O braço espanhol da ONG World Wildlife Funds (WWF) anunciou neste sábado
que depôs o rei Juan Carlos como seu presidente honorário, um título
conferido ao monarca em 1968. A ação é decorrente do flagrante de um
safári realizado por Juan Carlos em abril, em Botsuana.
Segundo a organização, a caça a elefantes registrada nas fotos é
incompatível com os objetivos do conservação de espécies ameaçadas de
extinção. A ONG também disse, em comunicado oficial, que "embora este
tipo de caça seja legal e regulamentada, tem recebido muitas
manifestações de protesto dos membros afiliados e da sociedade em
geral".
A votação para a retirada do título do rei foi realizada em uma
assembleia extraordinária em Madrid. Foram 226 votos a favor da decisão e
apenas 13 contra. Para a ação ser aprovada era preciso contabilizar os
votos favoráveis de mais de dois terços dos participantes.
Na época, o safári em Botsuana revoltou os espanhóis não apenas pela
caça em si, mas se tratar de uma extravagância em tempos de crise
econômica no país. O Palácio Real da Espanha não quis se pronunciar
sobre o anúncio da WWF.
Na prática, o que o braço espanhol da ONG decidiu foi eliminar o artigo 6
de seu estatuto, que institui a presidência honorária ao rei Juan
Carlos.
De reis inúteis e de seus vassalos
Um dos mais ácidos panfletos da História, contra a monarquia, é o livro de
Étienne de la Boétie, Discours de la Servitude Volontaire.
É texto de um adolescente prodígio, que o redigiu antes dos 18 anos,
conforme seu amigo maior, e a quem o autor confiou os originais, Michel
de Montaigne. Étienne morreu aos 33 anos, e Montaigne não se atreveu a
publicar o texto famoso, que ficou conhecido anos depois de sua própria
morte. Redigido no século 16, só no século 17 o livro passou a ser
editado e a ser lido, assim mesmo com muitas cautelas.
La Boétie, no fabuloso talento prematuro, em que se misturam, ao mesmo
tempo, certa ousadia que só a boa fé juvenil autoriza, e fantástica
erudição clássica, pergunta-se por que os homens se submetem à vontade
de um só, sem que nada, nem na natureza, nem na razão, determine essa
submissão.
A monarquia de hoje não é a mesma daqueles séculos, em que os reis, não
todos, mas muitos deles, comandavam seus exércitos e corriam todos os
riscos nas batalhas, como, entre outros soberanos franceses, fizeram
Francisco I e Henrique IV. As famílias reais de nosso tempo estão mais
para a comédia do que para a tragédia; mais para a farsa do que para o
drama. Luis 16 foi o último dos reis a ter a sua cabeça decapitada.
Antes dele, Carlos I da Inglaterra, também conheceu o cepo e a lâmina do
carrasco. Os Romanov, dominados por um grande embusteiro, que foi
Rapustin, eram de um terceiro tipo, o de retardados mentais, não
obstante a crueldade com que reprimiam seu povo, e não foram
decapitados, mas fuzilados.
Hoje, os poucos príncipes destronados são meros adornos de festas
milionárias. Ninguém se preocupou, nem se preocupa mais, em cortar as
cabeças coroadas, porque elas não valem muita coisa, a não ser a despesa
que os povos pagam, para que encabecem a lista das celebridades
inúteis.
Os escândalos da família real espanhola, que estão na ordem do dia,
fermentam novamente a reivindicação republicana na península, oitenta e
um anos depois da abdicação de Afonso XIII. O retorno da monarquia foi
útil ao processo de normalização espanhola, depois da morte de Franco.
Todas as forças políticas aceitaram a fórmula, a fim de evitar nova
guerra civil. Cumprido esse papel positivo, a instituição começa a ser
um estorvo. O rei, neto de Alfonso XIII, nunca aceitou, em sua alma, o
regime democrático e, em fevereiro de 1981, segundo indícios fortes,
esteve à frente da conspiração militar contra o governo democrático,
que levou à invasão do parlamento pelo tenente-coronel Antonio Tejero
Molina. O monarca só interveio, com visível contragosto, pela televisão,
depois que a reação dos militares democráticos, no interior dos
quartéis, e o pronunciamento dos governos vizinhos inviabilizaram o
golpe.
Agora, os escândalos reais se sucedem. Enquanto o governo conservador de
Mariano Rajoy corta o orçamento social e a Espanha se submete aos
ditados da Alemanha, com o povo em desespero protestando nas ruas,
revela-se que as despesas da Casa Real chegam a quase seiscentos milhões
de euros, incluídos os gastos com as viagens, a manutenção dos
numerosos palácios, a segurança da família do soberano pelas forças
armadas e outras despesas indiretas.
