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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 23, 2010

DEMOTUCANOS ACABAM COM S.PAULO pobre S.PAULO pobre Paulista






Recuo no transporte

Editorial O Estado de S.Paulo

O prefeito Gilberto Kassab recuou e transferiu para seu sucessor a tarefa de reorganizar o transporte público na cidade de São Paulo, para acabar com a concorrência danosa que, por falta de fiscalização, voltou a se instalar entre viações de ônibus e cooperativas de perueiros, que disputam passageiros nos principais corredores. Essa reforma era considerada inadiável, tanto pelos especialistas em mobilidade urbana quanto pelos milhões de passageiros que sofrem com o trânsito congestionado, com os itinerários irracionais dos ônibus, com o despreparo dos motoristas e com a frota mal distribuída. As consequências disso são filas quilométricas nos pontos, veículos superlotados e viagens demoradas.

De acordo com norma publicada há dias, a licitação para seleção dos permissionários, marcada para este ano, foi adiada em consequência da prorrogação até 2013 dos contratos firmados com 6 mil perueiros. Com essa medida, Kassab agrada à categoria, que está sempre ameaçando parar a cidade, e também alguns vereadores que querem cortejá-la de olho nas eleições e, por essa razão, pretendiam apoiar sua “rebelião” contra as mudanças no sistema de transporte.

Com isso, o ordenamento do setor retrocede quase uma década, para o período em que a ex-prefeita Marta Suplicy iniciou a reforma do transporte público da capital, propondo a instalação de um sistema integrado, no qual as linhas estruturais, nos grandes corredores, passaram a ser atendidas pelas viações e as linhas locais, nos limites dos bairros, ficaram sob a responsabilidade das cooperativas de perueiros. A categoria, que antes atuava clandestinamente, teria, por força das regras da licitação, de oferecer serviços de qualidade e segurança aos passageiros transportados pelas ruas internas dos bairros ou desses pontos até os terminais de ônibus nos grandes corredores.

O projeto de reforma assegurava a distribuição racional da frota e sua renovação, a criação de vias exclusivas para a circulação dos veículos de transporte público, tecnologia de ponta para o controle preciso dos itinerários, velocidade e horários a serem cumpridos pelos ônibus e vans. E integrava, por meio do bilhete único, ônibus, vans, metrô e trens com tarifa mais justa.

Esse projeto começou a ser executado em meados do governo Marta Suplicy, que se limitou a construir parte dos primeiros corredores planejados e a implantar o cartão magnético – apenas a parte mais visível e eleitoralmente interessante do seu projeto. Seus sucessores não deram continuidade ao plano e a meta de instalar 325 quilômetros de corredores exclusivos de ônibus até 2008 foi completamente frustrada. Do R$ 1,2 bilhão previsto para investimentos entre 2005 e 2008 foram comprometidos apenas R$ 559 milhões, o equivalente a 44%. Com os R$ 715 milhões que deixaram de ser investidos poderiam ter sido construídos 70 quilômetros de corredores ou 27 terminais.

Além de manter congelada por anos seguidos a tarifa dos ônibus e não investir na infraestrutura do sistema, o prefeito Gilberto Kassab não conseguiu que fossem respeitadas normas estabelecidas em contrato com donos de viações e perueiros. Viu-se obrigado a destinar subsídios monumentais às viações e cooperativas – R$ 1,8 bilhão nos últimos dois anos -, a tolerar a redução da frota de veículos e a flexibilizar as regras de fiscalização e de controle da qualidade do serviço. Tudo para reduzir os custos operacionais dos concessionários e permissionários.

A fiscalização deficiente permitiu a volta da danosa concorrência entre ônibus e vans. Perueiros ganharam muito, investiram em veículos biarticulados e passaram a concorrer, nos grandes corredores, com os ônibus. Os 6 mil permissionários transportaram, em junho, 584 mil passageiros, enquanto nos 14 mil ônibus, no mesmo período, viajaram 839 mil pessoas.

A qualidade do serviço caiu tanto que veículos clandestinos voltaram às ruas para transportar os passageiros cansados de esperar nas filas e de se espremer nos veículos. Tudo isso tem reflexos negativos no já péssimo trânsito da cidade.


Kassab promete mutirão. E verba de serviço cai 42%


Apesar da promessa feita há 3 meses ao ‘Estado’ de investir em limpeza, poda e outras obras de zeladoria, investimento diminuiu no 2º trimestre

Rodrigo Burgarelli – O Estado de S.Paulo


Sem manutenção. Os problemas estão por toda a parte: fios entre galhos de árvore sem poda no Butantã, calçadas quebradas na Av. Sumaré e lixo na Duque de Caxias


Em abril, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) havia prometido aumentar investimentos em zeladoria e tornar São Paulo mais bonita. No entanto, a quantidade de recursos empenhados para atividades como poda de árvores, conservação de córregos e melhorias de calçadas diminuiu 42% nos últimos três meses em comparação com o primeiro trimestre. A maior queda foi em limpeza de bocas-de-lobo (60,9%) e varrição de rua (53,9%).

A promessa de investir mais na manutenção da cidade foi feita em entrevista publicada no Estado em 18 de abril. Na ocasião, o prefeito afirmou que estava retomando ações que ficaram paradas por restrições no Orçamento de 2009, ano de crise. No entanto, nos três meses que se seguiram à entrevista, o investimento em zeladoria foi de R$ 215,1 milhões, ante R$ 367,6 milhões no primeiro trimestre.

Além dos itens já mencionados, também tiveram menos atenção da Prefeitura serviços como conservação de galerias e canais (43,9% menos verba), conservação de áreas verdes (43,1%) – que inclui manutenção de parques e praças e poda de árvores -, manutenção de vias públicas (42,8%) e limpeza de córregos (41,1%), entre outros.

Para a diretora da Associação Viva Pacaembu, Asunción Blanco, agora não é a hora ideal para diminuir os investimentos nesses serviços. “O cuidado com a cidade tem de existir o ano inteiro. Agora, que é época de estiagem, deviam intensificar serviços que são difíceis de serem executados no verão, como a poda de árvores e a limpeza de bueiros, que poderiam evitar enchentes no futuro”, diz.

Reflexo. Segundo o secretário municipal de Planejamento, Rubens Chammas, a promessa não deixou de ser cumprida. “As ações de zeladoria estão em curso num patamar forte, mas o reflexo no Orçamento vai ser dado até dezembro”, diz. Ele sugere analisar os números do semestre como um todo, e não cada trimestre separadamente – ou mesmo em relação ao mesmo período de 2009, já que o método de execução orçamentária da Prefeitura mudou neste ano. No cálculo sugerido por Chammas, já foram empenhados R$ 582,7 milhões – cerca de 75% do total reservado para zeladoria em 2009, por causa do alto investimento no primeiro trimestre.

Já Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas, acha que a análise trimestral é válida para analisar a evolução dos gastos públicos ao longo do ano. “O Orçamento não tem execução linear, mas é bom acompanhar a autorização de verbas para ter noção do que está sendo priorizado agora”, afirma.

