Triste São Paulo: “o sangue de Jesus” quer o poder
do Opinião & Cia
A Igreja Universal e seu plano de domínio do Brasil
Johnny Bernardo
O objetivo é claro: A Igreja Universal quer dominar o Brasil.
Pré-definido no livro Plano de Poder, Deus, os cristãos e a política
(Edir Macedo com Carlos Oliveira, 2008), o objetivo vem se desenvolvendo
ao longo dos anos, e, nas eleições municipais de 2012, pretende se
consolidar. Fé e política, no entender de Edir Macedo, são elementos
interligados aos quais os crentes devem se engajar.
Para realizar seu intento – de criar uma nação evangélica e “governada”
por Deus -, Macedo estabeleceu uma série de estratégias, como
eliminação das concorrências, investimento maciço em meios de
comunicação, influência da sociedade por meio de campanhas de marketing e
defesa de temas polêmicos, a exemplo da legalização do aborto, e a
busca do poder pela organização política.
Tomando como base São Paulo – onde o candidato do Partido Republicano
Brasileiro (PRB) ao Executivo, Celso Russomanno, lidera as intenções de
voto -, a Igreja Universal coloca em prática sua estratégia de dominação
política. Segundo o presidente nacional do PRB e também bispo Marcos
Antonio Pereira, a meta para 2012 é a eleição de pelo menos 100
prefeitos e até dois mil vereadores, em todo o país.
Questionado pela relação da campanha de Russomanno com a Igreja
Universal e a TV Record - em uma entrevista concedida ao portal UOL e
Folha de São Paulo, no último dia 26 de setembro - Marcos Pereira saiu
em defesa da laicidade do Estado e a total independência administrativa,
caso Russomanno seja eleito, mas teve dificuldade em explicar o motivo
da composição “evangélica” do partido – dos 18 dirigentes nacionais pelo
menos dez são oriundos da Igreja Universal ou da TV Record, segundo
apontamento feito pelo cientista político Claudio Gonçalves Couto.
Um projeto de Deus
De olho no crescimento dos evangélicos no Brasil – sendo hoje algo em
torno de 42,3 milhões, segundo última estimativa feita pelo IBGE – o
bispo Edir Macedo lançou seu plano de domínio do Brasil, conclamando os
crentes a participarem da tomada do Poder. Afirmando seguir orientações
divinas, Macedo relaciona à chegada ao Poder como um projeto “elaborado”
e “pretendido” por Deus.
"Vamos nos
aprofundar, através desta leitura, no conhecimento de um grande projeto
de nação elaborado e pretendido pelo próprio Deus e descobrir qual é a
nossa responsabilidade neste processo. [...] Desde o início de tudo Ele
nos esclarece de sua intenção de estadista e de formação de uma grande
nação." (Plano de Poder, pág. 8)
A Bíblia,
segundo Macedo, não é apenas um livro de orientações religiosas ou de
exercício da fé, mas também um livro que sugere resistência, tomada e
estabelecimento do poder político e de governo. “Somente quando todos ou
a maioria dos que a seguem estiverem convictos de que ela é a Palavra
de Deus, então ocorrerá a realização do grande sonho Divino”, conclui
Macedo colocando-se como canal da realização do “grande sonho Divino”,
que é o estabelecimento do Brasil como nação “evangélica”.
Lançado
às vésperas das eleições municipais de 2008, o livro Plano de Poder
revela o prognóstico feito por Edir Macedo em seu plano de tomada do
governo. Nele ressalta que tudo é uma questão de engajamento, consenso e
mobilização dos evangélicos. “Nunca, em nenhum tempo da História do
evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los de forma
incisiva a participar da política nacional (...). A potencialidade
numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito
eletivo, tanto no Legislativo, quanto no Executivo, em qualquer que seja
o escalão, municipal, estadual ou federal”, afirma Macedo.
Semelhanças
As
estratégias definidas e seguidas por Edir Macedo possuem paralelos com
diversos movimentos destrutivos dos EUA e Europa, mas, em especial, com a
Igreja da Unificação, fundada em 1954 pelo Rev. Moon (1920–2012). Assim
como a IU, a Igreja Universal encara a formação da opinião pública e o
recrutamento de seguidores como elementos cruciais para o alcance de
seus objetivos. Desenvolve, assim como na IU, uma acirrada guerra contra
meios de comunicação e religiosos concorrentes, além de investir em
times de futebol com foco em marketing de massa, e na ideia de que estão
“colaborando” com o estabelecimento do Reino de Deus, no mundo. Acima
de tudo, dizem atuar como canais de comunicação de Deus e dão forte
ênfase ao crescimento financeiro – sinal, segundo as igrejas, da
retribuição divina.
Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e colaborador do Genizah
*Gilsonsampaio
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