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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, outubro 26, 2011
A Europa tira o chapéu para o Brasil. E para pedir
O site da BBC publica agora à tarde matéria dizendo que” das opções estudadas nesta quarta-feira pelos governantes da zona do euro para reforçar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) é criar um mecanismo especial de investimento, em parceria com o FMI, para atrair investidores estrangeiros privados e públicos”.
Tradução: Brasil, China e outras economias emergentes poderiam comprar títulos públicos dos países europeus com problemas, tanto nos mercados primários como secundários, para que os tesouros possam socorrer os bancos quebrados com os mesmos títulos públicos de alguns países europeus. O Fundo “ofereceria garantias contra uma parte das perdas no caso de quebra do país em questão”.
Parte, vejam bem, parte.
A matéria prossegue:
“Um funcionário europeu explicou à BBC Brasil que ao contribuir com o fundo de resgate europeu, o Brasil teria um forte argumento para exigir um papel mais importante para os países emergentes no FMI”.
Tradução: sabem que somos, agora, “gente grande”, mas cobram ajuda financeira para nos reconhecerem como tal.
Negativo: primeiro, queremos o reconhecimento, depois, sim, conversamos sobre ajuda.
O ministro Guido Mantega disse ontem que não entra nessa. Se querem ajuda, que peçam ao FMI e, aí sim, o Brasil pode entrar na caixinha, via FMI. Até porque eles não vão dar calote em si mesmos. Em nós, bem… Já nos deram um na Segunda Guerra Mundial, quando nos deviam os tubos e nos pagaram em ioiôs, matéria plástica e com o porta-aviões Minas Gerais, negociação que a modinha do Juca Chaves tornou famosa.
E que Fernando Henrique repetiu com o Foch, o porta-aviões que virou o “São Paulo”, numa transação que a especialista em assuntos aeronáuticos Eliane Cantanhêde certamente, pela ausência de críticas, deve ter aprovado.
Tradução: Brasil, China e outras economias emergentes poderiam comprar títulos públicos dos países europeus com problemas, tanto nos mercados primários como secundários, para que os tesouros possam socorrer os bancos quebrados com os mesmos títulos públicos de alguns países europeus. O Fundo “ofereceria garantias contra uma parte das perdas no caso de quebra do país em questão”.
Parte, vejam bem, parte.
A matéria prossegue:
“Um funcionário europeu explicou à BBC Brasil que ao contribuir com o fundo de resgate europeu, o Brasil teria um forte argumento para exigir um papel mais importante para os países emergentes no FMI”.
Tradução: sabem que somos, agora, “gente grande”, mas cobram ajuda financeira para nos reconhecerem como tal.
Negativo: primeiro, queremos o reconhecimento, depois, sim, conversamos sobre ajuda.
O ministro Guido Mantega disse ontem que não entra nessa. Se querem ajuda, que peçam ao FMI e, aí sim, o Brasil pode entrar na caixinha, via FMI. Até porque eles não vão dar calote em si mesmos. Em nós, bem… Já nos deram um na Segunda Guerra Mundial, quando nos deviam os tubos e nos pagaram em ioiôs, matéria plástica e com o porta-aviões Minas Gerais, negociação que a modinha do Juca Chaves tornou famosa.
E que Fernando Henrique repetiu com o Foch, o porta-aviões que virou o “São Paulo”, numa transação que a especialista em assuntos aeronáuticos Eliane Cantanhêde certamente, pela ausência de críticas, deve ter aprovado.
A falha da Folha, 13 anos depois. E sub vara
Vejo no Rodrigo Vianna , o Escrevinhador, a reprodução do texto de Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa sobre o “direito” de resposta oferecido a um cidadão caluniado pelo jornal no dia 19 de março de… 1998!
Lembrei-me de duas coisas e, por isso, faço questão de reproduzir a imagem do “direito” (mofado) de resposta concedido 13 anos depois.
A primeira lembrança foi de que o famoso direito de resposta de Brizola contra a Rede Globo, sendo ele um Governador de Estado e podendo contar com os melhores advogados, levou três anos para ser veiculado...
A segunda, semana passada, quando o jornal recusou-se a debater na Câmara dos Deputados, a censura judicial obtida contra o ex-blog “Falha de S.Paulo”, sob a alegação de que a sátira criava prejuízos para o jornal.
Estranho critério este. E os prejuízos do Sr. Luís, por 13 anos de sofrimento?
Leia o texto de Luciano Martins Costa:
“O cidadão chamado Nelson Luiz Conegundes de Souza, professor de Educação Física com especialidade em Fisiologia do Treinamento Esportivo, era professor do Colégio Equipe e técnico de basquetebol da AABB – Associação Atlética Banco do Brasil – em São Paulo, no ano de 1998, quando foi entrevistado pela Folha de S.Paulo.
O repórter do jornal paulista queria detalhes do projeto de criação da Liga Paulistana de Basquetebol, da qual ele era um dos coordenadores.
No dia seguinte, 19 de março de 1998, ao abrir o jornal, Nelson foi informado de que estava sendo acusado pela Folha de ser o principal mentor de uma liga “pirata” que tinha como objetivo “fisgar clubes”, supondo-se que um dos propósitos era levar alguma vantagem financeira.
Nos dias subsequentes, Nelson foi demitido da AABB e estigmatizado no seu meio profissional, tendo seu nome associado àquilo que os brasileiros conhecem como “picaretagem”.
Passou a ser vítima de chacotas de colegas, evitado pelos amigos e teve sua entrada proibida na sede do clube ao qual havia prestado serviços durante os 13 anos anteriores.
Ele entrou na Justiça com uma ação por reparação de danos, exigindo antes de mais nada a publicação do direito de resposta, no mesmo espaço e com o mesmo destaque dado à reportagem que o havia prejudicado.
Pois bem: nesta quinta-feira, dia 20 de outubro de 2011, treze anos após produzido o dano, a ação judicial que tramitava na 29ª Vara Cível do Fórum João Mendes foi finalmente julgada e executada.
A Folha de S.Paulo foi condenada a ceder a ele o espaço para que se defendesse da acusação.
Nem precisava, porque nesse período a tal liga que a Folha considerou “pirata” não apenas se consolidou como uma entidade representativa do esporte em São Paulo como se tornou atuante na capital paulista e região metropolitana, no Vale do Paraiba, Baixada Santista e algumas cidades do interior do estado.
Como sua área de atuação foi ampliada, acabou mudando o nome, de Liga Paulistana para Liga Paulista de Basquetebol, e está filiada à Federação Paulista de Basquetebol.
De tudo isso os leitores da Folha puderam tomar conhecimento apenas porque a decisão judicial mandou que o jornal publicasse a defesa de Nelson Luiz Conegundes de Souza.
Em todo esse tempo, a Folha nunca se preocupou em corrigir o erro por sua própria iniciativa, ou sequer verificar se o teor daquela reportagem de março de 1998 estava correta.
Para obter o direito de ver sua versão publicada, o cidadão teve que levar seus recursos à última instância da Justiça, o Supremo Tribunal Federal.”
Continue lendo no Escrevinhador.
AUDIÊNCIA PÚBLICA DEBATE CENSURA À 'FALHA', MAS A 'FOLHA' FOGE DA RAIA
Será nesta 4ª feira (26), às 14h30, a audiência pública no Congresso Nacional sobre a censura imposta pelo jornal Folha de S. Paulo ao blogue Falha de S. Paulo, em ato de evidente abuso de poder econômico e cerceamento da liberdade de crítica.
Noutra página virtual, a Desculpe a nossa fAlha, os blogueiros censurados, Lino e Mario Ito Bocchini, assim se manifestaram sobre a desrespeitosa recusa da Folha de comparecer à audiência:
Noutra página virtual, a Desculpe a nossa fAlha, os blogueiros censurados, Lino e Mario Ito Bocchini, assim se manifestaram sobre a desrespeitosa recusa da Folha de comparecer à audiência:
"Depois de quase 400 dias fugindo do debate que começou por conta de um processo de censura que eles mesmos abriram, a Folha de S. Paulo resolveu ir pra briga. Na carta enviada à Comissão de Legislação Participativa para informar que recusavam o convite para debater no Congresso Nacional a censura que patrocina contra o blog Falha de S. Paulo, a Folha prestou um grande serviço de utilidade pública. Deu um show de prepotência (chegou a chamar o deputado que propõe o ato de desinformado) e má-fé e mostrou táticas toscas de difamação dignas da Veja.
Concordo em gênero, número e grau. Minha total solidariedade aos irmãos Bocchini, que não lutam por si sós, mas por todos nós, ao tentarem evitar que seja aberto um nefasto precedente de censura na internet.
*naufragodautopia
E este escândalo, a mídia não quer?
Escrevi, agora há pouco, um post para o blog Projeto Nacional para o qual peço a atenção dos leitores.
Chama-se “O homem da P-36 quer as sondas da Petrobras” e é baseado numa matéria de hoje, do jornal Valor Econômico, o único que vem dando algumas informações sobre a maior licitação já realizada neste país, a contratação de 21 sondas de águas ultraprofundas pela Petrobras. Um negócio de dezenas de bilhões de dólares.
Vários grupos brasileiros se uniram para fazer aqui estas sondas, que fazxem parte de um total de 40 necessárias à exploração do pré-sal. Doze, por prazo, foram contratadas lá fora. Das 28 restantes, o primeiro lote, de sete, ficou aqui e vai ser construído em Pernambuco. Faltavam estas 21 e tudo parecia indicar que o mesmo grupo as faria.
Mas surgiu uma figura chamada Guerman Efromovich e entrou na disputa, oferecendo um preço um pouco menor, com uma empresa recém-criada, a Ocena Rig do Brasil, associado a uma empresa norueguesa controlada por armadores gregos.
Efromovich tem uma penca de processos judiciais contra a Petrobras. Todos depois que deixou a diretoria o ex-presidente Joel Rennó, tempo em que ganhava, sem licitação, contratos para comprar e reformar plataformas.
Inclusive a P-36.
O pior é que Efromovich ainda foi a Justiça inglesa pedindo 240 milhões de dólares como indenização pelo caixão que fez. Foi buscar lã e saiu tosquiado, porque a corte inglesa, em lugar de receber, mando foi ele pagar à Petrobras. Este ano, em abril, o STJ recusou a pretensão de Efromovich de não cumprir a sentença que confirmava sua responsabilidade no caso.
Quase ninguém publicou. Que eu achasse, apenas uma nota de dez linhas no G1, reproduzindo texto da Agência Estado.
Agora ele quer as sondas do nosso pré-sal.
E a mídia, que é doida por qualquer coisa que possa ser problema na Petrobras – onde Efromovich, segundo o repórter Chico Santos conta, anos atrás, então no Valor Econômico, tentou reentrar usando desde flores para secretárias até ordens de prisão contra diretores que o abominavam – não dá a menor bola para isso?
Ou as suspeitas aqui são seletivas e nunca envolvem os nomes que se tornaram notórios da era tucana?
Se os jornais quiserem ajuda, está tudo contado no Projeto Nacional, com os links devidos para todas as informações sobre o passado de Efromovich. Nem era preciso, porque está no Google, que o pessoal das editorias parece ter dificuldades em usar.
Não dá muito trabalho conhecer o passado dele, que já foi mastigado, anos atrás, pelo excelente repórter Chico Santos, um dos que mais entende de indústria naval no Brasil.
E que, sem nem mesmo falar com ele, sou capaz de apostar que não compra uma bóia de pneu do Efromovich.
Chama-se “O homem da P-36 quer as sondas da Petrobras” e é baseado numa matéria de hoje, do jornal Valor Econômico, o único que vem dando algumas informações sobre a maior licitação já realizada neste país, a contratação de 21 sondas de águas ultraprofundas pela Petrobras. Um negócio de dezenas de bilhões de dólares.
Vários grupos brasileiros se uniram para fazer aqui estas sondas, que fazxem parte de um total de 40 necessárias à exploração do pré-sal. Doze, por prazo, foram contratadas lá fora. Das 28 restantes, o primeiro lote, de sete, ficou aqui e vai ser construído em Pernambuco. Faltavam estas 21 e tudo parecia indicar que o mesmo grupo as faria.
Mas surgiu uma figura chamada Guerman Efromovich e entrou na disputa, oferecendo um preço um pouco menor, com uma empresa recém-criada, a Ocena Rig do Brasil, associado a uma empresa norueguesa controlada por armadores gregos.
Efromovich tem uma penca de processos judiciais contra a Petrobras. Todos depois que deixou a diretoria o ex-presidente Joel Rennó, tempo em que ganhava, sem licitação, contratos para comprar e reformar plataformas.
Inclusive a P-36.
O pior é que Efromovich ainda foi a Justiça inglesa pedindo 240 milhões de dólares como indenização pelo caixão que fez. Foi buscar lã e saiu tosquiado, porque a corte inglesa, em lugar de receber, mando foi ele pagar à Petrobras. Este ano, em abril, o STJ recusou a pretensão de Efromovich de não cumprir a sentença que confirmava sua responsabilidade no caso.
Quase ninguém publicou. Que eu achasse, apenas uma nota de dez linhas no G1, reproduzindo texto da Agência Estado.
Agora ele quer as sondas do nosso pré-sal.
E a mídia, que é doida por qualquer coisa que possa ser problema na Petrobras – onde Efromovich, segundo o repórter Chico Santos conta, anos atrás, então no Valor Econômico, tentou reentrar usando desde flores para secretárias até ordens de prisão contra diretores que o abominavam – não dá a menor bola para isso?
Ou as suspeitas aqui são seletivas e nunca envolvem os nomes que se tornaram notórios da era tucana?
Se os jornais quiserem ajuda, está tudo contado no Projeto Nacional, com os links devidos para todas as informações sobre o passado de Efromovich. Nem era preciso, porque está no Google, que o pessoal das editorias parece ter dificuldades em usar.
Não dá muito trabalho conhecer o passado dele, que já foi mastigado, anos atrás, pelo excelente repórter Chico Santos, um dos que mais entende de indústria naval no Brasil.
E que, sem nem mesmo falar com ele, sou capaz de apostar que não compra uma bóia de pneu do Efromovich.
- Tijolaço
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Luiza Erundina dá uma aula aos que querem ver o passado enterrado
Os que cometeram crimes de lesa-humanidade, crimes de tortura, de desaparecimentos forçados, de mortes, em nome do Estado, estão impunes até hoje. Desenterrar o passado, portanto, lhes causa medo
A pernambucana Elzita Santa Cruz (foto ao lado), de 97 anos, não muda de casa nem de telefone porque acredita que a qualquer momento chegará uma notícia sobre o filho Fernando, desaparecido aos 25 anos, na ditadura militar. Prêmio Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República por causa de sua luta, Elzita declarou apoio eleitoral à presidenta Dilma Rousseff em 2010. Na época, escreveu à candidata que Lula avançou pouco, mas tinha a “certeza” de que ela, eleita, não pouparia esforços para descobrir o paradeiro dos desaparecidos políticos do País.
A paraibana Luiza Erundina, de 77 anos, deputada federal pelo PSB, é uma das mais firmes referências nacionais na luta pela redemocratização do Brasil. Mas embarga a voz quando lembra de dona Elzita. Erundina está convencida de que o governo Dilma não dará conta da expectativa da amiga pernambucana. “Temo que esse arremedo de Comissão da Verdade e as meias verdades, que ela eventualmente possa apurar terminem acabando com a causa e o ânimo das pessoas.” As pessoas vão morrendo e as memórias, quando não preservadas, se apagam.
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A paraibana Luiza Erundina, de 77 anos, deputada federal pelo PSB, é uma das mais firmes referências nacionais na luta pela redemocratização do Brasil. Mas embarga a voz quando lembra de dona Elzita. Erundina está convencida de que o governo Dilma não dará conta da expectativa da amiga pernambucana. “Temo que esse arremedo de Comissão da Verdade e as meias verdades, que ela eventualmente possa apurar terminem acabando com a causa e o ânimo das pessoas.” As pessoas vão morrendo e as memórias, quando não preservadas, se apagam.
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Erundina conta que se entristece porque toda a luta das donas Elzitas não foi suficiente para que o Brasil criasse mecanismos que impeçam essa história de se repetir, seja como farsa, seja como tragédia. Nem de fazer realmente sua democratização. “Aqueles que patrocinaram a ditadura ainda estão no poder.”
Erundina conta que se entristece porque toda a luta das donas Elzitas não foi suficiente para que o Brasil criasse mecanismos que impeçam essa história de se repetir, seja como farsa, seja como tragédia. Nem de fazer realmente sua democratização. “Aqueles que patrocinaram a ditadura ainda estão no poder.”
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Cientista político e sociólogo argentino Atílio Borón explicando um pouco da política Argentina (Foto: Ramiro Furquim/ Sul21)
Buenos Aires – O sociólogo e cientista político argentino Atílio Borón avalia que a reeleição de Cristina Kirchner em primeiro turno para a Presidência argentina decorre de políticas sociais e da articulação de novos atores políticos. O principal deles é a juventude, até então afastada da arena partidária, e que se aproximou de Cristina. Em entrevista,o professor da universidade de Buenos Aires ajuda a entender peculiaridades da vida política argentina. "Falar da Argentina de 2015 é como falar do Brasil de 2094. É uma política de uma dinâmica muito peculiar", sustenta. Ele lembra que, há pouco mais de um ano, uma vitória de Cristina era pouco provável.
Agora, a proximidade entre a presidenta e os movimentos sociais também tornam pouco provável o surgimento de uma alternativa política à esquerda. Esse movimento político, aliás, é outro dos trunfos governistas no processo eleitoral completado no domingo (23).
Sobre a Lei dos Meios, que muda as regras de funcionamento de rádios, TVs e restringe propriedade cruzada de veículos de comunicação, Borón afirma que seria necessário aprimorar o texto para atender à necessidade de emissoras pequenas. Mas deixa claro que considera positiva a medida por restringir o tamanho e a influência de grandes conglomerados de comunicação.
Por isso, ele faz uma sugestão à nação vizinha: "Para um país como o Brasil, seria ótimo que ocorresse o mesmo porque aí há uma concentração absurda dos veículos de comunicação. Quando a comunicação está concentrada, a democracia está frágil. Este é um axioma básico da ciência política".
Confira os principais trechos da entrevista.
Como se explica este triunfo tão grande de Cristina Kirchner?
Houve um conjunto de fatores objetivos que representam uma melhoria de questões básicas para o povo argentino. Um desempenho econômico mais do que razoável, ainda que eu não goste desse modelo econômico, sobre o qual tenho gravíssimas dúvidas. De todo modo, criou uma sensação de bem estar e um consumo significativo, então isso não poderia deixar de se traduzir em um apoio social muito forte para Cristina. É um dado indiscutível. Houve uma moderada distribuição de ingressos. Moderada. Mais ou menos na linha do Brasil. O Benefício Universal por Filho é na linha do Bolsa Família. E uma inclusão de setores sociais que estavam à margem, como o programa para beneficiados. Se somamos a isso outras políticas, como a retomada das reuniões anuais de negociações entre patrões e trabalhadores, isso cria uma boa sensação. Era muito difícil colocar-se contra isso.
O que não se examina é que a morte do esposo de Cristina (Néstor Kirchner) criou um fenômeno completamente novo, completamente inesperado, que foi a constituição de um ator político novo, muito importante e muito dinâmico, que é a juventude, que antes praticamente não tinha participação ativa na vida política argentina. Esse setor irrompe de maneira muito forte após o 27 de outubro (de 2010, data da morte de Néstor), e que dá um dinamismo absolutamente impensável à candidatura de Cristina. Ela soube capitalizar isso muito bem, facilitada pela burrice fenomenal dos opositores. É absolutamente incrível. Com um contexto econômico muito favorável, o apoio de vários setores é canalizado para Cristina. Diante da série de erros cometidos pela oposição e da falta de propostas, o resultado era esperado.
Aproveitou o vento favorável da economia mundial (até 2008), coisa que tiveram outros governos, mas não aproveitaram. Isso soube fazer Cristina. A renegociação da dívida, as brigas com os organismos internacionais ainda no governo de Néstor (como a solução para a moratória de 2001), tudo isso também criou uma imagem positiva.
O governo brigou bastante, mas acabou pagando a dívida.
Sim, é um governo muito obediente ao capitalismo. Isso sempre foi muito claro. Fizeram o mesmo que fez Lula (no Brasil). O Fundo Monetário Internacional exigiu que pagassem, eles pagaram. É muito simples. A proposta de Cristina é um capitalismo racionalmente organizado, com capitalistas nacionais. Muitas vezes, na tentativa de organizar o capitalismo o que teve lugar foi a concentração monopólica, já que a organização favorece o monopólio. Na Argentina, a economia é uma das mais estrangeirizadas da América Latina. Por mais que se queira um capitalismo sério e nacional, resulta debochado e transnacional. Ela terá de tomar alguma decisão neste sentido.
Há um modelo de desenvolvimento claro sendo buscado pela presidenta, em sua visão?
Utilizou-se muito a expressão “aprofundar o modelo”, mas isso não tem muito sentido porque as coisas boas que fez o kirchnerismo foram contra o modelo econômico neoliberal. Mas é um modelo que ainda tem muito peso sobre a economia argentina. A lei que regula o sistema financeiro é da ditadura, que é de Martínez de Hoz (José Alfredo Martínez de Hoz, ministro da economia de 1976 a 1981, durante o período autoritário; a legislação em questão é de 1977). Temos uma carta orgânica do Banco Central feita por Domingo Cavallo (ministro de Carlos Menem, de 1991 a 1997), ou seja, ultraliberal. Temos uma carga tributária ultraregressiva, mais do que no Brasil. De maneira que o modelo econômico terá de ser revisado muito profundamente. Ela vai precisar disso porque os programas de inclusão social sustentados até agora com o superávit da balança comercial agora vai tendo menos fontes de financiamento.
Economica e politicamente, como conduzir a relação com o setor agrícola?
O agro é uma fonte fundamental de riqueza argentina. Não pode cair em uma briga absurda com o setor. Tem de brigar pelo que vale a pena, e não por uma questão como a que originou a grande discussão que houve em 2008 e 2009 (quando houve risco de desabastecimento por causa de protestos de organizações do agronegócio contra parte dos alimentos exportados pelo país passaram a ser retidas pelo Estado). Estou totalmente de acordo com aplicar retenções, mas não se pode aplicar a mesma retenção a um senhor que tem 40 hectares de soja e a outro que tem 5.000 hectares. É absurdo. Foi um erro muito grave. E não tiveram a flexibilidade de reagir a tempo. Em grande parte porque Néstor era muito intransigente. Ela tem mais "cintura tática" que Néstor. Ele era muito corajoso, mas às vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois adiante. Vai ter de melhorar a relação com o agro, aplicar os impostos que precisa aplicar... Mesmo assim, a relação deve melhorar.
Convém diminuir a dependência da economia em relação a este setor?
Sim. Se ela avança em uma política de industrialização e de desenvolvimento regional vai diminuir essa dependência. Uma das maneiras de diminui-la é ter uma estrutura tributária mais equilibrada. Quando se capta bem os impostos à população, capta de onde é mais fácil. E pela via das retenções.
Em que o kirchnerismo se assemelha ao peronismo clássico?
O peronismo é um movimento muito ambíguo. Aí cabe tudo – Peron de 1940 e 1950, menemismo dos anos 1990, o kirchnerismo... Este é um "peronismo do século 21". O peronismo nunca teve uma matriz ideológica muito definida em termos de gestão econômica e política. Evidentemente que os governos de Néstor e de Cristina são absolutamente peronistas. A continuidade mais importante é a preocupação com o destino dos setores mais pobres da população argentina, uma preocupação que às vezes dá lugar a políticas corretas, outras não. Uma preocupação que se manifesta sempre no campo da retórica. Desenvolveram mais políticas sociais que outros governos da Argentina. Têm uma atitude em termos de política externa de se ver mais independente das pressões dos Estados Unidos, diferentemente de Menem, que pendia com muita força para a direta. Têm mais vocação latino-americana do que Menem – aliás, esse é um ponto do peronismo clássico. Obviamente que há um aggiornamento (atualização) pela conjuntura. E há descontinuidades. Perón era muito mais estatista do que são Néstor e Cristina, e portanto a intervenção era muito mais forte.
Na retórica, Néstor usou o “povo” desde 25 de maio de 2003 de uma maneira muito …
Isso é próprio do peronismo. É uma marca do peronismo interpelar constantemente o povo. Isso é muito estranho para a cultura brasileira, é surpreendente. Mas aqui é a tradição política. Não é só o peronismo. O radicalismo também tinha este tipo de vocação.
O radicalismo se esgotou?
Fica como um pequeno partido distrital, com alguma força em alguns distritos do país, mas já não é uma alternativa de poder. Deixou de ser alternativa já em 2001, com a queda de (Fernando) De la Rúa, e agora o confirmou. É um partido minoritário. Tem uma representação parlamentar importante, de 42 deputados, mas não têm um líder e não têm um projeto.
Já surgiu um projeto alternativo?
Falta muito. É um dos grandes problemas que vamos ter o de formar um projeto alternativo superador do kirchnerismo. Vai ter de haver porque o kirchnerismo vai precisar fazer frente a uma crise internacional muito forte, e vai precisar de novas ideias para fazer frente à crise. Não se pode acreditar que estejamos blindados.
Como os movimentos sociais se identificaram tanto com o kirchnerismo?
O conjunto social não está em condições de criar alternativas, porque os movimentos estão muito identificados com o kirchnerismo neste momento. Há conflitos latentes no movimento obrero (de trabalhadores). Este, aliás, é um movimento que diferencia Cristina do movimento peronista clássico. O peronismo sempre teve o movimento obreiro como coluna vertebral. Cristina, não. Foi um movimento muito inteligente, aliás. Vinha dizendo que Cristina não poderia apresentar-se publicamente ao lado de Moyano (Hugo Moyano, secretário-geral da CGT, maior central sindical argentina), que é um dos personagens mais desprestigiados da vida política argentina. Ela foi se desprendendo de Moyano e do movimento sindical. Vários dirigentes foram sendo presos. Isso vai criar um foco de tensões muito grande. De todo modo, este movimento sindical não vai se prestar à construção de um novo projeto, sobretudo a um projeto socialista. É um movimento muito identificado com o capitalismo.
A aproximação aconteceu por conveniências mútuas. Quando Kirchner de certo modo se separa do Partido Justicialista, o apoio que tinha era do movimento trabalhador. Cristina, ante a emergência de novos setores sociais que aparecem, não tem por que depender tanto de Moyano. Estabelece uma relação direta com as bases. É um movimento muito interessante com o qual ela ganha muito autonomia.
O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, pode ser um concorrente conservador para 2015?
Há que se esperar. Este é um país muito diferente do Brasil. Falar da Argentina de 2015 é como falar do Brasil de 2094. É uma política de uma dinâmica muito peculiar. Faz 13 meses – não mais do que 13 meses – que as perspectivas de reeleição de Cristina eram muito baixas. Esta é uma coisa que quem estuda a política argentina sempre assinala: as formas como se movem as variáveis do conjunto político e econômico são imprevisíveis. Um dia se está em cima, no outro se está em baixo. São mutações muito fortes. Neste contexto, pode-se dizer que faz falta um projeto alternativo.
Como a Lei de Meios pode transformar a democracia argentina?
Estão aí as liminares judiciais (que tentam impedir que a legislação aprovada em 2009 entre em vigor). De toda maneira, a lei requer complementação para haver um apoio econômico do Estado às organizações populares que não têm dinheiro. Este é um problema muito sério. Recebo constantemente cartas de veículos comunitários dizendo que provavelmente a rádio terá de fechar. Com a lei atual, é preciso contratar locutores. Pagá-los significa um esforço que não se pode atender. O governo precisa pensar melhor sobre esse tema. Mas é um grande passo adiante. Para um país como o Brasil, seria ótimo que ocorresse o mesmo porque aí há uma concentração absurda dos veículos de comunicação. Quando a comunicação está concentrada, a democracia está frágil. Este é um axioma que básico da ciência política.
Origem da crise
Antonio Delfim Netto
Para entender os movimentos dos "indignados" americanos e da "ocupação de Wall Street", é preciso considerar alguns fatos:
1) A renda per capita não cresce desde 1996;
2) A distribuição dessa renda tem piorado há duas décadas;
3) O nível de desemprego em abril de 2008 era de 4,8% da população economicamente ativa, o que, em parte, compensava aqueles efeitos;
4) Em janeiro de 2010, o desemprego andava em torno de 10,6% e, desde então, permanece quase igual (9,2%);
5) O colapso da Bolsa cortou pelo menos 40% da riqueza que os agentes "pensavam" que possuíam;
6) A combinação da queda da Bolsa com a queda do valor dos imóveis residenciais fez boa parte do patrimônio das famílias evaporar-se;
7) Ao menos 25% das famílias têm hoje menos da metade que "supunham" ter em 2008.
O grande problema é que a maioria dos cidadãos não entende como isso pode ter acontecido. Sentem que foram assaltados à luz do dia, sob os olhos complacentes das instituições em que confiavam: o poder Executivo e o Banco Central. Assistem confusos o comportamento do Legislativo. Pequenos grupos mais exaltados tentam reviver, com passeatas festivas de fim de semana, o espírito "revolucionário" de 1968, que deu no que deu...
É muito pouco provável que essa pressão leve a alguma mudança séria em Washington. Talvez algum efeito nos resultados da eleição de 2012. Isso não deixa de ser preocupante e assustador dado ao reacionarismo do influente Tea Party no partido Republicano e à pobreza intelectual dos seus atuais candidatos.
A história não opera em linha reta. Nada garante que, mesmo com as suas fortes instituições, o atual disfuncionalismo político americano não possa produzir algo ainda pior do que o que estamos vendo.
