SÃO PAULO TEM ÁGUA, SÃO PAULO NÃO TEM É GOVERNO
São Paulo, PSDB do Aécio, não põe um centavo no SAMU/192
publicado em 15 de julho de 2010
por Conceição Lemes
Selma Correa, 67 anos, mora na
Vila Mariana, bairro de classe média alta de São Paulo. Há 15 teve um
infarto agudo do miocárdio. Estava sozinha em casa.
“De repente, senti uma dor
violenta e persistente no peito. Meu braço esquerdo começou a formigar e
eu, a suar frio. Tive tosse e vontade de vomitar. Parecia haver algo
espremendo o meu tórax”, relembra. “Desconfiei de infarto, pois uma irmã
havia tido. Imediatamente desci [mora no 14º andar], peguei o primeiro
táxi que passou e fui para o pronto-socorro do Hospital São Paulo. Era
infarto violento. Minha pressão arterial chegou a 6 por 4 [considera-se
normal 12 por 8]. O médico disse que se eu tivesse esperado mais uns
minutos – de casa ao hospital são dez –, não estaria mais aqui.”
Há três anos uma amiga de
Selma, Elenice Cortês, que reside no mesmo bairro, começou a passar mal
enquanto conversavam ao telefone. Os filhos estavam na faculdade e o
marido em viagem.
“No ato, liguei para o SAMU – o
192. Em 20 minutos a equipe chegou. Mediu pressão, ouviu o coração,
colocou a Elenice no soro, conversou com a central e levou-a para o
pronto-socorro. Ela teve um derrame [acidente vascular cerebral, ou
AVC]”, conta Selma. “Hoje, quando vejo alguém se acidentar ou passar mal
na rua ou em casa, chamo na hora o SAMU.”
Selma não é exceção. Cada vez mais o 192 é acionado. De telefone celular, fixo ou orelhão, a ligação é gratuita. SAMU é a sigla do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, programa criado em 2003 pelo governo federal. O SAMU atende o usuário na residência, na via pública e no local de trabalho.
“No Brasil, havia municípios
que dispunham de alguns serviços para atender emergências
pré-hospitalares”, afirma o médico Clésio Mello de Castro, coordenador
geral de Urgência e Emergência, do Ministério da Saúde. “Porém, como
programa do SUS [Sistema Único de Saúde], destinado a 100% da população,
esse atendimento só passou a existir há sete anos, quando o SAMU foi
criado.”
“Através do telefone 192, o
socorro chega onde o usuário está. A equipe presta atendimento já no
local, antes de chegar nospital, no menor tempo possível, salvando vidas
e diminuindo seqüelas”, explica Castro. “O programa ‘enxerga’ ainda o
serviço mais próximo e adequado para levá-los em seguida para
diagnóstico preciso e tratamento, quando necessário. A ambulância vai
direto, ganha tempo, o que é crucial em emergências.”
AMBULÂNCIA E EQUIPE ESPECÍFICAS PARA CADA SITUAÇÃO
A ambulância é a vitrine do
SAMU. É a parte mais visível, a que se vê nas ruas. São 1.521 em 1.286
municípios já atendidos pelo programa. Dependendo da área, há também
motos, lanchas e helicópteros.
“Quando você disca SAMU/192,
está ligando para uma central de regulação, onde, além das telefonistas,
há profissionais de saúde, inclusive médicos”, esclarece Castro. “O
tipo de atendimento, ambulância e equipe vai depender da gravidade do
caso. Há situações em que basta uma orientação por telefone.”
É o caso de uma criança que
cai na escola e faz um pequeno corte na testa. Da própria central, o
médico pode orientar a professora a proteger o machucado e encaminhar
com o próprio carro o aluno até o hospital.
Outro exemplo: pai liga para o
SAMU para saber se a dose do remédio que a criança ingeriu está
adequada. Também da central, o médico orienta-o. Isso também salva vida,
pois a dose errada pode ter efeitos colaterais graves.
Já se a pessoa cai da própria
altura (por exemplo, escorrega na rua ou em casa), está consciente e sem
fratura exposta, o médico da central envia ambulância com suporte
básico, cuja equipe vai imobilizar o doente e levá-lo ao hospital mais
próximo.
A ambulância de suporte básico
normalmente é composta de motorista socorrista (treinado para auxiliar
no atendimento) e técnico de enfermagem. Eles dão os primeiros cuidados
para que este paciente não tenha prognóstico pior.
Em casos de capotamento de
veículo, com perda da consciência, ou infarto, é necessário cuidado
médico especializado no local. É enviada então uma UTI móvel, com médico
e enfermeiro. Todos os equipamentos que existem numa UTI há nesta
ambulância.
