A obsessão da mídia
Por: Mino Carta, no CartaCapital
Por
que Lula se tornou a obsessão da mídia nativa? Por que tanta raiva
armada contra o ex-presidente? Primeiro é o ódio de classe, cevado há
décadas, excitado pelo operário metido a sebo, tanto mais no país da
casa-grande e da senzala. Onde já se viu topete tamanho? Se me permitem,
Lula é personagem de Émile Zola, assim como José Serra está nas páginas
de Honoré de Balzac. O sequioso da emergência que chegou lá.
Depois
vem a verdade factual, a popularidade de Lula, avassaladora. E vem o
confronto com os tempos de Presidência tucana, e o triste fim de
Fernando Henrique Cardoso, o esquecido, no Brasil e no mundo. Assim
respondem os meus meditativos botões às perguntas acima. E as respostas
geram outra pergunta.
Por que a mídia
nativa, intérprete da casa-grande, goza ainda de prestígio até junto a
quem ataca diária e obsessivamente se seus candidatos perdem os embates
eleitorais decisivos? Memento 2002, 2006, 2010. Mesmo agora,
véspera dos pleitos municipais, as coisas não estão bem paradas para os
preferidos de jornalões e revistões. Será que o jornalismo brasileiro
dos dias de hoje faz apostas erradas? Defende o indefensável?
Na
semana passada publiquei os números da verba publicitária governista
distribuída entre as empresas midiáticas. Mais de 50 milhões para a
Globo. Para nós, pouco mais de 100 mil reais. E sempre há quem apareça
para nos definir como “chapa-branca”… E a Editora Abril, então? Na
compra de livros didáticos, fica com a parte do leão em um negócio
imponente que em 2012 já lhe assegurou a entrada de 300 milhões. Pode-se
imaginar o que seus livros ensinam. Enquanto isso, a Petrobras acaba de
cancelar um contrato de 11 milhões que estava para ser fechado com a
casa do Murdoch brasileiro. Vem a calhar, a confirmar-lhe tradições e
intentos, a última capa da sua querida Veja, ponta de lança na estratégia da guerra contra Lula.
A
revista de Policarpo Jr., parceiro de Carlinhos Cachoeira em algumas
empreitadas, produz esta semana mais uma obra-prima de antijornalismo.
Formula acusações gravíssimas contra Lula sem esclarecer quem as faz
(Marcos Valério ou seus pretensos apaniguados?), mas nome algum é
citado, e o advogado do publicitário mineiro desmente a publicação
murdoquiana. Ricardo Noblat (porta-voz de Veja?) informa no seu
blog que a Abril vai divulgar o áudio de uma entrevista com Valério, e
horas depois comunica que Policarpo Jr. convenceu a direção da Abril a
deixar para lá, ao menos por ora.
Quanta ponderação, por parte de Policarpo… Suas relações com Cachoeira CartaCapital provou
com documentos tão irrefutáveis quanto inúteis: a CPI não vai
convocá-lo para depor, como seria digno de um país democrático, porque o
solerte presidente-executivo abriliano foi ter com o vice-presidente da
República para lembrá-lo de que se Veja for julgada, todos os demais da mídia nativa entram na dança.
Este específico
enredo prova as dificuldades de governar o país da casa-grande e da
senzala. É preciso recorrer a alianças que funcionam como a bola de
ferro atada aos pés do convicto e padecer como vice o representante de
um partido pronto a ceder diante das pressões da Abril. E da Globo, como
CartaCapital relatou ao longo da cobertura da CPI do
Cachoeira. Resta o fato: a mídia nativa é bem menos poderosa do que os
graúdos supõem, inclusive os do próprio governo.
Uma
exceção talvez seja São Paulo, com sua capital dos shoppings
milionários, da maior frota de helicópteros do mundo depois de Nova
York, de favelas monstruosas a rodear os bairros endinheirados, de mil
homicídios anuais (5 mil no estado). Refiro-me à cidade e ao estado mais
reacionários do Brasil. Aqui tudo pode acontecer. De todo modo, os
senhores, de um lado e do outro, caem na mesma esparrela dos jornalistas
que os apoiam ou os denigrem. Os jornalistas e seus patrões, na certeza
da ignorância da plateia, acabaram por assumir o nível mental que
atribuem a seus leitores, ouvintes e assistentes. Os graúdos apoiados
agarram-se em fio desencapado, os ofendidos temem um poder em vias de
extinção. E não percebem que a tentativa de demonizar Lula consegue é
endeusá-lo.
*Ocarcará
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