A insensibilidade do Rei diante do sofrimento do povo que chega, até
mesmo, ao escárnio, em certos momentos, como nas caçadas aos elefantes
da África e aos ursos da Romênia, vem retirando a credibilidade de seus
súditos. Tanto nos meios intelectuais, quanto entre os trabalhadores
espanhóis, começa a adensar-se um movimento para o fim do sistema
monárquico e a instauração de uma república democrática.
Ontem, a Espanha foi às ruas, em oitenta cidades, para protestar contra a
aprovação de medidas de arrocho contra os trabalhadores, entre elas o
fim do 13º salário. Em Madri, os bombeiros e os policiais civis,
chegaram a solidalizar-se com os manifestantes, e se opuseram a
participar da repressão. Um grupo, com seus capacetes postos,
desnudou-se. Um cartaz explicava que o governo os deixara “en pelotas”. O
clima era o da véspera de grandes acontecimentos.
As nossas relações com a Espanha monárquica devem ser reavaliadas. Com
todas as suas dificuldades atuais, as elites espanholas continuam a
tratar-nos como se fôssemos colônia de Madri – o que só fomos, e por
acidente histórico, entre 1580 e 1640. Em 1580, depois da morte de D.
Sebastião, no norte da África, e de seu sucessor, o Cardeal D. Henrique,
o trono de Portugal foi ocupado por Felipe II, tio de D. Sebastião. A
coroa só foi recuperada para os portugueses, em 1640, pelo Duque de
Bragança.
As grandes virtudes do povo espanhol sempre foram, e continuam a ser,
insultadas pela sua anacrônica, cara e ociosa nobreza, por nascimento ou
pelo êxito nos negócios. E, ao longo de sua história, talvez a Espanha
não tenha tido família real tão insignificante, e tão corrompida como a
de agora.
As dificuldades econômicas da Espanha de hoje são o resultado desse
espírito de presunçosa superioridade de suas elites. Ao entrar para a
Comunidade Econômica Européia, e obter vultosos recursos do grupo, os
espanhóis, em lugar de investi-los no interior do país, usaram-nos para
adquirir empresas na América Latina, principalmente no Brasil. Era uma
nova forma de colonialismo que, apesar do saqueio, manso e “legal” de
nossos recursos, principalmente depois da embasbacada regência de
Fernando Henrique Cardoso, não serviu ao povo espanhol, embora tenha
enriquecido muitos banqueiros.
Agora, o próprio genro do Rei é acusado de agir como criminoso, ao
lavar dinheiro mal havido e transferir, só para Luxemburgo, mais de
700.000 euros. Suspeita-se de que muito mais dinheiro não honrado foi
remetido para o Exterior. Esse genro, Iñaki Undagarin, recebe mais de um
milhão de euros por ano, como conselheiro da Telefónica de Espanha para
a América Latina. E na América Latina, quem contribui com mais lucros
para a empresa espanhola é exatamente o Brasil.
A nossa postura é de solidariedade para com o povo espanhol. Esse grande
povo nada tem a ver com esses señoritos que ainda se imaginam no tempo
de Carlos V e de Felipe II. Estar com o povo espanhol é não favorecer
aqueles que o oprimem.
ESPANHA DESOLADA
Espanha: rumo à loja de penhores.
Por Paixão.
Fuga de capitais: Espanha agoniza
Os capitais ariscos saíram em massa da Espanha nesta 6ª feira; a fuga
refletiu-se em vendas maciças de ações que derrubaram em quase 6% a
Bolsa de Madrid, mas também no salto dos juros pagos pelos títulos
públicos, que romperam a fronteira de 7% na tentativa suicida de
equilibrar uma equação fiscal insustentável. A direita espanhola reduziu
o Estado a um apêndice dos mercados trazendo uma crise que era dos
bancos e do setor privado para o coração das finanças públicas. Criou-se
um país à deriva: o setor público se anulou e a esfera privada
encontra-se em depressão, encalacrada em dívidas de longa digestão. Mais
de 100 mil pessoas ocuparam a praça do Sol, em Madrid, na noite desta
5ª feira. Protestos tomaram as ruas de outras 80 cidades do país. As
centrais sindicais exigem um plebiscito para definir o futuro da
sociedade e da economia. O governo conservador de Mariano Rajoy já não
comanda; o Palácio de Moncloa está sob intervenção dos homens de negro
de Bruxelas, centuriões dos credores. O que as ruas de Madrid estão
dizendo é que os espanhóis querem o Estado de volta, para defendê-los
contra a irracionalidade dos mercados; não como aguilhão para
dilapidá-los. Eis uma agenda universal. (Fonte: Carta Maior).
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Enquanto isso, as conquistas sociais são reduzidas/extintas, e o
governo espanhol acaba de proibir a veiculação, pela Internet, de
mensagens sobre convocação de manifestações...
*Dodómacedo