Promessa. Apesar de ter diminuído o ritmo de investimentos em zeladoria no segundo trimestre, o secretário renovou a promessa de Kassab. “Os números do próximo trimestre serão quase 40% maior do que os do segundo”, diz. O dinheiro viria do aumento na arrecadação – já entraram no caixa da Prefeitura neste ano R$ 2 bilhões a mais do que no mesmo período de 2009, por causa da recuperação econômica e do aumento no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

doluisfavre

Ciro volta ao redio




Ciro Gomes declara apoio a Dilma, e comentará política na TV

Ciro Gomes concedeu entrevista para a TV Cidade, de Fortaleza, afiliada da Rede Record, onde passará a ser comentarista de política. Será um bom contraponto ao PIG, no Ceará.

Lamentou não poder realizar o projeto de ser candidato nesta eleição, mas, com ânimo recuperado, diz que, mais importante do que a candidatura dele, é o Brasil, e o governo Lula tem que continuar com Dilma Rousseff (PT), a quem ele apoia de forma decisiva.

Ele lembra que o Ceará vive uma das maiores secas, e graças às políticas federais do governo Lula, e as estaduais do governador Cid Gomes (PSB), nenhum cearense está sofrendo nenhum flagelo, como acontecia antigamente.

Aonde está o dinheiro das privatizações ?







Assaz Atroz Especial: O vídeo que Serra deve assistir todas as noites no escurinho do sarcófago


______________________dobrasilmobilizado

Serra prega o terror

O fracasso subiu definitivamente à cabeça do candidato do atraso e trouxe à luz do dia suas reais intenções e propostas. Serra defende uma sociedade onde caiba aos acusados provarem sua inocência, onde políticos fascistóides como ele distribuam injúrias e calúnias aos adversários e a mídia, e até a justiça, exijam das vítimas uma prova negativa, uma prova de que não fizeram algo.
Se aplicada a ele mesmo caberia a nós exigirmos provas de que o PSDB, Serra incluído, não recebeu milhões de dólares da Alstom como diz a justiça francesa, caberia ao PSDB provar que o assalto em escala industrial aos cofres públicos do Distrito Federal, realizado pelo DEM e amigos, não era para financiar a campanha Serra/Arruda, que as milhares de assinaturas de revistas e jornais dos Civita, Frias e Mesquita não é o pagamento pelo jornalismo de esgoto praticado por esses quadrilheiros que escondem deliberadamente tudo que o Füehrer da Mooca faz e deixa de fazer.
doesquerdopata

Quem acusa tem que provar

Quem é brasileiro e tem por votla de 30 anos de idade, já se deu conta que certas pessoas não ligam muito para a lei do país. É que existe uma certa "casta" que está acima do bem e do mal.
Alguns integrantes políticos desta casta sabem que podem fazer propaganda eleitoral fora de seu Estado e fora do prazo, com dinheiro de empresas públicas, que nada lhes acontecerá.
Também sabem que podem fazer propaganda de seu candidato à Presidência em discursos proferidos por Governadores atualmente no cargo.
Não tem problema porque só vão multar um determinado partido. O outro passará ileso. Como se nada tivesse acontecido.
Afinal, sabemos que a lei é igual para todos.
Mas a gana de um certo político em surrupiar o ordenamento legal e o conduzir como bem entende, chega a ser fenomenalmente estapafúrdia.
No Brasil, se você acusa alguém de alguma coisa, tem que provar.
Na tucanolândia isso não funciona assim.
O papa-capim e o Serra vão na TV, vão nos jornais acusar o PT do que querem acusar. Não apresentam provas, não apresentam indícios. Não precisam, eles acham.
E ainda dizem que o PT é quem deveria sair correndo atrás deles, balançando uma palelada na mão e dizendo "pelo amor de Deus, me escutem. Eu não tenho nada com as FARC".
Serra está enganado. Especialmente porque tentar provar um crime que não cometeu, seria o comportamento de quem está atrás nas pesquisas. E não de quem está na frente.
Se os demotucanos acusam, que provem. Mas deviam parar de se comportar como quem vai vencer fácil a eleição. Não tem nada mais distante disso, atualmente.
docomtextolivre

Lula MANDA SS erra mudar de canal e sair da Globo


Um deleite ouvir o LULA

As críticas de Lula às baixarias de Serra, na entrevista à Record

A entrevista do Presidente Lula ao Jornal da Record teve 1 hora e 8 minutos. Ontem foi ao ar apenas um compacto em 3 blocos, que publicamos aqui no Blog.

No bloco abaixo o Presidente Lula condena as baixarias de José Serra (PSDB/SP) e acusações delinquentes ao PT, dizendo-se decepcionado com o comportamento vacilão do demo-tucano.

Perguntado se conversaria com Serra para aconselhá-lo, Lula disse que já estava fazendo isso, ali na entrevista. Que era só Serra usar o controle remoto e mudar de canal... como se Serra só assistisse a TV Globo.

O presidente diz ter certeza absoluta, que essa estratégia demo-tucana de só fazer campanha negativa na base da baixaria, levará Serra à derrota.





Integra da entrevista com Lula no Jornal da Record em 8 blocos

23 de julho de 2010

A entrevista ao Jornal da Record teve 1 hora e 8 minutos. Ontem foi ao ar apenas um compacto em 3 blocos. A integra está abaixo em 8 blocos.

Parte 1 - Contagem regressiva, obras para a Copa e Olimpíadas



Parte 2 - Economia, crescimento e infraestrutura



Parte 3 - Juros, economia e emoção



Parte 4 - Popularidade, imprensa, sorte



Parte 5 - FHC, lei eleitoral e sucessão presidencial



Parte 6 - Retrocesso, acusações ao PT e baixaria nas eleições



Parte 7 - Retrospectiva dos 8 anos e futuro político



Parte 8 (última) - Seleção, prestação de contas e Olimpíadas

Os 80 ANOS de um HOMEM

Gilberto Maringoni: Os 80 anos de Plinio de Arruda Sampaio


Plinio-de-Arruda-Sampaio

Gilberto Maringoni: Os 80 anos de Plinio de Arruda Sampaio



Os 80 anos de Plínio

Plínio de Arruda Sampaio completará 80 anos no próximo dia 26 de julho. Seus amigos e companheiros do PSOL preparam uma festa suprapartidária para o sábado, 24, em São Paulo. Os 80 anos deste intelectual da ação serão comemorados em meio a uma de suas mais duras batalhas. Plínio é candidato à presidência da República pelo PSOL. Pode-se concordar ou discordar das posições de Plínio. Mas não se pode ignorar a admirável trajetória desse comunista que acredita em Deus, como ele mesmo se define. O artigo é de Gilberto Maringoni.

Gilberto Maringoni, na Carta Maior

Plínio nasceu no exato dia em que assassinaram o presidente da Paraíba – assim eram chamados os governadores -, no processo que deflagrou o início da Revolução de 1930. Ao longo do tempo, sua vida política o aproximou dos ideais de outro 26 de julho. Esta é também a data em que um grupo de barbudos tentou tomar de assalto o quartel Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953. O comandante da ação era um grandalhão falante, cujo nome ecoaria mundialmente pelas seis décadas seguintes, Fidel Castro Rúz.