O último levantamento do Gallup (15 e 16 de outubro de 2011) perguntou a quem o consultado atribuía a crise que estava vivendo. As respostas foram: 64% ao governo federal; 30% ao comportamento das instituições financeiras e 5% não tinham opinião formada.
Modelos de previsão eleitoral como os de Ray Fair, da Universidade de Yale (adaptados no Brasil pelo competente analista político Alexandre Marinis), ainda dão uma probabilidade maior à reeleição de Obama -apesar de que quase dois terços dos americanos acreditam que ele é o responsável pela crise.
Injustamente, porque a crise é produto dos governos Clinton (democrata) e Bush (republicano), que se esmeraram em demolir, com a desculpa ideológica de que os mercados financeiros eram eficientes e se autocontrolavam, a regulação do sistema bancário construída por Roosevelt (democrata) depois da crise de 1929.
Para entender os movimentos dos "indignados" americanos e da "ocupação de Wall Street", é preciso considerar alguns fatos:
1) A renda per capita não cresce desde 1996;
2) A distribuição dessa renda tem piorado há duas décadas;
3) O nível de desemprego em abril de 2008 era de 4,8% da população economicamente ativa, o que, em parte, compensava aqueles efeitos;
4) Em janeiro de 2010, o desemprego andava em torno de 10,6% e, desde então, permanece quase igual (9,2%);
5) O colapso da Bolsa cortou pelo menos 40% da riqueza que os agentes "pensavam" que possuíam;
6) A combinação da queda da Bolsa com a queda do valor dos imóveis residenciais fez boa parte do patrimônio das famílias evaporar-se;
7) Ao menos 25% das famílias têm hoje menos da metade que "supunham" ter em 2008.
O grande problema é que a maioria dos cidadãos não entende como isso pode ter acontecido. Sentem que foram assaltados à luz do dia, sob os olhos complacentes das instituições em que confiavam: o poder Executivo e o Banco Central. Assistem confusos o comportamento do Legislativo. Pequenos grupos mais exaltados tentam reviver, com passeatas festivas de fim de semana, o espírito "revolucionário" de 1968, que deu no que deu...
É muito pouco provável que essa pressão leve a alguma mudança séria em Washington. Talvez algum efeito nos resultados da eleição de 2012. Isso não deixa de ser preocupante e assustador dado ao reacionarismo do influente Tea Party no partido Republicano e à pobreza intelectual dos seus atuais candidatos.
A história não opera em linha reta. Nada garante que, mesmo com as suas fortes instituições, o atual disfuncionalismo político americano não possa produzir algo ainda pior do que o que estamos vendo.
O último levantamento do Gallup (15 e 16 de outubro de 2011) perguntou a quem o consultado atribuía a crise que estava vivendo. As respostas foram: 64% ao governo federal; 30% ao comportamento das instituições financeiras e 5% não tinham opinião formada.
Modelos de previsão eleitoral como os de Ray Fair, da Universidade de Yale (adaptados no Brasil pelo competente analista político Alexandre Marinis), ainda dão uma probabilidade maior à reeleição de Obama -apesar de que quase dois terços dos americanos acreditam que ele é o responsável pela crise.
Injustamente, porque a crise é produto dos governos Clinton (democrata) e Bush (republicano), que se esmeraram em demolir, com a desculpa ideológica de que os mercados financeiros eram eficientes e se autocontrolavam, a regulação do sistema bancário construída por Roosevelt (democrata) depois da crise de 1929.
*esquerdopata
Significado da reeleição na Argentina
Editorial do sítio Vermelho:
A América Latina assistiu, neste final de semana, a um dos capítulos mais sólidos do processo de fortalecimento democrático do continente. No domingo (23), 54% dos argentinos respaldaram a atual gestão de Cristina Kirchner. A vitória acachapante da atual presidente, que concorria à reeleição, é uma mostra do avanço dos povos latino-americanos rumo a uma administração independente, com crescimento econômico respaldado por maior justiça social e soberania.
Esse movimento progressista na América se estende por mais de uma década, tendo como expoentes no continente os governos de Argentina, Bolívia, Brasil, El Salvador, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Venezuela, além de Cuba – que há meio século desafia o governo estadunidense, responsável pelo criminoso bloqueio econômico imposto à ilha. Historicamente considerados “quintal” dos Estados Unidos, esses países romperam com o Consenso de Washington vigente durante a década de 1990 e ousaram reivindicar a independência dos povos, tendo como prioridade os avanços na área social e a consolidação do vitorioso processo de fortalecimento de uma América Latina soberana, que caminha para a superação das desigualdades e injustiças do continente.
Mas esse é um pecado que a direita subserviente ao Império não perdoa.
O ranço histórico dos setores conservadores é agravado pelo fato de que os meios de comunicação, convertidos em partidos políticos de manutenção do status quo, não conseguem impedir o avanço histórico das forças de esquerda no continente. Durante o todo o processo eleitoral da Argentina, jornais a serviço das classes dominantes fizeram intensa campanha contra Cristina Kirchner tentando, de todas as formas, demonizar e desqualificar seu governo.
O jornal Tiempo Argentino publicou, em setembro, uma pesquisa revelando que o grupo Clarín, maior conglomerado de mídia do país, publicou, em 15 meses, 347 capas negativas sobre o governo. Apesar disso, a presidente conseguiu, nas urnas, assegurar o processo de mudança iniciado por seu marido, Néstor Kirchner, quando assumiu a presidência em 2003, após uma ofensiva pelo desmantelamento do Estado perpetrada pelos governos neoliberais de Carlos Saúl Menem (1989 e 1999) e Fernando de La Rúa (1999-2001).
O desespero dos meios argentinos pôde ser verificado no período que antecedeu as Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias (Paso), realizadas em agosto, quando a leitura dos grandes jornais do país deixava dúvidas sobre a reeleição de Cristina e propagava uma reação inexistente dos candidatos da oposição.
Observa-se, no entanto que, assim como no Brasil, a imprensa golpista argentina não conseguiu manipular a opinião pública do país que, frente aos avanços reais da sociedade, respaldou Cristina com mais um mandato. Uma pesquisa de boca de urna realizada pela Universidade de Buenos Aires (UBA) revelou que, dos dez indicadores considerados relevantes para os cidadãos, seis tiveram melhoras significativas nos últimos quatro anos: economia pessoal e familiar, economia nacional, educação, salários, empregos e aposentadoria. As maiores preocupações dos cidadãos argentinos são com segurança e emprego.
Sequer a evidência de que a economia argentina está crescendo de maneira sustentável é suficiente para acalmar os ânimos da direita rancorosa. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, neste ano, o país dispõe de um superávit comercial de mais de US$ 9 bilhões, o que deixa o governo em condições de pagar a dívida pública e controlar a fuga de capitais, mas os meios argentinos insistem em acusar o governo de manipulação dos dados oficiais da economia.
Descredibilizados, os veículos hegemônicos criaram mais um factóide, que já aparece também na imprensa brasileira, em comentários e reportagens nada isentas. Esta argumenta que a maioria parlamentar obtida pela presidente representa um “perigo” para a democracia. Fala em “controle do Congresso”, em superpoderes, “hiperpresidencialismo”, revela o “temor” de um suposto “radicalismo” no país. Esse discurso retrata o temor do que os argentinos chamam de “aprofundar o modelo” e dos avanços na democratização dos meios de comunicação, tal como ocorreu com a criação da Lei dos Meios, cujo objetivo é impedir a formação de monopólios impondo limites à concentração e fixando cotas à quantidade de licenças por tipo de meios.
Tudo indica que o terceiro mandato do partido Peronista na Argentina vai aprofundar as mudanças iniciadas em 2003. Oxalá que assim seja e que possamos tomar como exemplo os avanços conseguidos pelo país vizinho. De acordo com Patricio Echegaray, secretário-geral do Partido Comunista da Argentina, em artigo publicado em seu blog, a mudança estrutural no capitalismo da Argentina “é a única forma de impedir a ofensiva restauradora das direitas ou uma possível descomposição que pode afetar o chamado projeto nacional”.
A América Latina assistiu, neste final de semana, a um dos capítulos mais sólidos do processo de fortalecimento democrático do continente. No domingo (23), 54% dos argentinos respaldaram a atual gestão de Cristina Kirchner. A vitória acachapante da atual presidente, que concorria à reeleição, é uma mostra do avanço dos povos latino-americanos rumo a uma administração independente, com crescimento econômico respaldado por maior justiça social e soberania.
Esse movimento progressista na América se estende por mais de uma década, tendo como expoentes no continente os governos de Argentina, Bolívia, Brasil, El Salvador, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Venezuela, além de Cuba – que há meio século desafia o governo estadunidense, responsável pelo criminoso bloqueio econômico imposto à ilha. Historicamente considerados “quintal” dos Estados Unidos, esses países romperam com o Consenso de Washington vigente durante a década de 1990 e ousaram reivindicar a independência dos povos, tendo como prioridade os avanços na área social e a consolidação do vitorioso processo de fortalecimento de uma América Latina soberana, que caminha para a superação das desigualdades e injustiças do continente.
Mas esse é um pecado que a direita subserviente ao Império não perdoa.
O ranço histórico dos setores conservadores é agravado pelo fato de que os meios de comunicação, convertidos em partidos políticos de manutenção do status quo, não conseguem impedir o avanço histórico das forças de esquerda no continente. Durante o todo o processo eleitoral da Argentina, jornais a serviço das classes dominantes fizeram intensa campanha contra Cristina Kirchner tentando, de todas as formas, demonizar e desqualificar seu governo.
O jornal Tiempo Argentino publicou, em setembro, uma pesquisa revelando que o grupo Clarín, maior conglomerado de mídia do país, publicou, em 15 meses, 347 capas negativas sobre o governo. Apesar disso, a presidente conseguiu, nas urnas, assegurar o processo de mudança iniciado por seu marido, Néstor Kirchner, quando assumiu a presidência em 2003, após uma ofensiva pelo desmantelamento do Estado perpetrada pelos governos neoliberais de Carlos Saúl Menem (1989 e 1999) e Fernando de La Rúa (1999-2001).
O desespero dos meios argentinos pôde ser verificado no período que antecedeu as Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias (Paso), realizadas em agosto, quando a leitura dos grandes jornais do país deixava dúvidas sobre a reeleição de Cristina e propagava uma reação inexistente dos candidatos da oposição.
Observa-se, no entanto que, assim como no Brasil, a imprensa golpista argentina não conseguiu manipular a opinião pública do país que, frente aos avanços reais da sociedade, respaldou Cristina com mais um mandato. Uma pesquisa de boca de urna realizada pela Universidade de Buenos Aires (UBA) revelou que, dos dez indicadores considerados relevantes para os cidadãos, seis tiveram melhoras significativas nos últimos quatro anos: economia pessoal e familiar, economia nacional, educação, salários, empregos e aposentadoria. As maiores preocupações dos cidadãos argentinos são com segurança e emprego.
Sequer a evidência de que a economia argentina está crescendo de maneira sustentável é suficiente para acalmar os ânimos da direita rancorosa. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, neste ano, o país dispõe de um superávit comercial de mais de US$ 9 bilhões, o que deixa o governo em condições de pagar a dívida pública e controlar a fuga de capitais, mas os meios argentinos insistem em acusar o governo de manipulação dos dados oficiais da economia.
Descredibilizados, os veículos hegemônicos criaram mais um factóide, que já aparece também na imprensa brasileira, em comentários e reportagens nada isentas. Esta argumenta que a maioria parlamentar obtida pela presidente representa um “perigo” para a democracia. Fala em “controle do Congresso”, em superpoderes, “hiperpresidencialismo”, revela o “temor” de um suposto “radicalismo” no país. Esse discurso retrata o temor do que os argentinos chamam de “aprofundar o modelo” e dos avanços na democratização dos meios de comunicação, tal como ocorreu com a criação da Lei dos Meios, cujo objetivo é impedir a formação de monopólios impondo limites à concentração e fixando cotas à quantidade de licenças por tipo de meios.
Tudo indica que o terceiro mandato do partido Peronista na Argentina vai aprofundar as mudanças iniciadas em 2003. Oxalá que assim seja e que possamos tomar como exemplo os avanços conseguidos pelo país vizinho. De acordo com Patricio Echegaray, secretário-geral do Partido Comunista da Argentina, em artigo publicado em seu blog, a mudança estrutural no capitalismo da Argentina “é a única forma de impedir a ofensiva restauradora das direitas ou uma possível descomposição que pode afetar o chamado projeto nacional”.
TVT debate encontro de blogueiros
Tuítaço pela banda larga de qualidade
Do sítio da campanha Banda larga é um direito seu!
Participem do tuítaço esta quarta-feira na véspera da votação em que a Anatel irá definir padrões de qualidade da banda larga. O Conselho Diretor vai se reunir para votar critérios de atendimento, capacidade de rede e variações máximas de velocidade no serviço de acesso à Internet. Para fazer pressão pela aprovação de parâmetros fortes vamos tuitar pedindo “Qualidade Já”.
O tuítaço é hoje, quarta-feira (concentração às 16h).
Hashtag #QualidadeJa e @brasil_ANATEL. Participe tuitando:
@brasil_ANATEL: garanta a qualidade da banda larga! #qualidadeja http://bit.ly/nVxtSY
@brasil_ANATEL: chega de receber só 10% da velocidade contratada #qualidadeja http://bit.ly/nVxtSY
SIM ao limite de 80% de ocupação da rede #qualidadeja não dá para vender se não tem para entregar http://bit.ly/nVxtSY
@brasil_ANATEL Chega de problemas na banda larga! #qualidadeja http://bit.ly/nVxtSY
Brasil tem a Banda Larga mais cara do mundo:http://bit.ly/qEREpz E não tem fiscalização de qualidade @brasil_ANATEL#QualidadeJá
@brasil_ANATEL: o consumidor tem o direito de medir a qualidade da banda larga que recebe! http://bit.ly/qEREpz
Página no Facebook: https://www.facebook.com/note.php?note_id=168495723239634
Atualmente, não há norma que regule a qualidade do acesso à banda larga no País. As empresas provedoras do serviço só garantem 10% da velocidade contratada e algumas nem se comprometem com uma capacidade mínima! O acesso à rede que tanto sonhamos para o Brasil depende da regulação que a Anatel irá aprovar nesta quinta-feira.
Só com qualidade a Internet pode realizar todo o seu potencial de acesso à informação e concretização de direitos fundamentais. Baixa velocidade, problemas de estabilidade, pouca transparência na prestação do serviço e mau atendimento do consumidor não fazem parte da banda larga que queremos.
Se você ainda não enviou uma mensagem para os conselheiros Ronaldo Sardenberg, Emília Ribeiro, João Rezende e Jarbas Valente, envie aqui: http://www.idec.org.br/campanhas/qualidadeja/
*Miro
Participem do tuítaço esta quarta-feira na véspera da votação em que a Anatel irá definir padrões de qualidade da banda larga. O Conselho Diretor vai se reunir para votar critérios de atendimento, capacidade de rede e variações máximas de velocidade no serviço de acesso à Internet. Para fazer pressão pela aprovação de parâmetros fortes vamos tuitar pedindo “Qualidade Já”.
O tuítaço é hoje, quarta-feira (concentração às 16h).
Hashtag #QualidadeJa e @brasil_ANATEL. Participe tuitando:
@brasil_ANATEL: garanta a qualidade da banda larga! #qualidadeja http://bit.ly/nVxtSY
@brasil_ANATEL: chega de receber só 10% da velocidade contratada #qualidadeja http://bit.ly/nVxtSY
SIM ao limite de 80% de ocupação da rede #qualidadeja não dá para vender se não tem para entregar http://bit.ly/nVxtSY
@brasil_ANATEL Chega de problemas na banda larga! #qualidadeja http://bit.ly/nVxtSY
Brasil tem a Banda Larga mais cara do mundo:http://bit.ly/qEREpz E não tem fiscalização de qualidade @brasil_ANATEL#QualidadeJá
@brasil_ANATEL: o consumidor tem o direito de medir a qualidade da banda larga que recebe! http://bit.ly/qEREpz
Página no Facebook: https://www.facebook.com/note.php?note_id=168495723239634
Atualmente, não há norma que regule a qualidade do acesso à banda larga no País. As empresas provedoras do serviço só garantem 10% da velocidade contratada e algumas nem se comprometem com uma capacidade mínima! O acesso à rede que tanto sonhamos para o Brasil depende da regulação que a Anatel irá aprovar nesta quinta-feira.
Só com qualidade a Internet pode realizar todo o seu potencial de acesso à informação e concretização de direitos fundamentais. Baixa velocidade, problemas de estabilidade, pouca transparência na prestação do serviço e mau atendimento do consumidor não fazem parte da banda larga que queremos.
Se você ainda não enviou uma mensagem para os conselheiros Ronaldo Sardenberg, Emília Ribeiro, João Rezende e Jarbas Valente, envie aqui: http://www.idec.org.br/campanhas/qualidadeja/
Brucutu distrital
Hoje, nas páginas da Folha, reemerge das sombras Eduardo Graeff, o brucutu da campanha de Serra.
Graeff é um homem de méritos. Ao contrário do eterno chefe, Fernando Henrique Cardoso, ele não sofistica muito a linguagem e, assim, confunde menos.
Mas hoje ele faz um esforço e tenta apresentar argumentos e contra-argumentos. E adota a falsa erudição que acha bonito no “mestre” para defender o voto distrital.
Primeiro, tenta mistificar, é claro, dizendo que o voto distrital equivale às “diretas-já” e que está ganhando a opinião pública.
“Não sei quanto tempo pode demorar para essa ideia se espalhar na sociedade até ganhar força no Congresso. Os movimentos de opinião às vezes atingem um ponto em que a curva de crescimento passa de incremental a exponencial. Foi assim com as diretas-já para presidente da República. Pode ser assim com as diretas-já para deputado, que é o que voto distrital significa.”
E ataca o voto em lista partidária dizendo que é “uma usurpação do seu direito de escolha”.
Seria muito interessante, sobre esta questão da usurpação, que o senhor Graeff lesse o artigo do sociólogo Alberto Carlos Almeida, mostrando como é excludente o voto distrital, de onde retiro estes trechos:
“Para se obter a maioria dos deputados em uma Câmara eleita por meio do voto distrital, basta que um partido obtenha somente 25% dos votos nacionais. Isso porque é preciso ter 50% de votos em 50% dos distritos, o que resulta nos 25% dos votos nacionais mencionados. Resultado: a maioria governa graças a uma minoria de votos, e a maioria dos votos – 75% – fica de fora do governo. É impossível ser mais excludente. No sistema proporcional, um partido só poderá ter a maioria da Câmara dos Deputados se obtiver 50% dos votos nacionais”. (acrescento eu: um pouco menos no caso do Brasil, já que o voto brasileiro não é totalmente proporcional, mas “distritalizado” por Estados).
Logo, os problemas de ilegitimidade da representação eleita surgem com evidência e Almeida reproduz várias situações de fato na Inglaterra, onde, aliás, o voto distrital tirou Winston Churchill do Parlamento logo após ter ganho a 2ª Guerra Mundial.
“(Na Inglaterra), em 1983 os liberais-democratas britânicos tiveram 25,4% dos votos, mas somente 3,5% das cadeiras, um completo absurdo, uma completa falta de proporcionalidade, uma total injustiça distributiva quando se considera a relação entre votos e cadeiras. Em 1987 foram 22,6% dos votos que resultaram somente em 3,4% de cadeiras; em 1992 ocorreu que 17,8% dos votos foram traduzidos em somente 3,1% de assentos no parlamento. Em 1997 a injustiça foi menor, mas permaneceu: 16,7% dos votos os levaram a obter 7% de cadeiras. Daí para a frente, a situação só fez piorar: em 2001, 18,3% dos votos resultaram em 7,9% de assentos parlamentares; em 2005, 22,1% dos votos conquistaram 9,6% das cadeiras, e em 2010 a situação foi ainda pior, quando 23% dos votos resultaram em somente 8,8% de cadeiras”.
O poder da maioria, então, torna-se avassalador:
“Em 1983, Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra pela segunda vez, com seu partido obtendo 42,4% dos votos. O impressionante é que o Partido Conservador conquistou nada menos do que 61% das cadeiras do Parlamento, praticamente 20% a mais do que sua votação. Em 1987 a desproporção também ficou muito próxima disso: com somente 42,3%, obteve-se 57,9% dos assentos. Em 2001 foi a vez dessa injustiça distributiva favorecer o Partido Trabalhista: foram 40,7% de votos que resultaram na conquista de 62,5% das cadeiras. Em 2005, foram 35,2% de votos para o partido de Tony Blair, e eles conquistaram 55,2% de cadeiras. Isso seria intolerável no Brasil.”
E a proximidade com o eleitor garantiria a plena representatividade do eleito sobre o eleitor?
“Os defensores do voto distrital no Brasil afirmam que ele é bom porque há mais proximidade entre o eleito e o eleitor. Os distúrbios de Londres eclodiram no distrito de Tottenham, cujo representante é um negro de 39 anos chamado David Lammy nascido e criado em Tottenham. Na eleição de 2010, o comparecimento foi de 58,2%, ou seja, 41,8% dos eleitores não foram votar, talvez porque achassem que os candidatos em disputa não os representavam. Adicionalmente, Lammy teve 59,3% de votos. Isso significa que 40,7% de quem foi às urnas no distrito de Tottenham não têm representante no parlamento britânico. Lammy representa somente 34,5% de todos os eleitores de seu distrito, isto é, 65,5% não têm representantes. Assim, não surpreende que os eleitores que não se sintam representados tenham, utilizando seus aparelhos BlackBerry, organizando os distúrbios que vimos. O sistema eleitoral distrital cria as condições dos distúrbios que aconteceram em Londres porque se trata de uma forma de representação que joga no lixo uma enorme proporção de votos, ou seja, esses votos ficam sem representação no parlamento.”
Eduardo Graeff diz que “o debate teórico também vai ser fácil” em favor do voto distrital. Fácil, nada. O que é fácil é identificar a origem desta ideia: Guilherme Afif Domingues, José Serra, agora Eduardo Graeff… Só será fácil se, como de outras vezes, a mídia abafar os que falam que essa ideia é o que realmente é: a aposta dos tucanos e seus penduricalhos conservadores de voltarem ao poder que não conseguem pelo voto direto.