“Parte das ambulâncias do SAMU
é equipada com aparelho que faz eletrocardiograma, transmite-o via
telefone para uma central no Hospital do Coração [HCor], que faz a
leitura e devolve o resultado”, ressalta Castro. “Todo esse processo
dura, em média, cinco minutos. Ele permite diagnóstico mais preciso
ainda em casa. Se confirmado infarto do miocárdio, por exemplo, a equipe
do SAMU já inicia a medicação antes mesmo de levar o paciente para o
hospital.”
O serviço de eletrocardiograma digital à distância é uma tecnologia de ponta e visa aos usuários do SUS. É uma parceria do Ministério da Saúde com o HCcor, em São Paulo, cujo diretor-geral é o dr. Adib Jatene. A central do hospital, com 16 cardiologistas, funciona também 24 horas por dia.
“O procedimento permite
agilidade, precisão e redução do tempo de atendimento, diminuindo as
sequelas e mortes por doenças cardiovasculares”, afirma o professor Adib
Jatene, considerado um dos grandes cirurgiões cardíacos do país. “Pode
reduzir em até 20% o número de mortes por doenças do coração.”
“O SAMU atende rápido e no local em que o paciente está”, reforça Clésio Castro. “Seguramente está salvando muitas vidas.”
“Aparentemente, o atendimento
do SAMU diminui o risco de óbito no local, mas ainda não há estudos de
longo prazo das vítimas após a alta”, observa Gustavo Fraga, professor e
coordenador de Cirurgia do Trauma da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). “O SAMU faz o socorro pré-hospitalar. Mas isso não garante
que as vítimas de trauma, que representam 25% dos atendimentos,
sobreviverão depois e terão qualidade de vida. Para que o SAMU tenha
impacto efetivo é preciso investir também e bastante nos hospitais de
referência e na reabilitação. O SAMU resolve apenas um pedaço do
problema. De qualquer forma, inegavelmente, é um avanço importante.”
TODOS OS ESTADOS CONTRIBUEM, EXCETO SÃO PAULO
O SAMU alcança 106 milhões de brasileiros. Região Sul: 17.221.962. Nordeste: 26.179.381. Centro Oeste: 10.407.577. Sudeste: 45.371.427. E região Norte: 6.550.451.
Acre, Distrito Federal, Goiás,
Sergipe, Santa Catarina já têm 100% de cobertura. É provável que ainda
em 2010 se torne também universal nos estados de Alagoas, Amapá,
Amazonas, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte.
“O financiamento do SAMU é tripartite: 50% vêem do governo federal, 25% do estado e outros 25% do município”, expõe
Castro. “A participação dos três entes da federação dá mais
sustentabilidade ao programa, facilita a sua manutenção e ampliação e
possibilita atendimento adequado.”
Supondo que o custo anual seja
de 50 milhões. À União cabem 25 milhões, ao estado, 12,5 milhões e aos
municípios, outros 12,5milhões, divididos entre eles.
Todos os estados – inclusive os do Norte e Nordeste — participam da divisão de contas, exceto um: São
Paulo, até recentemente governado pelo presidenciável José Serra
(PSDB), ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso. São Paulo não coloca um centavo no projeto SAMU. É a opção gestora adotada pelo estado.
Portanto:
1) Todo o atendimento do SAMU
em São Paulo, inclusive as ambulâncias, é custeado unicamente pelo
governo federal e municípios. São 91 municípios e 32 centrais.
2) A conta dividida em dois
fica então mais pesada para os municípios, que são obrigados a arcar com
a parte que deveria ser do estado, aumentando os seus gastos.
3) Se São Paulo contribuísse com a porcentagem que foi pactuada, certamente a cobertura do SAMU no estado seria muito maior.
“Não temos como obrigar o
estado a investir no SAMU”, atenta Castro. “Porém, é responsabilidade
dele também pelo pacto tripartite. São Paulo não está cumprindo o seu
papel. Esperamos que reveja a sua posição, pois facilitaria a ampliação do SAMU no estado.”
A propósito, se na sua cidade já tem o SAMU, não hesite em telefonar para o 192 nestas situações:
* Ocorrência de problemas cardiorrespiratórios
* Intoxicação
* Queimaduras graves
* Ocorrência de maus tratos
* Trabalhos de parto onde haja risco de morte da mãe ou do feto
* Tentativas de suicídio
* Crises hipertensivas
* Quando houver acidentes/trauma com vítimas
* Afogamentos
* Choque elétrico
* Acidentes com produtos perigosos
* Transferência entre hospitais de doentes com risco de morte
Não imaginam o alívio que dá,
quando se vê o SAMU chegar, pois as equipes são treinadas para lidar com
emergências. Esta repórter já testemunhou isso algumas vezes. A ligação
para o 192, relembramos, é gratuita. Em caso de urgência, não perca
tempo. Ligue IMEDIATAMENTE para o 192. Alguns minutos podem fazer a diferença entre a vida e a morte ou mais seqüelas.
