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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 12, 2011

Charge do Dia

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COMENDA DADA POR FHC AO EX-DITADOR FUJIMORI PODE SER CASSADA

 

DA LIDERANÇA DO PT NA CÂMARA

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) pode anular a concessão da Ordem do Cruzeiro do Sul oferecida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao ditador e ex-presidente do Peru, Alberto Fujimori, em 2003.

A entrega da mais importante comenda brasileira ocorreu em Lima, durante visita oficial realizada pelo ex-presidente brasileiro aquele país. O presidente da CCJ, deputadoJoão Paulo Cunha (PT-SP), designou o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) para a relatoria (PDC-2229/09), do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que propõe a anulação da condecoração.

Para o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), integrante da comissão, aprovar o projeto é uma demonstração de respeito ao povo peruano. "Cassar a comenda oferecida ao ditador peruano é um ato de justiça. Vale lembrar que, hoje, Fujimori se encontra preso, condenado a 25 anos de prisão, por crimes contra a democracia, os direitos humanos e favorecimento ao tráfico de drogas naquele país. Portanto, assim como fez o Senado, a Câmara também precisa aprovar esse projeto em respeito ao povo peruano e as vítimas do 'Fujimorismo' naquele país", destacou.

Entre outras acusações, estima-se que pelo menos 25 pessoas foram assassinadas com o consentimento do ditador e ex-presidente peruano, na repressão política instaurada durante seu governo. Fujimori também é acusado de promover um autogolpe, em 5 de abril de 1992, quando dissolveu a força o Congresso do país. O principal assessor do ex-presidente, Vlademir Montesinos, também está preso, condenado a 20 anos de prisão pelos crimes de assassinato, corrupção e tráfico de drogas.

A proposta de cassação da comenda já foi aprovada no Senado. Na Câmara, onde também foi aprovada pela Comissão de Relações Exteriores, a proposta recebeu parecer favorável do então relator, o ex-deputado Paulo Delgado (PT-MG). A proposição já tramitou pela CCJ em 2003, quando recebeu parecer favorável do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), e em 2008, pelo então relator, o ex-deputado José Genoíno (PT-SP), mas não chegou a ser votada pelo colegiado.

Humala - Na semana passada, a filha do ex-ditador, Keiko Fujimori, perdeu as eleições presidenciais no país para o nacionalista Ollanta Humala. Na condição de presidente eleito, Humala visitou o Brasil nesta semana, e em encontro com a presidenta Dilma Rousseff disse na quinta-feira (9) que "o Brasil é sócio estratégico e muito importante para o Peru". Ele destacou a admiração que tem pelo Brasil, ao afirmar que nosso país "tem um modelo exitoso de estabilidade macroeconômica com inclusão social", afirmou.

Nesta sexta-feira (10), o presidente eleito do Peru, Ollanta Humala tem encontro marcado, em São Paulo, com o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva.
*históriavermelha

Deleite

Se o mundo fosse uma rua, quem conseguiria viver com um vizinho assim?


O valentão mais perigoso do mundo | Immanuel Wallerestein
do OUTRAS PALAVRAS via Grupo Beatrice

Immanuel Walleresten aponta novos sinais do declínio dos Estados Unidos, e lamenta: Obama é poderoso apenas para fazer o mal

Por Immanuel Wallerestein | Tradução: Antonio Martins

O presidente dos Estados Unidos é considerado o indivíduo mais poderoso no mundo moderno. O que Barack Obama está aprendendo, para seu desapontamento, é que ele tem enorme poder para fazer o mal – mas quase nenhum, para fazer o bem. Imagino que ele perceba isso, e não saiba como o que fazer a respeito. O fato é que ele pode muito pouco.

Examinemos sua principal preocupação específica, no momento – a primaver árabe. Ele não a começou. Ele foi evidentemente pego de surpresa quando ela começou – como, aliás, quase todo mundo. Sua resposta imediata foi pensar, com razão, que o processo representava grande perigo para a já abalada ordem geopolítica da região. Os Estados Unidos procuraram, de todas as maneiras possíveis, limitar o dano, manter sua própria posição e restaurar a “ordem”. Ninguém pode afirmar que tiveram grande sucesso. A cada dia, a situação torna-se mais incerta e fora do controle de Washington.

