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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 22, 2012

O Brasil está com Chavez


Chávez en consejo de ministro lee una carta de Fidel Castro


A realidade que a oligarquia midiática esconde: o mensalão tucano, a privataria da era FHC-Serra e o Supremo


Danem-se as provas contra José Dirceu: a justiça que a direita quer



Ritual da decapitação

por Maurício Dias, Carta Capital


O novo desentendimento público entre os ministros Joaquim Barbosa, relator, e Ricardo Lewandowski, revisor, expôs a ponta de uma questão que pode se tornar a mais grave deformação no julgamento da Ação Penal 470, chamada de mensalão.


“Esse julgamento não é dos mais ortodoxos que já se processaram neste Supremo”, observou Lewandowski, gravemente, ao longo do bate-boca para o qual foi puxado por Joaquim Barbosa na quarta-feira 12.

O ministro não desvendou a insinuação que fez. Mas há ocorrências que conduzem a uma heterodoxia que projeta um futuro diferente. Ou seja, embora o tribunal não seja de exceção, o julgamento poderá vir a ser se forem consumados indícios formados a partir de alguns votos.

“Não sei se o ex-ministro José Dirceu é inocente ou se, como outros, cometeu algum crime à sombra do ilícito caixa 2. Os autos devem esclarecer isso. Há algo, todavia, independente dos autos: será um julgamento de exceção se for condenado por não haver provas contra ele”, observa Wanderley Guilherme do Santos, o maior cientista político brasileiro vivo, que a Universidade Autônoma Nacional do México considerou um dos cinco mais importantes da América Latina.

Ele observa: “Alguns magistrados estão prontos a contorcionismos chineses para escapar à evidência de que a legislação eleitoral é causa eficiente do caixa 2 que, por sua vez, proporciona a oportunidade para diversos outros crimes”.

Wanderley Guilherme acredita que comentários antecipando votos condenatórios, com base em provas nos autos, abrem estranhamente caminho para “condenações sem provas”. Essa contradição se explica assim:

A premissa – sustentada pela ministra Rosa Weber – de que chefes de quadrilha, homens poderosos, não deixam rastros é interpretação peculiar da tese do domínio do fato. “Pode ser defensável, mas requer comprovação”, contrapõe Wanderley.

Até agora, constata, nenhuma condenação se apoiou em tal tese ou, ainda, na versão mais amena de que, quanto mais elevado nas hierarquias de poder, maior a possibilidade de que criminosos eliminem indícios. Todas as condenações se sustentaram em provas.

João Paulo Cunha e Henrique Pizzolato foram condenados com provas toscas. Eram, no entanto, homens de poder e influência. O primeiro, presidente da Câmara na ocasião, era o terceiro homem na linha da sucessão presidencial. O segundo integrava a alta administração do Banco do Brasil.

“A interpretação do domínio do fato é a espinha dorsal para a condenação sem provas”, sustenta o cientista político.

“O procurador e o ministro, paralelamente aos autos, construíram um enredo perverso que ligaria todos os ilícitos como se tudo fosse uma coisa só”, afirma ele.

Essa conexão é o eixo em torno do qual gira o raciocínio de que, quanto mais elevada for a posição do criminoso nas hierarquias sociais, mais fácil a ocultação de provas. Por consequência, como diz Wanderley Guilherme, “não havendo provas é forte o indício de que há o mando de uma autoridade”.

Ele denuncia: “O discurso abstrato sobre o domínio do fato nada tem a ver com o voto real, sendo apenas preparatório para o momento em que não houver prova alguma e os juízes condenarem assim mesmo. Um julgamento de exceção”.

Ou seja, tudo indica que está preparado o ritual de decapitação de José Dirceu. E dane-se se não houver provas.

*OPensadordaaldeia
O Brasil tem um débito de solidariedade com a África”, diz Lula em entrevista ao Financial Times