Falta de repasse trava Samu regional
Sem participação estadual, cidades avaliam se terão condições de manter alto custo do serviço
15/03/2014 Bruna Mozer
A falta de
repasses do Estado para o custeio do Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu) é um dos fatores que impedem a expansão e integração do
serviço entre cidades da região de Campinas — uma discussão que se
arrasta há quatro anos. Vinhedo informou nesta semana que desistiu do
projeto de regionalização do sistema por avaliar que o custo para manter
o Samu é alto demais para a Prefeitura, já que o município que teria de
arcar com boa parte dos gastos. Campinas, Jaguariúna, Indaiatuba e
Valinhos seguem com a discussão, mas sem previsão de implantação.
Campinas é
única cidade da região metropolitana que tem o Samu, mas vive uma crise
com falta de profissionais suficientes e de estrutura, como revelou o Correio nas
últimas semanas. Resolução do Ministério da Saúde prevê que 50% do
custeio seja feito pelo governo federal, até 25% pelas prefeituras e, no
mínimo, 25% pelo Estado, o que não tem ocorrido. Sem a ajuda do governo estadual, as cidades têm avaliado que o projeto pode ser inviável financeiramente.
Avaliação
A Secretaria de
Estado da Saúde admite sua “ausência” no custeio, mas defende que faz
investimentos em outros projetos para atendimento de emergência nas
cidades paulistas (leia texto nesta página). O governo estadual avalia
um pedido de financiamento apresentado pela Região Metropolitana de
Campinas (RMC) para a criação do Samu regional.
Em Campinas,
Prefeitura assume boa parte das despesas: do total de R$ 1,5 milhão ao
mês que é usado para o custeio do Samu, cerca de R$ 300 mil são enviados
pelo Ministério da Saúde e o restante (80% dos gastos) é bancado pelo
governo municipal. Se
o sistema fosse regionalizado, além de melhorar o atendimento nas
cidades vizinhas, Campinas poderia passar do nível habilitado, como é
hoje, para o qualificado aumentando o repasse federal de R$ 300 mil para
R$ 500 mil ao mês — a regionalização é pré-requisito para a mudança de
qualificação e aumento de verbas.
Alívio financeiro
O coordenador
do Samu em Campinas, José Roberto Hansen, explica que a somente com a
regionalização do atendimento, a cidade poderia passar o nível
qualificado. Para ele, não seria possível ampliar de forma significativa
a estrutura, mas daria um “alívio” financeiro à Prefeitura. Hansen, que
há anos tem encabeçado essa discussão, defende que a ampliação do
sistema para as cidades vizinhas melhoraria como um todo o serviço.
“As cidades têm
interesse e precisam ter o Samu porque possuem uma UPA (Unidade de
Pronto Atendimento).” Sem o serviço nas cidades, o Samu de Campinas é
responsável por realizar o atendimento de casos mais urgentes nos
municípios da região. Nos demais, a população é atendida por ambulâncias das prefeituras.
Projeto
Com a proposta de regionalização, Campinas passaria a ser uma central,
com atendimento pelo 192, e passaria as demandas para cada cidade. Cada
cidade manteria ambulâncias e uma estrutura do Samu, em números
estabelecidos de acordo com o tamanho do município.
A Prefeitura de
Vinhedo informou, por meio de assessoria de imprensa, que considera o
Samu regional um importante projeto para a saúde pública, mas que o
financiamento fornecido pelo Ministério da Saúde ainda é pequeno. Em
seguida, a Prefeitura alegou que não concorda “com os altos custos
propostos para serem assumidos pelo município sem a ajuda do governo do
Estado neste processo”. A Prefeitura mantém o Resgate Municipal e avalia que, junto com a UPA, a demanda da população é suprida.
Novo projeto
A Prefeitura de
Indaiatuba informou que continua acompanhando as discussões para
implantar a regionalização. Segundo o Executivo, um novo projeto deverá
ser apresentado até julho, para entrar em vigor em 2014. Uma reunião
está agendada para a próxima semana na cidade.
Até que o
projeto saia do papel, Valinhos resolveu inaugurar Serviço de
Atendimento Médico de Valinhos (SAMV). Jaguariúna não se posicionou
sobre o assunto.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário