Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, março 19, 2012

Charge do Dia


Desativar as molas do poder passa pela capacidade de colocá-lo a uma distância segura de nossos corpos.

Claramente a favor do aborto

 

Não há Estado que tenha o direito de legislar sobre o uso que uma mulher faz do próprio corpo
Vladimir Safatle, CartaCapital

Há algum tempo, a política brasileira tem sido periodicamente chantageada pela questão do aborto. Tal chantagem demonstra a força de certos grupos religiosos na determinação do ordenamento jurídico brasileiro, o que evidencia como a separação entre Igreja e Estado está longe de ser uma realidade efetiva entre nós. Uma das expressões mais claras dessa força encontra-se no fato de mesmo os defensores do aborto não terem coragem de dizer isso com todas as letras.
Sempre somos obrigados a ouvir afirmações envergonhadas do tipo: “Eu, pessoalmente, sou contra, afinal, como alguém pode ser a favor do aborto? Mas esta é uma questão de saúde pública, devemos analisá-la de maneira desapaixonada…”
Talvez tenha chegado o momento de dizermos: somos sim absolutamente a favor do aborto. Há aqui uma razão fundamental: não há Estado que tenha o direito de legislar sobre o uso que uma mulher deve fazer de seu próprio corpo. É estranho ver algumas peculiaridades brasileiras. Por exemplo, o Brasil deve ser um dos poucos países onde os autoproclamados liberais e defensores da liberdade do indivíduo acham normal que o Estado se arrogue o direito de intervir em questões vinculadas à maneira como uma mulher dispõe de seu próprio corpo.
Há duas décadas, a artista norte-americana Barbara Kruger concebera um cartaz onde se via um rosto feminino e a frase: “Seu corpo é um campo de batalha”. Não poderia haver frase mais justa a respeito da maneira com que o poder na contemporaneidade se mostra em sua verdadeira natureza quando aparece como modo de administração dos corpos e de regulação da vida. Esta é a função mais elementar do poder: fazer com que sua presença seja percebida sempre que o indivíduo olhar o próprio corpo.
Nesse sentido, não deixa de ser irônico notar como alguns setores do cristianismo, como o catolicismo e algumas seitas pentecostais, parecem muito mais preocupados com o corpo de seus fiéis que com sua alma. Daí a maneira como transformaram, a despeito de outros segmentos do cristianismo, problemas como o aborto, a sexualidade e o casamento homossexual em verdadeiros objetos de cruzadas. Talvez seria interessante lembrar: mesmo entre os cristão tais ideias são controversas. Os anglicanos não veem o aborto como um pecado e mesmo entre os luteranos, embora se digam contrários, ninguém pensaria em excomungar uma fiel por ela ter decido fazer um aborto.
É claro que se pode sempre contra-argumentar dizendo que problemas como o aborto não podem ser vistos exclusivamente como uma questão ligada à autonomia a que tenho direito quando uso meu corpo. Pois haveria outra vida a ser reconhecida enquanto tal. Esse ponto está entre os mais inacreditáveis obscurantismos.
Uma vida em potencial não pode, em hipótese alguma, ser equiparada juridicamente a uma vida em ato. Um embrião do tamanho de um grão de feijão, sem autonomia alguma, parasita das funções vitais do corpo que o hospeda e sem a menor atividade cerebral não pode ser equiparado a um indivíduo dotado de autonomia das suas funções vitais e atividade cerebral. Não estamos diante do mesmo fenômeno. A maneira com que certos grupos políticos e religiosos se utilizam do conceito de “vida” para unificar os dois fenômenos (dizendo que estamos diante da mesma “vida humana”) é apenas uma armadilha ideo-lógica. A vida humana não é um conceito biológico, mas um conceito político no qual encontramos a sedimentação de valores e normas que nossa vida social compreende como fundamentais. Se dizemos que alguém desprovido de atividade cerebral está clinicamente morto, mesmo se ele conservar grande parte de suas funções vitais ainda em atividade graças a aparelhos médicos, é porque autonomia e autocontrole são valores fundamentais para nossa concepção de vida humana.
Assim, quando certos setores querem transformar o debate sobre o aborto em uma luta entre os defensores incondicionais da vida e os adeptos de alguma obscura cultura da morte, vemos a mais primária tentativa de transformar a vida em um conceito ideológico. Isso se admitirmos que será necessariamente ideológico um discurso que quer nos fazer acreditar que “as coisas falam por si mesmas”, que nossa definição de vida é algo assentado nas leis cristalinas da natureza, que ela não é uma construção baseada em valores sociais reificados.
Levando isso em conta, temos de saudar o fato de alguns arautos do conservadorismo pretenderem colocar tal questão na pauta do debate político brasileiro e esperar que existam algumas pessoas dispostas a compreender a importância do que está em jogo. Desativar as molas do poder passa pela capacidade de colocá-lo a uma distância segura de nossos corpos.
*esquerdopata