Barack Obama é, por convincção e personalidade, a quinta-essência do centrismo. Ele busca diálogo e compromisso entre “extremos”. Age com a devida reflexão, e tomas as grandes decisões com prudência. É partidário de mudanças lentas e ordenadas – que não ameacem as bases do sistema do qual ele é não apenas parte, mas a figura central e o mais poderoso ator.

Porém, ele encontra-se, hoje, constrangido de todos os lados para o exercício de seu papel. Ainda assim, continua tentando jogá-lo. Diz, obviamente, para si mesmo: que mais eu poderia fazer? O resultado é que outros atores (inclusive os que foram seus aliados subaltermos) desafiam-no aberta, desavergonhada e repetidamente – o que reduz ainda mais seu poder.

Benyamin Netanyahu, o premiê israelense, fala ao Congresso dos EUA, que aplaude seus absurdos interesseiros com entusiasmo e arrebatamento – como se ele fosse em George Washingto reencarnado. Foi um tapa na cara de Obama, mesmo que o presidente já tivesse, ao falar ao lobby pró-israelense AIPAC, retirado na prática sua tímida tentaiva de propor a volta às fronteiras que Israel e os palestinos mantinham em 1967, como base para a paz.

O governo saudita deixou muito clara que fará tudo a seu alcance para defender os regimes atuais do mundo árabe. Está irritadíssimo com as concessões ocasionais de Obama à linguagem dos “direitos humanos”. O governo do Paquistão está avisando muito claramente a Obama que, se os EUA tentarem enquadrá-lo com dureza, encontrará na China uma amizade mais firme. Os governos russo, chinês e sul-africano lembraram sem reservas que, se Washington tentar obter decisões do Conselho de Segurança da ONU contra a Síria, não terá seu apoio. Provavelmente, sequer reunirá maioria de votos – um eco do fracsso de Bush, ao tentar obter, em 2003, uma segunda resolução sobre o Iraque. No Afganistão, o presidente Karzai está reivindicando da OTAN o fim dos ataques com aviões não-tripulados. E o Pentágono sofre pressões para deixar o país, onde sua aventura tornou-se muito cara.

Para que não se enxergue a fraqueza apenas no Oriente Médio, basta espiar Honduras. Os Estados Unidos virtualmente endossaram o golpe contra o ex-presidente Zelaya. Em consequência, Honduras foi suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Washington tem batalhado duro para restaurar a participação do aliado, alegando que um novo presidente foi formalmente eleito. Os governos latino-americanos resistiram, porque Zelaia, o chefe de Estado deposto, não era autorizado a regressar — com a retirada de todos os processos legais que o ameaçavam.

O que aconteceu em seguida? A Colômbia (supostamente o principal aliado dos EUA na América Latina) e a Venezuela (supostamente o satã dos EUA na região) acertaram-se e, juntas, negociaram com o governo hondurenho o retorno – nas condições definidas por Zelaya. A secretária de Estado Hillary Clinton sorriu amarelo, diante da derrota da diplomacia de Washington.

Por fim, Obama está em apuros com o Congresso dos Estados Unidos em torno da guerra na Líbia. A Lei dos Poderes de Guerra autoriza o presidente a comprometer tropas no país apenas por 60 dias, após os quais é necessária autorização explícita do Legislativo. Dois meses passaram, e não houve decisão do Congresso. A continuidade da ação é claramente ilegal, mas Obama é incapaz de obter o endosso. Ainda assim, permanece comprometido com a guerra e o envolvimento norte-americano pode crescer. Ou seja: ele pode fazer o mal, mas não o bem.

Enquanto isso, concentra-se em sua reeleição. Tem boas chances de obtê-la. Os republicamos estão caminhando cada vez mais para a direita e cometendo graves exageros políticos. Mas uma vez reconduzido, o presidente dos EUA terá ainda menos poder que hoje. O mundo está mudando rapidamente. Num tempo de tantas incertezas e atores imprevisíveis, os Estados Undios estão se convertendo no valentão mais perigoso do planeta.