Instituto Lula





Um dos objetivos do Instituto Lula é contribuir para ampliar a cooperação com o continente africano. Foi nesse contexto que o ex-presidente foi entrevistado pela revista bimestral “This is Africa”, do Financial Times.  ”Nós temos muitas experiências que queremos que os governos africanos vejam”. A frase selecionada para abrir a entrevista também revela a intenção de compartilhar com a África as políticas públicas vitoriosas que o Brasil vivenciou desde a eleição de Lula. “”Não queremos ter esse tipo de relação [que os colonizadores tiveram] com a África”. Não, nós temos que construir uma relação em que parceria signifique parceria completa. O Brasil deve ganhar alguma coisa, mas os africanos também têm de ganhar alguma coisa”, explica Lula.
O Instituto Lula recebeu autorização do Financial Times para publicar a entrevista na íntegra, em português. Ela ajuda a entender a relação de Lula com a África e também ilustra os desafios do próprio Instituto Lula. Clique aqui para ler a entrevista original, em inglês (é necessário fazer cadastro no site).
Entrevista : Luiz Inácio Lula da Silva (THIS IS AFRICA)
Por Lanre Akinola
“Eu acredito que a cooperação Sul-Sul nos obriga, em primeiro lugar, a melhorar o funcionamento das instituições multilaterais e, num segundo momento, a construir novas instituições que permitiriam uma maior igualdade entre todos os participantes”.
O Brasil está rapidamente se tornando um símbolo da nova economia global. Com um PIB de 2,500 bilhões de dólares, já é a 6a maior economia do mundo e, segundo certas estimativas, irá ultrapassar a França no final de 2012. A ascensão do país foi rápida. Entre 2003 e 2010, o tamanho da economia aumentou mais de quatro vezes. O progresso social foi impressionante, pobreza diminuiu 27,5% entre 2003 e 2007. Na ultima década, 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza, e o número oficial de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza em 2011 era de somente 8,5%.
O crescimento, que atingiu 7,53% em 2010, desacelerou recentemente. As últimas análises preveem uma pequena expansão de 1,5% em 2012, levantando dúvidas em relação à sustentabilidade do modelo de crescimento do país. Tal percepção, porém, é imperceptível para quem dirige por São Paulo, o coração comercial do Brasil – e cada vez mais da América Latina. Enormes outdoors anunciando a última linha de televisores da LG ou da Samsung Smart alinham-se à beira de novas rodovias que levam os visitantes do aeroporto ao centro desta crescente metrópole de 19 milhões de pessoas. Desde seus arranha-céus imponentes, que lembram Nova York, a seus shoppings e restaurantes finos, é um lugar que transborda confiança.
Se questionados, a maioria dos brasileiros indicariam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que governou o pais de 2003 a 2011- como a pessoa a quem agradecer pela recém-descoberta fortuna brasileira. Nascido em um meio humilde, em uma das regiões menos desenvolvidas do Brasil, o popular ex-líder sindical, universalmente conhecido como Lula, goza de um status de ícone no Brasil. Seu percentual de aprovação de 80% ao deixar o governo atingiu um nível com o qual a maioria dos políticos nem ousaria sonhar.
O Partido dos Trabalhadores, agora no poder, que Lula ajudou a fundar em 1980, está atualmente envolvido em um dos maiores julgamentos de corrupção da história do país – e envolve membros do alto escalão do governo. O Sr. Da Silva não enfrenta nenhuma acusação e, para grande parte dos brasileiros, continua sendo um herói político e social.
Sua passagem pelo governo também inaugurou um realinhamento estratégico da política externa do Brasil. Sincero advogado da cooperação Sul-Sul, ele construiu laços mais próximos com os países latino-americanos vizinhos do Brasil e outras regiões em desenvolvimento – especialmente a África. Durante seus oito anos de governo, o comércio bilateral [com a África] aumentou para 25 bilhões de dólares, o Brasil abriu mais de 12 novas embaixadas no continente e o Presidente Lula visitou aproximadamente 25 países, efetuando 12 viagens de Estado oficiais. Quando ele proferiu seu primeiro grande discurso público após ser diagnosticado com câncer de garganta em outubro 2011, durante uma conferência no Banco de Desenvolvimento do Brasil, em maio, o tópico foi as relações Brasil-África.
Ao ser entrevistado pelo “This is Africa” no Instituto Lula, a fundação que ele dirige hoje em São Paulo, sua paixão pela África é visível. O Sr. Da Silva, casualmente vestido – e que não tem tempo a perder com o protocolo que normalmente caracteriza ex-chefes de Estado – está alegre após receber a notícia de seus médicos no começo da semana que seu câncer estava em remissão. Ele veste uma camisa da África Ocidental – do Benin – e uma de suas paredes está adornada com uma pintura de uma mulher africana andando pela savana, com o sol se pondo ao fundo.
“Gostaria de contar uma pequena história”, diz ele no seu inconfundível tom de voz efervescente, enquanto explica porque a África se tornou um ponto focal da política estrangeira de seu governo. Sua barba icônica se foi, e há dúvidas se ela voltará a crescer, mas a batalha contra o câncer não diminuiu a força de seu discurso, que carrega a mesma intensidade de sempre.
“Quando ganhei as eleições presidenciais e tomei posse em 2003, no dia 25 de janeiro participei do Fórum Social Mundial em Porto Alegre antes de ir para Davos no mesmo dia. Eu vi o que estava acontecendo no Fórum Social Mundial e acompanhei o que estava acontecendo em Davos”. O contraste entre as duas experiências, uma dedicada a um modelo econômico e social alternativo e outra profundamente enraizada na defesa da globalização, deixou claro ao Sr. Da Silva que a política externa do século XXI deveria ser mais multifacetada do que até então tinha sido o padrão. “Eu disse a meu ministro das relações exteriores quer era necessário mudar a geografia política, econômica e comercial que tinha até então existido no Brasil. Tudo passava pelas grandes potências e era necessário trabalhar a fim de inserir os países emergentes nos processos decisórios sobre comércio, economia e políticas sociais”.
“O Brasil não podia ver o Atlântico como um obstáculo para chegar à África”, diz ele, apontando para o oceano que divide o planeta no mapa em uma mesa a seu lado. “Ao contrário, deveria ser visto como algo favorável, que apontasse para a integração e nós poderíamos até considerar que a África compartilha uma fronteira com Brasil”. Tal pensamento estava à frente de seu tempo. Em 2003, países como a China e o Brasil, de rápido crescimento, ainda eram atores marginais nos negócios globais. As economias ocidentais pareciam incapazes de errar. O triunfo neoliberal era total, com um crescimento que parecia infinito. Regiões como a África eram raramente citadas, a não ser na ocasião de golpes de estado ou crises alimentares.
Menos de uma década depois, o cenário é completamente diferente. Na crise financeira de 2008-2009, economias emergentes conduziam o crescimento global, com mercados como o africano gerando crescente interesse entre governos e a comunidade de negócios internacional. “Havia uma certa animosidade da parte do empresariado e dos dirigentes brasileiros em relação até mesmo à tentativa de entender que o Brasil poderia ter uma boa relação com a África e que aquele não era só um lugar cheio de pessoas miseráveis”, lembra o Sr Da Silva.
“Havia países e pessoas ali que queriam progredir e se desenvolver, lugares que estavam reforçando o processo democrático”.