Raul Seixas: O Início, o Fim e o Meio


Raul nas telonas Raul nas telonas 
Estréia 23 de Março 
Após convite do presidente da Paramount no Brasil, o diretor Walter Carvalho decidiu levar para o cinema a vida e a obra do compositor baiano em "Raul Seixas - O início, o fim e o meio"
O documentário que narra a trajetória do artista considerado o divisor de águas do cenário musical nacional é uma das produções mais esperadas de 2012. Com estreia marcada para 27 de janeiro, o filme "Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio" apresenta depoimentos, imagens raras, gravações inéditas e arquivos familiares, compostos pela revolução musical e intelectual provocada pelo "maluco beleza" do rock.
s receber um convite irrecusável do presidente da Paramount no Brasil, Jorge Peregrino, o diretor Walter Carvalho decidiu levar para o cinema a vida e a obra do compositor baiano, considerado uma das figuras mais influentes da música nacional.
Para contar a paixão de Seixas pela música, a produção começa com os bastidores do início da carreira do músico em Salvador, onde o roqueiro se apresentava como cover de Elvis Presley. A série de filmagens, que resultou em mais de 200 horas de depoimentos, se transformou num longa sensível aos olhos dos fãs, com uma hora e meia de duração. Apresentando material raro de arquivo, o diretor realizou uma verdadeira varredura na vida do polêmico compositor.
Para registrar a carreira meteórica de Seixas, o longa mostra imagens raras, gravações inéditas e depoimentos filmados em diferentes cenários. As filmagens passam por Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Suíça e Estados Unidos. Durante as viagens, a produção buscou declarações de ex-esposas, dos filhos e de ex-amantes, que testemunharam as fases depressivas da vida de Seixas.
 Enraizado numa repleta de poesia, reflexões e excessos de álcool, o roteiro também aborda como o músico conseguiu agradar ao publico intelectualizado, as classes populares e os jovens. Entre as entrevistas mais esperadas pelas fãs estão as de familiares como o irmão Plínio Seixas, do escritor Paulo Coelho, com quem compôs várias canções, e de Waldir Serrão, fundador do Elvis Rock Clube, onde o compositor se apresentou pela primeira vez. Para o diretor, o principal aspecto do filme é a carreira impactante do músico. "É esta genealogia que a gente tenta trazer para o filme: o artista que tem pressa, libertário, provocador e criativo", comenta Carvalho.
 Ídolo
 Em 26 anos de carreira, Raul Seixas se consolidou como um dos maiores artistas brasileiros. Após sua morte, em 1989, o músico alcançou a impressionante marca de 300 mil álbuns vendidos por ano. Sua discografia é composta por 21 álbuns classificados entre rock e baião. Depois de seu álbum de estreia intitulado "Raulzito e os Panteras", lançado em 1968, o compositor adquiriu um estilo musical contestador e místico. Com a criação da Sociedade Alternativa, que defendia escritos do ocultista Aleister Crowley e sua Lei de Thelema, o músico inspirou gerações com o lema "Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei."

*Briguilino

A TV e o reino da mediocridade

Por Washington Araújo, no blog Cidadão do mundo:

O que está acontecendo com nossos fins de semana? Temos a semana para ganhar o sustento pessoal e familiar, trabalhamos o horário nobre dos dias: todas aquelas horas em que o sol está firme no horizonte. Os restos do dia são dedicados ao repouso, tão necessário para refazer as energias a serem canalizadas para a jornada seguinte. E os vestígios do dia, essas poucas horas e momentos que sobram, passamos com quem amamos, nossos familiares, nossos amigos.