Plínio tem uma aparência de senador romano de filmes da Metro. Testa alta, nariz proeminente e olhar seguro. A voz calma e límpida e os gestos firmes não são próprios de alguém de sua idade. Mesmo quando faz um discurso incisivo contra o agronegócio ou em defesa de uma ação mais radicalizada por parte dos setores populares, parece o mais moderado dos homens. No fundo, poderia ser definido como um radical tranqüilo. “Se não fizesse política, o câncer teria me levado”, ironizou ao se recuperar de um tumor no estômago, há quase dez anos.

Militante

“Ele é antes de tudo um militante”, sintetiza sua esposa, Marieta Ribeiro de Azevedo Sampaio, com quem está casado desde 1954, época em que se formou em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco. “Quando eu o conheci, dois anos antes, ele já era um militante e é isso até hoje”.

Ligado à Igreja, Plínio deu seus primeiros passos na política através da Juventude Universitária Católica, organização surgida a partir da Ação Católica Brasileira. Em 1959, foi nomeado subchefe da Casa Civil de Carvalho Pinto, governador do Estado. Ali coordenou o Plano de Ação, um amplo programa de planejamento e de intervenção integrada de todas as esferas do Estado no desenvolvimento. Ainda nos anos 1950, entrou para o Partido Democrata Cristão (PDC), que tinha em André Franco Montoro (1916-1999) um de seus principais líderes.

Refaçamos as contas: são 80 anos de vida e quase 60 de atividade política incessante. Plínio vem de uma família de produtores de café e fez uma trajetória raríssima. De posições inicialmente moderadas, ao longo dos anos ele percorreu um caminho que o leva cada vez mais à esquerda. “Eu vim da direita”, costuma brincar. É um exagero. Mas contam-se nos dedos os ativistas com origem familiar abastada que transitaram rumo à esquerda socialista. No Brasil, possivelmente o caso mais notável seja o de Caio Prado Jr., com quem Plínio conviveu. O ex-Secretário Geral do Partido Comunista Italiano (PCI), Enrico Berlinguer (1922-1984) é outro. Se formos aos mais notáveis, vale lembrar que Friedrich Engels (1820-1895) era filho de um industrial inglês e Fidel Castro tinha um pai latifundiário.

Eleito deputado federal em 1962, Plínio logo se tornaria relator do plano de reforma agrária do governo João Goulart (1962-1964). A antipatia dos setores mais conservadores da sociedade foi imediata.

Golpe e exílio

Não deu outra: quando foi deflagrado o golpe de 1964, Plínio estava na primeira lista de cassações, juntamente com Luiz Carlos Prestes, João Goulart, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Darcy Ribeiro, Celso Furtado e dezenas de outros.

No exílio, ele trabalhou na FAO (órgão da ONU que trata das questões relativas à agricultura e à alimentação), em Santiago do Chile e, a partir de 1970, nos Estados Unidos. Assessorou programas de reforma agrária em quase duas dezenas de países da América Latina e da África.

O ex-deputado voltou ao Brasil antes da Anistia. Chegou em 1976 e tornou-se professor da Fundação Getulio Vargas, após ter concluído um mestrado em Economia Agrícola na Universidade Cornell.

Tomou parte nas intensas lutas sociais que marcaram o final da ditadura. Ingressou primeiro no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e logo saiu para fundar o Partido dos Trabalhadores, em 1980, após as formidáveis greves do ABC paulista, lideradas por Luís Inácio Lula da Silva.

PT e Constituinte

Eleito deputado constituinte, em 1986, Plínio bateu-se por um projeto de reforma agrária que erradicasse o latifúndio. Com a paulatina destruição do texto constitucional, realizada por mais de 60 emendas, nos anos 1990, ele mostra um certo desencantamento com os rumos da Carta de 1988. Em palestra realizada há dois anos no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em Brasília, o ex-parlamentar foi ácido: “O breve resumo histórico das idas e vindas do processo de elaboração da Constituição Cidadã impõe a conclusão de que o texto promulgado em de 1988 foi fruto de uma ilusão. Baseava-se no falso pressuposto de que a nova ordem econômica e política neoliberal, então hegemônica em todo o mundo capitalista desenvolvido, ainda não havia fechado as portas para o prosseguimento de projetos de construção nacional nos países de sua periferia”.

Dirigente petista, membro da coordenação da campanha Lula à presidência em 1989, Plínio foi o principal formulador da política agrária do partido por muitos anos. Foi líder da agremiação na Câmara e candidato a governador pelo PT, em 1990. Tornou-se presidente da Associação Brasileira pela Reforma Agrária (ABRA) e um dos mais importantes colaboradores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Membro da corrente majoritária do PT, a Articulação, aos poucos ele se tornou um aliado da esquerda partidária.

Paulatinamente desencantado com os rumos do PT, após a eleição de Lula, em 2002, Plínio foi candidato à presidência da legenda em 2005. Sua maior contrariedade estava com a política econômica capitaneada por Antonio Palocci e Henrque Meirelles, o que entendia ser uma continuidade da orientação adotada durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

PSOL e candidatura

Em setembro daquele ano, juntamente com cerca de dois mil militantes de todo o país, ele deixa a legenda que ajudou a fundar e filia-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

A avaliação de Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT, é dura sobre o episódio: “Foi um erro político imperdoável. Em 2005, a esquerda ganhou o primeiro turno na disputa pela presidência nacional do PT. Perdemos no segundo turno, entre outros motivos, porque ele e seu grupo saíram do partido”.

Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL-SP e ex-dirigente petista tem outra opinião: “A construção do PT representou um marco histórico de consciência e organização da classe trabalhadora brasileira. Mas é necessário reconhecer que o pragmatismo da chegada a todo custo ao poder desvirtuou seu programa, seus princípios e seus compromissos mais profundos com a transformação social”.

Em 2006, Plínio sai novamente candidato ao governo de São Paulo. “Tivemos quase 450 mil votos com um orçamento de cerca de R$ 20 mil reais. Os publicitários calculam, em campanha, que um voto custa, em média, de R$ 10 a R$ 15. Multiplicados pelo número de sufrágios, temos esses dispêndios milionários em campanhas. Pois gastamos cerca de R$ 0,04 por voto. Um fenômeno!”, diz ele.

Os 80 anos deste intelectual da ação serão comemorados em meio a uma de suas mais duras batalhas. Plínio é candidato à presidência da República pelo PSOL. Tem viajado incansavelmente. Sabe que o principal perigo para o Brasil e para o continente é a candidatura de José Serra, que reúne a maior parte da direita brasileira, de golpistas a neoliberais. Mas busca se diferenciar também da campanha de Dilma Rousseff, criticando especialmente a política monetária do Banco Central e a não efetivação da reforma agrária, no ritmo que julga necessário.

