Sem provas contra Assange
Rui Martins
Uma
pergunta que não quer calar: como se explica o fato de a ação na Suécia
contra Julien Assange, o fundador do site Wikleaks, praticamente ter
saído do noticiário? O que terá acontecido?
Notícias
procedentes da capital sueca, quase não divulgadas, dão conta de que os
advogados de defesa de Assange descobriram que o material de prova
sobre o qual se baseou toda a acusação até agora não contém DNA do
acusado.
O fundador do WikiLeaks vem sendo
acusado de ter abusado sexualmente de uma mulher e por isso foi aberta
uma ação penal contra ele. Como se sabe, por temor de ser extraditado da
Suécia para os Estados Unidos, onde pode até ser condenado à morte ou
pegar prisão perpétua, Assange pediu asilo ao Equador e se encontra na
Embaixada daquele país em Londres à espera do governo britânico permitir
a viagem para Quito.
Os advogados de Assange,
com base em relatório de cem páginas da investigação policial que contém
os depoimentos das vítimas e laudos periciais, demonstraram que o
material recolhido do preservativo apresentado como prova pela mulher
que se diz vítima de estupro não contém DNA do acusado.
Os
advogados encaminharam pedido para que se investigue a possibilidade de
a acusadora ter encaminhado material falso à polícia, o que, se
comprovado, acarretará a anulação de todo o processo. Aguarda-se agora
manifestação do Procurador Geral da Justiça sueca sobre o relatório da
investigação policial.
Assange não pode correr o
risco de sair de Londres rumo a Suécia, porque se isso acontecer, a
Justiça de lá poderá conceder o que os Estados Unidos tanto querem, ou
seja, a extradição para julgá-lo e condená-lo à pena rigorosa.
Inicialmente,
o governo britânico, acenou com a possibilidade de prender Assange, até
mesmo invadindo a sede da embaixada equatoriana. Mas diante das
pressões limitou-se a dizer que não permitiria a saída do local rumo ao
aeroporto.
Houve protestos em várias partes do
mundo, porque o governo britânico está subvertendo a legislação
internacional de concessão de asilo político. Se acontecer algo com
Assange estará sendo aberto precedente que na prática fará cair este
instituto consagrado em lei.
Já no mundo
islâmico, que continua conflagrado, o episódio que culminou com a morte
do embaixador estadunidense, Cristopher Stevens, em Benghasi, continua
sendo objeto de muita controvérsia.
O jornal
britânico The Independent, por exemplo, divulgou informação segundo a
qual as mortes do diplomata e três guarda-costas ocorreram por séria
falha da segurança em Benghasi, que por sinal não era propriamente a
sede do consulado, mas apenas um local onde funcionários estadunidenses
se reuniam.
Já se tornou pública a informação de
que o Departamento de Estado norte-americano 48 horas antes da eclosão
do protesto, supostamente contra um filme satirizando Maomé, havia
prevenido sobre a possibilidade de ataques no Egito, na Líbia e demais
países de religião islâmica. Mas apesar disso, os diplomatas não foram
alertados para que se colocassem em estado de alerta elevado. O serviço
de segurança da embaixada dos EUA na Líbia chegou até a garantir que
Stevens poderia ir a Benghazi tranquilamente.
Outra
hipótese que está sendo aventada é a de que o que aconteceu em Benghazi
poderia ter sido uma resposta também a ação de drones (voos não
tripulados que atingem alvos em terra), especialmente o que resultou no
assassinato no Paquistão de Mohammed Hassan Qaed, cujo nome de guerra
como agente da AL Qaeda era Abu Yahya al-Libi. O material bélico
utilizado, inclusive foguetes, leva a crer que o protesto não foi tão
espontâneo, mas devidamente organizado.
Na
verdade, extremistas estadunidenses, inclusive apoiadores de Israel,
estão a todo momento instigando ódio contra os islâmicos em cartazes com
dizeres ofensivos e que terminam exortando a população a apoiar
incondicionalmente Israel.
O clima de tensão
aumenta visivelmente. Se não teve início ainda uma guerra declarada, em
termos verbais a temperatura sobe a cada dia. O governo extremista de
Benyamin Netanyahu ameaça diariamente bombardear instalações nucleares
iranianas e em resposta às autoridades de Teerã advertiram que se forem
atacados vão destruir Israel.
O mundo observa
com cautela o aumento da tensão. Se o desejo de Netanyhau não for
contido e ocorrer algum bombardeio as consequências não serão restritas a
Israel, mas atingirão todo o planeta.
Outra
pergunta que não quer calar: até que ponto os cartazes anti-islâmicos
afixados nos coletivos em Washington não teriam o objetivo de criar um
clima para demonstrar a inevitabilidade de uma guerra, como desejam e
demonstram claramente os defensores incondicionais do governo de
Benyamin Netanyahu e seus seguidores nos EUA?
É
possível, mas não se pode garantir, que apesar do desejo de Netanyahu,
um bombardeio às instalações nucleares do Irã não ocorrerá antes de se
conhecer o resultado final da eleição presidencial estadunidense.
Netanyahu apoia o candidato republicano, porque a linha de ação de Mitt
Romney está mais próxima do dirigente israelense e do ministro do
Exterior Avigdor Lieberman.
Ah, sim: enquanto
tanta coisa acontece em vários países de predomínio da religião
islâmica, na Arábia Saudita, aliadíssima dos Estados Unidos, as
constantes violações dos direitos humanos cometidas no país da família
Saud são absolutamente silenciadas pelas agências de notícias.
Por
lá vale a prédica segundo a qual para os aliados (dos EUA) tudo, mas
para os inimigos, ameaças e financiamentos de mercenários.
*GilsonSampaio
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