Relato da Rachel Coelho, a menina rebelde que não apertou a mão de Figueiredo

via MariaFrô
Ontem, Rachel Coelho me mandou pelo facebook a informação de que ela finalmente havia decidido revelar porque aos cinco anos, frente a frente com o general Figueiredo, não apertou a mão do presidente ditador.
Eu não vejo TV Globo e seu jornalismo então me recuso peremptoriamente. Mas como há pelo menos três anos eu e boa parte da blogosfera interessada na história e memória recente do país queríamos saber quem era aquela menininha atrevida e o que a motivou a se tornar símbolo da resistência à ditadura, liguei a tevê para ver a reportagem.
Não me surpreendeu o fato de que a matéria não tenha feito a menor menção que boa parte da blogosfera e das redes sociais já soubessem quem era Rachel veja aqui: Procura-se a menina que se negou a cumprimentar Figueiredo e aqui: Da Rachel Coelho que não apertou a mão do Figueiredo e ainda não respondeu as questões :(
Claro que eu eu todos que a procuramos durante anos queríamos ter contado o motivo dela ter se recusado a apertar a mão do general Figueiredo (embora tivéssemos algumas hipóteses), mas foi decisão da Rachel onde ela revelaria sua história e além do mais ela, a ‘fonte’, foi quem achou a historiadora e isso por si só já é bacana.
De toda a forma temos o registro de todo o processo desta busca e descoberta. Só lamento por Guinaldo Nicolaevsky, o fotógrafo que capturou o momento, não estar vivo pra conhecer a fotografada.
Ontem Rachel também disse que me mandaria o relato de toda a história. Hoje pela manhã abri o mail e aí está. Compartilho a sua narrativa.
Conceição,
Segue um brief bem completo da história.
Um beijo,
Rachel
1979
Na noite anterior minha mãe e meu pai conversam na mesa de jantar sobre o almoço de meu pai com o presidente no dia seguinte.
Meu pai como chefe de divisão do DER tinha que cumprir mesmo a contra gosto muitos compromissos políticos e um deles originaria um dos micos na história da ditadura.
Manhã seguinte:
A garotinha de 4 ou 5 anos, ( dependendo da data, faço aniversário dia 09 de agosto) alheia à situação política do país acorda e já começa a azucrinar a cabeça da mãe:
- Mãe, eu quero falar com o presidente.
A situação se prolonga por toda manhã até que na hora do almoço entre uniformes, cadernos e merendas a mãe perde a paciência e fala:
_ Tá bom, Rachel vou te levar pra você ver que não vai ver o presidente coisa nenhuma. E anda rápido porque você não vai chegar atrasada na escola por conta de visita de presidente. Ô menininha, viu!
Chegando na praça da Liberdade…
A praça estava lotada, me lembro das pernas das pessoas; eu não desistia então minha mãe me puxando pela mão para que eu não me perdesse na multidão, uma vez que não conseguiria me demover da idéia que ela mesmo estava intrigada com a minha cisma.
- A Rachel não pára de insistir que quer ver o presidente (pergunto pra ela direito depois), tem como você colocá-la pra dentro.
Nesse meio tempo eu já ganhava espaço e passava por meio de muitas pernas em direção ao meu alvo.
Agora, por causa da informação que obtive na entrevista do fotógrafo*, provavelmente foi tão fácil furar o bloqueio por causa do grupo de crianças que estava lá do qual eu não fazia parte.
Cheguei e me vi frente a frente com o homem que fazia parte do telefone engraçado do Chico Anysio (não me lembro se foi antes ou depois do ocorrido só que as pessoas lá de casa sempre brincavam comigo se eu não ia ligar pro presidente mas que desta vez eu falasse oi pro “homi”), puxei a calça e nada. Até que finalmente aquele gigante me deu atenção e pude finalmente cumprir meu objetivo que era atrapalhado pelas pessoas que queriam que eu estendesse a mão a ele:
Estava morrendo de medo era da minha mãe; que já devia estar uma fera por causa do horário da escola, do trabalho e que ela devia estar preocupada com a minha escapada. Não sabia o porquê, mas naquele tempo se tinha medo de polícia.
_ Você sabia que meu pai vai almoçar com você hoje?
_ E ele come muito?
_ Come.
_ Então não vai sobrar nada para mim.
_ Nào vai mesmo. Agora tenho que ir pro Cirandinha (nome do jardim que eu estudava).
Virei as costas e parti do mesmo jeito que cheguei correndo e empurrando pra encontrar a minha mãe.
Nem me lembro se minha mãe me deu bronca, no íntimo estava contentíssima, pois havia dado o meu recado para o presidente. Nem sei da onde tirei esta cisma, devia achar que o almoço do meu pai seria igual o que uma refeição representava para mim. Um grupo de pessoas que se gostavam e se importavam umas com as outras comendo juntas.
Acabei de me lembrar que o meu desejo no íntimo era que o presidente acabasse sentado na minha mesa de jantar, que eu me livrasse da sopa de legumes e pudesse provar para as coleguinhas que meu pai realmente tinha almoçado com o presidente. O dó nem imaginava a quantidade de gente que iria “almoçar” com o presidente.
Lembro-me das publicações, da minha foto, mas minha família a não ser quando vem o caso se lembra da história.
Preenchendo uma lacuna das histórias que li na net completo:
Os filmes realmente não foram publicados e realmente desapareceram porque foram para o SNI. Meu tio, casado com a irmã do meu pai e já em desacordo com a ditadura foi chamado as pressas para analisar o rolo de filme que chegava.
-Quem era aquela garotinha? Quem eram os pais? Ela foi mandada? Tem algum fundo revolucionário nesta história?
- Sem ver a foto já afirmou que era a criança mais sensata do Brasil.
Qual não é seu susto quando reconhece que a garotinha era a Quequel sua sobrinha e que meu pai era um engnheiro e não um corregilionário como publicaram que era.
Minha família é de militar, do outro lado da luta armada, mas isto não quer dizer que éramos do tipo que concordavam com a conduta sem questionar.
1986
Não me lembro porque na aula de história do colégio eu levei as revistas com a foto.
Foi a primeira vez que percebi que a foto era famosa e ouvi que deveria ter ganhado dinheiro com ela.
Me diziam que o fotógrafo tinha ganhado vários prêmios, que a foto sempre era incluída em salões. Mal sabia eu que ele queria me encontrar, na minha cabeça ele era um sensacionalista, que aproveitou de um momento e criou uma situação que não existiu e ficou famoso com isto.
1994
Foi a primeira vez que quis as fotos; sempre que estava em eventos perguntava aos fotógrafos da imprensa se sabiam como conseguir a foto ou falar com o fotógrafo. Ninguém nunca me deu atenção.
2004
Escrevi um email para a Veja de um antigo endereço: rachelclemens@uol.com.br.
Recebi que não tinham contato e informações de quem era o fotógrafo e me cobraram pela foto. Não quis porque achei um absurdo pagar por uma foto minha que as pessoas haviam lucrado tanto.
2011
Olhando para trás me lembro de uma vez no Rio que o vi o ex-presidente com a dona Dulce e quase fui lá falar com ele que eu nem pensei em cumprimentar ou não. Eu devia ter mais ou menos uns 10 anos. Fiquei com vergonha e com medo tomar um carão e não fui.
Até hoje sou assim, se cumprimento uma pessoa que conheço (te digo que pra mim em 1979 uma pessoa que aparece na TV era conhecidíssima) sem antes ter falado um monte é porque não tenho nada a dizer a ela. Pergunte sua tia quantas vezes ela me chamou atenção por este meu jeito de falar o que pensa sem raciocinar a conseqüência que isto trará para mim e quantas vezes atropelei as pessoas por esta minha falação que parece um comichão na língua.
Eu fui contar para o presidente sobre o almoço, pegar na mão era detalhe e ainda mais com um bando de desconhecidos querendo que eu fizesse algo obrigada. Muito mais medo da minha mãe do que de desconhecidos.
Meu pai, segundo minha mãe, se irritou com as pessoas que queriam que ele conseguisse dinheiro por causa da foto.
Justo ele que foi um homem extremamente correto e detestava politicagem se ver colocado numa saia justa desta por causa da teimosia da filhota. Tenho que perguntar à minha mãe, mas acho que já ouvi algo do tipo: ele ter ficado ‘buzina’ com ela por ela ter cedido à minha ladainha do ‘quero falar com o presidente’.
Ainda não consegui avaliar se foi bom ou ruim saber de toda a mobilização.
Posso dizer que fiquei orgulhosa por ter servido de alento para tantos brasileiros e hoje com a revolta que tenho com a corrupção e impunidade fico contente de mesmo sem saber ter dado um minúsculo troco a alguém que oprimiu o povo.
Ainda hoje, continuo tinhosa e meio difícil de colocar as rédeas para algo que não queira fazer. Já fui degolada por manter as minhas convicções. Acho que se não tivessem insistido para dar a mão a ele a continuidade da foto não seria um aperto de mão, provavelmente abriria os braços e lhe daria um abraço e aí talvez quem passasse o carão teria sido eu.
Graças a Paris Hilton ter tirado uma foto a la Fiona Walker eu virei notícia antiga pra muita gente e provavelmente estão perseguindo a Fiona que depois de 35 anos resolveu aparecer.
Recebi várias comentários, achei interessante o comportamento dos fotógrafos; é inerente o hábito de provocar para conseguir resposta. A maioria deles diante do meu silêncio me atacava me chamando de mentirosa ou em busca da fama. Mas já trabalhei com inteligência de mercado na Embraer e pelo treinamento que tive sei que esta é uma tática para fazer a pessoa falar. Nesta eu não caio.
Ano passado, na Argentina, me juntei em uma quinta feira nas hoje chamadas abuellas de mayo e te digo que hoje meus olhos se enchem de lágrimas, meu coração aperta ao lembrar do semblante daquelas mulheres.
Havia uma, a sra Morel, que tem até a foto postada no Face que não me aguentei: agarrei nos seus braços e fiquei dando a volta no obelisco respondendo, presente! Te falo que foi um dos momentos que mais tive orgulho da minha existência e de como mãe permitir e ensinar a minha filha a ficar do lado de quem é oprimido.
Nem me lembrava e não tinha conhecimento que eu de pequena havia sido símbolo da resistência à ditadura.
Fiquei impressionada com os conselhos das pessoas mais jovens e me pergunto se a luta de pessoas como a sua mãe valeu a pena. É triste ver os valores desta geração de 18 a 25 anos.
As opiniões que recebi (artista deve ter uma vida horrível porque as pessoas ficam íntimas mesmo) de pessoas que conheço ou não era de que eu deveria aproveitar os tais 15 minutos de fama, pedir dinheiro, um emprego já que estou mudando de carreira e me formando em design gráfico no final do ano e só falar pra quem me desse algo em troca.
Muitos que me procuraram, foram extremamente bacanas, me cumprimentaram e vários quiseram ficar meus amigos na rede social. Me incluíram até em grupos sobre a ditadura. Por eles que servi de alento e pela busca do autor da foto que acho que vale a pena dar uma resposta que sei que em suas mãos, voz ou de quem você escolher será contada dignamente.
*Rachel quando chegou a este post e leu as observações que Guinaldo havia feito sobre o dia da foto.

