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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 21, 2012

Será que Civita vê o Brasil como um grande Paraguai?

Uma nota assinada por seis partidos políticos enxergou na última capa de Veja o embrião de um golpe, semelhante ao que levou Getúlio Vargas ao suicídio e afundou o Brasil numa ditadura de 21 anos. Um precedente acaba de ocorrer no país vizinho, agora governado por Federico Franco. Acusada de golpista, Veja tem, agora, a obrigação de provar suas acusações contra Lula, apresentando a fita que, aparentemente, não tem
No: Brasil 247 
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O empresário Roberto Civita, dono do grupo Abril, decidiu jogar truco com a democracia no Brasil. Na semana passada, Veja publicou uma capa em que o ex-presidente Lula é acusado de chefiar o mensalão, numa “entrevista” já negada pelo próprio “entrevistado”, o empresário Marcos Valério de Souza. Ato contínuo, diversos colunistas de meios de comunicação relevantes passaram a tratar como “declarações”, aquilo que o próprio “declarante” negava. Na terceira etapa, presidentes de três partidos políticos (PSDB, DEM e PPS), anunciaram a propositura de ações judiciais contra o ex-presidente Lula após o período eleitoral.
Há, portanto, um movimento em marcha para conter a força de Lula, que, segundo uma pesquisa recente da CNT/Sensus, se reelegeria com quase 70% dos votos, caso fosse candidato em 2014. Essa manobra acaba de ser denunciada numa nota conjunta assinada por seis partidos: PT, PSB, PMDB, PDT, PC do B e PRB. “Valendo-se de fantasiosa matéria veiculada por Veja, pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação. As forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura. Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova”, diz o documento, dirigido pelos partidos à “sociedade brasileira”.
O documento compara ainda a situação atual a dois momentos trágicos da história brasileira: o que levou Getúlio Vargas ao suicídio, com as denúncias udenistas do “mar de lama”, e o que derrubou João Goulart, empurrando o Brasil para uma ditadura de 21 anos. Há, ainda, na América Latina, um ambiente neogolpista, desde a deposição de Fernando Lugo, no Paraguai, que foi sucedido por Federico Franco – personagem que, com cara de bom moço, concedeu entrevista às páginas amarelas de Veja dizendo que “os generais foram leais à pátria”.
No jogo de truco, a carta mais forte é o Zap. E Veja, aparentemente, não a possui. A tal “entrevista” com Marcos Valério, ao que tudo indica, não possui fita ou registro. Seria apenas um amontoado de declarações supostamente ditas a supostos interlocutores. Como tudo indica que Veja blefou no seu truco antidemocrático, os partidos agora devolveram a bola para a revista Veja. Para negar suas intenções golpistas, a revista, desafiada por várias forças políticas, só tem uma alternativa: apresentar a fita e provar suas acusações contra Lula.
Caso contrário, a tentativa de golpe paraguaio terá sido desmascarada já no nascedouro.
*Ocarcará

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