A festa dos 80 anos de Plínio será realizada no próximo sábado (24 de julho), num jantar-festa no restaurante Spasso Buffet & Music, a partir das 21h. O endereço é Avenida Rio Branco, 82, República (centro de São Paulo). Os convites custam R$ 20.

Sempre que perguntado quais os melhores anos de sua longa trajetória, Plínio repete um bordão:

“São aqueles que ainda vou viver”.

Para Ivan Valente, “Plínio é uma figura histórica da luta democrática, da resistência à ditadura e da construção de uma alternativa de esquerda para o nosso país. Sua trajetória é um exemplo para os que lutam por igualdade e justiça social”.

Pode-se concordar ou discordar das posições de Plínio. Mas não se pode ignorar a admirável trajetória desse comunista que acredita em Deus, como ele mesmo se define.

Os que pregam as futilidades a opulência e a ostentação não concordam



Com a ajuda da Globo

Na foto, o autor intelectual da desigualdade de renda





“Brasil tem o 3º. pior índice de desigualdade do mundo”, segundo a ONU.

A privação das mulheres e das mulheres negras é a pior.

Navalha

A manchete do Globo é do tamanho de um outdoor.

Tem o objetivo de desmoralizar o presidente Lula e a Dilma que instalaram as políticas sociais no centro de suas políticas.

É como se o Globo dissesse: eles são uns farsantes !

Fazem o Bolsa Família para isso.

Se a Carolina Brígido, a repórter que leu os dados da ONU tivesse consultado a urubóloga Miriam Leitão, mesmo a urubóloga teria sido capaz de recomendar leituras complementares.

Por exemplo, os estudos do economista Ricardo Paes e Barros, do IPEA, que mostram:

1) que a renda dos pobres aumentou;

2) a desigualdade diminuiu, SOBRETUDO NO GOVERNO LULA.

A urubóloga teria recomendado os estudos do profesor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas.

Foi ele, Neri, quem primeiro instalou na pauta da discussão a vertiginosa ascensão da Classe C.

Clique aqui para ler:

Em 1992, a classe média era um terço do total da renda brasileira.
. Hoje, é mais de 50%.
. Entre 2003 e 2008, 32 milhões de brasileiros, ou seja, metade da população da Franca, ingressou no conjunto das classes A, B e C. O principal fator dessa ascensão não foram os programas assistenciais, mas a renda do trabalho.
. Entre 2003 e 2009 foram criados 8 milhões de empregos com carteira assinada.
. Pode-se dizer também que essa é uma década da redução da desigualdade.
. Entre 2000 e 2008 a renda dos 10% mais pobres da população cresceu 72%. Ou seja, o crescimento da renda dos pobres no Brasil é um crescimento de tamanho chinês.
. A renda dos 10% mais ricos cresceu 11%.
. Todo mundo cresceu.
. É uma bolha?
. Não, frisou Neri. Esse processo já dura cinco anos: de 2003 a 2008 a renda do brasileiro cresce 7% ao ano. Ou seja, não é bolha porque a renda sobe por causa do trabalho e porque os brasileiros passaram a estudar mais.
. Trabalhar e estudar são coisas que ficam, não vão embora como uma bolha.
. A queda na desigualdade é inédita.
. No anos 60 o Brasil viveu o período mais desigual da sua história. O Brasil tinha a terceira pior distribuição de renda do mundo.
. Hoje é o décimo. Quer dizer, é um país ainda muito desigual, mas se a desigualdade continuar a cair, será um país de desigualdade tolerável.
. O importante é que o Brasil cresce em baixo. O crescimento econômico do Nordeste é igual ao da China.

E por que essa impressionante mobilidade vertical ?

Por causa do aumento real do salário mínimo.

Por causa do aumento do emprego.

Por causa da banqueirização dos pobres.

Por causa do aumento da escolaridade.

Por causa do Bolsa Família.

O que impede que a renda se distribua mais rapidamente ?

A Globo.

A Globo é contra qualquer política de intervenção social, a começar pelo Bolsa Família.

A Globo é contra o ProUni.

A Globo é contra as cotas raciais.

O Cardeal Ratzinger, o cérebro da Globo, Ali Kamel, é um especialista na matéria: ele é capaz de provar que as cotas raciais provocam desarranjo intestinal.

A desigualdade não cai mais rápido por causa do PiG (*).

E porque a elite brasileira – de que a Globo é o porta estandarte -, como diz o Mino Carta, é a pior do mundo.

Nisso, somos realmente campeões.



Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


A manchete de hoje do jornal O Globo - Brasil tem o 3° pior índice de desigualdade do mundo – provavelmente poderia ter sido publicada em qualquer dia dos últimos 20 anos. À parte o fato de estar mal redigida – o correto seria “o 3º maior”, porque não poderíamos dizer, por exemplo, que a Noruega tem o “3º melhor índice de desigualdade” – esta situação de desigualdade econômica é o fruto de um modelo econômico que se implantou com todo o apoio e solidariedade do império Globo e que só com muito esforço começa a ser mudada, apesar de suas sistemáticas campanhas contra todos os líderes políticos que buscam ou buscaram melhorar a distribuição de renda no Brasil.

Assim foi com Getúlio, com Jango, com Brizola e, agora, com Lula. Os governantes que concentraram a renda – os ditadores do período militar, Sarney, Collor, Fernando Henrique – só passaram a receber críticar do jornal depois que se tornaram bagaço, inservíveis a seus planos.

Há, entretanto, algo bom em O Globo. É que ele nos estimula o hábito da leitura. Sim, porque é preciso ler quase um palmo de matéria para chegar ao fato que a manchete esconde. Está lá, no meio, quase, do texto: “No caso do Brasil, porém, a desigualdade caiu fortemente nos últimos anos…”

Bom, como o relatório que o jornal dos marinho usa para sua manchete fala que os dados são do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o blogueiro aqui foi lá no site da instituição, e encontrou a matéria da qual reproduzo um trechinho:

Apontado até o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005 como referência de desigualdade, o Brasil é apresentado no RDH 2006 como exemplo de melhoria na distribuição de renda. “A boa notícia é que a desigualdade extrema não é algo imutável. Nos últimos cinco anos, o Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, tem combinado um sólido desempenho econômico com declínio na desigualdade de rendimentos (…) e na pobreza”, sustenta o texto.”

Na matéria existe um gráfico que mostra que o índice de desigualdade na distrbuição de renda vem caindo no atual governo, em relação ao registrado no Governo Fernando Henrique Cardoso. Vocẽ pode observar aí ao lado e embora o dado final, ali, seja 2006, qualquer pessoa sabe que de lá para cá cresceram os empregos e os salários das parcelas mais pobres da população. Aliás, não dá para entender se o “situação brasileira melhorou recentemente” de um subtítulo interno se referia a um informação perdida no contexto da matéria, de que o índice de 0,56 (quanto mais alto, pior) que nos colocaria na terceira posição em injustiça é o atual ou se vale o que está escrito no texto , que “em 2008, o índice de Gini estava em 0,515″. A matéria esclarece, burocraticamente, que no tal “ranking” se considera “o último dado disponível onde era possível a comparação internacional”. Mas não registra quando foi isso.