Chega então o fim de semana. Sábado e domingo, boa parte da população que ainda pode desfrutar do luxo de ter emprego, profissão ou apenas um meio de ganhar a vida finalmente pode desfrutar de dois dias para descansar e dar atenção aos que amamos. E o que fazemos, então? Boa parte desse “descanso” se passa diante da telinha mágica chamada televisão.

O caos no Metrô de São Paulo


*Miro

Cúpula dos Povos, a cara oposta à Cúpula das Américas

 

Grande alvoroço aconteceu na região diante de tão desafiadora e solidária proposta do mandatário equatoriano, Rafael Correa, quando propôs que os países da Alba não participem na VI Cúpula das Américas se Cuba não for convidada, cujo encontro regional acontecerá em Cartagena de Índias, Colômbia, nos dias 14 e 15 de abril.
Juan Pozo Álvarez, em Adital
Como era de esperar, a reação excludente e indefensável do governo de Washington foi imediata, e, com a prepotência que os caracteriza, começaram a exercer pressões em inconformidade à participação de Cuba no conclave continental.
A iniciativa lançada "não é santo de sua devoção”, já que dito raciocínio contradiz o que decretou o "norte brutal e agitado” para o caso específico de Cuba. Fica claro que para os países de nossa América o tema Cuba não é indiferente e, portanto, estão fazendo com que sua voz seja escutada, como lhes corresponde, sublinhando a importância de uma reunião onde todos possam estar.
Nessas mais de cinco décadas de incessante enfrentamento, nos acostumamos a seus "rancores mortais”, "insultos venenosos”, "invejas assassinas” e "mesquinharias sangrentas” contra nossa pátria. É sempre o mesmo; sintomas decadentes de um ódio confesso que nos inspira a apelar a nosso Herói Nacional, José Martí, quando, ao referir-se a esses irresponsáveis, expressou: "Nem esperamos seu reconhecimento, nem o necessitamos para vencer”. Pensamento martiano que tem tremenda vigência e é um chamado à necessidade de união ante um inimigo tão poderoso e de natureza sumamente agressiva.
As sangrentas garras do monstro que Martí conheceu, em sua passagem pelo país nortenho, poderão continuar fustigando com sua "insana avareza” e "vergonhosos manejos”; porém, o certo é que a essa "águia ladrona”, cada vez lhe custa mais trabalho dividir-nos e convencer-nos, pelo que sua retórica e apologia de má vontade oculta, não destrói nem confunde a ninguém.
Sua própria natureza e ambição desmedida os tem levado a perder espaços e efetividade em sua política hegemônica, pelo que continuamos desempacotando alternativas para avançar rumo a uma integração realmente inclusiva. É um contexto onde se escreve uma página inédita, que cumpre com um velho desejo tantas vezes desaproveitado; porém, agora bem concebido, com a nascente Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que enche a região de muitas e diversas expectativas e oportunidades.
Desde 1994, essas Cúpulas das Américas são convocadas a cada 4 anos, em sedes alternadas, e têm servido para despertar sentimentos de identidade e impregnar um maior sentido de pertença. A voz dos povos tem sido fulminante e imediatamente, surgem as Cúpulas dos Povos como alternativa que, a partir da reunião de Santiago de Chile, em 1998, começaram a levar sua própria agenda de discussão, com iniciativas frente a Alca, aos Tratados de Livre Comércio, ao pagamento da dívida externa, à militarização, às correntes neoliberais e à pobreza na região, entre outros temas recorrentes e conjunturais, assumindo uma posição pujante e firme.
Após a I Cúpula dos Povos, de Santiago de Chile, em 1998, realizaram-se a de Quebec, Canadá (2001), a de Mar del Plata, Argentina (2005), e a de Puerto España, Trinidad e Tobago (2009). Em correspondência, sua uma opção de luta, convocadas pela Aliança Social Continental (ASC), uma coalizão de organizações sindicais, religiosas, camponesas, de direitos humanos, de mulheres e outros movimentos sociais, com presença em todos os países do hemisfério, incluindo os Estados Unidos, Canadá e Cuba. Seu formato é similar ao do Fórum Social Mundial e ao da Assembleia dos Povos do caribe (APC), com um grupo de atividades centrais organizadas pela ASC e atividades autogestionadas: encontros, oficinas, mobilizações, atividades culturais, conferências etc.
Os organizadores da Cúpula dos Povos insistem em que esse é um projeto totalmente independente de governo. Não é uma contra-cúpula; é a cara oposta à Cúpula das Américas, espaço onde se geram processos de resistências ao projeto de dominação que os poderes hegemônicos querem impor. É a Cúpula onde as propostas de integração e o reclamo dos povos são atendidos.
As organizações que se reúnem para participar nas Cúpulas dos Povos se preocupam com o futuro de suas nações, denunciam o agravamento das desigualdades entre ricos e pobres, entre homens e mulheres, entre os países do Norte e os do Sul e como se destroem os vínculos ecológicos entre o ser humano e o meio ambiente. Da mesma forma, denunciam o perigo que ronda a segurança alimentar, a privatização dos serviços de saúde e de educação, mediante programas de ajuste estrutural nos países do Sul e recortes orçamentários nos países do Norte, bem como a marginalização dos povos indígenas e a apropriação de seus conhecimentos com fins comerciais.