Quem hoje reclama das “emendas parlamentares”, do fisiologismo na representação política e do despejo de dinheiro nas campanhas eleitorais ganha, com o voto distrital, tudo isso em quantidades muito maiores, embora divididas em “pedacinhos distritais”. Para os cariocas, basta lembrar como Chagas Freitas construía suas maiorias: algumas bicas d’água nas favelas X, Y e Z garantiam um deputado “benfeitor” local.
Os nossos porta-vozes da “representatividade local” não querem outra coisa. Um “baixo clero” político que se mantenha com as piores práticas, a eliminação daqueles que buscam o voto de opinião e convicção e o poder exercido por uma casta incontestável, como foi a que imperou na obscura Era FHC.
Mas justiça seja feita: FHC eleger-se-ia deputado pelo distrito de Higienópolis. Afinal, a gente “diferenciada” não vota lá.
PS. Podendo, leia o artigo de Antonio Carlos Almeida, um trabalho sério e cheio de dados, embora ache discutíveis algumas de suas conclusões. Mas é assim a democracia não-distrital, nenhum pensamento é o “único”, como adoram que seja – o seu,claro – os neoliberais.
*Tijolaço
Graeff é um homem de méritos. Ao contrário do eterno chefe, Fernando Henrique Cardoso, ele não sofistica muito a linguagem e, assim, confunde menos.
Mas hoje ele faz um esforço e tenta apresentar argumentos e contra-argumentos. E adota a falsa erudição que acha bonito no “mestre” para defender o voto distrital.
Primeiro, tenta mistificar, é claro, dizendo que o voto distrital equivale às “diretas-já” e que está ganhando a opinião pública.
“Não sei quanto tempo pode demorar para essa ideia se espalhar na sociedade até ganhar força no Congresso. Os movimentos de opinião às vezes atingem um ponto em que a curva de crescimento passa de incremental a exponencial. Foi assim com as diretas-já para presidente da República. Pode ser assim com as diretas-já para deputado, que é o que voto distrital significa.”
E ataca o voto em lista partidária dizendo que é “uma usurpação do seu direito de escolha”.
Seria muito interessante, sobre esta questão da usurpação, que o senhor Graeff lesse o artigo do sociólogo Alberto Carlos Almeida, mostrando como é excludente o voto distrital, de onde retiro estes trechos:
“Para se obter a maioria dos deputados em uma Câmara eleita por meio do voto distrital, basta que um partido obtenha somente 25% dos votos nacionais. Isso porque é preciso ter 50% de votos em 50% dos distritos, o que resulta nos 25% dos votos nacionais mencionados. Resultado: a maioria governa graças a uma minoria de votos, e a maioria dos votos – 75% – fica de fora do governo. É impossível ser mais excludente. No sistema proporcional, um partido só poderá ter a maioria da Câmara dos Deputados se obtiver 50% dos votos nacionais”. (acrescento eu: um pouco menos no caso do Brasil, já que o voto brasileiro não é totalmente proporcional, mas “distritalizado” por Estados).
Logo, os problemas de ilegitimidade da representação eleita surgem com evidência e Almeida reproduz várias situações de fato na Inglaterra, onde, aliás, o voto distrital tirou Winston Churchill do Parlamento logo após ter ganho a 2ª Guerra Mundial.
“(Na Inglaterra), em 1983 os liberais-democratas britânicos tiveram 25,4% dos votos, mas somente 3,5% das cadeiras, um completo absurdo, uma completa falta de proporcionalidade, uma total injustiça distributiva quando se considera a relação entre votos e cadeiras. Em 1987 foram 22,6% dos votos que resultaram somente em 3,4% de cadeiras; em 1992 ocorreu que 17,8% dos votos foram traduzidos em somente 3,1% de assentos no parlamento. Em 1997 a injustiça foi menor, mas permaneceu: 16,7% dos votos os levaram a obter 7% de cadeiras. Daí para a frente, a situação só fez piorar: em 2001, 18,3% dos votos resultaram em 7,9% de assentos parlamentares; em 2005, 22,1% dos votos conquistaram 9,6% das cadeiras, e em 2010 a situação foi ainda pior, quando 23% dos votos resultaram em somente 8,8% de cadeiras”.
O poder da maioria, então, torna-se avassalador:
“Em 1983, Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra pela segunda vez, com seu partido obtendo 42,4% dos votos. O impressionante é que o Partido Conservador conquistou nada menos do que 61% das cadeiras do Parlamento, praticamente 20% a mais do que sua votação. Em 1987 a desproporção também ficou muito próxima disso: com somente 42,3%, obteve-se 57,9% dos assentos. Em 2001 foi a vez dessa injustiça distributiva favorecer o Partido Trabalhista: foram 40,7% de votos que resultaram na conquista de 62,5% das cadeiras. Em 2005, foram 35,2% de votos para o partido de Tony Blair, e eles conquistaram 55,2% de cadeiras. Isso seria intolerável no Brasil.”
E a proximidade com o eleitor garantiria a plena representatividade do eleito sobre o eleitor?
“Os defensores do voto distrital no Brasil afirmam que ele é bom porque há mais proximidade entre o eleito e o eleitor. Os distúrbios de Londres eclodiram no distrito de Tottenham, cujo representante é um negro de 39 anos chamado David Lammy nascido e criado em Tottenham. Na eleição de 2010, o comparecimento foi de 58,2%, ou seja, 41,8% dos eleitores não foram votar, talvez porque achassem que os candidatos em disputa não os representavam. Adicionalmente, Lammy teve 59,3% de votos. Isso significa que 40,7% de quem foi às urnas no distrito de Tottenham não têm representante no parlamento britânico. Lammy representa somente 34,5% de todos os eleitores de seu distrito, isto é, 65,5% não têm representantes. Assim, não surpreende que os eleitores que não se sintam representados tenham, utilizando seus aparelhos BlackBerry, organizando os distúrbios que vimos. O sistema eleitoral distrital cria as condições dos distúrbios que aconteceram em Londres porque se trata de uma forma de representação que joga no lixo uma enorme proporção de votos, ou seja, esses votos ficam sem representação no parlamento.”
Eduardo Graeff diz que “o debate teórico também vai ser fácil” em favor do voto distrital. Fácil, nada. O que é fácil é identificar a origem desta ideia: Guilherme Afif Domingues, José Serra, agora Eduardo Graeff… Só será fácil se, como de outras vezes, a mídia abafar os que falam que essa ideia é o que realmente é: a aposta dos tucanos e seus penduricalhos conservadores de voltarem ao poder que não conseguem pelo voto direto.
Quem hoje reclama das “emendas parlamentares”, do fisiologismo na representação política e do despejo de dinheiro nas campanhas eleitorais ganha, com o voto distrital, tudo isso em quantidades muito maiores, embora divididas em “pedacinhos distritais”. Para os cariocas, basta lembrar como Chagas Freitas construía suas maiorias: algumas bicas d’água nas favelas X, Y e Z garantiam um deputado “benfeitor” local.
Os nossos porta-vozes da “representatividade local” não querem outra coisa. Um “baixo clero” político que se mantenha com as piores práticas, a eliminação daqueles que buscam o voto de opinião e convicção e o poder exercido por uma casta incontestável, como foi a que imperou na obscura Era FHC.
Mas justiça seja feita: FHC eleger-se-ia deputado pelo distrito de Higienópolis. Afinal, a gente “diferenciada” não vota lá.
PS. Podendo, leia o artigo de Antonio Carlos Almeida, um trabalho sério e cheio de dados, embora ache discutíveis algumas de suas conclusões. Mas é assim a democracia não-distrital, nenhum pensamento é o “único”, como adoram que seja – o seu,claro – os neoliberais.
*Tijolaço
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