Com o tempo, e certo lobby, a ideia pegou, e desde então ganhou certo apreço nos meios políticos e de negócios brasileiro. Agências governamentais como o Banco de Desenvolvimento do Brasil e a Embrapa, o organismo brasileiro de pesquisa agrícola, reforçaram seus compromisso com o continente. Ao mesmo tempo, grandes atores comerciais como a gigante produtora de minério de ferro Vale ou a fabricante de aviões Embraer, tornaram-se defensores ativos da história de crescimento da África.
O interesse pela África, entretanto, não decorre somente da busca de novos mercados aos quais empresas públicas e privadas brasileiras poderiam vender seus produtos, tampouco se trata essencialmente dos interesses estratégicos do Brasil, insiste o Sr da Silva.
Tendo em conta os laços culturais entre o Brasil e a África (estima-se que a metade da população de 196 milhões de brasileiros seja descendente de africanos) a noção de solidariedade social e política desempenha um papel central na abordagem Sul-Sul do Sr. da Silva. Ele fala da dívida que o Brasil tem para com a África devido ao comércio transatlântico de escravos e seu legado, uma dívida “que não é tangível; não se pode pagá-la em dinheiro. Como pagá-la de volta? Você a paga através da solidariedade”.
Uma de suas prioridades como presidente, explica o Sr. da Silva, era elaborar uma estratégia que fortaleceria os laços “sem agir do jeito que o colonizador agiria, como tradicionalmente acontecia ali”.
“Não queremos ter esse tipo de relação com a África”. Não, nós temos que construir uma relação em que parceria signifique parceria completa. O Brasil deve ganhar alguma coisa, mas os africanos também têm de ganhar alguma coisa.
“As pessoas têm que saber que o Brasil quer ser diferente de verdade”, diz ele, argumentando que o país tem uma responsabilidade no sentido de compartilhar com a África seu sucesso econômico e social recente em termos iguais. “Nós temos muitas experiências que queremos que os governos africanos conheçam… O desafio é como a gente aproveita essas experiências bem sucedidas, mas respeitando a cultura e as particularidades de cada país da África.”
Embora o interesse empresarial tenha aumentado nos anos recentes, essa abordagem continua a ser praticada principalmente pelas congêneres da Embrapa. A agência tem desempenhado um papel importante na transformação do Brasil em um produtor agrícola global de grande porte, especializada unicamente na agricultura tropical.
É em áreas como a da agricultura, que se tornou uma prioridade de políticas públicas para vários governos africanos nos últimos anos, que da Silva acredita que o Brasil pode ter o mais forte impacto para o desenvolvimento.
Outras agências governamentais, incluindo a Agência Brasileira de Cooperação, também promovem a abordagem brasileira da parceria igualitária. O BNDES está ampliando seu compromisso. Em maio, o banco assinou um acordo comercial-financeiro com o Bradesco, um dos maiores bancos privados do país, para estimular o crescimento das exportações brasileiras à África. O banco estatal também explora o potencial para parcerias com o Banco Africano de Desenvolvimento.
Ainda que essa abordagem tenha benefícios potenciais evidentes para o desenvolvimento africano, da Silva sabe do impacto limitado que um único ator, tal como o Brasil, pode ter, e também da necessidade de reforma das instituições globais de desenvolvimento.
“Eu acredito que a cooperação Sul-Sul nos obriga, em primeiro ligar, a melhorar o funcionamento das instituições multilaterais, e depois a construir novas instituições que permitam que exista mais equidade entre todos os participantes”, disse, reverberando a crescente pressão pela reforma de organismos globais, como a ONU e as instituições financeiras internacionais.
Logo após a saída inesperada de Dominique Strauss-Kahn do posto de diretor-gerente do FMI, o Brasil e seus parceiros no BRICS estavam entre os que se opunham à continuidade do controle europeu sobre o cargo principal na instituição. Uma pressão similar foi exercida durante o processo de escolha do novo presidente do Banco Mundial no início deste ano.
“A África não está representada no Conselho de Segurança, a América Latina não está representada, e um país do tamanho da Índia não participa. Qual é o problema em se ter cinco ou seis países a mais no Conselho de Segurança? Por que a Europa tem tantas vozes em todas as instituições?”
Ao se inclinar para dar ênfase, as raízes sindicais de da Silva vêm à tona no tópico do domínio ocidental sobre as instituições internacionais. Ele é direto em sua crítica sobre o que considera ser uma clara ambivalência de parâmetros nas relações dos países ricos com os países em desenvolvimento.
“Com a quebra do Lehman, a gente assistiu ao colapso da teoria de que os mercados podiam dar conta de tudo”, diz ele, em referência à ortodoxia neoliberal que havia dominado a economia e as finanças internacionais a partir do começo dos anos 1980.
Segundo da Silva, depois de um breve período de autocrítica no seio de organismos como o G20, durante o emergir da crise financeira, os países ricos agora retornam às práticas de sempre.
“O setor financeiro não foi punido. Descobrimos que o FMI só falava grosso para impor seu receituário com os países pobres. Na crise dos países ricos, nada foi dito.” Não sendo um proponente da economia de livre-mercado, o entendimento de da Silva é dotado de um amplo pragmatismo. “Nós não queremos tirar nada de ninguém, mas queremos estabelecer regras… regras que garantam nossa independência e que nos libertem da necessidade de confiar em terceiros para tocar nossos negócios. Acredito que as instituições multilaterais precisam mudar mas, enquanto elas não mudam, a gente precisa desenvolver outras instituições.”
Tais declarações refletem a confiança crescente das economias emergentes no sentido de não só se submeter a regimes internacionais, como também de remodelá-los e, no que for preciso, construir suas próprias instituições de desenvolvimento.
Ao lado de chamados renovados pela mudança nas instituições internacionais no 4º Encontro Anual dos BRICS, realizado em Delhi em Março, os quatro Estados-membros também mantiveram conversas sobre a criação de um novo banco de desenvolvimento para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos BRICS e em outros países emergentes. Conforme o Brasil assume um papel mais central nas relações econômicas e políticas globais, dúvidas surgem a respeito de sua habilidade em manter e consolidar seu nível atual de comprometimento com a África, particularmente sem um apaixonado defensor como da Silva na Presidência. Confrontado com isso, ele admite que há mais trabalho a fazer.
“Tenho isso claro na minha cabeça, mas certamente isso não está claro para muita gente no Brasil. Muitos empresários e empresárias não pensam desse jeito. Ainda tem muito trabalho pesado pela frente para consolidar esse ponto de vista e essa visão sobre a África, mesmo para uma parte da burocracia estatal do Brasil”, diz.
De acordo com seus assessores, muito de suas atividades depois da Presidência enfocarão a África, e se fala que da Silva já planeja seu retorno à ativa na política. Mesmo concordando que é preciso consolidar mais, ele não tem dúvidas de que o engajamento político do Brasil com a África veio para ficar.
“Esse trabalho com o desenvolvimento da África é uma coisa que pessoalmente me entusiasma, e que hoje está empolgando muita gente no Brasil também. Eu conheço a presidenta Dilma muito bem e estou certo de que as convicções dela em relação à África são as mesmas que eu tenho.”
*Mariadapenhaneles