Como a matéria se presta ao “neo-socialismo” de O Globo, não tem importância que você entenda, basta achar que o Governo Lula está afundando o Brasil na miséria. Aliás, como agora é um campeão da igualdade, bem que o O Globo poderia fazer um baita editorial aplaudindo Hugo Chávez. A reportagem, en passant, fala que a venezuela é um dos países com mais igualdade na distribuição de renda – índice de 0,49 .

Se tivesse um pouco mais de trabalho em apurar veria que a Comissão Econômica da América Latina – a Cepal, aquela mesmo do FHC – apontou o país de Chávez como o que mais avançou na distribuição de renda, segundo a sua secretária executiva Alicia Bárcenas, e seu índice Gini estaria em 0,41.

Quem sabe O Globo, agora investido no papel de “justiceiro social” não se interessa pela pauta?

dotijolaço

A Guerra do Iraque é ilegal cadê os processos?

Vice primeiro-ministro

inglês diz que

invasão do Iraque foi "ilegal"

Em meio a um acalorado debate parlamentar em que representava o primeiroministro, Nick Clegg dirigiu-se ao antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, pedindo que assuma responsabilidades pelo seu papel na "decisão mais desastrosa de todas: a invasão ilegal do Iraque". (Foto Liberal Democrats/Flickr)

Por Redação

Alguns especialistas em Direito Internacional afirmam que as declarações colocam o Reino Unido em uma posição mais delicada no caso de haver processos nos tribunais internacionais. "Uma declaração pública de um ministro no Parlamento é uma declaração em que um tribunal internacional estaria interessado, ao formar uma opinião sobre se a guerra foi ou não legal”, disse Philippe Sands, professor da University College de Londres.

Logo após as declarações do vice-primeiro ministro, uma porta-voz do nº 10 de Downing Street apressou-se a esclarecer que o governo de David Cameron não tomou nenhuma posição sobre a legalidade da guerra, sublinhando que Nick Clegg falava enquanto líder do Partido Liberal e não enquanto vice do governo de maioria conservadora.

Questionados pelos jornalistas sobre como se saberia no futuro se Clegg falava em nome do governo ou dele próprio quando intervém na Câmara dos Comuns, a porta-voz respondeu que ele tem o direito de expressar a sua opinião.

A publicação de documentos classificados no âmbito do relatório Chilcot mostra que o procurador geral Lord Goldsmith avisou Blair que invadir o Iraque sem autorização do Conselho de Segurança poderia levar a uma acusação posterior do país num tribunal internacional. Mas mudou de posição pouco antes da guerra, após os militares exigirem a sua autorização legal à invasão e assim escaparem a eventuais processos judiciais no futuro.

Por Esquerda.net.

quinta-feira, julho 22, 2010

Principais trechos da entrevista de Dilma à TV Brasil






Os pobres pagam para os ricos sem falar do sonegômetro necessário







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Quando os pobres pagam pelos ricos.

Nosso sistema tributário tem atuado com um Robin Hood às avessas, que tira o dinheiro dos pobres para dar aos ricos. No topo da lista dos privilegiados, estão as grandes corporações (principalmente os bancos) e as multinacionais.

por Clair Hickmann*

Uma conta que poucos gostam de pagar é a dos impostos. Alguns privilegiados conseguem escapar, mas para o cidadão comum a conta aumentou muito nos últimos anos. Em geral, esquecemos que os tributos são também o preço da cidadania, fundamentais para financiar um conjunto de serviços - educação, saúde, previdência e assistência social - que depende da ação do Estado.
Mas não basta o Estado arrecadar tributos, é necessário cobrá-los do cidadão que tem capacidade contributiva. Caso contrário, o sistema tributário acaba sendo um Robin Hood às avessas, pois os tributos sobre o consumo oneram principalmete a classe de renda mais baixa, concentrando renda. O inverso ocorre quando a opção é por um sistema tributário progressivo, taxando mais o patrimônio e a renda. Há quem entenda que distribuição de renda se faz apenas via gastos sociais. Porém, diante da elevada concentração de renda no Brasil, é preciso atacar o mal de todas as formas.

COMO SE OBTEVE O AUMENTO DE ARRECADAÇÃO

A política tributária brasileira, a partir de 1995, foi determinante para as ações macroeconômicas que deram sustentação ao Plano Real. A superação da crise fiscal e a formação de superávit primário foram viabilizadas pelo aumento da arrecadação de impostos cumulativos sobre o consumo, agravando a regressividade do sistema tributário. A carga tributária subiu de 26% para 35%, de 1996 a 2006(1). Os tributos federais sobre o consumo aumentaram 110%, em termos reais, nos últimos dez anos.(2)

Esse aumento foi obtido, basicamente, com a majoração de alíquotas e base de cálculo de tributos sobre bens e serviços, como a Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), o PIS (Programa de Integração Social) e a criação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), além do aumento não legislado do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF), congelando a tabela e as deduções do Imposto de Renda.

Atualmente, os tributos sobre o consumo representam 67% da arrecadação total, o imposto sobre a renda, 29%, e os impostos sobre o patrimônio, apenas 4% (3). Nos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ocorre o contrário: a arrecadação de impostos sobre consumo é menor do que a arrecadação de impostos sobre a renda, enquanto 7% recaem sobre o patrimônio (4).

Recente estudo realizado pela Fipe comprova a elevação da carga tributária das famílias de menor renda (5). Em 1996, a carga indireta sobre uma renda familiar de até dois salários mínimos representava 26,5% de sua renda; em 2004, esse número pulou para 45,8%. Para uma família com renda superior a trinta salários mínimos, a carga tributária foi de 7,3% e 16,4%, em 1996 e 2004, respectivamente.

O clamor por uma reforma tributária é grande, mas o debate gira em torno apenas da redução do tamanho da carga e não da melhor distribuição entre as bases de incidência. A participação nas discussões sobre o tema limita-se ao empresariado e ao governo, nos âmbitos municipal, estadual e federal. O cidadão comum participa muito pouco desse debate, apesar da "derrama" atual ser bem maior que os "quintos" dos tempos da Inconfidência Mineira.

O CONGELAMENTO DA TABELA DO IMPOSTO DE RENDA

Também pesou no bolso do brasileiro o congelamento da tabela do Imposto de Renda (IR), que deixou de ser corrigida no período de 1996 a 2001. Com isso, milhares de trabalhadores passaram a pagar IR. O cidadão que ganhava até 10,48 salários mínimos, em 1996, estava isento de Imposto de Renda. Em 2007, está isento apenas quem recebe até 3,46 salários mínimos.

O rendimento do trabalho do cidadão comum é taxado de forma implacável, na tabela progressiva, em até 27,5%, enquanto o rendimento do capital é isento ou sofre uma incidência bem mais suave e não é submetido à tabela progressiva. Os lucros e dividendos distribuídos aos sócios ficaram isentos, os rendimentos e ganhos de capital são tributados com alíquotas de 15% ou no máximo 20%. O tratamento diferenciado é gritante.