Por Frei Betto

Conta o mito grego que Epimeteu ganhou dos deuses uma caixa que continha todos os males. Advertiu a mulher, Pandora, que de modo algum a abrisse. Mordida pela curiosidade, ela desobedeceu e os males escaparam.

Hoje, uma das caixas de Pandora mais ameaçadoras são as usinas nucleares – 441 em todo o mundo. Por mais que os Epimeteu das ciências e dos governos apregoem serem seguras, os fatos demonstram o contrário. As mãos de Pandora continuam a provocar vazamentos.

O vazamento da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, afetou milhares de pessoas, sobretudo crianças, e promoveu séria devastação ambiental. Calcula-se que Chernobyl provocou a morte de 50 mil pessoas.

Agora temos o caso da usina japonesa de Fukushima, atingida pelo tsunami. Ainda é cedo para avaliar a contaminação humana e ambiental provocada por vazamento de suas substâncias radioativas, mas o próprio governo japonês admite a gravidade. Se o Japão, que se gaba de possuir tecnologia de última geração, não foi capaz de evitar a catástrofe, o que pensar dos demais países que brincam de fogo atômico?

No Brasil, temos as três usinas de Angra dos Reis (RJ), construídas em lugar de fácil erosão por excesso de chuva, como o comprovam os desmoronamentos ocorridos na região a 1o de janeiro de 2010.

Ora, não há risco zero em nenhum tipo de usina nuclear. Todas são vulneráveis. Portanto, a decisão de construí-las e mantê-las é de natureza ética. Acidentes naturais e falhas técnicas e humanas podem ocorrer a qualquer momento, como já aconteceu nos EUA, na União Soviética e no Japão.

Em 1979, derreteu o reator da usina de Three Mile Island, nos EUA. Em Chernobyl, o reator explodiu. Em Fukushima, a água abriu fissuras. Portanto, não há sistema de segurança absoluta para essas usinas, por mais que os responsáveis por elas insistam em dizer o contrário.

Ainda que uma usina não venha a vazar, não são seguros os depósitos de material rejeitado pelos reatores. E quando a usina for desativada, o lixo atômico perdurará por muitas e muitas décadas. Haja câncer!

No caso de Angra, se ocorrer algum acidente, não há como evacuar imediatamente a população da zona contaminada. A estrada é estreita, não há campo de pouso para aviões de grande porte e os navios demorariam para aportar nas proximidades.

Cada usina custa cerca de US$ 8 bilhões. O investimento não compensa, considerando que a energia nuclear representa apenas 3% do total de modalidades energéticas em operação no Brasil. Nosso país abriga 12% da água potável do planeta. Com tantos recursos hídricos e enorme potencial de energias solar e eólica, além de energias extraídas da biomassa, não se justifica o Brasil investir em reatores nucleares.

Na Itália, eles foram proibidos por plebiscito. A Suécia agora desativa suas usinas, e a Alemanha decidiu, em maio deste ano, fechar todas as suas usinas nucleares.

Usinas nucleares são como violinos Stradivarius. Antônio Stradivari (1648-1737), italiano, construiu os mais perfeitos violinos. Mais de mil unidades, das quais restam 650. Hoje, um Stradivarius vale, no mínimo, R$ 5 milhões. Um violino nunca é exatamente igual ao outro. As madeiras utilizadas possuem diferentes densidades, a radiação sonora e a vibração diferem e podem ser percebidas por um bom ouvido. Todos os Stradivarius foram feitos por artesãos que souberam guardar os segredos de sua fabricação.

Assim são as usinas nucleares. Não existe uma exatamente igual à outra. Não é previsível o que pode ocorrer no núcleo de uma delas se houver um acidente, incidente ou crise. Assim como se reconhece a qualidade de um violino pelo seu som, apenas por sinais externos se pode avaliar a gravidade de um vazamento nuclear, verificando a temperatura, a radiação e emissão de isótopos radioativos como iodo 131, césio 137, estrôncio 90 e plutônio 238.

Um detalhe da caixa de Pandora: só não escapou o único bem que se misturava aos males – a esperança. E a ela nos atemos neste momento em que, em todo o mundo, há mobilizações pela desativação de usinas nucleares. É hora de o povo brasileiro reagir, antes que se rompam as cordas do violino e as malditas mãos de Pandora venham a abrir de novo a caixa nuclear.

*correiodoBrasil

sábado, junho 11, 2011

A FATURA DA PRIVATIZAÇÃO: ESTRAGOS NO TUCANATO, LIÇÕES PARA O PT 

 