Charge do Dia

Dilma viaja para EUA para abrir assembleia da ONU na terça  


A presidente Dilma Roussef embarca neste sábado (22), às 22h para Nova Iorque, onde abrirá sessão da 67ª Assembleia-Geral das Nações Unidas. É a segunda vez que realiza discurso de abertura da conferência, onde deverá abordar temas como crise financeira, Oriente Médio e meio-ambiente.
Este ano, o tema da conferência será a prevenção e a resolução pacífica dos conflitos ao redor do mundo. A adoção dos compromissos firmados durante a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20. A abertura da assembléia é sempre feita pelo Brasil, já que o país foi a primeira nação a aderir ao organismo internacional. Em 2011, Dilma foi a primeira mulher a fazer o discurso inaugural da ONU. 
Dentre os assuntos que serão abordados pela presidente, segundo a assessoria do Planalto, estão o meio-ambiente, a violência no Oriente Médio além de destacar os pontos positivos do modelo brasileiro de crescimento econômico, baseado inclusão social e fortalecimento do mercado interno.
Antes da abertura, Dilma terá uma reunião bilateral com o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki Moon. A presidente também faz participação em um evento do Council on Foreing Relations, uma organização norte-americana independente dedicada a pesquisa e a estudos de relações internacionais.
A assessoria do Planalto informou também que a presidente retorna ao país já nesta quarta-feira (26) e que, não está previsto, nenhum reunião bilateral com o presidente norte-americano, Barack Obama. 
*JB

sexta-feira, setembro 21, 2012

Ao PT a lei, ao PSDB a impunidade: processo contra José Serra sobre rombo no Banco Econômico na era FHC se arrasta na justiça desde 2003. Grande mídia beneficiada por verbas publicitárias milionárias concedidas pelo governo tucano paulista se silencia a respeito



Julgamento de Serra está na fila, na frente do "mensalão"

do Brasil Atual



Seria compreensível se a velha imprensa cobrasse celeridade do Judiciário como um todo. Mas causa estranheza quando, em ano eleitoral, essa velha imprensa só bate o bumbo sobre o processo do chamado "mensalão".