É preciso resgatar o Imposto de Renda como instrumento de distribuição de renda, aumentando a progressividade e tributando todos os rendimentos na tabela, independente da origem da renda.


BENEFÍCIO QUE FAVORECE GRANDES CORPORAÇÕES

Ao contrário do contribuinte comum (pessoa física), que tem sofrido a ação implacável do fisco para pagar a conta do ajuste fiscal, grandes grupos econômicos e rendas de capital receberam privilégios tributários. A maioria desses benefícios nem mesmo é computada como
renúncia fiscal no orçamento da União, apesar da exigência prevista no parágrafo 6º do artigo 165 da Constituição. Um dos benefícios fiscais, criado no final de 1995, é a permissão legal (6) para deduzir do lucro tributável uma despesa fictícia denominada "juros sobre o capital próprio", reduzindo com isso os tributos sobre o lucro - Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Essa inovação permite à empresa remunerar o capital próprio, pagando juros aos sócios e acionistas e deduzindo a suposta despesa do lucro. Grandes empesas com lucros fabulosos deixam de distribuir dividendos nos moldes típicos do sistema capitalista para distribuir juros aos sócios e aos acionistas, visando unicamente à redução do pagamento de tributos na empresa. Os maiores beneficiários desse incentivo são as grandes corporações, capitalizadas e lucrativas, principalmente bancos. Em 2005, os cinco maiores bancos brasileiros distribuíram aos seus acionistas R$ 6,1 bilhões de juros sobro o capital próprio, o que representou uma redução nos seus encargos tributários da ordem de R$ 2 bilhões (7).

Para os cofres públicos, somente em 2006, a distribuição de juros sobre o capital próprio significou uma renúncia fiscal da ordem de R$ 4,24 bilhões.

ISENÇÃO QUE PRIVILEGIA AS MULTINACIONAIS

Outro privilégio criado durante o governo FHC é a isenção de Imposto de Renda dos lucros e dividendos distribuídos. O lucro passou a ser tributado apenas na pessoa jurídica. Até 1995, os dividendos eram taxados na fonte ou na declaração anual de IR dos beneficiários. Na verdade, criou-se um privilégio para os rendimentos de capital. O princípio da isonomia foi ignorado.
Com essa isenção, os cofres públicos deixaram de arrecadar aproximadamente R$ 5,4 bilhões em 2006 (8).

Isentou-se também de imposto de renda a remessa de lucros e dividendos ao exterior (9). Até 1995, essas remessas eram tributadas em 15%. Estima-se a renúncia fiscal em R$ 4 bilhões para o ano de 2006 (10).

Esse benefício estimulou a remessa de lucros e dividendos ao exterior pelas multinacionais, batendo recorde em 2005, no valor de R$ 12,7 bilhões, maior montante desde 1947, segundos dados do Banco Central.
A soma desses três benefícios mencionados, em 2006, significa uma renúncia tributária a favor da renda do capital da ordem de R$ 13,4 bilhões.
Esses privilégios são desconhecidos pela maioria da populaçnao e os recursos que o Estado deixa de arrecadar com eles são omitidos do orçamento público (11).

O contrário acontece com os gastos que o cidadão comum deduz do imposto de renda. As despesas com saúde, educação e dependentes são computadas no orçamento da União como renúncias fiscais. Isso é um equívoco completo, porque tais gastos representam o mínimo existencial e, portanto, não podem ser considerados renda potencial a tributar. Como se vê, são dois pesos e duas medidas.

A estimativa do governo federal com desonerações de natureza tributária, para o ano de 2007, é de R$ 52,7 bilhões. Isso representa 2,29% do PIB e 12,79% da arrecadação tributária adminstrada pela SRF. Esses números são bastante questionáveis, visto haver renúncias tributárias expressivas não computadas, enquanto outras, que não representam potencial arrecadação, são consideradas benefícios fiscais. Além disso, há também benefícios e isenções concedidos pelos governos estaduais e municipais que têm gerado forte discussão, porque, muitas vezes, provocam guerra fiscal entre os entes federados. Mas esse é assunto para outro artigo. Meu objetivo aqui foi apenas mostrar que o privilégio de alguns é pago pelo cidadão comum.

*Clair Hickmann é auditora fiscal da Receita Federal. Foi diretora de Estudos Técnicos do Unafisco Sindical de agosto de 2001 a julho de 2003 e de agosto de 2005 a julho de 2007.

Notas:
(1) Cálculo feito com o novo PIB, reclaculado pelo IBGE.
(2) Hickmann, Clair Maria, e Salvador, Evilásio da Silva. Dez anos de derrama: a distribuição da carga tributária no Brasil. Brasília: Unafisco Sindical, 2006, p.30
(3) Fonte: Unafisco Sindical
(4) Dados da OCDE disponíveis em www.oecd.org
(
5) Ver Dez anos de derrama: a distribuição da carga tributária no Brasil, cit., p.28.
(6) Artigo 9 da Lei 9.249/95.
(7) Dez anos de derrama: a distribuição da carga tributária no Brasil, cit., p.36
(8) Foi considerada apenas a isenção de lucros e dividendos distribuídos das empresas que adotam o regime de apuração de lucro real. Valores estimados com base no DIPJ de 2000, aplicando a variação do IPCA.
(9) Artigo 10 da Lei 9.249/95.
(10) Remessa de lucros para o exterior convertidas à taxa de câmbio comercial média de 2006, aplicando a alíquota de 15% que vigorava até 1996.
(11) Ver www.receita.fazenda.gov.br: Demonstrativo de Benefícios Fiscais 2006 - SRF.

dobocanotrombone

CARGA TRIBUTÁRIA
Mais injusta que excessiva


A carga tributária do Brasil perpetua a desigualdade, desestimula os investimentos produtivos e é moderada sobre o patrimônio.


Por Gerson Freitas Jr. e Luiz Antonio Cintra, na Carta Capital


De tempos em tempos, principalmente durante as eleições, esquenta o debate sobre os impostos pagos pela sociedade brasileira. Distorcida a partir da perspectiva de uns poucos atores sociais, destaque para a eterna choradeira do empresariado, a discussão em geral cria mais fumaça do que luz. Reforça-se a falsa impressão de que a carga tributária brasileira é das mais altas do planeta. E que o apetite aguçado do Leão seria a principal causa do desempenho econômico insatisfatório do País nas últimas décadas, o que também é outro mito. Longe de ser um exemplo virtuoso para o restante do mundo, a estrutura tributária brasileira – mais do que o nível da carga – é ao mesmo tempo espelho e motor da brutal desigualdade da sociedade brasileira. Herança do período colonial, ela taxa pouco a renda e o patrimônio daqueles que ocupam o topo da pirâmide social. Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea) indica que os 10% mais ricos se apropriam de 75% da riqueza atualmente. No fim do século XVIII, na então escravocrata sociedade carioca, a parcela mais rica era mais moderada em sua ofensiva, ficava com 69% do bolo.

