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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

assassinaram Amarildo terão pena mais leve que líder religioso condenado por plantar maconha

Policiais que torturaram e assassinaram Amarildo terão pena mais leve que líder religioso condenado por plantar maconha

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Ras Geraldinho, criador da primeira igreja rastáfari do Brasil, foi condenado a 14 anos, 2 meses e 20 dias acusado de tráfico de drogas por conta de 37 pés de maconha, usados para uso religioso. O caso ocorreu em 2013 — poucos meses antes do pedreiro Amarildo ser brutalmente assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro. Os PM’s foram recentemente condenados, sendo que a maior pena ficou por conta do então comandante da UPP, Edson Santos: 13 anos e 7 meses. A publicação é do siteDemocratize

Criador da primeira igreja rastáfari do Brasil, Ras Geraldinho foi sentenciado pelo Estado por conta de 37 pés de maconha, usados para uso religioso. O caso ocorreu em 2013 — poucos meses antes do pedreiro Amarildo ser brutalmente assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro.
Na época, sua namorada Marlene Martim, já havia afirmado seu estado de perplexidade pela pena ser tão dura a ponto de ser maior do que “para muitos casos de assassinatos, estupros e sequestros”.
Para um dos advogados de Ras Geraldinho, a condenação feriu as liberdades de consciência e religiosa, ambas garantidas na Constituição Federal: “Tráfico pressupõe lucro, presença de armas, balanças de precisão, mas nada disso foi apresentado”. O sítio onde Ras Geraldinho vivia no interior de São Paulo já havia sido invadido por policiais três vezes antes — ambas se mandado.
Muito se falou sobre o fato de Ras Geraldinho ser conhecido em sua cidade, Americana, e o preconceito em torno de sua imagem, além da intolerância religiosa impregnada na Justiça.
Enquanto isso, três anos depois da sentença contra Ras Geraldinho, a Justiça brasileira enfim resolveu por condenar os treze policiais militares envolvidos no assassinato do pedreiro Amarildo.
Porém, a maior pena ainda assim consegue ser mais “leve” do que a sofrida pelo ativista da cannabis em São Paulo.
O comandante da UPP, major da Polícia Militar Edson Santos, recebeu a maior pena “por ser um superior que deveria dar exemplo aos subordinados”, de acordo com a sentença da juíza: 13 anos e sete meses em regime fechado pelos crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e fraude processual.
O subcomandante da unidade, tenente da PM Luiz Felipe de Medeiros, foi condenado a dez anos e sete meses de prisão. De acordo com a sentença, “ele orquestrou o crime junto com o major Edison”.
O soldado Douglas Roberto Vital Machado foi condenado a 11 anos e seis meses em regime fechado, “por ter atuado desde a captura de Amarildo até a morte dele”.
Os soldados da PM Marlon dos Campos Reis, Jorge Luís Gonçalves Coelho, Jairo da Conceição Ribas, Wellington Tavares da Silva e Fábio Brasil da Rocha da Graça foram condenados a dez anos e quatro meses.
Se formos considerar outros exemplos de processos contra policiais militares que mataram civis inocentes no Brasil, a tendência é que boa parte desses oficiais acabem sendo soltos brevemente, nos próximos anos.

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