O tucanato paulista privatizou a principal empresa fornecedora de energia elétrica do Estado há 23 anos (hoje AES Eletropaulo). Uma cláusula do contrato previa que os novos donos teriam dez anos para realizar investimentos e agregar  mais 15% (400 MW) à capacidade de fornecimento. O prazo venceu em 2007. O governador era José Serra. Ungido pela mídia  por  supostos atributos de ‘grande gestor', como o nome mais qualificado para suceder  o Presidente Lula -opinião diversa da maioria do eleitorado como se viu--  Serra não cobrou, não fiscalizou, não tomou nenhuma providência diante da ruptura de contrato num serviço essencial. As interrupções  de energia tem sido cada vez mais freqüentes em SP nos últimos anos. Cada vez mais lenta tem se mostrado a normalização do serviço. Reportagem da Folha deste sábado -que naturalmente omite o nome do candidato da derrota conservadora em 2010--  informa que após a última pane, na 3º feira, a retomado do fornecimento demorou  60 horas em alguns locais. O sucessor  de Serra e seu desafeto, Geraldo Alckmin, garante  que agora vai ‘investigar' as razões do colapso em marcha. No momento em que o governo federal oficializa a concessão de importantes aeroportos nacionais à iniciativa privada  --em nome da eficiência e porque o Estado não dispõe de R$ 5 bi a R$ 6 bi para investir no setor, embora tenha reservado R$ 57 bi aos rentistas da dívida pública no 1º quadrimestre  -o colapso elétrico em SP encerra lições oportunas. E, convenhamos, ecumênicas.
(Carta Maior; Sábado, 11/06/ 2011)

JUDICIÁRIO - O milagre judiciário foi Daniel Dantas e não Battisti.


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O grande vencedor da semana foi Daniel Dantas e não Battisti.
Na Justiça brasileira, o verdadeiro milagre da causa impossível foi protagonizado pelo banqueiro Daniel Dantas e não por Cesare Battisti.
Dantas tinha uma causa impossível e demostrou que milagres acontencem na Justiça brasileira.
Dantas conseguiu, perante o Superior Tribunal de Justiça, uma decisão em que o acessório foi mais importante do que o principal. Onde a verdade real, ou seja, a comprovada corrupção ativa, restou desprezada. O STJ passou uma borracha, como se a corrupção ativa acontecida não tivesse relevância.
Vamos aos fatos e a mostrar o quanto nossa Justiça é cega. A balança da Thêmis (deusa da Justiça) está desequilibrada, a precisar de urgente revisão.
Francisco Campos, apelidado de Chico Ciência, apresentou, em 1941 e quando era ministro da Justiça, o novo código de processo penal brasileiro. Na exposição de motivos que preparou, e ao tratar do capítulo das nulidades, Francisco Campos frisou não deixar a nova legislação oportunidades para se “espiolhar nugas”, ou seja, catar quinquilharias.
Pela nova lei, alertava o ministro Francisco Campos, nenhuma nulidade processual poderia ser reconhecida se não tivesse causado prejuízo real, efetivo e concreto para a defesa ou a acusação.
Como se sabe, o banqueiro Daniel Dantas, conforme uma enxurrada de provas, interceptações telefônicas com autorização judicial e gravações feitas com o acompanhamento da equipe da rede Globo, procurou, por interpostos agentes, corromper policiais em apurações na denominada Operação Sathiagraha. Na casa de um dos enviados de Dantas, o professor Hugo Chicarini, a polícia federal apreendeu R$1,1 milhão.
O imputado mandante do crime, banqueiro Daniel Dantas acabou condenado, em 2008, por consumado crime de corrupção ativa. Então, o banqueiro impetrou habeas corpus a fim de anular as provas colhidas na Operação Satiagraha e, por conseguinte, desconstituir a condenação por corrupção ativa prolatada pelo juízo da 6ª.Vara Criminal Federal e lavra do juiz Fausto De Sanctis.
Por 3 votos contra 2, a 5ª.Turma do Superior Tribunal de Justiça concedeu a ordem de habeas corpus para anular a mencionada Satiagraha e o processo condenatório da 6ª.Vara Criminal Federal.
Para os ministros julgadores, exceção a Gilson Dipp e Laurita Vaz, a participação de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão subordinado ao gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, foi ilegal e contaminou toda a apuração.
Decisão de pasmar. Nenhuma dúvida pairava sobre a consumação de um grave crime a mando de um poderoso banqueiro. Para os ministros Adilson Macabu, Napoleão Maia e José Mussi, o importante era “espiolhar nugas”. A verdade real era secundária.
Os agentes da Abin, que são servidores públicos do mesmo poder Executivo ao qual se subordina a polícia federal, em nada interferiram na consumação do crime de corrupção. E a nulidade mal decretada gerou impunidade. A decisão condenatória tinha sido, bem antes do habeas corpus que a anulou, confirmada no Tribunal Regional Federal da 3ª.Região que não considerou ilegal a participação de agentes da Abin na Satiagraha.
Como as imagens falam por si, vale a pena conferir o vídeo da Rede Globo, quando consumou-se a corrupção ativa (não existe no d.brasileiro tentativa de corrupção).
Fonte: Blog Sem Fronteiras.


