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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 10, 2012

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Morrissey e o Príncipe Harry

Por Gustavo Belic Cherubine
Salve!
Um artista necessário: Morrissey.
He say:

"...príncipe Harry está no Rio 'para roubar seu dinheiro'."
Do Terra
Morrissey: príncipe Harry está no Rio 'para roubar seu dinheiro'
Morrissey levantou o público presente na Fundição Progresso
Foto: Felipe Panfili/AgNews
Que Morrissey é aclamado como um dos grandes nomes do Reino Unido isso não é novidade para ninguém. Mas o fato de ele nunca ter colocado em seu currículo o título de "Sir", que Paul McCartney e Sean Connery ostentam com tanto orgulho, muito se deve a sua eterna birra com a família real inglesa. Em seu segundo show da turnê brasileira - que terá seu encerramento no próximo domingo, em São Paulo - o ex-vocalista doThe Smiths fez valer o seu retrospecto de críticas à família da rainha Elizabeth II e não poupou Harrry, o caçula do príncipe Charles e da princesa Diana, que está em visita oficial à capital fluminense.
"Como vocês sabem, o príncipe Harry está na cidade", iniciou o seu discurso, na metade do show, antes da plateia acompanha-lo com uma sonora vaia ao terceiro herdeiro na linha sucessória britânica. "Ele veio pegar o dinheiro de vocês. Por favor, não o deem para ele", completou Morrissey, até certo ponto contido para quem já tachou a família real de "parasitas de subsídio". Harry está no Rio para cumprir uma agenda, que também passará por São Paulo. Nas duas principais capitais brasileiras, Harry divulgará o Great, campanha cultural para estimular a visibilidade da Inglaterra tendo em vista os Jogos Olímpicos de Londres, em agosto.
Voltando a apresentação na Fundição Progresso, na Lapa: o bairro mais boêmio do Rio de Janeiro viveu a sua noite mais retrô dos últimos anos. Quem caminhava pelas ruas se deparava com as milhares de camisetas pretas, e com topetes para tentar imitar o ídolo-mor. A apresentação seguiu a risca o repertório de abertura da turnê, em Belo Horizonte. Ou seja, empolgação para valer mesmo, somente com os cinco hits do set list dedicados ao The Smiths - com destaque para There´s a Light That Never Goes out e How Soon Is Now?, hits para levar qualquer fã assíduo a dizer aos amigos que valeu o ingresso.
Eu amo vocês, mas poderia ter caprichado um pouco mais
Famoso por ser eclético, no maior estilo liquidificador cultural que reúne todos os estilos entre as diversas casas noturnas, o bairro da Lapa, no Centro do Rio de Janeiro, pelo menos esta noite, foi retrô. Anos 80 na veia. Tudo por causa dele: Steven Patrick Morrissey, mas pode chamar apenas pelo último sobrenome. Ele chegou à capital fluminense depois de sua última turnê no Brasil, há 12 anos. Deu para entender agora o frenesi?
O cantor inglês da lendária banda The Smiths¿ incendiou a pista da Fundição Progresso, na noite desta sexta-feira, com sucessos da sua já extensa carreira solo - que inclui nove álbuns. Quase britanicamente, com singelos seis minutos de atraso, bem ao seu estilo social-romântico (com camisa vermelha, calça social e sapato, e cabelo arrumado, claro), Morrissey tratou de empolgar a lotada casa de shows (ingressos esgotados) dando o pontapé inicial na apresentação com First of The Gang To Die.
A canção é do album You Are The Quarry, de 2004 - ano em que quebrou o hiato de sete anos longe dos estúdios e provou seu valor para a crítica britânica, que já zombava da sua, então, incapacidade de retornar ao mainstream. Na sequência de sua performance, após um lacônico "obrigado", um passeio por Roma emYou Have Killed Me, single relativamente bem sucedido de Ringleader Of The Tormentors, de 2006.
A referência italiana aponta para Pier Paolo Pasolini, com seu Accattone, aclamada película do já longínquo ano de 1961, que tratava justamente da prostituição na capital da terra da bota. "Pasolini is Me, Accattone You´ll Be" (Eu sou Pasolini, Você serão Accattone), cantou o britânico para o público, nos primeiros versos. Do seu ultimo trabalho solo, Years Of Refusal que Morrissey, aliás, o classificou na época como "o seu mais forte e atual álbum", isso há três anos, veio Black Cloud. Como se fizesse parte obrigatória do repertório, não foi difícil achar gente chorando na pista.
Veio então o primeiro contato real (sem trocadilhos) com os fãs: "tudo bem por aí", perguntou, sucintamente, antes de partir para When I Last Spoke To Carol, do mesmo disco. Com Alma Matters, deMaladjusted, de 1997, o cantor inglês mandou os famosos versos: So, the life I have made. May seem wrong to you. But I've never been surer. It's my life. To ruin. My own way. Em tradução livre: "então, esta é a vida que eu levei, ela pode parecer errada para você, mas eu nunca estive tão certo. É a minha vida, arruinando-se à minha própria maneira". Mais Morrissey do que isso, impossível.
Entendendo ou não a mensagem do eterno vegetariano, topetudo e que já pregou o celibato, tornando a sua figura algo como um ser assexuado, as milhares de pessoas que lotaram a Fundição foram ao delírio de verdade com o primeiro refrão reconhecido da noite: Because to Someone, Somewhere. Aclamação que iniciava seu ápice com a abertura do repertório ao The Smiths. Sim, porque Still Ill emocionou quem estava ali pelo óbvio: relembrar os anos 80 em sua plenitude.
Entre quatro trocas de camisa, não se sabe se em função do calor, ou pelo próprio estilo de troca de figurino, mensagens típicas de quem deu uma volta pela cidade "e nunca vi gente tão bonita como aqui", além de alguns afagos com os fãs dando as mãos e mandando beijos, Morrissey insistiu em seu repertório pessoal. Tendo em vista que há 12 anos praticamente ignorou as suas raízes, promovendo shows baseados praticamente em seus discos solos, até que deu para cair bem no túnel do tempo.
Principalmente com dois momentos de êxtase da noite: There´s a Light That Never Goes Out, clássica de qualquer balada retrô que se preze, fez valer a sensação de dever cumprido. A música que compôs ao lado do seu ex-parceiro Johnny Marr é oriunda do álbum que relembra o motivo da crítica ao príncipe Harry: The Queen is Dead (A Rainha está morta), que foi lançado somente em 1992 ¿ cinco anos após o fim da banda, fato que ainda hoje engana muita gente que a relaciona com a carreira solo do vocalista.
Com How Soon is Now?, de 1984, novamente da parceria infelizmente encerrada de Morrissey e Marr, a plateia, enfim, desentalou a gana de ressoar uma letra inteira, do início ao fim. Após o bis, com Goodbye Will Be Farewell, para encerrar, Morrissey mandou um "Eu amo vocês". Para quem já sempre pregou o desapego sexual, ficou o gostinho de que o anfitrião poderia ter caprichado e agradado um pouco mais.
Antes de Morrissey levar fãs às lagrimas, subiu ao palco da Fundição a cantora e tecladista norte-americana Kristeen Young. Ela bem tentou animar o público, que em certos momentos até atendeu aos pedidos de palmas, mas nem sua menção ao dia internacional da mulher fez a plateia se empolgar com sua performance - o bar ficou cheio por cerca de meia hora. Mais empolgação causaram os hits dos Smiths tocados antes do lord britânico entrar em cena.
*Nassif

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