Em cada cúpula foi feito um chamado a nossos povos para intensificar a mobilização e desenvolver outros modos de integração, baseados na democracia, na justiça social e na defesa do meio ambiente. Também tem sido enviadas mensagens a todos os mandatários da região e, em particular, ao presidente de turno dos Estados Unidos. Enfim, essas cúpulas têm permitido que se reivindique a paz, a soberania e a justiça social.
Na II Cúpula dos Povos, em Quebec, em abril de 2001, foi aprovado um documento final que denunciava o não cumprimento do acordo celebrado na I Cúpula de Miami, de 1994 para fortalecer a democracia, os direitos humanos; apoiar a educação e reduzir a pobreza. Até a data, nada foi feito. O único ponto dessa agenda que prosperou foi a negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), felizmente sepultado com posterioridade.
Com mais maturidade e coesão, na reunião de Mar del Plata aconteceu uma grande demonstração de rechaço às políticas neoliberais dos Estados Unidos na presença do presidente norte-americano George W. Bush. Em um ambiente pacífico, porém com grande indignação, realizou-se uma contundente macha de repúdio ao próprio Bush justamente no dia de sua chegada para a Cúpula das Américas.
Em abril de 2009, celebra-se a IV Cúpula dos Povos, em Puerto España, Trinidad e Tobago. Por primeira vez, em um país do Caribe insular. Cuba, único país da região que é excluído das Cúpulas das Américas, recebeu um apoio descomunal desde a primeira reunião, com manifestações pacíficas que exigiam o direito de Cuba a ser incluído na Cúpula das Américas e demandavam o levantamento do bloqueio. Foi a Cúpula onde o recém eleito Barack Obama gerou um elevado nível de expectativas por tudo o que prometeu. Mas, continuam latentes seus verdadeiros interesses geoestratégicos e hegemônicos.
Paulatinamente, se tem conseguido colocar freio à liderança dos Estados Unidos na região, já que essas Cúpulas nos tem permitido reencontrar-nos e tomar distância em certos temas nas complexas relações com essa nação. Há uma maior compreensão para recuperar e comprometer-se com as particularidades culturais, sociais e políticas de cada país, com a soberania e a constitucionalidade, o nível e o tamanho de nossas economias para garantir um tratamento justo e equitativo. Nossa dignidade deve ser resgatada e colocar-se em marcha.
Para essa V Cúpula dos Povos, o governo dos Estados Unidos enfrentará uma América Latina com uma postura distinta, com maior capacidade de representação e insatisfeita ao não ver cumpridas as promessas de Obama. Ficará reiterado o desejo de colocar fim ao isolamento imposto a Cuba, com os países da Alba como autores e atores absolutos dessa justa reclamação. A tudo isso se pode agregar um presidente democrata e afro-norte-americano que, estimulado pela necessidade expansionista, através da "intervenção discreta” e da "ocupação pacífica”, está levando a hostilidade a todos os lugares do mundo, com o pretexto de lutar contra o terrorismo e assumindo a já conhecida posição imperial contra as nações terceiromundistas.
Essa análise não estaria completa se não percebermos que estamos diante de um fenômeno inevitável, multicausal e histórico, onde temos sido agredidos impunemente e tentam nos isolar, dividir e desprezar. Será um novo desafio para essa V Cúpula dos Povos em Cartagena de Índias, pois, obedecendo a um novo plano, deve-se buscar soluções a nossas preocupações comuns, com um enfoque crítico e introspectivo, onde prime um espírito de igualdade, equidade e responsabilidade mútua.
O mais importante é que a Cúpula dos povos, a outra cara da moeda da Cúpula das Américas, faça reflexões profundas de seu compromisso e papel a desempenhar, que refute qualquer proposta excludente, trabalhando e atuando com firmeza em qualquer dos cenários a enfrentar, por mais emaranhados que se tornem. Nos encontramos em circunstâncias nas quais se partilham critérios e há compreensão majoritária sobre a demanda que Cuba deve ser convidada para a Cúpula. Essa é uma mostra palpável de quanto se avançou na América Latina e no Caribe, distanciando-se pouco a pouco dos desígnios dos Estados Unidos, para tomar decisões próprias. Então, por muito cômoda e difícil que seja a situação, não demos as costas a esses desafios e muito menos aos que, daqui por diante, possam apresentar-se.
Ante o anunciado pelo governo dos Estados Unidos, não nos faz falta seu consentimento. Nossa posição é clara, precisa e invariável. Não reclamamos assistir à Cúpula das Américas; porém, apoiamos tão valente proposta do mandatário do Equador, Rafael Correa, e apoiada pelos países da Alba.
*GilsonSampaio