Só não há dinheiro para a paz

A edição eletrônica da revista The Economist publicou o gráfico que reproduzo aí ao lado sobre os gastos militares no mundo.
Embora o resultado não seja novidade, continua sendo espantoso assim mesmo. Entre os 18 maiores orçamentos militares do mundo, os EUA, sozinhos, gastam mais que todos os 17 outros.
São US$ 700 bilhões, que correspondem a 4,8% do PIB do país. É quase seis vezes o que gasta a China (e mais que o dobro em percentagem do PIB).
Perto dos níveis americanos, em matéria de fatia do PIB destinada a gastos militares, só está a Rússia, que tem problemas de conflitos internos e, sobretudo, a pesada herança de equipamentos e efetivos do exército soviético, que outrora rivalizava com o americano.
O Brasil, como você pode observar, fica – ainda bem! - lá no final da proporção entre PIB e gastos militares. Ficamos acima apenas do Canadá – que não é referência nessa matéria – e da Alemanha e japão, dois países que, como herança da 2ª Guerra, foram praticamente desmilitarizados.
Agora você imagine esta montanha de recursos, num mundo de paz, sendo usada em favor do desenvolvimento humano, do fim da miséria e da sustentabilidade ambiental.
Imagine, imaginar não custa nada…
*tijolaço

O papel nefasto de uma certa mídia...




Enfrentar a mídia com as suas armas

*Por José Dirceu

Não adianta. Mal Gleisi Hoffman, senadora do PT pelo Paraná, foi empossada como ministra-chefe da Casa Civil, os jornais já começaram a bombardeá-la.

Temos de aprender e enfrentar a mídia com as suas armas, isto é, com a informação. E isso é possível de se fazer por meio das redes sociais e pela blogosfera. Ou o fazemos, ou o país será dirigido pelo poder político dos donos dos jornais e TVs.

Estamos falando das oligarquias impressa e eletrônica, que têm medo da concorrência e da regulação. O velho setor de comunicações busca manter intocados seus privilégios preservados há décadas.

Têm medo, ainda, da blogosfera. Na prática, querem exercer um poder para o qual não foram investidas pela soberania popular democrática.

Com o pretexto de fiscalizar e moralizar a vida pública, o que se vê é a tentativa desses grupos submeterem o poder do político eleito pelo povo ao poder da mídia. Vamos à luta.


O controle da opinião pública

A mídia, na verdade, quer desqualificar a justa e necessária participação dos partidos nas decisões de governo. Os partidos elegeram o governo, apóiam-no e o sustentam, assim como sustentam as suas políticas. Portanto, têm legitimidade e direito de opinar e reivindicar, sejam ministérios, ou mesmo, a indicação de nomes.

Cabe à presidenta Dilma Rousseff a decisão. É sua e livre a soberana decisão constitucional. Mas, do ponto de vista político, os partidos são parceiros e devem ser ouvidos. Ou será que somente a mídia e seus donos devem ser ouvidos? O mesmo vale para a indicação de nomes, um ou mais nomes. Eles são sinal de avaliações diferentes sobre o perfil do ministro a ser escolhido e, não como que a mídia, apenas disputa interna nos partidos ou entre os partidos.

A avaliação nas indicações é política. Diz respeito à natureza do cargo, do momento e do perfil de cada indicado. Ou seja, é a coisa mais natural no mundo democrático e no debate político. Mas a mídia desqualifica o processo e procura apresentar tudo como coisa pequena e disputa de poder, sempre com um elemento pejorativo. É uma ação para agravar o preconceito contra a política e os políticos.

É disso que se trata: deixar sempre o parlamento e o poder político fraco e de joelhos, para seus representantes controlarem a opinião pública e exercerem esse poder.
*Ex-ministro Chefe da Casa Civil do Governo Lula, Editor do Blog do Zé Dirceu http://www.zedirceu.com.br/