Por que então não cobrar o julgamento também do processo que José Serra responde por atos praticados ainda no governo FHC e que se arrasta até hoje? Em termos de réus ilustres supera o chamado "mensalão", e em termos de valores também, além de ser bem mais antigo, pois se arrasta desde 2003.

Não é um processo qualquer. Trata-se do rombo no Banco Econômico, socorrido com R$ 3 bilhões no âmbito do PROER, quando Serra era ministro do planejamento. São réus também praticamente toda a equipe econômica do governo FHC, incluindo o ex-ministro Pedro Malan, ex-ministro e banqueiro Ângelo Calmon de Sá e os ex-presidentes do Banco Central Gustavo Loyola e Gustavo Franco.

A juíza Daniele Maranhão Costa, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, acatou a denúncia apontando dano ao erário, enriquecimento ilícito e violação aos princípios administrativos no caso.

Note-se que Serra é o candidato mais célebre destas eleições de 2012, e a celeridade no julgamento seria uma oportunidade para o tucano sair inocentado, ou para o eleitor saber se estará votando em alguém condenado em primeira instância.

O processo corre no  TRF1-DF, e os detalhes da ação estão aqui, íntegra:

http://processual.trf1.jus.br/consultaProcessual/processo.php?proc=200334000391407&secao=DF&enviar=Pesquisar




Fontehttp://www.redebrasilatual.com.br/blog/helena/julgamento-de-serra-esta-na-fila-na-frente-do-mensalao
*Opensadordaaldeia

A obsessão da mídia

 

Por: Mino Carta, no CartaCapital 
Lula-227x300Por que Lula se tornou a obsessão da mídia nativa? Por que tanta raiva armada contra o ex-presidente? Primeiro é o ódio de classe, cevado há décadas, excitado pelo operário metido a sebo, tanto mais no país da casa-grande e da senzala. Onde já se viu topete tamanho? Se me permitem, Lula é personagem de Émile Zola, assim como José Serra está nas páginas de Honoré de Balzac. O sequioso da emergência que chegou lá.
Depois vem a verdade factual, a popularidade de Lula, avassaladora. E vem o confronto com os tempos de Presidência tucana, e o triste fim de Fernando Henrique Cardoso, o esquecido, no Brasil e no mundo. Assim respondem os meus meditativos botões às perguntas acima. E as respostas geram outra pergunta.
Por que a mídia nativa, intérprete da casa-grande, goza ainda de prestígio até junto a quem ataca diária e obsessivamente se seus candidatos perdem os embates eleitorais decisivos? Memento 2002, 2006, 2010. Mesmo agora, véspera dos pleitos municipais, as coisas não estão bem paradas para os preferidos de jornalões e revistões. Será que o jornalismo brasileiro dos dias de hoje faz apostas erradas? Defende o indefensável?
Na semana passada publiquei os números da verba publicitária governista distribuída entre as empresas midiáticas. Mais de 50 milhões para a Globo. Para nós, pouco mais de 100 mil reais. E sempre há quem apareça para nos definir como “chapa-branca”… E a Editora Abril, então? Na compra de livros didáticos, fica com a parte do leão em um negócio imponente que em 2012 já lhe assegurou a entrada de 300 milhões. Pode-se imaginar o que seus livros ensinam. Enquanto isso, a Petrobras acaba de cancelar um contrato de 11 milhões que estava para ser fechado com a casa do Murdoch brasileiro. Vem a calhar, a confirmar-lhe tradições e intentos, a última capa da sua querida Veja, ponta de lança na estratégia da guerra contra Lula.
A revista de Policarpo Jr., parceiro de Carlinhos Cachoeira em algumas empreitadas, produz esta semana mais uma obra-prima de antijornalismo. Formula acusações gravíssimas contra Lula sem esclarecer quem as faz (Marcos Valério ou seus pretensos apaniguados?), mas nome algum é citado, e o advogado do publicitário mineiro desmente a publicação murdoquiana. Ricardo Noblat (porta-voz de Veja?) informa no seu blog que a Abril vai divulgar o áudio de uma entrevista com Valério, e horas depois comunica que Policarpo Jr. convenceu a direção da Abril a deixar para lá, ao menos por ora.
Quanta ponderação, por parte de Policarpo… Suas relações com Cachoeira CartaCapital provou com documentos tão irrefutáveis quanto inúteis: a CPI não vai convocá-lo para depor, como seria digno de um país democrático, porque o solerte presidente-executivo abriliano foi ter com o vice-presidente da República para lembrá-lo de que se Veja for julgada, todos os demais da mídia nativa entram na dança.
Este específico enredo prova as dificuldades de governar o país da casa-grande e da senzala. É preciso recorrer a alianças que funcionam como a bola de ferro atada aos pés do convicto e padecer como vice o representante de um partido pronto a ceder diante das pressões da Abril. E da Globo, como CartaCapital relatou ao longo da cobertura da CPI do Cachoeira. Resta o fato: a mídia nativa é bem menos poderosa do que os graúdos supõem, inclusive os do próprio governo.
Uma exceção talvez seja São Paulo, com sua capital dos shoppings milionários, da maior frota de helicópteros do mundo depois de Nova York, de favelas monstruosas a rodear os bairros endinheirados, de mil homicídios anuais (5 mil no estado). Refiro-me à cidade e ao estado mais reacionários do Brasil. Aqui tudo pode acontecer. De todo modo, os senhores, de um lado e do outro, caem na mesma esparrela dos jornalistas que os apoiam ou os denigrem. Os jornalistas e seus patrões, na certeza da ignorância da plateia, acabaram por assumir o nível mental que atribuem a seus leitores, ouvintes e assistentes. Os graúdos apoiados agarram-se em fio desencapado, os ofendidos temem um poder em vias de extinção. E não percebem que a tentativa de demonizar Lula consegue é endeusá-lo. 
*Ocarcará