domingo, março 18, 2012

Fim da isenção tributária das igrejas

r7

Como deixar de ser um estado teocrático?

Apesar de teoricamente vivermos em um estado laico, na prática o estado não é tão laico assim.
Desde o descobrimento em 1500 até os dias de hoje, boa parte de nossos legisladores tentaram e tentam fazer uma nação cada vez mais livre e soberana, mas a forma como a nação foi formada e também a colonização, tornam esta tarefa realmente complicada.
O Brasil descoberto e colonizado pela coroa portuguesa quase sempre copiou leis e regras de outras nações, como da própria coroa portuguesa, dos cânones de Roma, das leis e sistemas ingleses, franceses e americanos.
A coisa era e é tão levada nas coxas que até a proclamação da república em 1889 não existia uma legislação brasileira que regulasse o casamento, este era regulamentado pelo de direito canônico da igreja de Roma.
“Cân. 1055 – § 1. O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e a geração e educação da prole, entre batizados foi por Cristo Senhor elevado à dignidade de sacramento.”
(se o casal não fosse batizado na igreja, não era considerado um casal. É mole?)
Desde 1889 até a constituição de 1988 só eram legalmente reconhecidas as uniões oriundas do casamento. Qualquer outro tipo de união não tinha nenhum efeito legal e muitas mães viúvas ou abandonadas sofreram duras penas por este lapso da legislação.
Com a constituição de 1988 ficou estabelecido que:
Art. 1º É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família.
Depois, somente em 2011, o Supremo Tribunal Federal decidiu sobre o caso de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. Apesar da decisão, em partes, ser contraditória com a constituição, ficou definido que: Os direitos civis de casais do mesmo sexo não podem ser negados.
Neste caso um grande avanço, mas ainda há muito que fazer.
O aborto, por exemplo, não foi regulamentado ainda devido a pressões de religiosos sobre o tema. Uma miríade de discussões inúteis sobre o que pode ser considerado vida, já causou quantas mortes de mães que optaram por abortar e, sem amparo ou técnicas regulamentadas, perderam suas vidas no procedimento.
Eu aqui, Polaco, Doido e Ateu “por casualidad” também sou contra o aborto, mas não é um caso de ser contra ou a favor, é um caso de saúde pública! Que incoerência é essa? A lei protege fetos e condena as mães ao sofrimento e muitas vezes a morte?
E a prioridade que certos legislativos e judiciários dão as religiões católicas e neo-pentecostais?
Estamos em 2012 e o presidente da ALEP, Valdir Rossoni, ainda inicia as sessões da assembléia com a frase:
“Sob a proteção de deus… “
Sob a proteção de deus! Colé? E os ateus, hinduístas, budistas que não acreditam em um deus, não fazem parte do estado?
Meu amigo Cequinel do blog O Ornitorrinco, entrou com um requerimento para a retirada do crucifixo e pelo fim da leitura de versículo da bíblia no início das sessões da câmara municipal de Antonina.
O pedido foi analisado nas coxas e sumariamente negado. Agora, o Cequinel que apenas exerceu seu direito de cidadão, é diariamente vítima de impropérios caluniosos conta a sua pessoa numa rádio de propriedade da igreja católica!
E a constituição federal como fica nessa?
Artigo 5:
(…)
IV – É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou imagem;
VI – É inviolável a liberdade de consciência e de crença (…)
