Morrissey e o Príncipe Harry
Por Gustavo Belic Cherubine
Salve!
Um artista necessário: Morrissey.
He say:
"...príncipe Harry está no Rio 'para roubar seu dinheiro'."
Do Terra
Morrissey: príncipe Harry está no Rio 'para roubar seu dinheiro'
Morrissey levantou o público presente na Fundição Progresso
Foto: Felipe Panfili/AgNews
- Que
Morrissey é aclamado como um dos grandes nomes do Reino Unido isso não é
novidade para ninguém. Mas o fato de ele nunca ter colocado em seu
currículo o título de "Sir", que Paul McCartney e Sean Connery ostentam
com tanto orgulho, muito se deve a sua eterna birra com a família real
inglesa. Em seu segundo show da turnê brasileira - que terá seu
encerramento no próximo domingo, em São Paulo - o ex-vocalista doThe Smiths fez
valer o seu retrospecto de críticas à família da rainha Elizabeth II e
não poupou Harrry, o caçula do príncipe Charles e da princesa Diana, que
está em visita oficial à capital fluminense.
"Como vocês sabem, o príncipe Harry está na cidade", iniciou o seu
discurso, na metade do show, antes da plateia acompanha-lo com uma
sonora vaia ao terceiro herdeiro na linha sucessória britânica. "Ele
veio pegar o dinheiro de vocês. Por favor, não o deem para ele",
completou Morrissey, até certo ponto contido para quem já tachou a
família real de "parasitas de subsídio". Harry está no Rio para cumprir
uma agenda, que também passará por São Paulo. Nas duas principais
capitais brasileiras, Harry divulgará o
Great, campanha cultural para estimular a visibilidade da Inglaterra tendo em vista os Jogos Olímpicos de Londres, em agosto.
Voltando a apresentação na Fundição Progresso, na Lapa: o bairro mais
boêmio do Rio de Janeiro viveu a sua noite mais retrô dos últimos anos.
Quem caminhava pelas ruas se deparava com as milhares de camisetas
pretas, e com topetes para tentar imitar o ídolo-mor. A apresentação
seguiu a risca o repertório de abertura da turnê, em Belo Horizonte. Ou
seja, empolgação para valer mesmo, somente com os cinco hits do set list
dedicados ao
The Smiths - com destaque para
There´s a Light That Never Goes out e
How Soon Is Now?, hits para levar qualquer fã assíduo a dizer aos amigos que valeu o ingresso.
Eu amo vocês, mas poderia ter caprichado um pouco maisFamoso
por ser eclético, no maior estilo liquidificador cultural que reúne
todos os estilos entre as diversas casas noturnas, o bairro da Lapa, no
Centro do Rio de Janeiro, pelo menos esta noite, foi retrô. Anos 80 na
veia. Tudo por causa dele: Steven Patrick Morrissey, mas pode chamar
apenas pelo último sobrenome. Ele chegou à capital fluminense depois de
sua última turnê no Brasil, há 12 anos. Deu para entender agora o
frenesi?
O cantor inglês da lendária banda
The Smiths¿ incendiou a
pista da Fundição Progresso, na noite desta sexta-feira, com sucessos da
sua já extensa carreira solo - que inclui nove álbuns. Quase
britanicamente, com singelos seis minutos de atraso, bem ao seu estilo
social-romântico (com camisa vermelha, calça social e sapato, e cabelo
arrumado, claro), Morrissey tratou de empolgar a lotada casa de shows
(ingressos esgotados) dando o pontapé inicial na apresentação com
First of The Gang To Die.
A canção é do album
You Are The Quarry, de 2004 - ano em que
quebrou o hiato de sete anos longe dos estúdios e provou seu valor para
a crítica britânica, que já zombava da sua, então, incapacidade de
retornar ao
mainstream. Na sequência de sua performance, após um lacônico "obrigado", um passeio por Roma em
You Have Killed Me, single relativamente bem sucedido de
Ringleader Of The Tormentors, de 2006.