Será que Civita vê o Brasil como um grande Paraguai?

Uma nota assinada por seis partidos políticos enxergou na última capa de Veja o embrião de um golpe, semelhante ao que levou Getúlio Vargas ao suicídio e afundou o Brasil numa ditadura de 21 anos. Um precedente acaba de ocorrer no país vizinho, agora governado por Federico Franco. Acusada de golpista, Veja tem, agora, a obrigação de provar suas acusações contra Lula, apresentando a fita que, aparentemente, não tem
No: Brasil 247 
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O empresário Roberto Civita, dono do grupo Abril, decidiu jogar truco com a democracia no Brasil. Na semana passada, Veja publicou uma capa em que o ex-presidente Lula é acusado de chefiar o mensalão, numa “entrevista” já negada pelo próprio “entrevistado”, o empresário Marcos Valério de Souza. Ato contínuo, diversos colunistas de meios de comunicação relevantes passaram a tratar como “declarações”, aquilo que o próprio “declarante” negava. Na terceira etapa, presidentes de três partidos políticos (PSDB, DEM e PPS), anunciaram a propositura de ações judiciais contra o ex-presidente Lula após o período eleitoral.
Há, portanto, um movimento em marcha para conter a força de Lula, que, segundo uma pesquisa recente da CNT/Sensus, se reelegeria com quase 70% dos votos, caso fosse candidato em 2014. Essa manobra acaba de ser denunciada numa nota conjunta assinada por seis partidos: PT, PSB, PMDB, PDT, PC do B e PRB. “Valendo-se de fantasiosa matéria veiculada por Veja, pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação. As forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura. Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova”, diz o documento, dirigido pelos partidos à “sociedade brasileira”.
O documento compara ainda a situação atual a dois momentos trágicos da história brasileira: o que levou Getúlio Vargas ao suicídio, com as denúncias udenistas do “mar de lama”, e o que derrubou João Goulart, empurrando o Brasil para uma ditadura de 21 anos. Há, ainda, na América Latina, um ambiente neogolpista, desde a deposição de Fernando Lugo, no Paraguai, que foi sucedido por Federico Franco – personagem que, com cara de bom moço, concedeu entrevista às páginas amarelas de Veja dizendo que “os generais foram leais à pátria”.
No jogo de truco, a carta mais forte é o Zap. E Veja, aparentemente, não a possui. A tal “entrevista” com Marcos Valério, ao que tudo indica, não possui fita ou registro. Seria apenas um amontoado de declarações supostamente ditas a supostos interlocutores. Como tudo indica que Veja blefou no seu truco antidemocrático, os partidos agora devolveram a bola para a revista Veja. Para negar suas intenções golpistas, a revista, desafiada por várias forças políticas, só tem uma alternativa: apresentar a fita e provar suas acusações contra Lula.
Caso contrário, a tentativa de golpe paraguaio terá sido desmascarada já no nascedouro.
*Ocarcará

Eu já vi e vivi esse filme antes... o cheiro é o mesmo





por Bob Fernandes, no Terra Magazine
Lido no Viomundo

Nesta quinta-feira, 20, seis partidos de sustentação do governo Dilma (PT, PMDB, PSB, PDT, PC do B e PRB), em nota pública, acusaram a oposição de estar “disposta a qualquer aventura” e a “práticas golpistas”. Segundo a nota, “em defesa da honra e dignidade” do ex-presidente Lula, assinada pelos presidentes dos seis partidos, “assim foi em 1954, quando inventaram um ‘mar de lama’ para afastar Getúlio Vargas” e “assim foi em 1964, quando derrubaram Jango para levar o País a uma ditadura de 21 anos”. Para uma reflexão sobre o momento, e o passado, Terra Magazine foi ouvir alguém com idade, história e autoridade para tanto.