A estrutura tributária atual, como frisam os especialistas, perpetua as diferenças abissais entre os mais ricos e os mais pobres ao eleger os que têm menos para boi de piranha. Atualmente, metade da renda das famílias que ganham até dois salários mínimos (cerca de mil reais) segue para o governo federal, estados e municípios. A “mordida” cai a 26% para as famílias com rendimento mensal acima de 15 mil reais.

Dessa montanha de recursos, uma parte muito pequena, menos de 10% do arrecadado, volta para a sociedade na forma de saúde, educação, segurança e saneamento, sem entrar no mérito da qualidade dos serviços prestados. Os detentores de títulos da dívida pública levam bem mais: cerca de 35% do Orçamento da União, parcela que tende a crescer neste ano à medida que sobe a taxa básica de juros, a que remunera os credores.

Com doutorado sobre o sistema tributário brasileiro, o economista Evilásio Salvador, professor da Universidade de Brasília, centra suas críticas na distribuição do bolo tributário. “O problema não é o nível da carga, que nem é tão alto como os empresários gostam de dizer. Temos um monstrengo regressivo que taxa principalmente o consumo, por meio de impostos indiretos, como o ICMS, pago por todos, independentemente da condição social. Deveríamos aumentar a taxação sobre os rendimentos mais altos e principalmente sobre o patrimônio.”

No ranking da carga tributária (quadro à pág. 24), o Brasil aparece em primeiro lugar na América Latina, com o dobro da média dos países da região. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, chegou a elogiar o sistema brasileiro, que lhe deu musculatura durante a turbulência. Imagine-se qual seria a nossa situação se, a exemplo do México, nossa carga fosse de apenas 10% do PIB. O indicador, longe de ser um problema, dá margem de manobra ao Brasil e nos ajudou a superar a crise de 2008. O PIB mexicano caiu 6% em 2009, e o país parece hoje uma ilha de maquiladoras cercada pela violência do narcotráfico.

Na avaliação do pesquisador Juan Pablo Jimenez, da Cepal, centro de pesquisas econômicas da ONU sediado no Chile, o Brasil, apesar de taxar mais, segue o padrão regional em matéria de estrutura tributária, e aí residem os maiores problemas. “Nos países latino-americanos, os sistemas tributários são em geral incapazes de cumprir suas duas funções primordiais: não conseguem garantir a estabilidade macroeconômica nem distribuir a riqueza. Também por esse motivo o México tem sofrido muito com a crise nos paí-ses ricos. O governo não tem meios de se contrapor à conjuntura ruim.”

O fato de os países latino-americanos, Brasil incluído, concentrarem a taxação sobre o consumo também é prejudicial, avalia Jimenez, já que a arrecadação tende a cair com maior vigor nos momentos de queda da economia, além de ser essencialmente injusto. Pela facilidade de cobrança, segundo especialistas, fica difícil imaginar no Brasil uma mudança radical no sentido de desonerar o consumo. Apesar das promessas dos candidatos, o mais provável é o aumento das transferências compensatórias de renda para quem necessita.

Economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco bate na tecla de que a carga tributária brasileira é das mais elevadas do mundo, fato que a confederação atribui ao “peso do Estado”. “O gasto público é semelhante apenas ao de alguns poucos países da Europa Ocidental. Não tem nenhuma economia emergente, ou mesmo madura, como o Japão, que se assemelhe ao Brasil. Na América Latina, todos os países pagam menos impostos.” No dia 20, a CNI e várias outras entidades empresariais lançam novo movimento para chamar atenção para esse debate. O risco é mais uma vez ampliar a nebulosidade que costuma acompanhar iniciativas semelhantes.

As estatísticas indicam que o panorama internacional não condiz exatamente com a avaliação da CNI. Um estudo comparativo da Organização para a Coo-peração e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que a carga brasileira se aproxima da média da União Europeia, e não está muito distante do patamar estadunidense. Mas é fato que o Brasil é líder na América Latina. O que a CNI esquece de mencionar é que a África também é um exemplo de baixa carga tributária – e, como se sabe, não pode ser considerada exemplo de desenvolvimento social justo, assim como os latino-americanos. Além do mais, o Brasil tem a maior economia, a maior população e a maior área do subcontinente, o que demanda vasta presença do Estado.

Além do tamanho dos tributos, Castelo Branco considera negativa outra característica: os governos tendem a criar sistemas de exceção, que costumam vir acompanhados do risco de distorções. “Esses impostos não podem ser sustentados pelas microempresas? Então criamos o Simples. Um determinado segmento econômico não consegue competir? Então damos isenção. É difícil calcular? Então fazemos o cálculo com base no lucro presumido”, ironiza. E concorda em deslocar a cobrança dos impostos para a renda. “Fazendo isso, você abre espaço para taxar menos a produção. Mas aumentar imposto sobre a renda é sempre complicado, a gritaria é geral.”

A análise do economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, segue em outra direção. Para ele, a carga tributária não é alta. “Comparada aos países do Primeiro Mundo, considerando nossa renda per capita e a péssima distribuição de renda, a carga brasileira poderia ser até maior”, afirma. O economista pondera que, para o empresário, o problema não está exatamente em quanto se paga, mas em como se paga. “A questão principal é a burocracia, a dificuldade para se calcular o valor do imposto e recolhê-lo, as inúmeras exigências, fiscalizações e embargos. A carga não é alta, mas é irritante”, afirma Lessa.

Um estudo recente do Banco Mundial, dá uma ideia da complexidade do sistema. O Brasil ocupa a 150ª posição entre os paí-ses onde mais tempo é gasto para quitar os tributos: consome de uma empresa em média 2,6 mil horas ao ano. Nos demais países da América Latina, esse “custo” cai a 385 horas, e é de 194 nos países da OCDE. Também o custo para arrecadar impostos é elevado. No Brasil, chegou a 11,3 bilhões de reais em 2009 ou 1,35% da arrecadação total, de acordo com pesquisadores da FEA-USP. Apenas Portugal supera o Brasil nesse quesito, com um custo de 2,75% do arrecadado.

Lessa chama ainda a atenção para a má distribuição da carga tributária, “feita de modo a driblar aspectos constitucionais”. A partir da Constituição de 1988, os impostos dispararam em razão do regime de repartição de rendas tributárias, mais favoráveis aos estados e municípios, sem correspondentes transferências de encargos – o que obrigou a União a criar uma gama de contribuições que não são divididas com os demais entes da federação.

Mesmo assim, Lessa rechaça a crítica de que é preciso reduzir os gastos previdenciá-rios, a fim de diminuir o tamanho do Estado e, com isso, a porcentagem dos impostos sobre os empresários. “Não se discutem os gastos da seguridade social, porque ela foi pré-pactuada entre os brasileiros. Decidimos em 1988 que todos teriam direito à saúde e que cada brasileiro teria direito a uma aposentadoria digna. Fixamos entre nós mesmos um pacto pelo qual todo brasileiro garantiria a seguridade social dos demais.” Para ele, as contribuições sociais devem ser tratadas como impostos, com participação dos estados e municípios.