A referência italiana aponta para Pier Paolo Pasolini, com seu
Accattone,
aclamada película do já longínquo ano de 1961, que tratava justamente
da prostituição na capital da terra da bota. "Pasolini is Me, Accattone
You´ll Be" (Eu sou Pasolini, Você serão Accattone), cantou o britânico
para o público, nos primeiros versos. Do seu ultimo trabalho solo,
Years Of Refusal que Morrissey, aliás, o classificou na época como "o seu mais forte e atual álbum", isso há três anos, veio
Black Cloud. Como se fizesse parte obrigatória do repertório, não foi difícil achar gente chorando na pista.
Veio então o primeiro contato real (sem trocadilhos) com os fãs:
"tudo bem por aí", perguntou, sucintamente, antes de partir para
When I Last Spoke To Carol, do mesmo disco. Com
Alma Matters, de
Maladjusted, de 1997, o cantor inglês mandou os famosos versos:
So, the life I have made. May seem wrong to you. But I've never been surer. It's my life. To ruin. My own way.
Em tradução livre: "então, esta é a vida que eu levei, ela pode parecer
errada para você, mas eu nunca estive tão certo. É a minha vida,
arruinando-se à minha própria maneira". Mais Morrissey do que isso,
impossível.
Entendendo ou não a mensagem do eterno vegetariano, topetudo e que já
pregou o celibato, tornando a sua figura algo como um ser assexuado, as
milhares de pessoas que lotaram a Fundição foram ao delírio de verdade
com o primeiro refrão reconhecido da noite:
Because to Someone, Somewhere. Aclamação que iniciava seu ápice com a abertura do repertório ao
The Smiths. Sim, porque
Still Ill emocionou quem estava ali pelo óbvio: relembrar os anos 80 em sua plenitude.
Entre quatro trocas de camisa, não se sabe se em função do calor, ou
pelo próprio estilo de troca de figurino, mensagens típicas de quem deu
uma volta pela cidade "e nunca vi gente tão bonita como aqui", além de
alguns afagos com os fãs dando as mãos e mandando beijos, Morrissey
insistiu em seu repertório pessoal. Tendo em vista que há 12 anos
praticamente ignorou as suas raízes, promovendo shows baseados
praticamente em seus discos solos, até que deu para cair bem no túnel do
tempo.
Principalmente com dois momentos de êxtase da noite:
There´s a Light That Never Goes Out,
clássica de qualquer balada retrô que se preze, fez valer a sensação de
dever cumprido. A música que compôs ao lado do seu ex-parceiro Johnny
Marr é oriunda do álbum que relembra o motivo da crítica ao príncipe
Harry:
The Queen is Dead (A Rainha está morta), que foi lançado
somente em 1992 ¿ cinco anos após o fim da banda, fato que ainda hoje
engana muita gente que a relaciona com a carreira solo do vocalista.
Com
How Soon is Now?, de 1984, novamente da parceria
infelizmente encerrada de Morrissey e Marr, a plateia, enfim, desentalou
a gana de ressoar uma letra inteira, do início ao fim. Após o bis, com
Goodbye Will Be Farewell,
para encerrar, Morrissey mandou um "Eu amo vocês". Para quem já sempre
pregou o desapego sexual, ficou o gostinho de que o anfitrião poderia
ter caprichado e agradado um pouco mais.
Antes de Morrissey levar fãs às lagrimas, subiu ao palco da Fundição a
cantora e tecladista norte-americana Kristeen Young. Ela bem tentou
animar o público, que em certos momentos até atendeu aos pedidos de
palmas, mas nem sua menção ao dia internacional da mulher fez a plateia
se empolgar com sua performance - o bar ficou cheio por cerca de meia
hora. Mais empolgação causaram os hits dos Smiths tocados antes do lord
britânico entrar em cena.
*Nassif