Entre os dias 31 de Março e 1 de Abril de 1964, um golpe militar derrubou o governo João Goulart, o Jango. Dois funcionários foram os últimos a deixar o Palácio do Planalto depois do golpe. Um deles, o chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro. O outro, o Consultor-Geral da República, Waldir Pires. Ex-secretário de Estado, deputado estadual e federal, governador e senador, criador da Controladoria-Geral da União e ex-ministro da Defesa no governo Lula, Waldir Pires, aos 85 anos, é candidato a vereador pelo PT em Salvador. Na conversa que se segue, Waldir Pires discorre sobre o que já viveu e as relações ou semelhanças com o momento. Em um trecho da conversa, o ex- ministro da Defesa diz:


- Vamos ser claros: a oposição quer fazer com Lula o mesmo que fez com Getúlio Vargas e com Jango…até as expressões que usam são as mesmas, “mar de lama” é uma delas…


Em outro momento, avança:


- Eu já vi e vivi esse filme antes, e há amarras extraordinariamente suspeitas em tudo isso… o cheiro é o mesmo…


Abaixo, a entrevista
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Terra Magazine: Onde o senhor estava no dia do golpe que levou à ditadura em 1964?


Waldir Pires: Em Brasília, no Palácio do Planalto. Eu era o Consultor Geral da República… eu e o Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Civil, fomos os últimos a deixar o Palácio quando derrubaram o presidente João Goulart, o Jango..


Seis partidos, PT, PMDB, PSB, PDT, PC do B e PRB, todos de sustentação ao governo Dilma, assinaram e lançaram uma nota pública. Nesta nota, acusam os partidos de oposição, PSDB, DEM e PPS, de estarem “dispostos a qualquer aventura” e de “não hesitarem em práticas golpistas”. O documento é apresentado em defesa “da honra e dignidade” do ex-presidente Lula…


…sim, eu tomei conhecimento da nota…


Como o senhor, aos 85 anos, tendo vivido o que já viveu e viu, vê esse momento?

Me parece evidente que a oposição, ao menos setores da oposição, estão agindo em relação ao ex-presidente Lula como um dia agiram em relação a Getúlio Vargas e João Goulart…

O senhor diria que já viu esse filme antes ou isso é um exagero dessa nota dos seis partidos?


Eu já vi e vivi esse filme antes, e há amarras extraordinariamente suspeitas em tudo isso…o cheiro é o mesmo…


Em que termos o senhor faz essa comparação?


Vamos ser claros: a oposição quer fazer com Lula o mesmo que fez com Getúlio Vargas e com Jango…até as expressões que usam são as mesmas, “mar de lama” é uma delas…


Mas não existiriam outros fatores objetivos no discurso da oposição? Assim como existem fatos que são objetos das críticas e denúncias e até do julgamento no Supremo…


Existem razões e fatos, mas o Brasil tem instituições funcionando e que são capazes de examinar os fatos sem que seja preciso pressão e a criação de um ambiente artificial. E diga-se que instituições fortalecidas exatamente durante os dois mandatos do governo Lula. Eu mesmo fui ministro-chefe da Controladoria-Geral da União que não existia até Lula. O governo Fernando Henrique tinha uma Corregedoria…


E qual a diferença?


A Controladoria fiscaliza e dá absoluta transparência a todos os gastos federais, está tudo na internet, cada centavo dos bilhões gastos pelo governo federal está no site. E mais. Tudo isso numa ação coordenada com o Ministério Público, no plano federal e nos Estados, com o Coaf, a Receita Federal, Polícia Federal…ora, quando falam no resultado disso, do aprofundamento das investigações nos casos de corrupção, como esquecem de dizer que isso, que essa coordenação de esforços, é obra exatamente dos governos de Lula e agora de Dilma?


Mas…


…a montagem dessa teia de acessos às informações e absoluta transparência, que leva a sociedade a ter acesso às informações, é obra de Lula, do governo Lula. Como é possível ignorar isso, esconder essa informação enquanto, ao mesmo tempo, se valem das informações que esse sistema coordenado de fiscalização e transparência permite obter?


Isso foi decisão pessoal dele ou foi acontecendo?


Decisão pessoal dele. Quando o presidente me convidou para o Ministério da Defesa me preocupei se poderia haver alguma modificação na atuação da Controladoria…o presidente Lula não apenas me garantiu que não como manteve minha equipe, e Jorge Hage está até hoje à frente da equipe com resultados e um trabalho que não apenas o Brasil reconhece. A ONU, a OEA e outros organismos internacionais já reconheceram e deram destaque a esse trabalho modernizador no setor de controle e transparência de informações…


Voltemos ao momento…


Vejo esse momento com preocupação, com inquietação. É um erro, e mais do que isso, não condiz com a verdade esse ambiente de que vivemos num “mar de lama”, que há “corrupção generalizada” desde o governo Lula…


Por que um erro?