O Cequinel não tem a quem recorrer e as religiões ganharam mais uma!
Apesar da população brasileira ser majoritariamente católica, existem uma infinidade de outras religiões que compõe todo esse sincretismo religioso do país. É garantido a todos os brasileiros a liberdade de crença (ou a falta dela), porém, não existe nenhuma lei ou artigo na constituição que corrobore a idéia de um estado realmente laico.
Ainda hoje, todas as associações religiosas no Brasil são livres de impostos (renda, IPTU, ISS etc.)  muitas delas ainda recebem subsídios financeiros para suas instituições de ensino e/ou assistência social. O ensino religioso faz parte do currículo de muitas escolas públicas e privilegia as religiões cristãs, principalmente católica e neo-pentecostal, em detrimento de todas as outras. Existe uma discriminação muito forte contra todos os “não crentes”.
Existem também fortes pressões das religiões em todos os legislativos do país e estas pressões dificultam muito a promulgação leis sobre pesquisas científicas, direitos aos homossexuais e tantas outras.
O estado brasileiro ainda tem muitos tratados com o vaticano (a igreja católica), coisas como o laudênio, um resquício medieval sobre a venda de imóveis sujeitos a esse laudênio, onde o estado paga de 2,5% a 5,5% do valor da transação para o vaticano. Muitos terrenos em áreas centrais das cidades mais antigas estão sujeitos a esse imposto ainda hoje.
Em contra partida, as igrejas evangélicas beneficiam-se de outros privilégios, como a facilitação para concessões de emissoras de rádio e TV.
Durante a preparação da visita do papa Bento XVI, em maio de 2007, o Vaticano pressionou o governo brasileiro a assinar um pacto para consolidar os privilégios da Igreja Católica, assim como para estabelecer outros, como o livre acesso às terras indígenas, para ação religiosa. Naquela ocasião, denúncias de entidades laicas e matérias na imprensa, de que um acordo secreto estava sendo elaborado, frustraram a iniciativa, que, aliás, recebeu a rejeição do Presidente da República Lula, que afirmou ser “o Brasil um Estado laico”. No entanto, os entendimentos continuaram, secretamente, e culminaram na assinatura da Concordata, em Roma, em novembro de 2008. O texto encontra-se no Congresso Nacional para ser homologado ou rejeitado. [para saber mais sobre essa Concondata Brasil-Vaticano, clique aqui] (http://www.nepp-dh.ufrj.br/ole/posicionamentos2.html)
Pois é, ao fim e ao cabo, chega-se a conclusão de que o Brasil não é, de maneira nenhuma, um estado verdadeira laico. Estamos nós brasileiros, sujeitos aos caprichos de líderes religiosos e de crenças e crentes muito dispostos a transformar esta nação num estado cada vez mais poli-teocrático (católico pentecostal). Claro que avançamos muito, mas ainda há muito que fazer.
Eu aqui, polaco doido e ateu, “por casualidad,” inevitavelmente tenho que concordar com a citação atribuída a Jesus Cristo:
“A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”.
Não dá para usufruir de plenas liberdades individuais em um estado teocrático, para tanto, é imprescindível separar o que é de incumbência do “estado” das incumbências das “religiões,” qualquer religião!
Pensa nisso, mas não durante a missa ou o culto, seu padre ou pastor, se descobrir pode te excomungar!
*comtextolivre

Vida Inteligente