Para o ex-reitor da UFRJ, engana-se quem compara a carga brasileira com a de outros países que não oferecem qualquer rede de proteção social ao cidadão. “China e Índia possuem arranjos institucionais completamente diferentes do nosso. O Brasil é um país gigantesco e muito industrializado, muito urbanizado, que internalizou nas metrópoles a miséria social. Na China e na Índia, boa parte da população ainda está no campo.”
Na década de 1960, observa, metade da renda nacional (a totalidade do rendimento de todos os brasileiros) provinha do trabalho. Hoje o trabalho responde por apenas 37% da renda. “O que cresceu no Brasil foram os rendimentos do não trabalho, e a responsabilidade disso é dos lucros reais dos bancos brasileiros, que cresceram, em média, 11% ao ano durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e 14% durante o mandato de Lula.”

O economista Antônio Correa Lacerda, do Departamento de Economia da PUC-SP, afirma que os problemas do sistema de impostos devem-se principalmente à concentração de renda. “Há dois efeitos. O primeiro é que a carga tem de ser elevada para que o Estado possa suprir a maioria da população que não tem renda, e isso sobrecarrega quem tem mais renda. Segundo, trata-se de uma carga pouco inteligente, que tributa muito o investimento e a exportação. Ao tributar o investimento, desestimula-se a produção e, ao tributar a exportação, perde-se competitividade.”

Diretor de estudos macroeconômicos do Ipea, João Sicsú critica o enfoque dominante na discussão em torno da reforma tributária no País. “As críticas vão sempre no sentido de mostrar que o Estado ocupa um tamanho exagerado na economia e que é preciso reduzi-lo. Mas os números indicam que isso não é verdade. É preciso considerar o conceito de carga tributária líquida, quando se leva em conta as transferências que a União faz, para pagar aposentadorias, subsídios, pensões etc. Por esse critério, a carga cai a 20% do PIB, menor que na Alemanha, de 21%, Canadá, que tem 23%, e pouco acima dos EUA, que é de 16%.”

Sicsú concorda com o caráter “regressivo e concentrador de riquezas” do sistema atual. “E é justamente nesse ponto que a reforma tributária deveria avançar. Mas o que vemos é uma discussão sobre a redistribuição entre os estados, o equilíbrio do pacto federativo, a eliminação da guerra fiscal e como cortar o custo da arrecadação. Mas não se discute como podemos avançar na justiça social. É essa a essência da questão.”

Ainda que haja muito a ser feito, é inegável que o País avançou em algumas frentes, realizando “minirreformas” aqui e ali. Foi esse o caso das micro e pequenas empresas. A preocupação com a questão tributária praticamente saiu da pauta desse segmento empresarial desde 2007, quando o governo instituiu o sistema Simples Nacional, que unificou o pagamento de oito tributos para empresas com faturamento de até 2,4 milhões de reais ao ano, com alíquotas de 4% a 17% da receita bruta.

Segundo o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella, o resultado da mudança legal é evidente. Há quatro anos, afirma, havia aproximadamente 2 milhões de pessoas jurídicas operando no Brasil, dos quais 1,7 milhão eram micro e pequenas empresas. Em 2009, o número dobrou, para 3,4 milhões. “Muitos empreendedores tomaram a decisão de abrir uma empresa ou se formalizar diante desse regime de tributação mais justo”, considera. Para Tortorella, as pequenas arcam com uma carga tributária média de apenas 5%, muito menos que as empresas que recolhem sobre o lucro presumido (12% a 15%). Mas o grande benefício do Simples, diz, foi a desburocratização. “Antes, o microempresário tinha de ir ao banco dez vezes por mês para recolher todos os impostos. Hoje, ele perde uma hora.” Atualmente, 70% das empresas no País operam no regime do Simples.

Diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o economista Julio Sergio Gomes de Almeida filia-se à ala que defende a redução da carga tributária, dos atuais 35% para cerca de 30%. “Essa redução pode ocorrer, mas é preciso que o Estado tenha gastos sociais à altura das nossas necessidades e uma participação expressiva nos investimentos de infraestrutura, e ainda temos muito a fazer nessas duas frentes”, avalia, para quem o sistema vigente “trata mal” a atividade econômica.

A “redução seletiva” de impostos sugerida pelo Iedi procura ampliar a competitividade da indústria, setor que tem perdido espaço no mercado internacional. “As exportações não deveriam pagar impostos. Hoje, elas contam com um sistema de devolução que não funciona. Também é preciso reduzir os impostos sobre os investimentos produtivos. No mundo inteiro, esses investimentos dão direito a créditos tributários, mas aqui isso não acontece. É preciso tirar os impostos que incidem sobre a folha de pagamentos, de 20%, paga pelas empresas. Essa conta deveria migrar para tributos gerais, como o PIS/Cofins e o Imposto de Renda. Além disso, os produtos da cesta básica não deveriam pagar nenhum tipo de imposto, para minimizar a regressividade do sistema.”

Sicsú, do Ipea, chama atenção para outro ponto confuso do debate sobre os impostos, que tem origem no crescimento verificado na fatia do Leão, até chegar aos 36% do PIB. “Na década de 90, durante o governo FHC, vários tributos e impostos foram criados, inclusive para fazer frente às necessidades de gastos surgidas com a Constituição de 1988. Mas no governo Lula o crescimento da carga tem outra explicação. Ocorre que nos últimos anos, com o crescimento da economia, ampliou-se a formalização, mais empregos com carteira assinada surgiram, e tudo isso aumenta a arrecadação. Alguns economistas dizem que isso significa ampliar o sacrifício da sociedade, mas não é isso o que está acontecendo mais recentemente.” E cita o caso da CPMF, extinta desde 2008, numa vitória da oposição no Congresso.

Em ao menos um ponto empresários, governo e especialistas concordam: não há reforma tributária que resista a uma economia debilitada. A conjuntura desfavorável acirra as disputas pelos recursos públicos em queda ou estagnados. No momento em que a economia voltou a crescer – tendência reforçada pelas perspectivas abertas com o pré-sal – passa a ser possível alterar o estado das coisas. “É preciso avançar na isonomia, já que a carga recai principalmente sobre os trabalhadores com carteira assinada, os funcionários, além do consumo”, diz Salvador, da UnB. “É preciso retomar a discussão sobre uma maior participação de estados e municípios, mas as responsabilidades também têm de ir junto.”

Outro ponto da discussão tem a ver com a elisão fiscal, ou seja, a capacidade de algumas empresas (principalmente as de grande porte) driblarem o pagamento dos tributos. “Avançamos bastante na evasão fiscal, mas a elisão ainda é um problema. Existe uma verdadeira indústria para não pagar impostos no País que se alimenta da falsa impressão de que os impostos são exagerados”, afirma Salvador. De certa forma, é possível estabelecer um paralelo com o que acontece com o debate sobre a justiça. Quem costuma reclamar da existência de um “Estado policial” é justamente quem possui mais condições de remunerar advogados de grife e que, geralmente, não passa mais de duas noites em uma cela limpa na cadeia. Ou nem isso.

(Foto: Olga Vlahou)

Fonte: Carta Capital