
por Flávio Luiz Sartori, em seu blog
Motoristas cruzam os braços em São Paulo sem apoio do sindicato da categoria.
Na semana passada os motoristas e cobradores de ônibus do município
do Rio de Janeiro fizeram dois dias de greve. Foi um movimento não
encampado pelo sindicato da categoria, que já tinha negociado com os
proprietários das empresas de ônibus e inclusive aprovado em assembléia
um índice de aumento que uma parte significativa da categoria não
aceitou e resolveu se organizar em uma greve paralela, utilizando-se de
piquetes, fechamento de vias de acesso, terminais e garagens.
Esta situação também se repetiu ontem, 20/05, em São Paulo, depois que uma parte dos trabalhadores não concordou com o acordo firmado entre trabalhadores e patrões e partiu para uma paralisação organizada em um movimento espontâneo paralelo, que acabou por causar um verdadeiro caos no município.
Em ambas situações as autoridades municipais foram “pegas” de surpresa.
Alguns anos atrás acompanhei uma eleição para o sindicato dos condutores em Campinas. A oposição estava muito bem organizada, só era possível ver a campanha eleitoral deles na rua, não aparecia nada da situação, tudo parecia indicar que a oposição seria vitoriosa.
Depois fiquei sabendo pelos motoristas e cobradores da chapa de
oposição que nos dias da eleição apareceram motoristas e até mesmo
pessoas se dizendo motoristas, que eles nem sabiam que existiam.
Resultado: a situação saiu vencedora.
Os membros da oposição denunciaram aquilo que seria a fraude, mas não
aconteceu nada. Faz tempo que a imprensa faz o jogo dos proprietários
das empresas de ônibus.
As oposições sindicais se organizam e vencem as eleições, porém não levam, porque são “derrotadas” por arranjos ilegais.
Assim, pelegos que não representam mais a totalidade da base dos
sindicatos que comandam, permanecem negociando em nome de uma categoria
de trabalhadores, que na realidade quer vê-los pelas costas há muito
tempo.
É exatamente isso que está acontecendo com os sindicatos dos condutores de São Paulo e do Rio de Janeiro.
As manifestações de junho e julho do ano passado mostraram que
significativos setores da sociedade brasileira estão cada vez mais
descrentes em governos, instituições e representações sociais no Brasil.
Nesse quadro, os sindicatos também estão inseridos, principalmente
aqueles comandados por pelegos que perderam o rumo da história e
teimosamente, de forma oportunista se negam a deixar o poder.
A perda de controle sobre a base sindical por parte dos pretensos
dirigentes dos sindicatos dos condutores em São Paulo e no Rio de
Janeiro é um sintoma desse novo momento que a sociedade brasileira vive.
Cansados de serem traídos e passados para trás os motoristas e cobradores estão partindo para fazer valer seus direitos com “suas próprias mãos”.
Simplesmente ignoraram o papel histórico e institucional de seus sindicados porque estes já há muito tempo não representam nada.
As autoridades públicas, principalmente na esfera municipal, terão
que se adaptar à nova realidade e passar a buscar interlocução junto a
estes novos líderes.
Caso contrário, continuaram sendo pegas de surpresa por movimentos
espontâneos que são decorrentes da frustração de trabalhadores que, cada
vez mais, perdem a confiança em seus sindicatos.
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