Porque nossas instituições democráticas ainda são frágeis…porque isso não é verdade…a transparência, o acesso às informações, a atuação do Ministério Público, da Polícia Federal, a atuação conjunta nos últimos anos e os resultados disso mostram que esse ambiente desejado por certos setores é irreal, não é verdadeiro…o que há é que agora, depois de séculos, as informações, pela primeira vez na história, vêm a público…


O que lhe preocupa?


Me preocupa… há uma tendência nos últimos anos…os setores conservadores, ao invés de articularem golpes militares, agora dão golpes parlamentares… como se viu em Honduras, como se viu há pouco no Paraguai, e isso é precedido pela fomentação de um ambiente adequado para esses golpes parlamentares…


O que o senhor, objetivamente, detecta nessa “ambientação”…


A generalização, o procurar atingir os adversários a esse nível que estão fazendo e como estão fazendo ao invés do enfrentamento político democrático, enfrentamento com críticas duras, críticas e denúncias severas e tudo o mais, mas não com a criação de um ambiente artificial, e ainda mais quando isso parte dos setores de onde isso tem partido…


Ou seja…


Setores com figuras, instituições que construíram fortunas incalculáveis, que estão aí, e sem que nada ou quase nada fosse dito ou apurado… alguns desses personagens até já se foram e deixaram fortunas, até porque não existiam os mecanismos de fiscalização e transparência de agora, mas outros, bem mais recentes, estão por aí…como é possível querer que se acredite que a “corrupção nasceu ou cresceu” nos últimos anos, se foi exatamente nos governos de Lula e Dilma que iniciou o combate verdadeiro e eficaz, combate articulado e com o resultados que se conhece…isso é irreal e é uma farsa…


Por que irreal e…


É irreal fazer de conta que a corrupção é algo apenas “atual”, é irreal fazer de conta que não se conhece os fatos conhecidos, do passado distante e também do passado recente… é uma farsa desconhecer a história do mundo e do Brasil, e desconhecer o combate que vem sendo travado exatamente desde a consolidação de todos esses mecanismos de controle e transparência… A corrupção existe, ninguém está negando isso, mas existem mecanismos de controle e eles estão funcionando…


O senhor sabe que tentarão desqualificar, rotular suas observações…


Certamente, isso é parte desse processo todo…


Que papel a mídia tem e deveria ter diante disso? Como o senhor percebe a atuação da mídia?


O papel é o de dizer como as coisas realmente são e foram, dizer quais são os fatos verdadeiros…e por isso vejo com preocupação a atuação de certos setores…


Que setores?


Os setores conservadores. Há certas coisas muito parecidas, inclusive a expressão “mar de lama”, com a coisa terrível que a oposição fez com Getúlio… tentam fazer o que fizeram com Getúlio e depois com João Goulart, e tudo isso para impedir os avanços, querem, com Lula ou sem Lula, interromper os avanços do processo democrático, e o verdadeiro avanço se deu com a inclusão social. Esse é o avanço. Democracia é também, mas não apenas, o compromisso de liberdades formais. Democracia é, foi a inclusão social de 40 milhões de brasileiros que acontece desde Lula, e esse é o grande incômodo dos setores conservadores. Se a oposição quer vencer, que tenha um ideário e busque votos.


Quanto à imprensa, à mídia, o senhor pode ser mais específico quanto ao que pensa?


Eu era ministro da Defesa no governo Lula e fui a um programa de televisão para ser entrevistado. Por três ou quatro vezes o apresentador, que me recebeu de maneira muito gentil, repetiu “mas que vergonha o mensalão, hein?”, “mas que surpresa um mensalão”. Na quarta vez, respondi: “Mas como surpresa com um mensalão? Você não se lembra do ‘mensalão’ do IBAD, aquele que terminou em CPI em 1962?”. Aquilo era uma trama, uma articulação e preparação para um golpe de estado (NR: Instituto Brasileiro de Ação Democrática. Financiado por setores do empresariado e pela agência norte-americana CIA, o IBAD teve como objetivo financiar a eleição de opositores ao governo João Goulart e também setores da mídia. Por decisão judicial, o IBAD foi fechado em 1963). Se querem usar a expressão “mensalão”, como ignorar tantos mensalões da história do Brasil, inclusive os bem mais recentes? Se falam em “mensalão”, como se esquecem que isso de agora veio de Minas Gerais, e do PSDB?


O senhor já foi secretário estadual, deputado estadual e federal, consultor-geral da República, ministro, governador, o ministro que criou a Controladoria-Geral da União, foi exilado por seis anos e agora é candidato a vereador pelo PT em Salvador, aos 85 anos. Por quê?


Por dever de gratidão. Dever de consciência, por ver minha cidade maltratada, a administração pública indiferente e sem nenhum projeto consistente para seu desenvolvimento, submetida a um processo de corrosão moral que a todos causa indignação. Porque não há como olhar para o espelho e admitir para si mesmo não participar das grandes preocupações. As capitais, a nossa capital, são ou deveriam ser um núcleo de organização da vida, de inclusão social… Salvador foi a cidade onde conheci o mar. Isso já é muito…

*Tecedora